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Sou algo mais do que este punhado de terra
que, em sangue e nervos, se envaidece e se apega 
e que ao pó, uma vez mais, há de retornar, disperso;
sou um abismo que o nada do universo quebra,
sou o espaço que seduz a matéria que me integra;
sou a luz de minha lâmpada na noite mais negra
e a mais negra noite quenaod minha lâmpada se apaga;
sou a fronteira dos outros, imprecisa e vaga.
Sou o esgar vencido dos velhos séculos
e o gesto prepotente dos séculas que ainda estão distantes:
pedra talhada de antigas pegadas e de novos passos.
Sou, enfim, rebento de tanta luz e de tantos ocasos
que já tenho os olhos cegos e não sei se estou vivendo.
Mas, ainda assim, sou. E vou pela vida, sendo.
E minha razão para ser é razão tão forte,
que sou a causa essencial para que exista a morte.

Claudia Giribet