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@issilva5
Created August 21, 2023 21:01
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"Emissões de CO2 ficam estáveis pelo 3º ano seguido, mas ainda estão altas","O mundo conseguiu, pelo terceiro ano consecutivo, manter estáveis suas emissões de gases CO2 em 2015, mas esse avanço ainda é insuficiente, de acordo com um informe divulgado nesta segunda-feira (14) durante a Conferência sobre Mudança Climática de Marrakech (COP22). Esse resultado animador supõe ""uma clara e inesperada mudança em relação ao rápido crescimento das emissões de 2,3% ao ano na década precedente (2004-2013)"", segundo o ""Global Carbon Projet"", que reúne cientistas do mundo inteiro. O mundo emitiu 36,3 gigatoneladas de CO2 (GtCO2) no ano passado, apenas 0,2% de aumento em relação a 2014 –o que significa 4,8 toneladas de CO2, em média, por cada habitante do planeta. ""Com três anos de crescimento reduzido das emissões, é possível que a trajetória (...) tenha-se desviado permanentemente da tendência de crescimento rápido ao longo prazo"", explica o texto. Esses resultados cautelosamente otimistas não correspondem de modo algum, porém, ""às metas do Acordo de Paris"" do ano passado, advertem os autores do documento. Firmado por 196 signatários, o histórico Acordo de Paris estabeleceu como objetivo manter o aumento da temperatura do planeta em, no máximo, 2ºC em relação à era pré-industrial.",ambiente
Geleira na Groenlândia derrete e pode elevar o nível do mar em meio metro,"Uma importante geleira no noroeste da Groenlândia está derretendo rapidamente no oceano Atlântico, alertaram especialistas nesta quinta-feira (12). Segundo eles, o degelo da geleira elevará em meio metro o nível do mar. A geleira, conhecida como Zachariae Isstrom, ""entrou em uma fase de derretimento acelerado em 2012"", quando triplicou o ritmo de seu degelo. Agora, perde massa em um ritmo de cinco bilhões de toneladas por ano, segundo estudo publicado na revista científica ""Science"". ""A forma e a dinâmica do Zachariae Isstrom mudou drasticamente nos últimos anos"", disse o principal autor do estudo, Jeremie Mouginot, pesquisador-assistente do departamento de geofísica da Universidade da Califórnia em Irvine (UCI). A geleira está liberando ""grandes quantidades de icebergs no oceano, que ao derreter resultarão na elevação do nível do mar nas próximas décadas"", acrescentou. A descoberta baseou-se em 40 anos de dados via satélite, provenientes de agências espaciais, assim como o de controle aéreo da forma, tamanho e posição da geleira ao longo do tempo. A água quente do oceano está erodindo a geleira de baixo para cima e o aumento da temperatura do ar está provocando seu degelo de cima para baixo. ""A superfície da geleira está derretendo como resultado de décadas de aumento continuado da temperatura do ar, enquanto sua parte inferior se vê comprometida por correntes de água quente"", disse Eric Rignot, principal autor do estudo e professor de geofísica na UCI. Este estudo é divulgado a duas semanas da conferência internacional sobre o clima em Paris (COP-21), onde se buscará fechar um acordo para limitar as emissões de gases de efeito estufa potencialmente catastróficos para o planeta.",ambiente
Abate de lobos que atacam rebanhos gera discussão na França,"O governo francês autorizou, na semana passada, o abate de 40 lobos em todo o país até 2018. O motivo é o rápido e inesperado aumento da população da espécie Canis lupus que, para se alimentar, vem invadindo as fazendas de criação de ovinos e bovinos e promovendo grandes matanças. No período de apenas um ano, quase 10 mil animais, entre vacas, cavalos, cachorros de guarda e, principalmente ovelhas, foram mortos por alcateias. O problema é em grande parte verificado em áreas agrícolas do sul, sudeste e sudoeste da França, mas tem sido registrado pontualmente também em outras regiões, inclusive próximas a Paris. Mas embora a decisão do governo de abate dos lobos tenha sido saudada por associações de pecuaristas, ela é extremamente criticada por ONGs de defesa dos animais. A principal reclamação é que a quantidade de animais que será eliminada é muito alta em relação à população existente. Segundo o Escritório Nacional da Caça e da Fauna Selvagem, há atualmente 360 lobos na França. ""Um estudo publicado em março pelo próprio ministério da Transição Ecológica e Solidária mostrou que é preciso tomar cuidado porque estamos autorizando o abate de muitos lobos. Ficamos decepcionados com essa decisão, esperávamos mais do governo. Pensávamos que o ministro Nicolas Hulot utilizaria seu bom senso ao tratar desta questão"", disse Madline Reynaud, diretora da Associação pela Proteção dos Animais Selvagens, em entrevista à rádio France Inter. Segundo ela, há outras soluções para poupar os rebanhos de ovinos dos ataques dos lobos, sem a necessidade de abatê-los. Como o Canis lupus é uma espécie protegida em todo o território europeu pela Convenção de Berna, há medidas pré-estabelecidas para tratar do problema. ""Cercas mais eficazes, a ajuda de mais pastores no campo ou mesmo o aumento de cachorros treinados para fazer a guarda das ovelhas e vacas. As estratégias para a proteção das criações de animais já existem, elas só precisam ser revisadas. Por isso, estamos dialogando com o governo para que esses métodos de proteção dos rebanhos sejam estudados e melhorados"", reitera Madline Reynaud. PROBLEMA PERSISTE HÁ 20 ANOS A reação das ONGs de proteção dos animais irritam os criadores de gado. De acordo com a presidente da Federação Nacional Ovina, Michelle Boudoin, várias medidas são colocadas em prática há 20 anos, sem que o problema dos ataques contra os rebanhos seja solucionado. ""Além de ter sido registrado um aumento de 20% da quantidade de lobos na França, eles estão hoje presentes em mais de 33 departamentos da França e até mesmo perto de Paris. Para nós, pouco importa quantos lobos serão abatidos. A única coisa que queremos é que não haja mais ataques"", afirma. Segundo ela, devido à rigidez das leis estabelecidas na Convenção de Berna, que obriga a França a respeitar e a monitorar a proteção dos lobos, os criadores de ovinos e bovinos se veem de mãos atadas. ""Até o momento não encontramos uma solução e não temos muita margem de manobra para agir. Por isso, o que estamos discutindo hoje com os ministérios da Transição Ecológica e Solidária e da Agricultura: como reeducar os lobos para que eles permaneçam em seu habitat sem chegar em nossos rebanhos. ""Há experiências novas desenvolvidas nos Estados Unidos e no Canadá. Estamos utilizando todo o conhecimento que acumulamos nesses 20 anos de predação de nossas ovelhas, vacas, cavalos e, às vezes, cachorros, para ajudar a barrar o aumento da quantidade de lobos e dos departamentos colonizados pela espécie"", diz Michelle Boudoin. O governo Macron, focado no enxugamento de gastos, tem forte interesse em resolver o problema. Em 2016, mais de € 21 milhões em indenizações foram desembolsados a criadores de ovinos e bovinos vítimas de ataques de lobos. Diante dos gastos, da insatisfação dos pecuaristas e das reclamações de ONGs de defesa dos animais, os ministérios da Transição Ecológica e da Agricultura pretendem dialogar com os dois grupos a partir de setembro para encontrar uma solução que satisfaça ambos os lados.",ambiente
Uma megausina solar em deserto no Marrocos pretende abastecer a Europa,"O micro-ônibus atravessa um enorme planalto em uma estrada recém-pavimentada do deserto de Marrocos. O chão é de terra seca e está cheio de rachaduras. Ainda assim, a região não parece tão desolada quanto já foi no passado. Neste ano, ela virou o lar de uma das maiores usinas solares do mundo. Centenas de espelhos cruzados, cada um deles maior que um ônibus, estão enfileirados cobrindo 1,4 km² de deserto, uma área do tamanho de 200 campos de futebol. O enorme complexo está em um local ensolarado ao pé da cordilheira do Atlas, a 10 km de Ouarzazate, uma cidade cujo apelido significa ""porta do deserto"". Com cerca de 330 dias de sol por ano, é o lugar ideal. Além de suprir as demandas domésticas de energia, o Marrocos espera um dia poder exportar energia solar à Europa. Essa usina tem o potencial para ajudar a definir o futuro energético da África e do mundo. No dia da visita da reportagem da BBC, porém, o céu estava coberto de nuvens. ""Nenhuma eletricidade será produzida hoje"", disse Rachid Bayed, da Agência Marroquina de Energia Solar (Masen, na sigla em inglês), responsável por implementar o projeto. Um dia de ""folga"" não os preocupa. Atualmente, a energia solar está sendo adotada por vários países que passaram a vê-la como a mais abundante fonte de energia limpa. Essa usina marroquina é apenas uma entre várias outras na África, e outras parecidas estão sendo construídas no Oriente Médio, na Jordânia, nos Emirados Árabes Unidos e na Arábia Saudita. O custo cada vez menor da energia solar a tornou uma alternativa viável mesmo nas regiões mais ricas em petróleo do mundo. Noor 1, a primeira fase da usina marroquina, já ultrapassou expectativas em termos de quantidade de energia produzida. É um resultado encorajador para o objetivo do Marrocos de reduzir a produção de combustíveis fósseis ao focar em energias renováveis e ainda assim atender às necessidades domésticas, que crescem em 7% todos os anos. A estabilidade do governo e da economia do Marrocos ajudou o país a conseguir investimento da União Europeia, que financiou 60% dos custos do projeto Ouarzazate. O país planeja gerar 14% de sua energia através do sol até 2020 e acrescentar outras fontes renováveis como vento e água ao plano com o objetivo de produzir 52% de sua própria energia até 2030. Isso torna o Marrocos mais ou menos alinhado com países como o Reino Unido, que quer gerar 30% de sua eletricidade através de energias renováveis até o fim da década, e os Estados Unidos, onde o ex-presidente Barack Obama havia determinado índice de 20% até 2030. Donald Trump ameaçou cortar o financiamento às energias renováveis, mas talvez suas ações não tenham grande impacto, já que muitas políticas são controladas por Estados e que grandes companhias já começaram a adotar fontes mais limpas e baratas. Os refletores da usina geralmente podem ser ouvidos enquanto eles se movem para seguir o sol como um campo gigantesco de girassóis. Os espelhos filtram a energia do sol e esquenta um óleo sintético que segue por uma rede de canos. As temperaturas podem chegar a 350 ºC e o óleo quente é usado para produzir vapores de água em alta temperatura, alimentando um gerador movido a turbinas. ""É o mesmo processo dos combustíveis fósseis, só que usamos o calor do sol como fonte"", diz Bayed. A usina continua gerando energia mesmo após o pôr do sol, quando a demanda chega ao pico. Parte dessa energia é guardada em reservatórios feitos de nitrato de sódio e potássio, o que mantém a produção por até mais três horas. Na próxima fase da usina, a produção continuará por até oito horas após o sol se pôr. Além de aumentar a produção de energia do Marrocos, o projeto Ouarzazate está ajudando a economia local. Cerca de 2 mil funcionários foram contratados durante os dois anos iniciais da construção, sendo que muitos deles são marroquinos. Estradas foram construídas para criar acesso à planta e conectá-la às cidades mais próximas, ajudando as crianças a chegar até a escola. Além disso, uma grande quantidade de água foi levada ao complexo através de encanamentos, dando acesso a água para mais 33 vilarejos. Masen também ensinou práticas sustentáveis a fazendeiros da área. No pequeno vilarejo de Asseghmou, a 48 km da cidade de Ouarzazate, a forma como ovelhas são criadas mudou. A maioria dos fazendeiros ali dependiam apenas de sua experiência, mas agora estão entrando em contato com técnicas mais confiáveis, como simplesmente separar os animais em suas gaiolas, o que está aumentando a produtividade. A Masen também doou ovelhas para criação a 25 fazendas. ""Agora eu tenho mais segurança nos alimentos"", diz Chaoui, dono de uma fazenda local. E sua amendoeira está prosperando graças às dicas de cultivo. Ainda assim, alguns locais se preocupam com a usina. Abdellatif, que viva na cidade de Zagora, 120 quilômetros ao sul dali, onde há taxas mais altas de desemprego, acha que Masen deveria se concentrar em criar empregos permanentes. Ele tem amigos que foram contratados para trabalhar lá, mas apenas por alguns meses. Uma vez que entrar em operação total, a usina empregará entre 50 e 100 funcionários, apenas. ""Os componentes da usina são feitos no exterior, mas seria melhor produzi-los aqui para gerar trabalho contínuo para os moradores locais"", diz. Um problema maior é a enorme quantidade de água que a usina utiliza da represa de El Mansour Eddahbi. Nos últimos anos, a escassez de água tem sido um problema na região semidesértica e houve cortes no fornecimento. A agricultura ao sul do Vale Draa depende da água da represa –ocasionalmente despejada no rio local, que geralmente é seco. O coordenador da usina, Mustapha Sellam, diz que a água usada pelo complexo representa 0,05% do abastecimento, pouco comparado à sua capacidade. Ainda assim, o consumo da usina é o bastante para fazer uma diferença na vida dos fazendeiros locais, que já enfrentam dificuldades. É por isso que a usina está tentando reduzir a quantidade de água que consome, utilizando ar pressurizado para limpar os espelhos. Além disso, a água usada para resfriar o vapor produzido pelos geradores é reutilizada para produzir mais eletricidade. Há novas sessões da usina em construção no momento. A Noor 2 será parecida com a 1, mas a 3 terá um design diferente. Em vez de espelhos enfileirados, ela vai capturar e guardar a energia solar através de uma torre única, que acredita-se ser mais eficiente. Sete milhares de espelhos retos serão dispostos ao redor da torre para capturar e refletir os raios de sol em direção a um capturador no topo dela, usando menos espaço do que as filas de espelhos exigem hoje. Sais derretidos no interior da torre vão capturar e armazenar o calor diretamente, sem a necessidade do óleo quente. Sistemas parecidos já estão em uso na África do Sul, na Espanha e em alguns lugares nos Estados Unidos, como no deserto Mojave, na Califórnia, e em Nevada. Mas, com uma altura de 26 metros, a estrutura de Ouarzazate será a mais alta do tipo no mundo inteiro. Outras usinas similares estão em construção no Marrocos. O sucesso dessas usinas no Marrocos e na África do Sul podem incentivar outros países africanos a adotar a energia solar. A África do Sul já entrou na lista dos dez maiores produtores de energia solar do mundo, e Ruanda tem a primeira usina do tipo no leste africano, criada em 2014. Há também planos de construção de usinas solares em Gana e Uganda. O sol da África pode um dia transformar o continente em um exportador de energia para o resto do mundo. Ao menos Sellam tem grandes expectativas em relação a Noor. ""Nosso principal objetivo é a independência energética, mas, se um dia estivermos produzindo a mais, podemos suprir outros países"", diz.",ambiente
Contando elefantes: pesquisadores fazem maior censo do mundo,"Há dois anos, pesquisadores cruzam os céus africanos a bordo de aviões. Sua missão: contar elefantes. A contagem do maior bicho terrestre é o maior recenseamento animal de todos os tempos. Somando todos os voos, daria para chegar à Lua, ou dar mais de dez voltas em torno da Terra –mais de 450 mil km. O censo foi financiado pelo bilionário da Microsoft, Paul G. Allen, e envolve cerca de 90 pesquisadores, liderados por Mike Chase, da ONG Elefantes Sem Fronteiras. O centro de análise dos dados fica em Seattle, EUA, sede de uma empresa de Allen, a Vulcan. ""Estamos vendo a maior taxa de mortalidade de elefantes da história. Até 20% dos elefantes de África podem ser mortos nos próximos dez anos se a caça ilegal continuar no ritmo atual. Agravando isso temos a rápida perda de habitat dos elefantes por conta da mineração, das madeireiras e de outras formas de expansão humana"", declarou Allen. Existem elefantes em 37 países africanos. O censo se limitou aos 20 países que deram permissão para os sobrevoos, mas nessa área estima-se que estão 90% destes animais, incluindo países nunca pesquisados até agora, como Angola. O trabalho de campo já está praticamente encerrado e os dados agora estão sendo analisados. Antes do censo, dados da União Internacional para a Conservação da Natureza indicavam que o número dos paquidermes do continente teria caído de 550 mil para 470 mil entre 2006 e 2013. Estima-se que, no começo do século 20, a África tinha algo em torno de 10 milhões de elefantes. Censo de elefantes A pior notícia até agora foi a alarmante queda de 53% dos elefantes na Tanzânia, país com vários parques nacionais e que, diferentemente de outras nações, não sofreu guerras e, portanto, não viu o números diminuir em função do conflito. De estimados 109 mil elefantes em 2009, foram contados agora apenas 51 mil em 2015. O país se tornou a maior fonte de marfim ilegal no leste africano. Depois da divulgação dos números, a Tanzânia contratou mais guardas florestais e deu mais recursos para os parques. Do lado positivo estão os dados de Botsuana, com exatos 129.939 elefantes observados em 2014. O número tem se mantido bastante estável nos últimos anos. Embora o número seja pequeno, os cerca de 5.000 elefantes de Uganda são uma boa notícia, pois na década de 1970 a população tinha caído para menos de mil. Os dados divulgados mais recentemente foram os da Zâmbia, baseados em 250 horas de voos realizados em 2015. O número de elefantes permanece estável, embora demonstre grande variação regional. ""A pesquisa fornece os dados de que precisamos para direcionar recursos onde eles podem ter o maior impacto, tanto para conservação como para melhorar a vida das pessoas"", disse Matt Brown, diretor de Conservação para África da ONG The Nature Conservancy, parceira do censo. ""Os números em geral parecem mais positivos do que o esperado, sugerindo que a proteção está fazendo diferença. Mas não significa que nós podemos descansar. A caça ilegal é como a água –ela se move para o caminho de menor resistência"", diz Brown. Áreas melhor patrulhadas têm mais animais vivos, e menos carcaças. O censo teve seu primeiro voo em 26 de fevereiro de 2014, sobre o Parque Nacional Tsavao, no Quênia. O número de elefantes no parque caiu nos últimos anos de 12.500 para 11.000.",ambiente
Meta de plantio de árvores da Olimpíada do Rio não será atingida,"Para compensar o impacto ambiental da Olimpíada, o governo do Rio de Janeiro planejava plantar 36 milhões de árvores da mata atlântica, mas até agora menos de um quinto da meta foi cumprido. A meta havia sido anunciada em 2012 por Carlos Minc (PT), à época secretário do Ambiente. O número, inclusive, excedia os 24 milhões de árvores prometidas na época da candidatura do Rio para os jogos –chegando aos 13 mil hectares de floresta. ""Nem eu nem minha equipe participamos da definição [da meta] de 24 milhões, que surgiram sem estudo"", afirmou o Minc à Folha. ""Uma consultoria internacional concluiu que precisávamos de 18 milhões para abater as emissões, então tomamos medidas que poderiam chegar ao plantio de 36 milhões, para garantir"", disse. A ideia é compensar a emissão de gases-estufa gerados por causa do evento. A estimativa de um estudo da UFRJ publicado pelo comitê olímpico é que o equivalente a 3,6 milhões de toneladas de CO2 de sejam emitidas. Após a saída de Minc, a SEA-RJ diz não reconhecer a meta de 36 milhões. Em nota, foi dito que ela é responsável por compensar 1,6 milhão de toneladas de gases, sendo que metade já estariam compensados pelos 2,5 mil hectares plantados. O órgão também não esclarece quais árvores foram plantadas especificamente para compensar as emissões da Olimpíada. Na conta atual, entram florestamentos financiados por empresas privadas para ""compensar"" obras que não as do evento olímpico. Ambientalistas criticam a falta de transparência na definição de quem está pagando o quê. ""Quando existe uma meta e não se define de onde vão vir os financiamentos, fica difícil mensurar se o projeto foi realmente adicional ao que teria acontecido normalmente"", afirma Lucas Pereira, da ONG Iniciativa Verde. O plantio de árvores é um dos métodos mais eficientes para mitigar o efeito estufa. As árvores plantadas até agora no Rio, por exemplo, têm o potencial de absorver 50 mil toneladas de CO2 por ano enquanto estiverem crescendo. Em 2013, o site da SEA-RJ incluía o compromisso da Petrobras de compensar as obras do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro com o plantio de 7 milhões de árvores. Após questionamento da Folha, a página foi tirada do ar. O governo do Rio também tem sido alvo de críticas por não ter despoluído 80% do esgoto despejado na baía de Guanabara, onde acontecerão as provas de vela, remo e maratona aquática, e por ter autorizado a construção de um campo de golfe em área de reserva ambiental. EM LONDRES Nos jogos de Londres-2012, os planos de compensação de carbono também foram abandonados prematuramente. Em 2011, os organizadores recuaram de plano apresentado em 2009 que prometia investimentos em energia limpa em países em desenvolvimento. A única compensação foi patrocinada pela British Petroleum, parceira do evento, que comprou créditos de carbono equivalentes a 100 das 913 mil toneladas de emissões geradas pelo transporte dos espectadores —boa parte das 3,3 milhões de toneladas do evento. Outra iniciativa de destaque de Londres foi a reciclagem de 70% dos resíduos gerados pelo público e a compostagem dos resíduos orgânicos, que são uma das principais fonte de emissões no mundo. No Rio de Janeiro, o comitê organizador planeja manter esse patamar. O plano de reduzir o uso de combustíveis fósseis em 20% durante os jogos de 2012 também não se concretizou. A turbina eólica que forneceria energia sustentável não pôde ser instalada no lugar planejado devido a regulações de segurança; além disso, o relatório final do comitê de sustentabilidade da Olimpíada apontou que 40% dos locais visitados não cumpriram o plano de economia de energia.",ambiente
"Nova regra sobre demarcação de área indígena afetaria clima, diz ONG","A proposta de emenda constitucional que passa do Planalto para o Congresso a última palavra sobre terras indígenas (PEC 215) não ameaça só os índios. Se for aprovada, arrisca lançar mais poluição de carbono no ar do que toda a indústria nacional produz num ano. Seriam 110 milhões de toneladas a mais de gás carbônico (CO2) até 2030. O CO2é o principal gás do efeito estufa (GEE), uma espécie de cobertor planetário que retém radiação solar perto da superfície da Terra e agrava o aquecimento global. Esse valor corresponde a 128% de tudo que as indústrias brasileiras emitiram de GEE em 2014 (86 milhões de toneladas, segundo o Observatório do Clima/Seeg). A estimativa se encontra no estudo ""Ameaça aos Direitos e ao Meio Ambiente - PEC 215"", do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (bit.ly/1Ma4qf8), ao qual a Folha teve acesso. A PEC 215 foi aprovada pelo Senado em 8 de setembro e deve agora ser examinada pela Câmara dos Deputados. O cálculo do Ipam se baseia nos 78 mil km2 de terras indígenas (TIs) em processo de demarcação, que ainda não foram homologadas pelo governo federal (passo final do processo de reconhecimento de uma TI). DESMATAMENTO As áreas homologadas têm em geral um nível de desmatamento bem menor do que outras terras circundantes. O grau de devastação nas TIs homologadas (1,9%) é aproximadamente a metade do observado nas que se acham em vias de demarcação (3,7%), um indicador de que o reconhecimento completo refreia a tendência de que a área seja desmatada. Na Amazônia, o bioma brasileiro com maior extensão de floresta, a taxa de desmatamento já alcançou 19%. Se a PEC 215 entrar em vigor, é provável que várias TIs nunca sejam homologadas. Boa parte das que estão em processo de demarcação se acha fora da Amazônia e sob forte resistência de ruralistas, que têm grande influência no Congresso. Se se tornarem áreas privadas, teriam de seguir a legislação, que determina de 20% a 80% de reserva legal em cada propriedade, dependendo do bioma. Caso isso aconteça e 20% de seu território terminar desmatado, 8,3 mil km2 sofreriam corte raso, calcula o Ipam. Multiplicando essa área pelo carbono estocado na biomassa das matas, chega-se aos 110 milhões de toneladas de CO2 que seriam emitidas ao longo de 15 anos. DEZ ESTADOS Segundo o instituto, e ainda com base nos dados do Seeg, essa quantidade de carbono corresponde às emissões anuais totais de dez Estados brasileiros: Acre, Amapá, Alagoas, Distrito Federal, Espírito Santo, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Roraima e Sergipe. Outra comparação possível são os GEE produzidos por uma frota de mais de 7 milhões de carros rodando 20 km por dia até 2030. O Ipam projetou também um cenário mais benigno, em que o desmatamento seguiria o padrão das áreas privadas no entorno de TIs. Neste caso, o desmatamento cairia para 1.400 km2 adicionais e as emissões, para 16 milhões de toneladas de CO2. O Instituto Socioambiental (ISA) lançou um estudo complementar, intitulado ""Impactos da PEC 215 sobre os Povos Indígenas, Populações Tradicionais e o Meio Ambiente"" (disponível no endereço isa.to/1UTdCw2).",ambiente
Ativistas do Greenpeace fazem ato contra desmate em Roraima,"Ativistas do Greenpeace protestaram nesta quinta (9) contra o aumento de focos de desmatamento no sul de Roraima, Estado que historicamente registra taxas relativamente baixas de devastação. Cerca de 20 ativistas entraram em um desmate em Rorainópolis (263 km de Boa Vista) e abriram uma faixa de 30 m por 60 m com a inscrição ""A falta de água começa aqui"". A área faz parte da fazenda Ressaca de São Pedro, que acumula R$ 488 mil em multas ambientais do Ibama. A retirada das árvores é feita pela RR Madeiras, alvo de investigação da Polícia Federal. O desmatamento em Roraima tem ficado atrás só do mato-grossense, ultrapassando áreas tradicionalmente mais problemáticas, como o Pará. Nos últimos meses, o Ibama fez duas grandes operações no sul de Estado, com 54 autos de infração. Em dezembro, a Polícia Federal deflagrou uma operação que levou a 49 mandados de busca e apreensão e 42 de condução coercitiva. Laudo da PF aponta documentos fraudados para esquentar toras ilegais. No caso da RR Madeiras, o rastreamento de placas de veículos mostrou que a empresa incluiu na planilha motos e carros de passeio como se fossem caminhões. Uma Honda Biz teria transportado, em uma viagem, o equivalente a 14 grandes toras de madeira. outro lado Perto do final do protesto, o diretor da RR Madeiras, Saulo Zani, e o vice-presidente do Sindicato de Desdobramento e Beneficiamento de Madeiras de Roraima (Sindimadeiras), Oneber de Magalhães Queiroz, chegaram em uma camionete. ""Esse pessoal do Greenpeace não planta a maconha que fuma"", disse Queiroz. Zani afirmou que uso de placas de motos nas planilhas foi erro de digitação e assegura que a empresa atua dentro da lei. O diretor mostrou a autorização, emitida via Ibama, para o desmate de 400 hectares e para a extração sustentável de madeiras em 1.215 hectares. A fazenda tem 5.017 hectares. ""A tendência é que o sul do Estado se torne o maior polo de pecuária de Roraima"", diz o madeireiro Queiroz. Para ele, os constantes problemas de grilagem de terras na região repetem a prática em outras partes do país. ""O Brasil inteiro foi colonizado assim.""",ambiente
Como era o Saara antes de se tornar o maior deserto do planeta,"O que hoje é o árido, quente e inóspito deserto do Saara, no norte da África, era uma região de savanas e pradarias com alguns bosques, lar de caçadores e coletores que viviam de vários animais e plantas, sustentados por lagos permanentes e muita chuva. Era assim numa época entre 5.000 e 10 mil anos atrás –período conhecido como do ""Saara verde"" ou ""Saara úmido"". É difícil imaginar que o maior deserto quente do mundo, que tem uma precipitação anual entre 35 e 100 milímetros de chuva, recebia chuvas 20 vezes mais intensas há alguns milhares de anos. Os ventos das monções sazonais traziam intensas chuvas que mantinham a terra fértil. Existem diferentes estudos que reconstituem o clima e a vegetação do Saara nos últimos 10 mil anos. Um dos mais recentes, publicado em conjunto por pesquisadores da Universidade de Estocolmo, na Suécia, e das universidades de Columbia e do Arizona, nos Estados Unidos, analisou a sedimentação marinha no norte da África em busca de um padrão de chuvas. ""A precipitação anual no Saara Ocidental pode ter sido até 2.000 milímetros maior do que é hoje em dia, com vegetação parecida com a da atual região sul do Senegal"", disse Francesco Pausata, climatologista da Universidade de Estocolmo e coautor do estudo. O Senegal, na costa oeste da África, faz parte do Sahel, uma faixa de 500 a 700 km de largura, em média, e 5.400 km de extensão, protegida por um cinturão verde de flora altamente diversificada, que a protege dos ventos do Saara. É uma zona de transição entre o deserto do Saara no norte e a savana sudanesa no sul, que se estende do oceano Atlântico até o mar Vermelho. O Sahel atravessa a Gâmbia, o Senegal, a parte sul da Mauritânia, o centro do Mali, Burkina Faso, a parte sul da Argélia e do Níger, a parte norte da Nigéria e de Camarões, a parte central do Chade, o sul do Sudão, o norte do Sudão do Sul, a Eritreia, a Etiópia, o Djibuti e a Somália. ""Acredito que os animais que hoje em dia pastam no Sahel, como os gnus e as gazelas, possam ter vivido até no extremo norte do Saara Ocidental"", disse Pausata. ""A parte oriental podia ser um pouco mais seca, mas com pastagens acima da região do paralelo 25 Norte (no norte da Mauritânia)."" Outros pesquisadores, porém, mencionam uma vegetação mais frondosa, com árvores e lagos onde viviam grandes animais. ""A evidência fóssil e de pólen é bastante clara"", diz David McGee, professor do departamento de Ciências Atmosféricas, Planetárias e da Terra do Massachusetts Institute of Technology (MIT), nos Estados Unidos. McGee compara essa vegetação do Saara verde com a do chamado ecossistema Serengeti (ou Serengueti), no norte da Tanzânia e sudoeste do Quênia. O Serengeti abriga a maior migração animal de mamíferos do mundo. Na língua do povo massai, a palavra Serengit significa ""planícies intermináveis"". ""Havia no Saara corpos hídricos permanentes, savanas, pradarias e até alguns bosques"", disse à BBC Mundo, o serviço em espanhol da BBC, o professor McGee, especialista em paleoclimatologia. ""Foram encontrados fósseis de grandes animais que hoje já não são vistos vivos no Saara. Crocodilos, elefantes e hipopótamos."" Assentamentos humanos antigos também deixaram evidências da existência de uma grande fauna, observou McGee. ""Vemos a arte rupestre representando girafas no meio do Saara. Ali também encontramos antigos anzois, o que sugere um estilo de vida profundamente diferente de como se viveria atualmente nesta parte do deserto."" Nos poucos e muito isolados corpos hídricos que ainda existem, há peixes das mesmas espécies, que não tiveram qualquer forma moderna de contato. ""Isso sugere que, no passado, existiam vias aquáticas que se comunicavam"", acrescentou. Embora seja muito difícil determinar a extensão dessa vegetação, o paleoclimatologista do MIT estima que o cenário descrito tenha se estendido muito ao norte do Saara, onde hoje estão as regiões centrais da Líbia, da Argélia e do Egito. Este clima –favorável à existência de uma flora fértil e fauna e o desenvolvimento humano– foi desencadeado pela maior proximidade do Sol em relação à Terra durante o verão, o que produziu mudanças de insolação, indicou Francesco Pausata, da Universidade de Estocolmo. ""O Saara se tornou verde quando saímos do período glacial. O Sol do verão se tornou mais forte há uns 9.000 anos e isso trouxe uma série de consequências"", explicou Pausata. ""Quando o Saara esquentou, as chuvas de monções se tornaram mais fortes, o que levou a uma vegetação maior que, por sua vez, reduziu as emissões de poeira e diminuiu o reflexo da luz, promovendo mais precipitações."" Este reflexo de luz solar, seja da superfície terrestre ou da poeira que flutua na atmosfera, é conhecido como albedo e é um dos fatores mais importantes na aridez de uma região. Esse intenso albedo –a luz de cor creme clara refletida na superfície do deserto e também com alto teor de partículas minerais– contribuiu para a desertificação do Saara. Quais foram os fatores e como ocorreu a dramática transformação dessa região no vasto e empoeirado deserto que conhecemos têm sido objeto de debate da comunidade científica. Muitos cientistas concordam que a mudança ocorreu há 5.000 anos, como fruto de um fenômeno cíclico de maior ou menos insolação. É algo que ocorre mais ou menos a um intervalo de 20 mil anos, segundo mudanças na órbita da Terra. Mas, em quanto tempo o Saara se tornou árido está sendo investigado, diz Pausata. Uma das teorias sustenta que o Saara passou de verde a deserto subitamente, em um par de séculos, numa das mudanças climáticas mais dramáticas da Terra. Outra pesquisa, publicada em maio de 2008, estima que a região tenha se tornado o deserto mais quente do mundo há apenas 2.700 anos e que a mudança foi muito mais lenta. Os autores desse estudo –uma equipe internacional liderada por Stefan Kröpelin, da Universidade de Colônia, na Alemanha– colheram amostras de sedimento do lago Yoa, no norte do Chade. Com os dados analisados, eles construíram uma história geológica que sugere um processo gradual de desertificação que ""continua até o dia de hoje"". Esta pesquisa data o deserto em 2.700 anos, mas estima que os seres humanos tenham abandonado as áreas que estavam se tornando desérticas muito antes, à medida em que o clima mudava. Por sua vez, o estudo do qual participou. Pausata, analisou as precipitações passadas e concluiu que seres humanos caçadores e coletores povoaram o Saara verde e o abandonaram há uns 8.000 anos, devido a um período de seca que durou mil anos. Depois disso, as populações retornaram, mas suas práticas de sobrevivência eram outras, já que a maioria delas criava gado. A pesquisa mais recente, de março de 2017, contempla a ideia de que os seres humanos desempenharam um papel ativo na criação das condições áridas que existem hoje no Saara. Segundo o estudo publicado pelo arqueólogo David Wright, da Universidade Nacional de Seul, existem evidências arqueológicas que documentam que a primeira aparição do pastoreio no Saara teve efeitos severos sobre a ecologia da região. À medida em que a vegetação era retirada e substituída para acomodar o gado e os rebanhos, o albedo aumentou e esse efeito influiu nas condições atmosféricas de modo a reduzir a frequência das chuvas de monções. Mas Pausata diz acreditar que esses exemplos não estejam muito bem fundamentados. ""Embora exista um consenso de que o crescimento intenso do rebanho de gado que pasta possa ser prejudicial à variedade de plantas, o pasto leve e moderado pode ter resultados positivos"", afirma Pausata. ""É certo que no Saara e no Sahel não houve animais domésticos de pastoreio num período anterior a 8.000 anos, mas havia gnus e outros animais"",diz o climatologista. Esses animais pastavam e também defecavam ali. Assim, deixavam a área fertilizada para a sua recuperação quando as chuvas chegassem. ""Não vemos como a introdução de uma população tradicional de pastores, há uns 6 mil anos, que tem um deslocamento similar à migração dos gnus, possa ser diferente. Eles também sustentariam a vegetação"", afirmou. Por outro lado, McGee reconhece que os humanos possam ter tido alguma influência na desertificação, mas não era só isso o que estava acontecendo. ""Definitivamente não. Os outros fatores (como mudanças cíclicas, de acordo com a aproximação da Terra do Sol) já estavam ocorrendo de maneira natural."" O período do Saara verde não ocorreu apenas entre 5.000 e 10 mil anos, mas também há 125 mil anos, Naquele período, não houve interferência humana, mas a transição de úmido para árido. E, se o fenômeno é cíclico, seria possível supor que o Saara voltará a ser verde outra vez, embora a atividade humana do mundo moderno tenha que ser levada em conta, afirma Pausata. ""Daqui a milhares de anos o ciclo se repetirá. O problema agora são as forças antropogênicas. A influência humana será mais um efeito, fora da variação natural, que poderá mudar o equilíbrio no futuro do planeta, não apenas no Saara"", concluiu.",ambiente
Fenda em plataforma na Antártida cresce e preocupa cientistas,"O rápido avanço da rachadura no quarto maior iceberg da Antártida continua a preocupar os cientistas. O desprendimento do total do continente pode estar próximo. Em uma área já sensível às mudanças de temperatura, houve um aumento na velocidade do desprendimento. Desde dezembro, a rachadura tem crescido, por dia, o equivalente ao comprimento de cinco campos de futebol. Nesse momento, a rachadura na plataforma Larsen C tem mais de 160 km de comprimento e, em algumas áreas, já chega a uma abertura de 3 km. A ponta da fenda agora está a apenas cerca de 32 km do final da plataforma. Uma vez que a rachadura chegue ao outro extremo da plataforma, estará criado um dos maiores icebergs já documentados, de acordo com o Projeto Midas, grupo de pesquisas que está monitorando a fenda desde 2014. Considerando a pressão que a rachadura imprime na extensão restante da plataforma, os pesquisadores do Projeto Midas dizem esperar que o desprendimento ocorra em breve. ""O iceberg provavelmente se soltará nos próximos meses"", diz Adrian J. Luckman, pesquisador do Projeto Midas, da Universidade de Swansea, no País de Gales. As plataformas de gelo flutuam na água e promovem suporte para as geleiras que ficam em terra. O colapso dessas plataformas pode acelerar a destruição das geleiras. Se a plataforma se partir no local da rachadura, Larsen C ficará com o menor tamanho já registrado. Isso também levará à grande proximidade de um ponto crítico estrutural na plataforma gelada, segundo cientistas. Poderia haver, nesse caso, novos colapsos nos meses seguintes. O que, por fim, poderia mudar significativamente a paisagem na península antártica. ""Nesse ponto, haverá reação das geleiras"", diz Eric J. Rignot, professor da Universidade da Califórnia Irvine e cientista da Nasa. ""Se a plataforma se quebrar, acabará o suporte das geleiras. Haverá menos resistência para a geleira fluir em direção ao mar. É como tirar uma rolha."" A fenda na Larsen C tem cerca de 500 metros de profundidade. Segundo Rignot, a estabilidade de toda a plataforma está ameaçada. As plataformas Larsen A e B se desintegraram em 1995 e 2002, respectivamente. Contudo, ambas eram drasticamente menores do que a Larsen C. Nenhuma delas contribuiu de forma significativa para a elevação global do nível do mar, considerando que elas já estavam flutuando no oceano e as geleiras que sustentavam não tinham um volume substancial de gelo. De acordo com Rignot, o colapso de Larsen C provocaria um pequeno aumento no nível do mar. Contudo, a maior preocupação dos pesquisadores é como essa ruptura pode afetar as geleiras ao redor, pois o derretimento delas podem causar um aumento muito maior do nível dos oceanos. Segundo os cientistas, o iminente colapso da Larsen C é um sinal de alerta sobre a vulnerabilidade de outras grandes massas de gelo no oeste da Antártida.",ambiente
"Na 'Science', cientistas criticam hidrelétricas","As três bacias hidrográficas mais ricas em biodiversidade no planeta estão ameaçadas por um mesmo ""inimigo"" comum: a construção de usinas hidrelétricas. A análise é de um grupo de cientistas de países como Brasil, EUA, Alemanha, Canadá e Camboja. Está na revista científica ""Science"" desta semana, em uma seção que traz debates de cientistas sobre temas atuais. De acordo com os cientistas, um terço dos peixes de água doce do mundo vive nas bacias hidrográficas da Amazônia, do Congo (África) e de Mekong (no sudeste asiático). Esses animais convivem com a construção de usinas, de represas e de barragens para a produção de energia elétrica. O problema é que boa parte desses peixes migra conforme a vazante dos rios. Com as barragens, eles podem ficar pelo caminho. ""Há espécies de alto valor que viajam centenas de quilômetros em resposta a pulsos de inundação sazonal"", escrevem os autores. Pelo menos 450 barragens ainda devem ser construídas nas usinas dessas três bacias, aponta o estudo. Só o rio Mekong, por exemplo, já tem 370 barragens e deve ganhar mais cem delas nos próximos anos. No Brasil, o debate é sobre a construção da usina Belo Monte, que está sendo erguida em Altamira, no Pará. Uma obra controversa de R$ 30 bilhões no coração da floresta amazônica. Quando estiver funcionando, a usina poderá produzir, estima-se, energia doméstica para 18 milhões de pessoas. De acordo com o trabalho da ""Science"", Belo Monte pode estabelecer um recorde mundial de perda de biodiversidade. Isso porque há um número excepcional de espécies que só vive ali. ""As espécies de peixes não estão uniformemente distribuídas ao longo destas bacias. Muitas sub-bacias e afluentes têm espécies únicas que não são encontradas em nenhum outro lugar"", explica Kirk Winemiller, líder do estudo e especialista em vida selvagem e peixes da Universidade do Texas. Um exemplo disso está aqui no Brasil, no rio Xingu, afluente do Amazonas. ""Há dezenas de espécies de peixes que só existem ali"", diz Winemiller. De acordo com os cientistas, faltam protocolos para orientar a construção de hidrelétricas em regiões tropicais ricas em biodiversidade. Para o grupo, as instituições que financiam a construção de hidroelétricas devem exigir estudos científicos que mostrem o impacto da obra na biodiversidade e nas mudanças climáticas. ""Estamos defendendo uma melhor avaliação dos custos e benefícios de usinas hidrelétricas com base científica"", explica Winemiller.",ambiente
Peixes ficam estressados e perdem peso quando estão longe do cardume,"Peixes que vivem em recifes de coral gostam de companhia. Eles ficam estressados e perdem peso quando estão separados uns dos outros, o que afeta sua capacidade de sobreviver, revelou um estudo publicado nesta quinta-feira (22). Cientistas da Universidade James Cook, na Austrália, estudaram peixes-donzela capturados na Grande Barreira de Corais australiana. Para tentar saber por que os animais preferiam se socializar, os pesquisadores isolaram alguns deles e mantiveram outros juntos em cardumes. ""Os peixes que foram isolados perderam peso após a primeira semana, o que significava que eles estavam menos saudáveis do que os em grupos"", disse o autor do estudo, Lauren Nadler. A equipe de cientistas mediu a taxa metabólica –que é um indicador de estresse– tanto nos peixes em cardume quanto nos sozinhos e confirmou o que suspeitava: ficar em grupos tem um ""efeito calmante"". ""Os peixes ficavam mais calmos e menos estressados quando tinham seus companheiros de cardume ao redor, com diminuição de 26% na taxa metabólica em comparação com os indivíduos testados isoladamente"", explicou Nadler. Distúrbios naturais, como ciclones tropicais, às vezes podem dispersar companheiros de cardume. Mas se se mantêm juntos, peixes não queimam energia tão rapidamente, o que os ajuda a sobreviver e se reproduzir. ""Se esses peixes estivessem sozinhos no oceano, eles precisariam de mais alimentos para manter sua energia e sobreviver "", disse o coautor do estudo, Mark McCormick. ""Quando eles não têm os companheiros por perto para ajudar a vigiar se predadores se aproximam, a busca por alimentos se torna mais arriscada."" Os resultados do estudo, publicado no ""Journal of Experimental Biology"", mostram a importância da convivência em grupo para manter populações de peixes saudáveis, dizem os cientistas.",ambiente
"Morre Tilikum, orca que matou treinadora e protagonizou ""Blackfish""","O parque aquático SeaWorld anunciou que Tilikum, orca que foi responsável pela morte de sua treinadora em 2010 e depois se tornou protagonista do documentário ""Blackfish"", morreu nesta sexta (6) em Orlando, na Flórida. ""É com pesar que compartilhamos a triste notícia da morte de Tilikum, uma das orcas mais conhecidas do SeaWorld Orlando. Tilikum foi um membro amado da família SeaWorld por 25 anos e tocou a vida de milhões. A família SeaWorld e muitas pessoas que Tilikum inspirou sentirão muita falta dele"", disse a empresa em sua página no Facebook. A orca sofria de uma infecção persistente de uma bactéria encontrada em habitats selvagens, mas a causa exata da morte será determinada por uma necrópsia. Estima-se que Tilikum tinha 36 anos de idade. Os cuidadores dele haviam dito em março que a orca tinha sido afetada por uma infecção que poderia causar sua morte. Tilikum estava no centro de um programa controverso de criação de orcas, que o parque SeaWorld encerrou no ano passado. A empresa também deu fim às performances de orcas assassinas em San Diego, por causa da pressão que sofreu depois do lançamento do documentário ""Blackfish"". Com a morte de Tilikum, o SeaWorld agora tem 22 orcas em Orlando, San Antonio e San Diego. A empresa também lembrou que Tilikum estava ""intrincadamente ligada"" à morte de sua treinadora, Dawn Brancheau, em 2010. ""Enquanto todos nós sentimos tristeza profunda com aquela perda, continuamos a oferecer a Tilikum o melhor cuidado possível diariamente dos melhores especialistas em mamíferos aquáticos."" A orca mordeu o rabo de cavalo de Dawn Brancheau antes de arrastá-la para debaixo d'água e matá-la. Após o ocorrido, o SeaWorld conduziu revisões extensas que resultaram no isolamento dos treinadores por segurança. Em 2013, o documentário ""Blackfish"" examinou a morte de Brancheau ao olhar para a saúde mental das baleias e orcas que são retiradas de seus habitats e criadas em parques marinhos. No entanto, o parque recusou as acusações do filme de que os animais em cativeiro sofrem de estresse físico e mental por causa do confinamento.",ambiente
"Nos EUA, Aloysio Nunes diz lamentar a saída do país do Acordo de Paris","Um dia depois de os Estados Unidos anunciarem a saída do Acordo de Paris, o chanceler Aloysio Nunes evitou, em encontro com o secretário de Estado americano, Rex Tillerson, repetir as críticas à decisão divulgadas pelo governo brasileiro na véspera. A reunião entre Aloysio e Tillerson no Departamento de Estado teve como foco, segundo o ministro brasileiro, enxugar a agenda bilateral em uma lista de dez pontos que os dois lados querem ver resolvidos de forma mais rápida. ""Nós lamentamos. Nesse Acordo de Paris, a presença dos EUA é muito importante"", disse Aloysio a jornalistas depois da reunião. ""Mas nós vamos continuar engajados nessa agenda do clima, que, para nós, é um dos pontos fundamentais nas nossas políticas externa e interna"", afirmou, esclarecendo depois que o assunto não foi abordado pelos dois. Na quinta, após o anúncio feito pelo presidente Donald Trump, o governo brasileiro disse ter recebido ""com profunda preocupação e decepção"" a mudança. Ao posar para fotos com Aloysio, Tillerson –que é apontado como uma das forças dentro do governo que tentava evitar a saída do tratado– disse que foi uma ""decisão política"" e que os EUA já têm ""excelentes"" números de redução de emissões. ""Não acho que vamos mudar os nossos esforços para reduzir as emissões de gases do efeito estufa no futuro. Então espero que as pessoas tenham isso em perspectiva"", afirmou. 'ROTEIRO' Segundo Aloysio, o encontro estabeleceu um ""roteiro muito claro de trabalho"" para os dois países, com temas que já vinham sendo discutidos de forma bilateral, mas que agora terão prioridade sobre outros. Entre eles, estão expandir a convergência regulatória e também a facilitação do comércio, com uso de documentos eletrônicos, e continuar as discussões sobre o Open Skies, acordo para liberalizar as rotas aéreas. Há ainda a expectativa de análises das ""convergências"" entre modelos de investimento nos dois países com o objetivo de negociar um acordo bilateral na área. ""Partimos da constatação de que termos 40, 50 objetivos, pode nos dispersar"", disse. Ficarão de fora da discussão nos próximos meses temas mais complicados, como um acordo para a eliminação de bitributação –que, segundo o embaixador nos EUA, Sergio Amaral, ""precisa de maior aprofundamento"". A ideia é que, em três meses, os dois governos façam uma avaliação de como avançou cada um dos pontos, que incluem ainda as áreas de saúde, agricultura, defesa, segurança, infraestrutura e energia. Aloysio reafirmou que Temer tem a intenção de fazer uma visita aos EUA no segundo semestre para ter um encontro bilateral com Trump. CRISE NO BRASIL Aloysio reconheceu que a crise política no Brasil contribuiu para piorar a imagem do país no exterior. ""Evidentemente, quando os grandes veículos de comunicação do mundo repercutem essa crise, especialmente os dados sobre corrupção, isso não é bom. Isso afeta a imagem do Brasil"", disse. Ele, no entanto, negou que Tillerson tenha demonstrado preocupação com o andamento das relações diante da crise. ""O que o secretário Tillerson enfatizou é a sua convicção de que Brasil é um país institucionalmente sólido. [...] Temos turbulência política, mas que não significa [que temos] uma turbulência institucional"", afirmou o brasileiro. A crise na Venezuela também foi tema das conversas, com os dois ministros concordando que é preciso discutir uma solução no âmbito da OEA (Organização dos Estados Americanos). Aloisio veio a Washington justamente para participar de uma reunião de chanceleres do organismo sobre o país.",ambiente
"No Texas, movimento pede que agricultores abandonem o arado","Gabe Brown fala com fervor quase evangelista sobre as práticas agrícolas de conservação do solo, um movimento que propõe não arar a terra e usar ""adubos ecológicos"", entre outros métodos de melhoria do solo. Esses métodos de cultivo, que imitam a biologia da terra virgem, são capazes de revigorar terras degradadas, minimizar a erosão, incentivar o crescimento das plantas e aumentar a renda dos agricultores, segundo seus defensores. ""A natureza pode se curar se lhe dermos essa chance"", disse Brown. Ele contou que, mesmo durante secas e inundações, consegue manter a produção dos seus 2.000 hectares na Dakota do Norte sem usar fertilizantes nitrogenados nem fungicida –e mesmo assim sua produtividade é superior à média do condado, com menos mão de obra e custos mais baixos. As práticas de conservação do solo estão ganhando adeptos num momento em que os agricultores precisam, cada vez mais, lidar com as variações climáticas extremas, a alta nos custos de produção, a escassez de mão de obra e o receio de que o governo regulamente a poluição agrícola. Agricultores como Brown viajam pelo país contando suas histórias, e ONGs como a No-Till on the Plains (""planícies sem lavrar""), do Kansas, atraem milhares de entusiastas. Estudos sugerem que o uso do plantio direto tem crescido acentuadamente na última década, sendo responsável por aproximadamente 35% da área plantada nos Estados Unidos. Para alguns cultivos, a área com plantio direto quase dobrou nos últimos 15 anos. No caso da soja, por exemplo, saltou de 7 milhões de hectares em 1996 para 12 milhões em 2012. Segundo os levantamentos, o plantio das chamadas culturas de cobertura –leguminosas e outras espécies que se revezam com as culturas mais rentáveis, mas que servem para cobrir o solo o ano todo e funcionam como um adubo verde– também cresce cerca de 30% ao ano. Os agricultores lavram a terra a fim de prepará-la para a semeadura e revolver as ervas daninhas e resíduos da colheita anterior, enterrando-os. Isso também ajuda a misturar os fertilizantes e o estrume, além de amaciar a camada superior do solo. Mas o uso repetido do arado cobra um preço. Ele degrada o solo, matando sua biologia, incluindo minhocas e fungos benéficos, e o deixa, como descreveu o agrônomo federal Ray Archuleta, ""nu, com sede, com fome e com febre"". Um solo degradado exige aplicações pesadas de fertilizantes sintéticos. E, como sua estrutura se quebrou, a terra é facilmente arrastada em enxurradas, levando consigo nitrogênio e outros poluentes para rios e córregos. Os partidários das técnicas de preservação do solo argumentam que, ao não arar a terra e ao usar culturas de cobertura, que funcionam como sorvedouros de nitrogênio e outros nutrientes, os produtores conseguem ampliar o volume de matéria orgânica em seu solo, tornando-o mais capaz de absorver e reter água. Cada aumento de 1% na matéria orgânica do solo ajuda a reter 30 mil litros de água por hectare, segundo Claire O'Connor, do Conselho de Defesa dos Recursos Naturais. O solo mais absorvente se torna, por sua vez, menos vulnerável a enxurradas e mais resistente a secas e inundações. As culturas de cobertura também ajudam a eliminar ervas daninhas. Grupos ambientalistas como o Conselho de Defesa há muito tempo defendem as técnicas de conservação do solo porque elas ajudam a proteger as vias navegáveis e a aumentar a capacidade de armazenamento de dióxido de carbono no solo, em vez de liberá-lo para a atmosfera, onde contribui para a mudança climática. Um estudo recente conduzido pelo Fundo de Defesa Ambiental sugeriu que o uso generalizado de práticas saudáveis para o solo ajudaria a reduzir em 30% a poluição por nitrogênio nas bacias do Alto Mississippi e do rio Ohio, contribuindo para diminuir a gigantesca ""zona morta"" de água sem oxigênio no golfo do México. Mas o movimento também tem críticos, segundo os quais o plantio direto é impraticável e caro demais para muitos produtores, que precisam adquirir novos equipamentos. Há também a percepção de que o controle de ervas daninhas fica mais complicado com o uso do plantio direto; que o método, ao reduzir a evaporação da água, cria limites sobre a partir de quando os cultivos podem ser plantados; e que é muito difícil lidar com os resíduos quando não se ara a terra. Mesmo os agricultores que adotam o plantio direto e outros métodos de conservação do solo raramente o fazem por razões ambientais. A motivação é mais pragmática. ""Meu objetivo é melhorar a minha terra para que eu possa ter uma colheita melhor e ganhar mais dinheiro"", disse Terry McAlister, que cultiva 2.500 hectares de algodão, trigo, feno, sorgo granífero e um pouco de canola no norte do Texas. Ele usa uma semeadora de plantio direto, guiada por GPS, que perfura os resíduos. Ele atribuiu ao plantio direto o fato de ter obtido uma das suas maiores colheitas de trigo, em 2012, quando uma grave seca deixou agricultores de toda a região lutando para salvar a safra. McAlister e outros praticantes do plantio direto disseram que a maior barreira para a expansão da prática talvez seja a mentalidade segundo a qual os agricultores precisam fazer as coisas do mesmo jeito que as gerações anteriores. ""Temos um ditado na nossa região"", disse ele. ""Você não pode plantar direto porque ainda não enterrou seu pai.""",ambiente
ONG registra aumento em taxas de desmatamento na Amazônia,"Dados do Imazon reforçam a hipótese de que o desmatamento na Amazônia tenha voltado a aumentar no período 2014-15 (agosto a julho). Seu sistema independente de alerta (SAD), menos preciso que o do governo, registrou um salto de 63%. Segundo dados obtidos em primeira mão pela Folha do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia, de Belém, foram 3.322 km2, contra 2.044 km2 no período anterior. Não é possível extrapolar o percentual de 63%, contudo, para a taxa oficial de devastação. Esta é calculada pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), cujo sistema Prodes emprega imagens de satélite mais detalhadas. O dado governamental foi recentemente consolidado, mas para o período anterior (2013-14). A cifra divulgada em novembro (4.848 km2) passou para 5.012 km2. DESMATAMENTO NA AMAZÔNIA LEGAL - Em km² O Planalto anunciou de novo a notícia de redução na taxa de desmate (corrigida de 18% para 15%) poucos dias antes da chegada ao país da chanceler alemã Angela Merkel, mas a boa nova não era nova. A aguardada taxa oficial do ""ano fiscal"" do desmatamento, concluído no mês passado, só sairá em novembro. Em 30 de novembro deste ano se inicia a Conferência de Paris sobre mudança do clima. O desflorestamento continua produzindo um terço das emissões nacionais de gases-estufa, e uma elevação no desmate tirará brilho do principal trunfo da delegação brasileira (a diminuição de cerca de 80% na última década). PRODES 2015 O leitor que ainda não estiver confuso com os vários percentuais e quilometragens terá notado uma diferença de quase 3.000 km2 entre as áreas apuradas pelo SAD e pelo Prodes em 2013-14 (respectivamente 2.044 km2 e 5.012 km2). A discrepância decorre, em grande medida, da minúcia das fotos de satélite utilizadas pelos dois sistemas de monitoramento. Mapa do desmatamento por cidades O Prodes, do Inpe, emprega imagens de satélites da classe Landsat, que enxergam detalhes de 20 a 30 m, mas só passam sobre o mesmo ponto na Terra em intervalos de 16 dias. O SAD usa as do sensor Modis, com as quais alcança resolução bem pior, de 250 m, porém com um período de 1,5 dia. Carlos Souza Jr., responsável pelo SAD no Imazon, acredita ter acumulado já uma série histórica longa o bastante (2006-2014) para estabelecer um valor estatisticamente confiável para o desvio SAD-Prodes. Em média, ele é de 3.600 km2 a cada ano. Usar o dado do SAD para estimar o próximo do Prodes, entretanto, não é trivial. No ano passado, o Imazon havia projetado um total de 5.644 km2, e o Inpe fechou o dado em 5.012 km2. ""Superestimamos [a cifra] em 12%"", diz Souza Jr. ""Não é um número ruim."" Para este ano, acredita que o total de derrubadas, incluindo o que o SAD não enxerga, deve ficar entre 5.000 km2 e 6.000 km2 –sem nova queda, portanto. ""A mensagem mais importante é que o desmatamento estacionou nos 5.000 km2."" NAS NUVENS Curiosamente, o SAD detectou também a existência de áreas desmatadas que não aparecem no Prodes. Comparando os polígonos de terra nua, sobraram 442 km2 nos mapas do Imazon sem superposição com os do Inpe. A primeira explicação possível para essa outra divergência está nas nuvens. Como há muito mais imagens disponíveis do Modis, o Imazon pode escolher mais fotografias livres delas. Outra hipótese é que, por essa razão ou outra, o Inpe tenha usado muitas imagens de meses anteriores –maio, por exemplo– ao início da estação de derrubada, com a diminuição de chuvas a partir de julho. Alguns desmatamentos podem ficar de fora num ano, mas aparecerão nos seguintes. Uma terceira possibilidade é a própria deficiência da dupla SAD/Modis. Como as imagens têm resolução pior, os perímetros dos polígonos podem ser ""arredondados"" para cima, e essas superfícies artificialmente acrescentadas a eles acabariam subtraídas nas fotografias mais acuradas do Landsat. Isso tudo impede fazer uma extrapolação linear do SAD para o Prodes. Mesmo assim, 63% de aumento no dado do Imazon parece razão suficiente para alarme. ""Está havendo pouco esforço para baixar [do patamar de 5.000 km2]"", afirma Souza Jr. ""Isso dá quase um campo de futebol por minuto.""",ambiente
Ibama veta exploração de petróleo em área de corais amazônicos,"Pela terceira vez, o Ibama rejeitou nesta segunda-feira (28) os estudos de licenciamento ambiental para a exploração de petróleo na foz do rio Amazonas, em área próxima a um recém-descoberto sistema de corais. A petroleira francesa Total terá apenas mais uma oportunidade para complementar as informações. Em despacho baseado em parecer técnico, a presidente do Ibama, Suely Araújo, listou dez pendências não cumpridas pela empresa francesa, entre as quais esclarecimentos sobre a modelagem de dispersão de óleo em caso de vazamento e um projeto de monitoramento adequado. ""A modelagem de dispersão de óleo, por exemplo, não pode deixar qualquer dúvida sobre os possíveis impactos no banco de corais e na biodiversidade marinha de forma mais ampla"", escreveu Araújo. Outra ressalva do Ibama contra o licenciamento é a falta de ""tratativas tratativas internacionais relacionadas aos potenciais riscos transfronteiriços no licenciamento"" para Guiana Francesa, Suriname, Guiana e Venezuela, além de alguns arquipélagos caribenhos"". Ao final do parecer, Araújo afirma que é terceira e última vez que o Ibama solicita informações complementares sobre o impacto ambiental: "" Caso o empreendedor não atenda os pontos demandados pela equipe técnica mais uma vez, o processo de licenciamento será arquivado"". ""Esse processo é tao insano que já deveria ter sido arquivado"", diz Nilo D'Ávila, coordenador de campanhas do Greenpeace no Brasil.""Toda a prudência mandaria estudar mais os corais. Além disso, o mundo não precisa mais de petróleo, mas de uma revolução energética."" Descoberto em abril do ano passado, o coral se estende do Maranhão ao Amapá, com área total de 9.500 km², equivalente a seis cidades de São Paulo. É único no mundo por estar em águas profundas de pouca luminosidade. Ao todo, a foz do rio Amazonas tem sete blocos. O mais próximo do recife pertence à Total, concessionária de cinco blocos. Em fevereiro, a empresa francesa informou que, no máximo, haveria perfuração a 35 km dos corais.",ambiente
"Temer deve vetar redução de área florestal no Pará, afirma ministro","O ministro do Meio Ambiente, Sarney Filho, disse nesta segunda-feira (5) que o presidente Michel Temer (PMDB) deverá vetar medidas provisórias que reduzem áreas de preservação no Pará. Segundo ele, o peemedebista ""se mostrou sensível"" ao apelo da pasta diante de modificações realizadas nas propostas durante tramitação no Congresso Nacional. ""Eu acredito firmemente que, no momento adequado, ele vai estabelecer vetos"", disse o ministro. Em maio, a Câmara dos Deputados aprovou iniciativa enviada pelo próprio presidente que alterou os limites da Floresta Nacional do Jamanxim, no Pará. No texto substitutivo, uma emenda diminuiu ainda mais a área de proteção de 1,3 milhão para 561 mil hectares. A proposta original retirava 305 mil hectares, o equivalente a quase duas cidades de São Paulo. Na mesma noite, foi aprovada modificação em outra medida provisória, alterando área de proteção ambiental também no Pará para a construção de estrada de ferro próxima à BR-163. A mudança na Floresta Nacional do Jamanxim foi criticada por ambientalistas e contraria relatório de 2009 do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), segundo o qual apenas uma área de 35 mil hectares deveria ser excluída da floresta. A Floresta do Jamanxim é a unidade de conservação com o maior incremento de desmatamento do país. A área de influência da rodovia concentra 70% dos novos desmates da Amazônia Legal. A unidade tem registrado episódios de violência relacionados à madeira e ao garimpo. Em junho, um policial militar foi morto a tiros quando participava de uma operação do Ibama contra madeireiros.",ambiente
Europa deve renunciar ao carvão até 2030 para cumprir acordos de Paris,"Todas as centrais de geração de energia elétrica a carvão da União Europeia devem ser fechadas até 2030 para que o bloco consiga cumprir os compromissos assumidos nos acordos de Paris de luta contra o aquecimento global, afirma um relatório do instituto Climate Analytics. Os objetivos fixados em Paris, em dezembro de 2015, para limitar a 2 graus o aumento da temperatura global na comparação com o nível anterior à revolução industrial ""exigem uma descarbonização rápida do setor mundial de produção de energia e o fim gradual das centrais a carvão na UE até 2030"", afirma o documento publicado pelo instituto que promove o desenvolvimento sustentável. O Climate Analytics calculou que o ""Orçamento de carbono"" da União Europeia –ou seja o CO2 que pode ser emitido para permanecer abaixo dos 2 ºC– é de 6,5 gigatoneladas até 2050. De acordo com os autores do estudo, com o ritmo atual da atividade programada das centrais a carvão, o orçamento será superado em 85% até o ano mencionado. A proporção de carvão e lignito na produção de energia elétrica da União Europeia caiu 21% entre 1990 e 2014, ou seja 1% por ano, de acordo com a Agência Europeia do Meio Ambiente. Em 2014 representava 25% da produção de energia elétrica europeia, contra 40% em 1990. Durante o mesmo período, a proporção de energias renováveis subiu de 13% a 29%. O Climate Analytics destaca que dois países, Alemanha e Polônia, são responsáveis por 51% das capacidades instaladas e por 54% das emissões das centrais a carvão. ""Existe uma crescente disparidade entre os Estados membros em sua forma de encarar o futuro do carvão"", destacam os analistas do instituto, que criticam a construção ou os projetos de centrais a carvão em certos países como Polônia e Grécia.",ambiente
"Na Noruega, religiosos e indígenas discutem aliança para salvar florestas","Uma aliança entre religiões e povos indígenas para preservar as florestas. Essa é a proposta do encontro inédito que reuniu, na Noruega, representantes das principais crenças e de povos como os pigmeus africanos e etnias indígenas sul-americanas. Batizada de Iniciativa Interreligiosa da Floresta Tropical, o encontro teve o apoio do Ministério do Clima e Ambiente da Noruega, que, cortará neste ano ao menos 50% nas doações ao Fundo Amazônia, gerido pelo BNDES, devido ao aumento no desmatamento nos últimos dois anos. ""Em lugares onde o Estado não tem presença ou controle, sempre há comunidades de fé. Sempre há uma igreja ou outro lugar de adoração. Essa infraestrutura é um recurso que pode ser mobilizado em favor das florestas de uma forma mais consistente"", disse o ministro do Meio Ambiente, Vidar Helgesen, na segunda-feira (19), o primeiro dos três dias que durou a reunião. A iniciativa foi recebida com ceticismo pela coordenadora da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), Sônia Guajajara, que criticou a atuação das igrejas cristãs nas aldeias e a aliança entre a bancadas evangélica e ruralista, contrária a mais demarcações de terras. ""Primeiro, fomos mortos pela Igreja Católica. Hoje, mais uma vez, somos mortos pelos evangélicos que entram nas aldeias e tentam induzir as sua religiões"", afirmou, em discurso no Centro Nobel da Paz. Em entrevista, a líder dos guajajaras, etnia que habita o Maranhão, disse que ""é uma coalizão que pode ter muita força"", mas que a aproximação ainda depende de uma reorientação dos evangélicos: ""Eles têm de se preocupar em salvar vidas, e não almas"". Único participante evangélico brasileiro, o pastor Ariovaldo Ramos, de tendência progressista, disse que ""assina embaixo"" as críticas de Guajajara à atuação da bancada parlamentar, mas afirma que muitos religiosos têm um papel importante de proteção aos povos indígenas. ""Há tribos inteiras evangélicas. Graças a isso, preservaram a sua identidade, a sua língua, a sua cultura e agora têm gerado líderes"", afirmou Ramos. Ao final do encontro, o grupo, que reuniu representantes de 21 países, aprovou um documento no qual se compromete ""a formar uma aliança internacional multirreligiosa em prol das florestas tropicais, voltada para o cuidado destas florestas e das pessoas que as protegem e habitam"". O repórter FABIANO MAISONNAVE viajou a convite da Interfaith Initiative, liderada pela Rainforest Foundation da Noruega.",ambiente
Secretário de Energia dos EUA sugere permanência no Acordo de Paris,"O secretário americano de Energia, Rick Perry, disse nesta terça-feira (25) que os Estados Unidos deveriam permanecer no Acordo de Paris sobre as mudanças climáticas e renegociá-lo, ao invés de se retirar desse pacto global para reduzir as emissões de gases poluentes. ""Não vou dizer ao presidente que abandonemos o acordo. Mas lhe direi que provavelmente precisaremos renegociá-lo"", disse Perry, o primeiro membro do governo de Donald Trump a sugerir a permanência de Washington no pacto. Em um painel sobre investimentos em energia, Perry criticou especialmente a Alemanha, por considerar que o país, enquanto fecha usinas nucleares, aumenta as emissões pela utilização de tecnologias inadequadas. ""Meu ponto de vista é: não assine um acordo e espere que nós permaneçamos nele se você não vai participar dele realmente e ser parte do acordo"", disse o secretário americano. Segundo Perry, os EUA estão realizando ""ações por um impacto positivo"". ""Precisamos nos sentar, e eles precisam ser sérios em relação a isto"", afirmou. Durante a campanha eleitoral, Trump sugeriu a retirada dos Estados Unidos do acordo global alcançado em Paris, que obriga os países a manter um plano de redução de emissões. Trump nunca escondeu que não acredita nas mudanças climáticas, e chegou a dizer que elas são um ""mito"" criado pela China para prejudicar a indústria americana.",ambiente
Havaí trava guerra por energia solar,"Allan Akamine queria simplesmente diminuir sua conta de luz mensal, de US$ 700, com o uso de painéis solares. Mas durante 18 meses a maior distribuidora do Havaí o impediu de ter um, assim como a milhares de pessoas, com a justificativa de que a energia gerada pelos sistemas domésticos pudesse superar sua capacidade de gerenciá-la. Somente sob ordens estritas das autoridades estaduais de energia a Companhia Elétrica Havaiana se apressou recentemente a aprovar a extensa lista de solicitações. É a última parte de uma batalha observada com interesse, que colocou o Estado na vanguarda de uma revolta energética global. Os sistemas caseiros estão hoje em cerca de 12% das residências havaianas, de longe a maior porcentagem nos Estados Unidos. Outros Estados e países, incluindo Califórnia, Arizona, Japão e Alemanha, estão lutando para se adaptar à crescente tendência de produzir eletricidade em casa, o que coloca novas pressões sobre a infraestrutura antiga, como circuitos e linhas de transmissão, e diminui a receita das empresas. Em consequência, muitas destas tentam conter a ascensão da energia solar reduzindo os incentivos, acrescentando taxas elevadas ou efetivamente empurrando as empresas de painéis solares para fora do mercado. Em reação, estas firmas recorrem a reguladores, legisladores e tribunais. A mudança no setor elétrico está alterando o relacionamento entre as companhias de eletricidade e o público, enquanto levanta perguntas sobre como pagar para manter e operar a rede nacional. Nas áreas ensolaradas de Califórnia, Arizona e Havaí, a energia solar que flui das casas para a rede de distribuição causa flutuações de voltagem que podem sobrecarregar os circuitos, queimar linhas e provocar apagões de várias intensidades. ""O caso do Havaí não é único"", disse Massoud Amin, professor de engenharia elétrica e de computação na Universidade de Minnesota e presidente do programa ""rede inteligente"" no Instituto de Engenheiros Elétricos e Eletrônicos, uma associação técnica. ""Quando forçamos um crescimento anual de 30 a 40% nesse mercado, com o número de instalações dobrando a cada dois anos, vamos ter problemas."" A ameaça econômica mantém as empresas elétricas de sobreaviso. Ao todo, a demanda por eletricidade está se atenuando, enquanto a geração doméstica solar se espalha pelos Estados Unidos. Hoje há cerca de 600 mil sistemas instalados, e o número deverá alcançar 3,3 milhões em 2020, segundo a Associação de Indústrias de Energia Solar. A Elétrica Havaiana quer cortar pela metade o valor que paga aos clientes pela energia solar que eles enviam à rede. Mas depois que um estudo mostrou que com algumas atualizações o sistema poderia lidar com muito mais energia solar do que a companhia admitia, a comissão de empresas de serviços públicos do estado ordenou que a companhia inicie as instalações. A Elétrica Havaiana está atualizando seus circuitos e medidores para regular melhor o fluxo de eletricidade. Os painéis solares geram mais energia que qualquer outra fonte isolada, disse Colton Ching, vice-presidente de fornecimento de energia da Elétrica Havaiana, mas a empresa não pode controlar ou prever a produção. ""A cada momento temos de garantir que a quantidade de energia que geramos seja igual à quantidade de energia que é usada, e se não mantivermos esse equilíbrio as coisas ficarão instáveis"", disse. Mas os sistemas caseiros são ""essencialmente invisíveis para nós, porque ficam atrás do medidor dos clientes e não temos meio de medi-los diretamente"". Para os clientes essas explicações oferecem pouco consolo, enquanto eles continuam pagando tarifas de eletricidade que estão entre as mais altas do país. ""Eu tive muito trabalho para diminuir minha conta de eletricidade, e continuo esperando"", disse Joyce Villegas, 88, que assinou o contrato para ter um sistema solar em agosto de 2013, mas que só recentemente foi aprovado. Akamine manifestou resignação sobre os cerca de US$ 12 mil que ele poderia ter economizado nos últimos 18 meses, mas se interroga sobre o atraso. ""Por que foi necessária uma pressão da comissão de empresas de serviços públicos para abrir mais autorizações?"", perguntou. Os instaladores -que viram seu negócio de rápido crescimento diminuir um pouco- também estão frustrados com o ritmo. James Whitcomb, executivo-chefe da Haleakala Solar, disse que a resposta pode estar em uma solução mais radical: evitar completamente a distribuidora. Os clientes perguntam cada vez mais sobre as baterias que ele costuma instalar com os painéis solares. Elas permitem que os clientes guardem a energia que geram durante o dia para usar à noite. É mais caro, mas rompe a dependência da concessionária. ""As grandes companhias estão acostumadas a levar três meses para analisar isto e depois seis meses para fazer aquilo. Elas não entendem que as coisas estão se movendo na velocidade dos negócios"", disse Whitcomb. ""É como a fotografia digital -é inevitável.""",ambiente
Ártico tem ano recorde de calor e derretimento maciço de gelo,"O Ártico quebrou recordes de calor no ano passado, quando um ar excepcionalmente quente provocou o derretimento maciço de gelo e de neve e um congelamento tardio no outono - disseram cientistas do governo americano nesta terça-feira (13). A avaliação foi publicada no ""Arctic Report Card 2016"", um relatório revisado por pares de 61 cientistas de todo o mundo, emitido pela Agência Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA, na sigla em inglês). O relatório abrange o período de outubro de 2015 a setembro de 2016, quando ""a temperatura média anual do ar no Ártico sobre a superfície terrestre foi a mais alta do registro observacional"". ""Raramente vimos o Ártico mostrar um sinal mais claro, mais forte, ou mais pronunciado, de aquecimento persistente e seus efeitos em cascata sobre o meio ambiente do que neste ano"", afirmou o diretor do Programa de Pesquisa do Ártico da NOAA, Jeremy Mathis. A região ártica continua se aquecendo mais de duas vezes mais rápido do que o restante do planeta, que também deverá registrar seu ano mais quente nos tempos modernos. Os cientistas do clima dizem que as razões para o aumento do calor incluem a queima de combustíveis fósseis que emitem gases causadores do efeito estufa, que prendem o calor na atmosfera, bem como a tendência de aquecimento do oceano pelo El Niño, que terminou no meio do ano. A temperatura anual do ar sobre a superfície terrestre do Ártico foi 3,5°C maior do que em 1900. A temperatura da superfície do mar no mês de agosto de 2016, no auge do verão, foi 5°C acima da média de 1982-2010 nos mares de Barents e Chukchi e nas costas leste e oeste da Groenlândia. ""É evidente que o atraso recorde no congelamento da cobertura de gelo marinha no outono de 2016 está associado com temperaturas quentes sem precedentes do ar e da superfície do oceano"", explica o relatório. Essa tendência de aquecimento também levou a uma cobertura de gelo jovem e fina que derrete facilmente. ""A extensão mínima do gelo marinho do Ártico desde meados de outubro de 2016 até o final de novembro de 2016 foi a menor desde o início dos registros por satélite, em 1979"", disse. Essa extensão também foi 28% menor do que a média de 1981-2010 para outubro. Uma parte maior do gelo que congela no inverno é fino, e resultado de apenas um ano de congelamento, em vez do gelo mais espesso e mais resistente que se acumula ao longo de vários anos. Na Groenlândia, a camada de gelo continuou a encolher e a perder massa, como vem acontecendo todos os anos desde 2002, quando começaram as medições por satélite. O derretimento também começou cedo na Groenlândia no ano passado, o segundo mais precoce em 37 anos de observações, e próximo ao recorde estabelecido em 2012.",ambiente
Agosto de 2016 bate recorde e é o 16º mês consecutivo mais quente,"Mais um recorde relacionado a temperaturas globais foi quebrado no mês passado. Foi o agosto mais quente da história e é 16ª vez consecutiva que um mês ultrapassa recordes anteriores. Os dados são da NOAA, nos EUA, que monitora atmosfera e oceanos. Desde 1880 a entidade acompanha as temperaturas globais. O agosto de 2016 foi o mais quente entre todos os agostos registrados pela NOAA (Administração Nacional da Atmosfera e Oceano). Junto aos 15 meses anteriores, esse é o período mais longo de recordes de temperatura quebrados. Segundo os registros, o intervalo entre janeiro e agosto também foi o mais quente da história. Isso faz com que 2016 esteja prestes a superar o recorde de temperaturas anuais. Até o momento, 2015 está no topo do ranking dos anos mais quentes. Antes dele, a ponta era ocupada por 2014. CALOR O último julho também foi negativamente histórico. Além de ser o julho mais quente da história, foi o mês, como um todo, com as mais elevadas temperaturas já registradas.",ambiente
Cadastro de propriedades rurais não impede desmate ilegal na Amazônia,"Mais da metade do desmatamento na Amazônia em 2016 ocorreu em áreas de CAR (Cadastro Ambiental Rural). Para entidades de preservação, o governo está falhando na utilização do mecanismo para controle do desmatamento. A Folha teve acesso à analise de dados do Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia), do CAR com as informações do Prodes (Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite). O resultado: dos 7.989 km² desmatados no ano passado, 4.474 km² estavam em áreas de CAR –56% do total. DESMATAMENTO CRESCENTE - Cadastramento rural falha em impedir queda de árvores Os Estados campeões de desmatamento em áreas do CAR são o Pará, com 68%, e o Mato Grosso, com 66% da derrubada de vegetação ocorrendo dentro das áreas cadastradas. Em seguida vêm Rondônia (48%), Amazonas (43%), Roraima (40%), e Acre (34%). ""O governo poderia estar agindo com base nesse tipo de informação"", afirma Paulo Barreto, do Imazon. A maior parte desse tipo de desmate é ilegal, segundo Andrea Azevedo, do Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia). ""A quantidade de desmatamento legal agregado é mínimo. É coisa de 2% a 3% ao ano"", diz. DESMATAMENTO DO CAR POR ESTADO - O CAR foi considerado um dos mais importantes instrumentos implementados pelo Código Florestal de 2012. A partir dele, proprietários rurais deveriam registrar, em uma plataforma online, a composição detalhada de suas terras. Dessa forma, apresentariam, por exemplo, as áreas de reserva legal e a área de uso já consolidado, destinada a atividades econômicas. Segundo o código, nas regiões de bioma Amazônico, as propriedades deveriam ter, no mínimo, 80% de reserva legal, ou seja, essa deveria ser a porcentagem de mata nativa. Uma das funções do CAR é permitir a fiscalização e controle da derrubada de mata nativa, ao comparar os dados fornecidos com imagens de satélite. Pesquisadores afirmam que a impunidade é um dos fatores que contribuem para a contínua devastação –mesmo com o CAR. ""De fato há uma sensação de falta de punição"", diz Andrea, do Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia). ""Digamos que eu seja uma proprietária rural e desmate 10, 20, 30 hectares. Às vezes, é até uma limpeza, mas eu desmato. Ninguém fala nada. No ano seguinte, eu vou desmatar mais um pouco. O vizinho vê que não aconteceu nada e vai desmatar também."" Defende-se que ações simples, como multas, já seriam o suficiente para diminuir desmatamentos. ""Com as informações [do CAR], eles poderiam mandar essas multas por correio, da mesma forma que é feita fiscalização de trânsito. O carro está registrado, o radar registra, vai pelo correio"", afirma Barreto, do Imazon. Para Andrea, se antes ocorriam grandes desmates, que eram facilmente detectados e até mesmo possibilitavam ações mais pontuais, hoje predominam os menores, até 30 hectares (0,3 km²). ""O CAR entrou em cena e não é usado ainda para controle do desmatamento de uma maneira sistemática"", afirma Azevedo. Além do uso sistemático do CAR para uma fiscalização mais rígida por parte do governo, as entidades ambientais cobram maior transparência em relação à ferramenta. Segundo elas, somadas às informações já disponíveis, deveriam também ser disponibilizados nome e CPF dos proprietários de terras. Recentemente, o ministro do Meio Ambiente José Sarney Filho sofreu pressões por conta da abertura dos dados do CAR. Proprietários rurais e alguns membros da bancada ruralista do congresso se opunham à divulgação dos dados, que, segundo eles, poderia trazer problemas de segurança aos proprietários de terras. Andrea diz que, por lei, esses dados são públicos, e ela classifica a afirmação dos ruralistas como um terror infundado. ""É uma falácia de gente que quer se esconder dentro de ilegalidades"", afirma. Segundo os pesquisadores ouvidos pela reportagem, a divulgação de nome e CPF é importante para o mapeamento da cadeia de produção, o que poderia impedir que empresas comprem produtos que, direta ou indiretamente, provocaram desmatamento. OUTRO LADO Thelma Krug, diretora do departamento de políticas para o combate ao desmatamento do Ministério do Meio Ambiente, afirma que o desmate nas áreas de CAR já havia sido identificado e que a fiscalização e controle do desmate nessas propriedades é uma medida colocada como de ""altíssima prioridade dentro do governo"". ""É inaceitável que tenhamos taxas de desmatamento subindo de novo"", diz. A diretora afirma que a percepção de ausência de Estado na questão do desmatamento deixará de existir. Um ponto central nisso será a quarta fase do PPCDAm (Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal), aprovada em dezembro de 2016, que traça linhas de ação para combater o desmatamento, contudo, a fase de implementação das ideias deve trazer dificuldades, segundo Krug. Mesmo reconhecendo o contexto difícil pelo qual o país passa, Krug acredita que, com o auxílio dos governos estaduais e da população, a implementação do PPCDAm e a diminuição do desmatamento são possíveis. ""Se eu não fosse otimista eu acho que eu não estaria aqui. Eu tenho que ser otimista"", afirma. O jornalista viajou a convite da RAS (Rede Amazônica Sustentável)",ambiente
Operação mira grupo que movimentou R$ 1 bi com desmatamento no Pará,"Pelo menos 140 agentes de diversos órgãos deflagram nesta quinta-feira (30) operação para prender integrantes de uma quadrilha de desmatadores no Pará que teria movimentado R$ 1 bilhão ilegalmente nos últimos quatro anos, segundo dados da Receita Federal. Na operação, batizada de Rios Voadores, por causa dos efeitos do desmatamento nas chuvas do país, os agentes cumprem 51 medidas judiciais: 24 prisões preventivas, 9 conduções coercitivas e 18 mandados de busca e apreensão em empresas e residências pertencentes aos investigados. Participam da operação o Ibama, a Polícia Federal, o Ministério Público Federal e a Receita Federal, e ela se concentra no distrito de Castelo dos Sonhos, em Altamira (PA), além da cidade de Novo Progresso (PA). Há também ações nos Estados de São Paulo, Santa Catarina, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. O empresário José Junqueira Vilela Filho, considerado chefe da quadrilha, está sendo procurado. Em 2014, o Ibama fez investigações que resultaram na Operação Kaiapó, contra desmatamento ilegal na Terra Indígena Menkragnoti, em Altamira. Após a denúncia de um grupo de índios, que eram acusados pelo desmatamento na região quando estavam tentando proteger a área, a polícia apreendeu 26 motosserras e três motocicletas, além do desmonte de 11 acampamentos de madeireiros, da prisão de 40 pessoas e da identificação do responsável pelo desmatamento da área de 14 mil hectares, o maior já identificado na região. O Ibama emitiu multas de R$ 119 milhões contra integrantes da quadrilha que usava trabalhadores em situação de escravidão. A quadrilha atuava fazendo pequenos acampamentos para enganar a fiscalização por satélite. Por causa disso, houve uma reformulação dentro dos órgãos que monitoram o desmatamento para evitar que a quadrilha usasse os dados para burlar a fiscalização. Mesmo assim, a quadrilha continuou agindo na área e usou várias formas para desmatar, entre elas fogo e uso de químicos desfolhantes, semelhantes aos usados pelas forças armadas americanas na Guerra do Vietnã, segundo o Ibama. Os principais investigados e beneficiados com a prática criminosa eram protegidos por outros membros da organização que serviam como ""testas de ferro"". Mediante a falsificação de documentos e outras fraudes, pessoas de confiança dos cabeças da organização assumiam a propriedade da terra grilada. Segundo as informações da Polícia, eles preservam o nome dos reais autores do crime quando flagrados em fiscalizações do Ibama. Os crimes investigados são: organização criminosa, falsificação de documentos, a prática, de forma reiterada e habitual, de desmatamento ilegal, ateamento de fogo e grilagem de terras públicas federais, na Amazônia brasileira, ocultação e dissimulação das vantagens econômicas obtidas.",ambiente
Mineradoras canadenses souberam de extinção de reserva na Amazônia 5 meses antes do anúncio oficial,"Publicada no Diário Oficial da última quinta-feira sem alarde, a extinção da Reserva Nacional do Cobre e Associados (Renca), na Amazônia, surpreendeu muita gente e ganhou machetes alarmadas no Brasil e nos principais jornais do mundo. Não foi o que ocorreu com investidores e empresas de mineração canadenses. Em março, cinco meses antes do anúncio oficial do governo, o ministro de Minas e Energia Fernando Coelho Filho anunciou a empresários do país que a área de preservação amazônica seria extinta, e que sua exploração seria leiloada entre empresas privadas. O fim da Renca foi apresentado pelo governo Temer durante o evento Prospectors and Developers Association of Canada (PDAC), em Toronto, junto a um pacote de medidas de reformulação do setor mineral brasileiro, que inclui a criação de Agência Nacional de Mineração e outras iniciativas para estimular o setor. Segundo a pasta, esta foi a primeira vez em 15 anos em que um ministro de Minas e Energia brasileiro participava do evento, descrito pelo governo brasileiro como uma oportunidade para ""abordar o aprimoramento na legislação brasileira e também demonstrar os planos do governo para incentivar o investimento estrangeiro no setor"". De outro lado, movimentos sociais, ambientalistas e centros de pesquisa dizem que não haviam sido informados sobre a extinção da Renca até o anúncio da última quinta-feira. O Canadá é um importante explorador de recursos minerais no Brasil e vem ampliando este interesse desde o início do ano. Hoje, aproximadamente 30 empresas do país já exploram minérios em território brasileiro - especialmente o ouro, que teria atraído garimpeiros à área da Renca nos últimos anos. Em junho, dois meses antes da extinção oficial da reserva amazônica, a Câmara de Comércio Brasil-Canadá anunciou uma nova Comissão de Mineração, específica para negócios no Brasil, que reúne representantes destas 30 empresas. À BBC Brasil, o coordenador da comissão canadense defendeu a abertura da área amazônica para pesquisas minerais, disse que a ""mineração protege a natureza"" e afirmou que ""não há uma corrida"" para explorar a região da Renca, mas que ""acha muito saudável"" a disponibilização da região para exploração mineral. O Ministério de Minas e Energia prometeu responder aos questionamentos enviados pela BBC Brasil durante toda a sexta-feira. No final do dia, entretanto, informou que não daria retorno devido a uma entrevista coletiva de emergência convocada pelo ministro Fernando Coelho Filho. Na entrevista, o ministro afirmou que a extinção da área de reserva amazônica, com área um pouco maior que a da Dinamarca, não terá impactos ambientais. Segundo Coelho Filho, o início das atividades de exploração na região ainda deve demorar 10 anos. 'NINGUÉM PODE JULGAR O CANADÁ' Coordenador da recém-criada Comissão de Mineração da Câmara de Comércio canadense, o empresário Paulo Misk participou dos seminários realizados em março no Canadá e não vê problemas na divulgação antecipada do fim da reserva. ""A gente tem que fazer um trabalho de divulgação, promoção e atração de investimento de mais médio ou longo prazo"", diz. ""Não temos pronto nenhum projeto para ser instalado lá"", continua o representante canadense. ""Por enquanto estamos no campo das perspectivas, promessas e iniciando o processo. Não é tão rápida a resposta."" Misk afirma que o Canadá é o país que mais investe em pesquisa no mundo e que ""os ambientalistas deveriam repensar a nossa posição: a mineração é extremamente benéfica."" Sobre a Renca, ele afirma que a liberação permitirá que ""uma grande área seja preservada"". ""Se tiver oportunidade de ter uma mineração bem constituída e legalizada (na região da Renca), olha, eu vou ficar muito feliz porque vai ser para o bem do Brasil e para o bem da sociedade brasileira, especialmente no Pará e no Amapá"", diz. Misk também afirma que a ocupação da região por empresas de mineração deve inibir a presença de garimpeiros, cuja atuação irregular na região já resulta em contaminação de rios por mercúrio. Presidente da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa Mineral (ABPM), o geólogo Luiz Azevedo também esteve em Toronto e concorda. ""Dizer que o governo está abrindo para o desmatamento é ridículo, é coisa de quem não conhece o assunto"", diz. ""Eu não me atrevo a falar sobre música. Fico impressionado como os artistas agora se atrevem a falar sobre mineração e sobre unidades de conservação"", diz, citando a modelo Gisele Bündchen, que criticou o anúncio em suas redes sociais. Sobre o anúncio antecipado da extinção da área de preservação na Amazônia, Azevedo diz que o ministro divulgou que ""uma área muito grande que seria liberada para pesquisa mineral"". ""Foi dito pelo ministro como parte de um pacote de medidas visando mostrar ao investidor que a ideia da Dilma de estatizante tinha acabado."" ""O que eles querem são novas áreas para se pesquisar e novas possibilidades. Ninguém pode julgar o Canadá. Eles têm uma mentalidade mais cosmopolita, 70% da população é de imigrantes, então eles pensam nos outros. É um interesse legitimo"", avalia. 'SOUBEMOS PELA IMPRENSA' Professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, o geógrafo Luiz Jardim pesquisa a relação entre empresas de mineração canadenses e o governo brasileiro. Ele explica que o evento de março em Toronto, quando o fim da Renca foi anunciado pelo ministro, era formado essencialmente por empresas menores especializadas em pesquisa mineral e investimentos de risco. ""Há um padrão nessas empresas, chamadas 'juniors'. Elas vêm, fazem as pesquisas e ao longo desse tempo publicam resultados em relatórios na bolsa de valores em Toronto, indicando o que eles encontraram. Esses relatórios fazem elas ganharem valor de mercado. Achando uma jazida significativa, a empresa pede uma licença ambiental e ganha ainda mais valor. Com a licença em mãos, elas anunciam na Bolsa novamente que estão perto do inicio do projeto. Num período de baixa no mercado, como agora, elas costumam vender a operação ou a mina para uma empresa maior interessada e assim fazem seus investidores lucrarem"", explica. Jardim descorda da tese de que grandes mineradoras podem inibir o garimpo ilegal na região. ""A experiência no rio Tapajós, no Pará, mostra o contrário. O garimpeiro esta interessado em minas superficiais, a mineradora chega a veios mais profundos. Eles coexistem e a exploração formal pode até incentivar a vinda de mais garimpeiros."" Segundo o engenheiro Bruno Milanez, professor da Universidade Federal de Juiz de Fora e membro do Comitê Nacional em Defesa dos Territórios Frente à Mineração, que reúne 110 órgãos acadêmicos de pesquisa, sindicatos e movimentos sociais, não houve qualquer comunicado sobre a Renca para pesquisadores da área ou comunidades - diferente do que ocorreu com os empresários. ""Tudo o que acompanhamos foi pela imprensa"", diz. Sobre esta aproximação entre governo e empresários, Milanez afirma que o movimento é ""parte de um processo histórico, que vem se aprofundando"" no governo Temer. ""Isso é reflexo de uma ocupação maior de pessoas do setor corporativo no governo. Hoje, o primeiro escalão da mineração no governo é formado por pessoas que ocuparam cargos de diretorias em empresas"", diz. ""Mas eles estão no governo temporariamente por cargos de confiança, e quando saírem vão voltar a assumir posições em empresas. Eles têm um lado nessa história.""",ambiente
"Contra inferno da metrópole, telhado reduz temperatura dentro de casa","Quem mora em grandes cidades sofre com o efeito das ilhas de calor no verão. O excesso de construções, a falta de vegetação e o número de veículos em circulação podem elevar a temperatura nas cidades em até 10 ºC. Mas uma das soluções para o problema pode estar bem acima de nós: os chamados tetos frios (cool roof) -uma aplicação de revestimentos especiais que refletem boa parte da luz solar e absorvem o calor sem transmiti-lo para o ambiente interno. A tecnologia é bastante difundida em Estados americanos quentes, como Califórnia e Flórida. Junto com outras soluções na área de construção sustentável, tem sido apontada como uma aliada contra o aquecimento global. No Brasil, acaba de ser criado um consórcio que reúne instituições como a USP (Universidade de São Paulo) e a UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), empresas e entidades da construção para criar essa tecnologia a baixo custo por aqui. ""O plano é que nos próximos três anos tenhamos esses revestimentos em casas populares como as do programa federal Minha Casa, Minha Vida"", afirma Vanderley John, professor da Escola Politécnica da USP. Um teste já foi feito em casas das comunidades cariocas Babilônia e Chapéu Mangueira, pelo projeto Rio Cidade Sustentável, que é coordenado pela prefeitura em parceria com empresas. ""A aplicação de um revestimento especial nas lajes reduziu a temperatura interna das casas em 6ºC"", diz Vanessa Grossi, gerente de marketing da química Dow, que vende o revestimento no mercado brasileiro. O Museu do Amanhã, em obras no Rio, também terá o revestimento. TELHADOS BRANCOS O uso de telhados brancos contra as mudanças climáticas já foi alvo de campanha. Lançada no Brasil em 2009 pelo GBC (Green Building Council), que promove tecnologias verdes, a ação One Degree Less (Um Grau a Menos) levou milhares a pintar o telhado e vereadores a formular projetos de lei pelo país. ""Faltou dizer que só pintar os telhados não baixava o calor. Deve-se usar o revestimento certo, que hoje já existe no mercado"", diz Felipe Faria, diretor do GBC.",ambiente
"Governo chinês taxa a poluição, mas não o dióxido de carbono","O Parlamento chinês aprovou, pela primeira vez, neste domingo (25) uma nova legislação para criar taxas específicas de proteção ambiental para a indústria a partir de 2018, como parte de um novo foco na briga contra os problemas causados pela poluição no país. Contudo, os novos impostos não incluem o CO². A nova taxa entrará em vigor em 1 de janeiro de 2018, anunciou a agência oficial Xinhua. A irritação tem aumentado entre a população chinesa pelos repetidos fracassos do governo em controlar a poluição do ar, água e terra. Recentemente, enormes partes do norte da China têm passado os dias envoltas em perigosas névoas de poluição. ""Impostos são um importante meio econômico para promover a proteção do meio ambiente"", disse em comunicado o Ministério das Finanças chinês. As novas taxas serão de 1,2 yuan por unidade de poluição atmosférica (a agência cita como exemplo 850 gramas de dióxido de enxofre). Mas o dióxido de carbono (CO²), principal gás a provocar o efeito estufa, responsável pelo aquecimento global, não aparece na lista de emissões poluentes tributadas. A lei inclui um imposto para a poluição da água (1,4 yuane) e também para a poluição sonora (de entre 350 e 11.200 yuanes ao mês em função dos decibéis). A taxa aos resíduos sólidos é de entre 5 e 1.000 yuanes por tonelada. Esta é a primeira vez que a China age especificamente para taxar riscos ambientais. A nova legislação pretende substituir um antigo sistema de multas consideradas muito baixas para realmente impedir qualquer dano ambiental. As províncias poderão aplicar taxas 10 vezes mais elevadas, mas também reduzir os impostos caso as emissões poluentes sejam inferiores à legislação estatal. ""O propósito dessa política não é aumentar impostos, mas melhorar o sistema e encorajar as empresas a reduzir emissões —quanto mais eles poluírem, mais terão que pagar"", disse o ministro do Meio Ambiente, Chen Jining, em declarações prévias. Os detalhes da nova lei foram repetidamente discutidos e contestados pelo governo chinês e governos locais, o que gerou vários atrasos. Conflitos de interesse emergiram com outros departamentos temerosos de perder recursos gerados pelo sistema anterior de taxas. Além disso, pesquisadores queriam incluir o dióxido de carbono e outros gases que causam efeito estufa nos planos de controle, mas sem sucesso.",ambiente
"Com Marina e líder do PSDB, ato repudia atuação ambiental de Temer","Congressistas e entidades ambientais realizaram na manhã desta quarta-feira (30), na Câmara dos Deputados, um ato em protesto contra a gestão de Michel Temer, responsável, segundo eles, pelo maior retrocesso das últimas décadas nas políticas relacionadas ao tema. Participaram, entre outros, Marina Silva, ex-ministra do Meio Ambiente e pré-candidata à Presidência em 2018, e o deputado Ricardo Tripoli (SP), líder na Câmara da bancada do PSDB, o principal aliado do PMDB no governo Temer. Tripoli, que é ligado às questões ambientais, disse em seu discurso ter sido o responsável por solicitar formalmente a Temer a suspensão do decreto presidencial que extingue a Renca (Reserva Nacional do Cobre e Associados), na Amazônia. Em sua fala, Marina afirmou que o país passa ""por um momento difícil"" devido a ""vários retrocessos ocorridos depois de tantos anos de lutas e avanços"". O ato teve como mote o decreto de Temer que extinguiu a Renca com a finalidade de permitir a exploração dos recursos minerais existentes na reserva, localizada na divisa entre o Sul e Sudoeste do Amapá com o Noroeste do Pará. Na segunda (28), Temer voltou atrás e decidiu publicar novo texto mais detalhado sobre o tema com proibição -""exceto se previsto no plano de manejo""- a exploração mineral nas áreas onde houver ""sobreposição parcial com unidades de conservação da natureza ou com terras indígenas demarcadas"". Deputados do PT, Rede, PSOL, PPS, PSB, PV, entre outros, exigem a revogação imediata desse novo decreto. Desde que assumiu o governo, Temer tem privilegiado claramente interesses da bancada ruralista, que é numerosa no Congresso. Entre outros pontos, editou uma medida provisória com amplas regras de regularização fundiária e chegou a nomear para o Ministério da Justiça —órgão ao qual está vinculada a Funai —um integrante dos ruralistas, o deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR).",ambiente
Mundo produzirá 50 milhões de toneladas de lixo eletrônico em 2017,"O lixo eletrônico virou um desafio no mundo inteiro, já que a indústria de eletroeletrônicos é uma das que mais cresce atualmente. Inerente à essa produção e consumo imensos, está a dificuldade de reciclar materiais de produtos cuja a vida útil é programada para ser cada vez mais curta. De acordo com o Programa para o Meio Ambiente da ONU (Pnuma), em todo o mundo, a quantidade de lixo eletrônico descartado neste ano deve chegar a 50 milhões de toneladas. Apenas a América Latina produz por ano uma média de 9% de todo o resíduo do setor no planeta. Na região, o Brasil é o país que mais gera lixo eletrônico: foram 1,4 milhão de toneladas por ano (de acordo com dados de 2014). Segundo a ambientalista Ana Maria Dominguez Luz, presidente do Instituto GEA, Ética e Meio Ambiente, o problema torna-se ainda mais grave diante da dificuldade da aplicação de leis sobre a questão no Brasil. ""O país tem uma legislação sobre resíduos que foi assinada em 2010, que trata sobre o lixo eletrônico e a necessidade de seu recolhimento e reciclagem. No entanto, na prática, na maioria das cidades brasileiras, não existe nenhum sistema público colocado à disposição da população ou das empresas"", diz. À RFI, ela explicou o perigo do descarte desses materiais como resíduo convencional. ""Como dentro de um produto eletrônico há metais pesados como Mercúrio, Cádmio, Chumbo. Se isso vai parar na rua, na beira de um rio ou em aterros clandestinos, você tem uma contaminação do ambiente em volta"", diz. ELETRÔNICOS FRANCESES CONTAMINADOS COM BROMO A França produz anualmente 1,3 milhão de toneladas de lixo eletrônico. O país conta com uma legislação rígida sobre a questão, mas, há alguns anos, vem enfrentado um outro problema: a presença do Bromo, altamente tóxico, em quase 40% de seus produtos. Segundo Olivier Guichardaz, editor-chefe do Dechets Infos, portal especializado no assunto, o Bromo, que serve para evitar a combustão do plástico, torna o descarte e a reciclagem dos produtos mais difícil e perigosa. O especialista enfatiza que algumas variações dessa substância foram até mesmo proibidas de serem recicladas na França ""devido ao perigo que elas representam, para o ambiente e para a saúde das pessoas"". ""Há o risco para as pessoas que trabalham em usinas que reciclam esse tipo de plástico bromado. O pó proveniente da reciclagem desse material, com retardadores de chamas, é potencialmente perigoso para a saúde. O outro risco é colocar no circuito de reciclagem plásticos bromados, altamente poluentes"", afirma. COMÉRCIO ILEGAL Um recente relatório divulgado pela ONU aponta que entre 60% e 90% dos resíduos eletrônicos de todo o mundo são comercializados ilegalmente ou jogados de forma incorreta no lixo, ocasionando graves problemas ambientais e sanitários. Para Ana Maria Dominguez Luz, a problemática mostra o quanto a conscientização de empresas e consumidores é necessária. ""É notório que não podemos mais continuar jogando lixo como hoje. Afinal, a reciclagem é uma alternativa, mas não é a melhor delas. A melhor solução seria se houvesse no planejamento do produto uma forma de tornar essa reciclagem ou recuperação de partes do produto mais fácil e mais simples.""",ambiente
Biólogo especialista em classificar espécies está ameaçado de extinção,"Se esse animal for extinto, promete levar cerca de outros oito milhões de seres vivos com ele. O taxonomista, biólogo especialista em identificar e classificar a vida no planeta, está ameaçado. Uma nova espécie de peixe –coletada na bacia do Rio Madeira, no Estado do Amazonas– descoberta agora por cientistas, pode ser a exceção desse trabalho. De acordo com o pesquisador Murilo Pastana, faltam especialistas para examinar outros espécimes coletados e avaliar a riqueza do local. Os bichos à espera de nome vão integrar os cerca de oito milhões de seres vivos, segundo estimativas conservadoras, sobre os quais nada se sabe –sendo que há quase 2 milhões de espécies registradas, ou só um quinto do total. ""Ao não conhecer a biodiversidade, abrimos um flanco para que as espécies ameaçadas de extinção, ainda sem nome, não sejam protegidas"", afirma o professor da Unesp Célio Haddad, especialista em anfíbios. Ele cita outra perda importante: sem conhecer novas espécies, perde-se um mundo em potencial de princípios bioativos para desenvolver medicamentos. ""Somos diretamente afetados."" Uma das causas é que essa não é uma ciência tão ""sexy"" quanto a bioquímica ou a genética, diz ele, e não atrai tantos alunos. Outra é a falta de estímulo à pesquisa. O investimento em um dos principais projetos de incentivo da área, o Protax (Programa de capacitação em taxonomia), do CNPq e da Capes (agências federais de fomento à pesquisa), sofreu cortes. Em 2010, o investimento foi de R$ 19 milhões. Em 2015, R$ 12 milhões. Segundo o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, o valor ainda pode crescer com a adesão de outras fundações –já houve aporte adicional de R$ 1,5 milhões. A pasta informa que o investimento anual do governo na área da taxonomia gira em torno de R$ 1 milhão anual. O número representa 0,02% do orçamento para ciência, tecnologia e inovações neste ano, de R$ 4,1 bilhões, valor que também sofreu cortes: em 2015, o orçamento para a área foi de R$ 7,37 bilhões. Descobrindo uma nova espécie Para Antonio Carlos Marques, diretor do Centro de Biologia Marinha da USP e autor de um estudo de dez anos atrás que indicava a necessidade de ampliar o investimento na área, é preciso haver uma política de Estado que estimule a formação contínua de novos especialistas. Ele diz que há biomas brasileiros que são ""um deserto de taxonomistas"", como o mar profundo do Atlântico Sul. ""O homem manda foguetes para outros planetas para descobrir se há vida lá fora, mas não investe para conhecer os organismos do planeta Terra"", observa o pesquisador do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), José Albertino Rafael. Região mais diversa do Brasil (estima-se que abrigue 60% das espécies), a Amazônia tem entre 12 e 15 taxonomistas atuantes, segundo Rafael. Um profissional para áreas do tamanho do Acre. Foi na região Amazônica, na bacia do rio Madeira, que os pesquisadores da USP Murilo Pastana e Willian Ohara descobriram uma nova espécie de peixe, ""com colorido bastante vivo"" e de pequeno porte, menos de 5 cm. Mas o bicho, coletado numa cachoeira próxima ao município de Apuí (AM), ""já nasce ameaçado"", diz Pastana. Para chamar atenção à necessidade de preservação, os pesquisadores batizaram o peixe de Hyphessobrycon procyon –procyon é uma alusão à estrela que representa o Amazonas na flâmula nacional. Para Rafael, do Inpa, nós já ""perdemos essa guerra"" porque ""a destruição é muito mais rápida do que nossa capacidade de estudo"". Em todo planeta é assim. A crise é até menor no Brasil, um dos países com maior representatividade de taxonomistas –embora muito aquém do desejável–, por causa de sua megabiodiversidade. O consultor em ecologia britânico e especialista em pulgões Graham Hopkins, autor de um trabalho que aponta o declínio desse tipo de profissional no Reino Unido, diz que é preciso engajar o público nas descobertas. ""Alguns pesquisadores ficaram bravos quando outros batizaram uma mosca como Beyoncé. Se tivessem homenageado um velho cientista, ninguém se interessaria. É preciso propagar nosso trabalho."" Marques e cientistas americanos fizeram isso ao descobrir uma nova e deslumbrante espécie de água-viva. Promoveram um concurso on-line para decidir seu nome. Resultado? Tamoya ohboya, alusão a ""Oh boy!"" (minha nossa!), reação das pessoas ao verem esse animal. COMPARAÇÃO Como que esses cientistas identificam uma nova espécie? Por comparação, basicamente. Pesquisadores colhem amostras de uma população e analisam sua morfologia (cor ou forma, por exemplo), seu comportamento e genética, entre outros. Eventuais diferenças apontarão se representam uma nova espécie. Haddad, o especialista em anfíbios, já identificou cerca de 50 espécies da classe. Foi a cor vermelha do Brachycephalus pitanga, o ""sapinho-pitanga"", de cerca de 1 cm, por exemplo, que o diferenciou de animais com características semelhantes. O sapo é endêmico da Mata Atlântica, diz o pesquisador, ""e desaparecerá com o desmatamento da floresta e com o aquecimento global, pois necessita de temperaturas amenas para sobreviver"".",ambiente
Medicina tradicional asiática ajuda a mover caça ilegal de onça na Amazônia,"Caçadores ilegais estão abatendo onças na região da Amazônia boliviana para traficar suas presas –usadas em supostos tratamentos de medicina tradicional asiática ou como amuletos. Contrabandistas pagam a caçadores até US$ 100 (R$ 340) por dente. Autoridades suspeitam que o crime também ocorra em mais países sul-americanos, inclusive no Brasil. Na Bolívia foram apreendidos 262 dentes entre 2014 e 2016. Para autoridades locais, isso significa que ao menos 65 felinos foram abatidos ilegalmente no período - pois cada um possui quatro presas grandes. Ativistas da ONG boliviana Fobomade dizem que o número pode ser maior. O governo boliviano diz que o fenômeno não é novidade na região Amazônica e que o grande número de casos registrados no país seria fruto de campanhas nacionais para prender traficantes de animais e conscientizar a população. Embora não tenha havido apreensões desse tipo no Brasil até agora, o Ibama diz suspeitar que caçadores e contrabandistas ligados ao tráfico de dentes de onça para o mercado asiático operem no país. No Suriname, ao menos dois casos suspeitos foram registrados. ANÚNCIOS NAS RÁDIOS Na Bolívia, as onças são chamadas de jaguares, na tradução do espanhol. Elas não são caçadas diretamente pelos contrabandistas. Segundo a DGBAP (Direção Geral de Biodiversidade e Áreas Protegidas da Bolívia) e a Fobomade, indígenas e camponeses que moram na região da floresta são aliciados para abater os animais. Por vezes, para chegar a esses caçadores locais, contrabandistas pagam por anúncios em emissoras de rádio de cidades pequenas, localizadas próximo à floresta amazônica. Os anúncios indicam um endereço onde eles podem ser vendidos. ""Os contrabandistas fazem isso por um dia e depois mudam de domicílio, então fazem (o anúncio) em outro lugar e mudam de domicílio de novo. É uma máfia"", diz à BBC Brasil Teresa Peres, chefe da DGBAP. ""O que mais se detectou é que os compradores são de procedência asiática"", disse ela. Segundo ela, em uma das operações mais bem sucedidas do órgão, agentes da DGBAP e policiais se disfarçam de vendedores de dentes e se apresentam em um local indicado pela propaganda do rádio. Isso ocorreu em maio deste ano em Rurrenabaque, cidade próxima ao Parque Nacional de Madidi, uma das maiores reservas florestais da Bolívia. Dois suspeitos de cidadania chinesa foram detidos com diversos dentes de onça pelos agentes disfarçados. Esse tipo de ação policial continua ocorrendo, assim como fiscalizações nas florestas, segundo Peres. Mas uma boa parte das apreensões ocorre durante inspeções de pacotes nos correios da Bolívia. Isso porque, para tentar evitar prisões em flagrante, os criminosos enviam os dentes e ossos para outras cidades ou países pelo correio. AFRODISÍACO Autoridades e ativistas suspeitam que onças estejam sendo abatidas na América do Sul em um processo similar ao que ocorreu com tigres no sudeste da Ásia. O uso de partes de tigres para tratamento medicinal foi muito comum no passado, mas a prática foi banida pela maioria das associações e federações de medicina tradicional da Ásia na década de 1990. Embora a medicina tradicional chinesa seja um dos ramos mais conhecidos no ocidente, quase todas as nações do leste e sudeste do continente possuem suas próprias correntes. De acordo com Reginaldo Filho, diretor da Ebramec (Faculdade Brasileira de Medicina Chinesa), ossos e dentes de grandes felinos eram geralmente usados na medicina tradicional chinesa para fortalecer o corpo humano e tratar dores. O órgão sexual do animal era usado no preparo de fórmulas ligadas à fertilidade. ""As pessoas dizem afrodisíaco, mas a medicina chinesa fala em fortalecimento. Você vai encontrar esses ingredientes em livros históricos de medicina, mas eles não são mais usados. Hoje combinamos dois ou três ingredientes para chegar a um resultado similar"", disse ele. ""Se alguns ainda usam partes de tigres, acredito que isso esteja mais relacionado a esoterismo ou misticismo local, isso não é medicina"", afirmou. PREOCUPAÇÃO Autoridades brasileiras dizem estar preocupadas com o assunto. ""Por causa dessa superstição infundada já eliminaram a maior parte da população de tigres do sudeste da Ásia. Agora (traficantes de animais) estão se voltando para felinos de outros países"", afirmou à BBC Brasil o chefe das operações de fiscalização do Ibama, Roberto Cabral. Mas estatísticas que liguem o abate de onças a práticas supostamente medicinais são escassas na América do Sul.""Nós não pegamos um caso concreto no Brasil, mas existe uma grande possibilidade de que isso esteja ocorrendo"", afirmou Cabral. A ONG internacional Traffic –que investiga o tráfico ilegal de animais no mundo– afirmou já ter coletado indícios de que onças poderiam estar sendo mortas com esse propósito na Guiana e no Suriname. Em 2015, a entidade diz ter monitorado dois casos concretos no Suriname - e em ao menos um, cidadãos chineses foram investigados pela polícia local. ""Obviamente a existência de um comércio aparentemente irregular de partes de onças na Amazônia Sulamericana é uma causa de preocupação e precisa de uma investigação para determinar sua escala e o impacto que pode estar tendo nas populações de onças na região"", afirmou à BBC Brasil Richard Thomas, um dos porta-vozes da organização. Teresa Peres, do órgão ambiental do governo boliviano, afirmou que essa prática ocorre há muito tempo na Amazônia. ""Desde o momento em que se faz um controle rigoroso, a estatística sobe. Esse tema de tráfico não é recente"", disse. Também não é possível saber exatamente se todos os dentes e ossos de onças apreendidos seriam usados em praticas medicinais. Isso porque garras, presas e peles também são usados como amuletos e itens de decoração. ""O Estado Plurinacional da Bolívia está colocando todos os esforços e tudo o que está a seu alcance para preservar o ecossistema"", disse Peres. O ativista Daniel Manzaneda, da Fobomade, afirmou que o aumento da procura por dentes de onça pode estar relacionado à entrada recente de cidadãos de países asiáticos na Bolívia - relacionada a grandes investimentos chineses na região. Peres disse porém que não haveria dados concretos que permitam fazer essa relação. CABEÇAS DE ONÇA O Brasil registrou 42 apreensões de partes de onças nos últimos cinco anos, segundo o Ibama. Segundo Cabral, a maior parte dos casos está relacionada à expansão agropecuária no Brasil, que tem causado a fragmentação do habitat natural das onças. No norte do país, as onças pintadas acabam abatendo animais de rebanhos bovinos em criações extensivas. ""Os fazendeiros não toleram perder seus animais para as onças"", afirmou. Eles contratam então caçadores para abatê-las. Também é comum o abate por madeireiros que operam na selva, segundo o delegado Marcos Lemos, da Delegacia de Combate a Crimes Contra a Fauna e Flora do Pará. ""Quando encontramos acampamentos ilegais (de madeireiros) há animais abatidos de todos os tipos. As onças são mortas por causa do couro, que é vendido a colecionadores"", disse. Mas a maior apreensão de todos os tempos ocorreu no último mês de agosto, em Curionópolis, cidade próxima da selva amazônica no Pará. Ela não está relacionada à pecuária ou madeireiros, mas ao tráfico de animais. Um único caçador foi encontrado com partes de 16 onças, duas suçuaranas e uma jaguatirica. Ele mantinha cabeças, crânios e patas em um refrigerador. Recebeu multa de R$ 460 mil por matar, mutilar e armazenar os animais –além de ser preso devido a uma investigação sobre posse ilegal de armas e crimes ambientais. TÁTICA Os safáris clandestinos são outra modalidade de abate. Segundo o delegado da Polícia Federal Mário Nomoto, quadrilhas promoviam safaris no Pantanal –onde é mais fácil enxergar as onças do que na fechada selva amazônica. ""Caçadores internacionais pagavam grandes montantes de dinheiro para caçar onças por diversão"", disse. O policial afirmou que sucessivas operações da polícia praticamente acabaram com esse tipo de crime, mas a fiscalização continua. Ele explicou ainda que caçadores que operam no Brasil têm uma tática específica: eles usam um instrumento que reproduz o rugido das onças para atraí-las. Depois soltam um grupo de cães para rastrear a onça e forçá-la a subir em uma árvore –onde se torna um alvo fácil para disparos de armas de fogo. LEIS A legislação local é crucial no combate à caça ilegal, segundo autoridades. Segundo Teresa Peres, na Bolívia, suspeitos estão sendo processados com base em uma lei que prevê de um a seis anos de prisão para esse tipo de crime. No Brasil, segundo Roberto Cabral, a legislação prevê penas em torno de seis meses a um ano de prisão. Em muitos casos a punição é uma multa e a prisão acaba sendo convertida em penas alternativas. ""Por causa da fragilidade da legislação conseguimos identificar os caçadores, mas muitos continuam na ativa"", disse o chefe de fiscalização do Ibama",ambiente
"Para negociador-chefe, Brasil foi importante para decisões da COP22","Depois de duas semanas de negociações técnicas sobre os detalhes necessários para que o texto do Acordo de Paris possa ser obedecido pelos países, os líderes reunidos na plenária da COP22, a Conferência da ONU Sobre o Clima, chegaram a um documento simples e de apenas quatro páginas. Ele fixa um calendário de tratamento de temas da regulamentação do acordo –transparência, fiscalização e financiamento. O processo tem até 2018 para ser concluído. A missão que cabia à COP22, que aconteceu em Marrakech, no Marrocos, parecia tranquila após o sucesso das negociações do Acordo de Paris. Mas, no último dia, os países encontraram dificuldades em concordar sobre o que entraria na agenda. É A LEI Uma questão levantada pelo Brasil criou suspense na plenária, já na noite de sexta-feira (18): o país defendeu a regulação dos ciclos de revisão das metas climáticas. Em 2015, cada país teve autonomia para colocar na mesa as suas metas de redução de emissões, as chamadas ""contribuições nacionalmente determinadas"". Além da diversidade de ambição e objetivos, elas também traziam diversos parâmetros e diferentes prazos para revisão das metas –alguns prometem revisar suas metas a cada cinco anos, outros a cada dez, outros usam ainda um sistema misto. O Acordo de Paris previa que os diferentes prazos fossem ajustados já na primeira reunião de regulamentação, de modo que os países pudessem monitorar seus progressos com parâmetros comuns. O Brasil fez questão de defender que o documento considerasse a regulação dos ciclos de revisão, conforme o previsto. Nos bastidores, a China se colocava contra e, em algumas comitivas, surgiram boatos de que o Brasil estaria travando o debate. ""Nós estamos propondo o avanço"", respondeu à reportagem o negociador-chefe do Brasil, Antônio Marcondes. Ele explica que encontrar ciclos de revisão comuns, o que parece um mero detalhe técnico, tem importância ""legal, política e de ambição."" ""É uma questão legal porque precisamos obedecer o que está proposto; uma questão política, porque sem ciclos comuns não podemos monitorar e comparar o progresso entre os países; e, com ciclos mais curtos, os países precisam correr para fazer mais."" O país ainda defendeu que fosse aberto o fórum específico para regulamentação do Acordo de Paris (CMA), onde só participariam países que já ratificaram o acordo. Outros países em desenvolvimento queriam que a regulamentação continuasse sendo tratada na COP, onde todos podem opinar. No final, ficou decidido que as duas câmaras vão trabalhar juntas até 2018, quando todos que quiserem discutir o acordo precisarão tê-lo ratificado em seus parlamentos nacionais. Além da revisão das metas, o documento de Marrakech coloca na agenda questões de educação e a regulação de um fundo para financiar ações de adaptação ao clima. URGÊNCIA O prazo é desafiador porque o Acordo de Paris entrou em vigor muito antes do esperado. Como o primeiro período de compromissos só começa em 2020, os negociadores esperavam ter quatro anos para a regulamentação. Mas o mundo viu urgência na questão e, no último mês, mais de 55 países, representando mais de 55% das emissões mundiais, já tinham ratificado o documento, condição para que ele entrasse em vigor como lei internacional. Agora, os países encaram apenas dois anos de prazo para detalhar as regras que vão botar o acordo em funcionamento. É metade do tempo que levou a regulamentação do Protocolo de Kyoto –o primeiro acordo climático era bem mais simples, com um escopo menor e menos da metade de países signatários. COALIZÃO Ao final da plenária, que adentrou a madruga deste sábado (19), foi a primeira vez em que Brasil, Uruguai e Argentina fizeram uma manifestação conjunta sobre a importância da adaptação aos efeitos da mudança climática. Os países defenderam respostas comuns às questões hídricas, agrícolas, florestais e ainda aos eventos extremos. Também fora do jogo das negociações, outra coalizão causou surpresa: o fórum dos países vulneráveis ao clima, com 48 nações, anunciou uma meta conjunta de chegar a 100% de energias renováveis nas próximas décadas. Embora não haja um prazo estrito, o anúncio surpreendeu a COP pela inversão de protagonismo: pela primeira vez os países em desenvolvimento puxam a liderança da transição energética, historicamente vista como responsabilidade dos mais desenvolvidos. - MISSÃO A Conferência da ONU Sobre o Clima, que aconteceu em Marrakech, no Marrocos, tinha como missão estabelecer uma agenda de implementação de medidas de fiscalização, transparência e de adaptação até o ano de 2018 sobre o que havia sido acordado no Acordo de Paris, que tem como meta limitar o aquecimento global DE VENTO EM POPA Por causa da implementação em tempo recorde do acordo de Paris –um ano–, o clima era de otimismo do íncio da COP, mas, no fim das contas, essa euforia não foi até o final EFEITO TRUMP Três dias após o início da conferência, no dia 7, acontecia a eleição nos EUA. A vitória fora do script do republicano Donald Trump pegou as delegações e observadores de surpresa CETICISMO Trump defende uma posição cética em relação às mudanças climáticas, e é favorável ao uso de energia proveniente de combustíveis fósseis e do carvão DESESPERO A COP22 está terminando sem tantos resultados notórios. Existe uma cobrança de ""comrpomisso político"" dos países contra as mudanças climáticas, o que, teoricamente, ja teria sido acordo em Paris DINHEIRO Com EUA menos interessados na questão climática, será mais difícil atingir os R$ 100 bilhões de 2009 pra o Fundo Verde do Clima, o que preocupa os ambientalistas ADAPTAÇÃO O tema de adaptação às mudanças climáticas, como obras para conter os efeitos do aumento do nível do mar, perderem espaços e ficaram de fora das conversas CARVÃO A indústria do carvão fez movimentos para tentar emplacar uma modalidade menos agressiva ao ambiente da produção de combustível, com grande resistência por parte das ONGs NEGÓCIOS Com poucos assuntos que interessem à maioria das pessoas, empresas e executivos aproveitam para fechar negócios e trocar cartões de visitas PRESSÃO Por sua vez, ONGs e ambientalistas aproveitam para pressionar os representantes do governo, como aconteceu após as frases polêmicas de Blairo Maggi (ministro da Agricultura) sobre conflitos e mortes no campo",ambiente
Por que dezenas de leões marinhos estão aparecendo doentes –ou mortos– em praias da Califórnia,"Dezenas de leões marinhos têm adoecido –até a morte, em alguns casos– nas praias da Califórnia central nos últimos dois meses. E o inimigo está no próprio oceano. ""Tivemos muito trabalho"", disse à BBC Mundo Shawn Johnson, diretor de ciência veterinária no Centro de Mamíferos Marinhos, em Sausalito, perto de San Francisco. Sob a sua coordenação, os veterinários do centro dificilmente têm tempo para pausas. E o que os mantêm ocupados são os casos crescentes de envenenamento pela neurotoxina ácido domóico (toxina que age sobre o sistema nervoso, causando paralisias ou contraturas musculares). O ácido domóico é produzido por certas algas marinhas, como as chamadas doumoi ou hanayanagi (Chondria armata), que são comumente ingeridas por peixes. A toxina se acumula nos peixes e, ainda que seja inofensiva para eles, acaba impactando os mamíferos. ""Os mamíferos marinhos comem muitos peixes e (por consequência) ingerem grandes doses dessa toxina, que entram na corrente sanguínea e no cérebro"", explica Johnson. Também há registros de casos de intoxicação por ácido domóico em seres humanos. No Canadá, na década de 1980, um grupo de pessoas morreu após comer mexilhões contaminados. Encontrar um leão marinho ou outro mamífero grande soltando baforadas ou tendo convulsões na areia da praia não deve ser uma cena fácil de compreender. Mas, na Califórnia, a única esperança desses animais agonizantes é a de serem vistos por alguém que alerte os especialistas do centro veterinário em Sausalito. Caso seja necessário, o animal é levado para lá, e uma equipe de veterinários e cientistas faz um diagnóstico do problema. ""No caso de envenenamento por ácido domóico, que causa convulsões, tentamos conter com medicação e com cuidados emergenciais"", disse Johnson à BBC Mundo. AUMENTO DAS TEMPERATURAS Shawn Johnson indica que a floração dessas algas tóxicas ocorre em diferentes épocas do ano. Especialistas concordam que o aumento das algas tóxicas foi causado pela mudança climática e pelo aumento das temperaturas oceânicas. Desde junho, cientistas do Centro de Mamíferos Marinhos trataram 89 animais, dos quais 82 eram leões marinhos. A maioria apareceu na região das praias de San Luis Obispo, onde há uma grande concentração de algas. E praticamente todos os leões marinhos resgatados sofreram as temidas convulsões. ""O mais urgente é que o corpo expulse a toxina. Também ministramos ao animal uma medicação para proteger o cérebro. Essas convulsões podem causar lesões cerebrais permanentes"", explica Johnson. ""Depois de tratar as convulsões por uma semana, começamos a estudar outros tratamentos e identificamos se há dano cerebral ou não."" Se o animal se recuperar, eles o devolvem ao oceano e colocam uma etiqueta de identificação para, caso apareça em outra região, saibam que esteve em um centro de reabilitação. Dos 82 leões marinhos atendidos no centro, os veterinários conseguiram salvar 51.",ambiente
"Britânicos querem, até 2040, o fim de novos carros a diesel e gasolina","Em busca de formas para combater a crescente poluição, a Grã-Bretanha anunciou, nesta quarta-feira (26), o fim das vendas de carros a diesel e gasolina até 2040. O plano britânico se assemelha ao francês, anunciado também neste mês. Ambos fazem parte de um crescente esforço mundial para, a partir de carros elétricos, reduzir as emissões de gases-estufa e combater as mudanças climáticas. Além dos governos, montadoras também estão fazendo ajustes nessa direção. A Volvo declarou recentemente que, nos próximos anos, encerrará a produção de motores de combustão interna. Enquanto isso, a BMW está construindo uma versão elétrica do Mini, um popular carro de sua linha. As notícias podem parecer boas, mas a transição para os carros elétricos será gradual e a iniciativa britânica é menos ambiciosa do que outras vistas pelo mundo. Soma-se a esse quadro a decisão de Donald Trump de retirar os EUA do Acordo de Paris. O governo britânico, como parte de seu plano de ação para reduzir a poluição atmosférica, afirma que vai disponibilizar US$ 332 milhões às administrações locais para ações de curto prazo, como melhoramentos em ônibus. ""É importante nos prepararmos para alterações significativas, relacionadas não só aos problemas de saúde causados pelas emissões, mas também aos maiores, como a aceleração das mudanças climáticas"", afirmou Michael Gove, secretário britânico do ambiente. Chris Grayling, secretário de transportes da Grã-Bretanha, prometeu uma ""revolução verde nos transportes"" e afirmou que o governo quer que, até 2050, quase todos os carros em vias britânicas não emitam gases-estufa. Na França, a promessa de encerrar as vendas de carros comuns foi feita como uma emenda ao compromisso firmado no Acordo de Paris. A Grã-Bretanha –também parte do acordo para conter as mudanças climáticas– principalmente em suas maiores cidades, como Londres, tem enfrentado preocupantes níveis de poluição atmosférica. Estima-se que a qualidade ruim do ar, em parte resultado da poluição produzida pelos carros, cause entre 23 mil e 40 mil mortes por ano na Grã-Bretanha. Frederik Dahlmann, professor assistente na Warwick Business School, descreveu o anúncio como um passo importante para se chegar a um objetivo futuro. Segundo ele, isso também ""incentiva os compradores a considerar outras opções de motor ao comprar seu carro"". Contudo, Dahlmann afirma que o anúncio deixa uma pergunta no ar: ""Como o governo pretende, no curto prazo, melhorar a qualidade do ar e reduzir as emissões relacionadas ao transporte?"" Os críticos, como Ed Miliband, ex-secretário do ambiente, afirmam que o governo é falho no combate à crise da poluição. tweet No twitter, Miliband diz temer que ""a nova proibição, para daqui 23 anos, a carros movidos a petróleo e diesel seja uma cortina de fumaça para fracas medidas de combate às 40 mil mortes anuais por poluição do ar"". Outras críticas afirmam que as ações do governo não são agressivas o suficiente –a França também colocou 2040 como objetivo, mas a Noruega pretende começar a vender somente carros elétricos em 2025; o plano da Índia é conseguir isso em 2030. Tipicamente, os carros possuem vida útil de cerca de 15 anos. Dessa forma, mesmo que a Grã-Bretanha cumpra seu objetivo, os motores tradicionais devem continuar rodando no país mais de uma década após 2040. Mesmo assim, a decisão britânica é a mais recente indicação de como os governos e a opinião pública passaram a se posicionar contrariamente ao diesel e aos motores de combustão interna. Enquanto isso, as montadoras, mesmo relutantes em abandonar algo que as serviu tão bem por mais de um século, estão começando a aceitar o fim dos motores movidos a combustíveis fósseis. Os investimentos dessas empresas em carros à bateria têm crescido fortemente, junto à percepção de que os carros tradicionais estão sob ameaça da Tesla e de companhias chinesas, as quais possuem mais experiência em tecnologias de carros elétricos. A crescente preocupação com os malefícios à saúde causados pelo diesel é a responsável por essas mudanças de posição. Madrid, na Espanha, Munique e Stuttgart, na Alemanha, já consideram possíveis proibições ao diesel. As vendas de carros a diesel está em queda. Líderes políticos estão sob pressão para colocar fim aos subsídios ao diesel. Os países europeus estipularam menores taxas ao diesel do que à gasolina com a crença de que isso seria melhor para o planeta. De fato, motores a diesel lançam no ar menos dióxido de carbono. Eles produzem, porém, mais óxidos de nitrogênio –família de gases que causa asma e é responsável pelo smog (névoa tóxica), que, em algumas ocasiões, cobre Londres e outras grandes cidades. Ao invés de incentivar a migração para carros à gasolina, os governos e montadoras se focam nos carros elétricos, os únicos que não emitem óxidos de nitrogênio e dióxido de carbono. Essa guinada, contudo, tem levantado dúvidas sobre a capacidade dos países de produzir a energia e infraestrutura necessários para a concretização da mudança radical no modo de se locomover das pessoas. Jack Cousens, porta-voz de uma das principais associações automotivas britânicas, a AA, afirma que será necessário um significativo investimento para instalar pontos de recarga de carros pelo país, especialmente para recarregamentos rápidos. Cousens diz ainda ter dúvidas se a rede elétrica conseguiria suportar um massivo número de recargas simultâneas após um horário de pico no trânsito.",ambiente
Florada de ipês-amarelos deixa as ruas mais coloridas no Distrito Federal,"Após o ipês-roxos colorirem o Distrito Federal, começa na cidade a florada dos primeiros ipês-amarelos. Na época da seca, a árvore perde as folhas, que dão lugar às flores e transformam a paisagem. A floração do ipê-amarelo dura, em média, 15 dias, chama a atenção de moradores da cidade e de visitantes. A espécie floresce no inverno e é influenciada pela intensidade da estação. Quanto mais frio e seco for o inverno, maior será a intensidade da florada do ipê-amarelo. O Distrito Federal tem aproximadamente 600 mil ipês e, desse total, 200 mil estão no Plano Piloto, de acordo com a Novacap (companhia urbanizadora da nova capital). Há décadas, a companhia cultiva mudas e faz o plantio da árvore. Este ano, já foram plantadas entre 40 mil e 50 mil mudas de ipê-roxo, amarelo, rosa e branco no DF . De acordo com o chefe do Departamento de Parques e Jardins da Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil, Rômulo Ervilha, a exuberância da espécie no Distrito Federal se explica pela facilidade de adaptação ao clima seco do Cerrado, segundo Rômulo Ervilha. ""Plantamos várias espécies de árvores a cada período chuvoso, e muitas plantas acabam morrendo no período da seca por não serem tão adaptadas. O ipê é uma planta muito resistente, às vezes fica só com o tronco da muda e logo que chove ela brota. Os plantios vingaram bastante e por isso temos muitas plantas de ipê hoje florindo"", destacou. Na sequência do ipê-roxo e amarelo, está prevista a floração do rosa e, por último do branco, provavelmente em setembro. Esse calendário, no entanto não é rígido, de acordo com Rômulo Ervilha. Ipê é uma palavra de origem tupi, que significa árvore cascuda, e é o nome popular usado para designar um grupo de nove ou dez espécies de árvores com características semelhantes de flores brancas, amarelas, rosas, roxas ou lilás.",ambiente
Proteção a bisões divide poloneses,"As duas criaturas enormes fizeram uma pausa em sua alimentação ruidosa, em silhueta contra os pinheiros finos na outra margem de um riacho, e emitiram alguns bufos de trem a vapor. ""Acho que estamos perto o suficiente"", disse Michal Krzysiak, membro da equipe que supervisiona o rebanho de bisões europeus do Parque Nacional Bialowieza, na Polônia, e é seu único veterinário. Os dois bisões estão entre os 1.500 que vivem em Bialowieza, a maior concentração da variedade europeia no mundo. Segundo Krzysiak, 34, no início os moradores das aldeias próximas temiam o bisão e o impacto em suas propriedades. Agora as pessoas os chamam de ""nosso bisão"". Piotr Otawski, vice-ministro do Meio Ambiente da Polônia, propôs novos regulamentos para proteger e aumentar os rebanhos de bisões do país. No entanto, muitos agricultores os consideram um perigo para suas plantações. As autoridades que supervisionam as florestas nacionais nem sempre aceitam a ideia de mais bisões livres na natureza. Além disso, alguns interesses comerciais temem que o excesso de novas regras ambientais prejudique a expansão econômica do país. Mesmo os que apoiam a proteção do bisão não concordam. Alguns cientistas avaliam que há muitos deles em certos lugares e são contra os regulamentos do governo que proíbem o abate seletivo. Outros cientistas dizem que o problema é o excesso de interferência humana em seu cuidado. Bialowieza, na fronteira da Belorus, a 225 quilômetros a leste de Varsóvia, é um dos últimos trechos das florestas virgens que cobriam o norte da Europa, e o maior, com 1.500 km2. O parque abriga alces, lobos, linces, castores, ursos e uma variedade de aves. Protegidos em reservas de caça reais, das quais Bialowieza é um exemplo que sobreviveu, primeiro pelos reis da Polônia e depois pelos czares, os animais foram caçados para alimentação em todas as guerras e recuaram para o interior da floresta, até que o último exemplar livre foi morto por um caçador em 1919 aqui em Bialowieza. O bisão só sobreviveu em zoológicos em Berlim e outros lugares da Europa Central. Porém, em 1951, o governo comunista da Polônia começou uma campanha para recuperar a espécie e reintroduzi-la nas florestas das fronteiras da Polônia. Hoje, mais de 5.000 bisões vivem em cativeiro ou em rebanhos selvagens em Bialowieza, espalhados por algumas outras áreas do país e reunidos em número menor na França, Alemanha, Holanda, Romênia, Ucrânia e em outros países. ""Queremos ter 10 mil na Europa"", disse Krzysiak. ""Esse é o número mínimo, a nosso ver, para que a população seja considerada segura e protegida."" No entanto, Wanda Olech-Piasecka, professora no departamento de genética animal na Universidade de Ciências da Vida em Varsóvia, disse que o rebanho de Bialowieza cresceu demais para o parque. A cada inverno, ele se desloca mais para fora dos limites do parque e entra nas fazendas vizinhas. Dos 1.500 bisões que há no parque, mil vagam livremente e cerca de 500 estão em cativeiro. O governo paga por qualquer prejuízo que os animais causem a propriedades privadas, disse Krzysiak. ""É compreensível que as pessoas tenham medo dos danos que esses animais podem causar"", disse Andrzek Sitowski, 74, agricultor aposentado que se mudou para Lublin. ""Eles são grandes e não são calmos como as vacas."" E acrescentou: ""Mas são animais magníficos"".",ambiente
"Árvores não conseguem absorver tanto CO2 quanto se pensava, aponta estudo","Não há quem não tenha aprendido na escola que umas das funções mais importantes das árvores é ajudar a regular o gás carbônico na atmosfera. Mas um novo estudo realizado na Austrália questiona as estimativas sobre a quantidade de dióxido de carbono (CO2) que as árvores poderiam retirar da atmosfera. Segundo cientistas da Universidade da Western Sydney University, árvores não conseguem armazenar tanto dióxido de carbono (CO2) quanto se pensava. Os experimentos põem em dúvida a tese de que níveis crescentes de CO2 na atmosfera intensificariam o desenvolvimento (o chamado efeito de fertilização) das árvores –que se ""alimentam"" do carbono retirado do ar através da fotossíntese– aumentando assim a absorção do gás. O estudo foi publicado na revista científica ""Nature Climate Change"". Segundo os cientistas, a pesquisa também indica que, por este motivo, levantamentos internacionais sobre o armazenamento de gás carbônico nas florestas podem estar superestimados. Eles analisaram, por cinco anos, eucaliptos nos limites de Sydney que foram artificialmente bombardeados por altas doses de dióxido de carbono lançadas por tubos a 28 metros de altura. O objetivo do experimento era simular os níveis de CO2 na atmosfera previstos para 2050. A fotossíntese das árvores estudadas aumentou em 19% em três anos, mas –como elas crescem em uma região de solo pobre– a intensificação do processo não teve o impacto esperado no seu crescimento. Como resultado, mais gás passou a ser absorvido, porém esse aumento também não foi significativo, segundo os cientistas, diante do intenso bombardeio de CO2 sofrido pelas plantas. Os cientistas afirmaram que os resultados tendem a ser mais contundentes em solo de pior qualidade, com baixas taxas de fósforo ou nitrogênio. Eles acrescentaram que isso poderia ter implicações importantes para outras regiões com florestas tropicais e subtropicais. Este texto faz parte da série # SoICanBreathe, dedicada a problemas causados pela poluição.",ambiente
Morre filhote de ariranha que ajudaria a reintroduzir espécie extinta no PR,"O filhote de fêmea de ariranha (Pteronura brasiliensis) de três meses que seria a esperança de salvar a espécie de extinção no Estado do Paraná acabou morrendo no sábado (25). O animal havia viajado 11 horas de Altamira (PA) a Foz do Iguaçu (PR) e chegado à cidade paranaense no último dia 21. A espécie é considerada extinta no Paraná, tendo sido vista pela última vez na natureza em 1998, no Parque Nacional de Ilha Grande. O filhote era a esperança de conseguir reintroduzir o animal no Estado, que está ameaçado de extinção em todo o Brasil. Técnicos do RBV (Refúgio Biológico Bela Vista de Itaipu) suspeitam que o animal tenha morrido por desnutrição crônica, com complicações por baixa imunidade e infecção intestinal secundária aguda. Mas, o laudo definitivo da causa da morte ficará pronto em até 30 dias. A ariranha havia chegado ao RBV muito magra, pesando 3,5 kg, para fazer parte do plantel de 363 animais mantidos na unidade e integrar o programa de reprodução em cativeiro. Segundo os técnicos, apesar do baixo peso e de estar debilitada, ela estava se adaptando às novas instalações e dieta a base de composto lácteo e peixes.",ambiente
EUA se comprometem a cortar 28% de suas emissões,"Os Estados Unidos apresentaram nesta terça (31) uma proposta para cortar 28% de suas emissões de gases poluentes. O plano, entregue formalmente à ONU, confirma o anúncio feito em novembro de 2014, quando o país se comprometeu a reduzir, em 2025, entre 26% e 28% das emissões em relação a 2005. Na proposta, os EUA citam medidas como padronizar medidas que economizem combustível nos veículos e criar regulações para cortar as emissões de carbono de usinas e de metano do setor de óleo e gás. Muitas dessas ações fizeram com que o presidente americano Barack Obama travasse uma briga com os republicanos, que controlam o Congresso e o Senado. O governo também recebeu ameaças de processos judiciais por parte da indústria e até ameaças de Estados americanos, que questionaram a autoridade legal do presidente em impor essas regulações. O anúncio faz parte de uma estratégia para pressionar por um acordo mundial na próxima Conferência sobre Mudança Climática, marcada para o fim deste ano, em Paris. Em novembro do ano passado, a China também assumiu um compromisso: atingir o ápice de suas emissões de CO2 no máximo até 2030, quando então elas deverão começar a cair. Para isso, o país pretende investir para que 20% de sua energia tenha origem em fontes não poluentes. México, União Europeia, Suíça, Noruega e Rússia também já apresentaram seus planos para reduzir as emissões de carbono, cumprindo o prazo informal da ONU, que ia até dia 31 de março. Outros países, como Índia, Brasil, Canadá e Japão, ainda devem produzir suas propostas.",ambiente
Brasil é o país mais letal para ambientalistas,"A violência contra ambientalistas tem aumentado e se espalhado pelo mundo. Em 2016, ano mais letal para defensores do ambiente, foram registrados 200 assassinatos, segundo levantamento da ONG Global Witness, divulgado nesta quinta-feira (13). O Brasil é líder do ranking de mortes desses ativistas. Desde 2002, a Global Witness mapeia a violência contra ambientalistas no mundo. Quase mil ativistas foram assassinados entre 2010 e o ano passado –2015 e 2016, foram os piores já registrados. Este é o reflexo de uma onda de violência, em que ""as empresas mineradoras, madeireiras, hidroelétricas e agrícolas passam por cima das pessoas e do ambiente em sua busca por lucro"", diz a organização. O levantamento da ONG mostra que a mineração e o petróleo estão relacionados a 33 mortes, o que os tornam os campos mais perigoso para a militância. Contudo, o número de assassinatos associados ao desmatamento está crescendo. A derrubada de florestas está ligada a 23 assassinatos. Desses, 16 ocorreram no Brasil. Segundo o relatório, o agronegócio é um importante fator nesses números. Ao todo, em território brasileiro, foram 49 mortes. Com isso, em números gerais, o país é o mais perigoso para ambientalistas. ""A luta implacável pela riqueza natural da Amazônia torna o Brasil, mais uma vez, o país mais letal do mundo"", afirma o relatório. A Global Witness ainda afirma que os números apresentados podem estar subdimensionados, considerando que nem todos os assassinatos são relatados, principalmente os que ocorrem em zonas rurais. De acordo com a ONG, 60% dos assassinatos ocorreram em países da América Latina, e 40% das vítimas eram membros de grupos indígenas. Os governos, que falham em proteger os ativistas e responsabilizar os envolvidos nos assassinatos, estariam entre os responsáveis pelo crescimento das mortes, segundo o relatório. A ONG afirma também que investidores estão impulsionando a violência ao financiarem projetos e setores abusivos, além de falharem no apoio aos ativistas ameaçados. ""O aumento no número de mortes não significa necessariamente uma surpresa, considerando a impunidade que cerca os crimes"", afirma o relatório.",ambiente
Nova equipe chinesa chega à Antártida para construir estação,"A construção da nova base brasileira na Antártida começa para valer neste sábado (17). Com a chegada do navio Yong Sheng na quinta-feira (15), completou-se a equipe chinesa que trabalhará nas fundações da edificação. O cargueiro, que partira de Xangai 42 dias antes, fundeou na enseada Martel por volta das 18h. Às 21h25 chegou à praia da Estação Antártica Comandante Ferraz (EACF) o primeiro bote de borracha com trabalhadores da estatal chinesa Ceiec, contratada por US$ 99,6 milhões para a obra. A enseada fica na ilha do Rei George, na ponta da península Antártica. É a parte do continente austral mais próxima da América do Sul, e também a que mais se aquece com a mudança climática. O sol ainda estava alto no céu de verão subantártico, às 22h50, quando as três ""lingadas"" -ou levas- de bote terminariam. A nova EACF substituirá a estação que pegou fogo em 2012. Hoje, a base opera com módulos emergenciais que vão abrigar até 40 empregados da Ceiec, o grupo base de 15 militares da Marinha do Brasil e 8 fiscais ambientais que controlarão a obra. Antes de 10 de março, quando se encerra o período de verão em que é possível realizar obras, a Ceiec precisa completar as fundações do prédio. A própria estação só será erguida no próximo verão antártico, de novembro de 2017 a março de 2018. Na sexta-feira (16), o desafio da equipe chinesa era desembarcar os guindastes para deslocar as partes da antiga e da atual estação que ainda estão no terreno da nova. Os chineses solicitaram aos militares brasileiros 800 litros da cota de 100 mil litros de combustível que o Brasil tem de fornecer-lhes. O contrato firmado com a Ceiec prevê ainda o alojamento de 40 trabalhadores na EACF. Outras duas dezenas ficarão no navio Yong Sheng ou no alojamento que os chineses planejam instalar até terça-feira (20). Os jornalistas Marcelo Leite e Lalo de Almeida viajaram de Punta Arenas até a Antártida a convite da Marinha do Brasil",ambiente
"Para concluir tese, biólogo caça surucucu mãe em busca de filhotes","Uma surucucu se enrola sobre a coxa esquerda de Diego Padron enquanto ele conta sobre sua pesquisa focada nessa serpente, a Lachesis muta. Outro indivíduo rastejante da mesma espécie se acomoda na tela do notebook do pesquisador. ""Não costumo manuseá-las. Basicamente descrevo o que elas fazem na mata, o que acontece no dia a dia"", diz o herpetólogo –que, além da fundo de tela do computador estampado com a serpente, também a ""carrega"" tatuada na coxa. Ele estuda as surucucus para sua tese mestrado na Universidade Estadual de Santa Cruz, em Ilhéus. Para estudar a maior serpente peçonhenta das Américas –em uma região onde, no ano passado, uma pessoa morreu pela picada e por falta de soro antiofídico–, Padron se embrenha, de noite e de dia, em uma mancha de mata atlântica próxima ao município de Igrapiúna (BA). A rotina já dura oito meses. O maior exemplar encontrado por ele na região media 2,2 metros. A espécie, porém, pode passar de 3 metros e pesar mais de 15 kg. Com transmissores de 2,5 cm que são acoplados nos bichos, o objetivo é rastreá-los e conhecer o comportamento do animal na natureza. O dispositivo é termossensível, permitindo coletar também dados sobre a flutuação de temperatura do animal em relação ao ambiente. ""É a primeira pesquisa feita por um período prolongado com a espécie –ninguém mais está disposto a trabalhar com ela"", diz Padron. Carlos Jared, pesquisador do Instituto Butantan que não está envolvido na pesquisa de Padron, diz que possivelmente um dos motivos de ela não ser tão estudada é por ser um ""bicho misantropo, brucutu, realmente antissocial"", que normalmente vive em matas distantes das pessoas. A L. muta pode ser encontrada na Floresta Amazônica e em algumas partes da mata atlântica, a partir do Estado da Bahia. Segundo Jared, o ciclo reprodutivo é um dos aspectos pouco conhecidos. E foi exatamente essa questão que despertou o interesse de Padron. A pico-de-jaca é o único viperídeo no qual o desenvolvimento dos ovos ocorre fora do corpo da mãe. Segundo Giuseppe Puorto, diretor do Museu Biológico do Instituto Butantan, a serpente também apresenta cuidados parentais: coloca os ovos e se enrola ao redor deles para protegê-los. No entanto, Padron anda sem sorte: nenhuma das duas fêmeas acompanhadas gerou as aguardadas cobrinhas. CAÇADA Inicialmente, o projeto de pesquisa acompanhava seis cobras. Em uma delas, o transmissor estragou e o animal não foi mais encontrado. Outra L. muta foi morta, possivelmente por trabalhadores de seringais da região. ""Há uma questão cultural. É um animal peçonhento e, mesmo que ele não esteja fazendo nada, as pessoas matam"", diz o mestrando. Ele afirma que, durante sua pesquisa, de 11 encontros de picos-de-jaca com humanos, só presenciou duas delas saírem com vida. Dar de cara com essas serpentes pode ser uma experiência não muito agradável, mas trata-se de ""um animal temido pelo tamanho, envolto em muitas lendas, mas que não é agressivo, a não ser que você encha muito o saco dele"", diz Puorto. Segundo dados ainda não consolidados obtidos pela Folha junto ao Ministério da Saúde, em 2016 ocorreram 26.485 acidentes por serpentes peçonhentas e não-peçonhentas no Brasil. Destes, eram relacionados à surucucu somente 1,9% dos ataques –524 concentrados em Estados amazônicos. ""Ela, assim como a mata atlântica [só restam 12% da quantidade original], está perdendo espaço"", diz Puorto. ""São populações isoladas, o que dificulta a preservação."" Se a cobra corre risco, o biólogo também está cara a cara com o perigo, às vezes literalmente, e sem relação alguma com as serpentes estudadas. ""Um dia, andando sozinho na mata, vi brilho de olhos. Era uma sussuarana [espécie de felino de grande porte, parente das onças, tigres e leões]."" ""Para pesquisar a pico-de-jaca, precisa ser maluco e ter paixão pelo trabalho"", afirma Padron. A pesquisa de Padron se desenrola, com apoio da produtora de pneus Michelin, em uma reserva particular de cerca de 3.000 hectares, com trechos de mata nativa, mantida pela empresa. Segundo Kevin Flesher, responsável pela restauração ambiental do local, a área protegida funciona como uma espécie de compensação ao desmatamento por conta da produção de látex em outras partes do mundo, como na Indonésia e na Malásia. - A maior serpente peçonhenta do continente Espécie Tamanho Presas Reprodução Onde pode ser encontrada O jornalista PHILLIPPE WATANABE viajou a convite da Michelin.",ambiente
Mata atlântica se aproxima do desmatamento zero,"Só restam 12,5% da área original da mata atlântica (1,3 milhão de km2), mas o pouco que sobrou pelo menos caminha para a marca de desmatamento zero. Em 2014, a taxa de destruição recuou 24%. Foram derrubados 183 km2. Para comparação, essa área corresponde a aproximadamente o dobro do espelho d'água da represa Billings. A boa nova está no ""Atlas de Remanescentes Florestais"" que a ONG SOS Mata Atlântica e o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) lançam nesta quarta-feira (27). Em 2013, haviam sido registrados 240 km2. Até a virada do século, a derrubada da floresta chuvosa mais ameaçada do Brasil andava na casa dos mil km2 anuais. No seu domínio, que se estende ao longo do litoral, vive 72% da população brasileira, que há 515 anos derruba a mata para abrigar agropecuária e cidades. A redução paulatina das taxas, em especial após a Lei da Mata Atlântica (11.428/2006), levou mais da metade dos 17 Estados abrangidos a registrar, em 2014, menos de 1 km2 de devastação. Ou seja, muito perto de zerar o desmatamento. São eles: São Paulo, Rio Grande do Sul, Pernambuco, Goiás, Espírito Santo, Alagoas, Rio de Janeiro, Sergipe e Paraíba ""Reduziu muito, beleza. Mas tem a questão da recuperação"", ressalva Marcia Hirota, diretora-executiva da SOS. ""E agora? Onde a floresta precisa voltar para garantir os serviços ambientais?"" Conservação de recursos hídricos é o primeiro serviço que vem à baila. Hirota comemora, a respeito, o fato de dois dos Estados do Sudeste (SP e RJ) afetados pela seca chegarem perto de zerar o desmate. O outro Estado castigado pela estiagem, Minas Gerais, segue com a segunda maior área de mata atlântica derrubada (56,1 km2), mas conseguiu diminuir a taxa em 34%. É o resultado de uma moratória decretada pelo governo mineiro em junho de 2013, que suspendeu autorizações para supressão vegetal. O campeão de destruição foi o Piauí, onde pereceram 56,3 km2 de matas. Só no município de Eliseu Martins foram 42,9 km2, vizinho das localidades de Manoel Emídio e Alvorada do Gurgueia, no sul do Estado nordestino, que já haviam despontado no radar da SOS em 2013. O motor do desmatamento ali é a expansão do cultivo de grãos como soja e milho. A fronteira agrícola se expande do cerrado (que já perdeu 48% da cobertura original para o avanço da agropecuária) na direção das áreas de transição para mata atlântica e caatinga, em especial no sul do Piauí e do oeste da Bahia ­–terceiro Estado no ranking do atlas 2014 da SOS. ""Desenvolvimento é importante, mas não à custa das florestas naturais"", diz Marcia Hirota, que defende moratórias ao estilo mineiro na região conhecida como Mapitoba ou Matopiba (palavra formada com as siglas dos Estados do Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia).",ambiente
Represa mais antiga do Brasil se tornou cemitério de tartarugas,"Onde antes havia água, agora há terra rachada com seis barcos ancorados e centenas de tartarugas mortas. A situação da barragem mais antiga do Brasil resume os efeitos devastadores, tanto humanos quanto naturais, da pior seca em um século no nordeste do país. O ""Paraíso Bar"", com vista para o agora evaporado Açude do Cedro e para a Pedra da Galinha Choca, ainda está aberto, embora apenas turistas visitem este lugar, que até nove meses atrás era um dos principais atrativos das pessoas que faziam trilhas no interior do Ceará. A única coisa que se move atualmente dentro desta lagoa com capacidade para 126 milhões de metros cúbicos de água (mais de 50.000 piscinas olímpicas) são as silhuetas de seis jovens: um grupo de estudantes de ciências biológicas que a percorrem para fazer um trabalho de campo. Prolongada por mais de cinco anos pela predominância do El Niño no Pacífico e pelas mudanças climáticas, a pior seca desde 1910 no desamparado nordeste deixou seus reservatórios em situação crítica. No Ceará, um dos estados com mais território no sertão semiárido, estão, em média, a 6% de sua capacidade. Enquanto isso, barragens como o Cedro, uma obra pioneira contra a seca ordenada pelo imperador Pedro II que acabou sendo construída entre 1890 e 1906, um período republicano, estão paradoxalmente secas. RECUPERAÇÃO DOS ANIMAIS Em seu solo, tão escamado e duro que se torna difícil caminhar, jazem milhares de pequenos caracóis mortos, restos decompostos de espinhas de peixes e dezenas de cascos de tartarugas dissecadas, o primeiro foco do estudo universitário. ""Aqui havia uma biodiversidade muito extensa, com muitos peixes, anfíbios, moluscos, muitas aves que se alimentavam dos peixes. Quando uma pessoa vinha em excursão via tudo isso... e hoje não existe mais"", diz Wagmar Docarm, uma da estudantes, enquanto mede um casco e anota as informações no quadro de estatísticas. Desde que começou sua pesquisa, em novembro, este grupo da Universidade Estatal encontrou em Quixadá 438 tartarugas Phrynops geoffroanus, todas mortas, embora sejam as mais resistentes das três espécies que deveriam existir no local. O que isso indica? ""Estas tartarugas morreram porque não tinham água e ressecaram. Embora normalmente migrem, não tiveram como cruzar uma represa inteira"", explica Hugo Fernandes, o doutor em zoologia que coordena a pesquisa. O professor lembra que a seca é um processo habitual no ""sertão"", que faz com que a população animal flutue entre as poucas épocas secas e chuvosas. Mas o fato de a represa só ter este tipo de tartarugas constata o ""ambiente especialmente adverso"", agravado pela ""ação humana"", que pode fazer com que as populações animais não consigam se recuperar, adverte. SEM PEIXES, NEM TURISTAS Quem também está muito preocupada com estas previsões e com o prognósticos de chuvas insuficientes para 2017 é a comunidade de pescadores que vive em casas construídas ao redor da represa. Desde que a barragem secou completamente, há nove meses, sua fonte de sobrevivência desapareceu. ""Todos aqui viviam da pesca. Havia muitos peixes, camarões... mas tudo acabou e a miséria que o governo nos dá não é o suficiente"", afirma Francisco Elso Pinheiro, 75, pescador com as mãos tão ressecadas quanto a represa que agora observa a partir de uma rede. Francisco pescava cerca de 30 kg por dia e, com sua venda, conseguia duplicar a aposentadoria. Além disso, enchia a mesa de sua família com os pequenos cultivos de feijão, milho ou batata que dezenas de agricultores improvisavam nas margens do Cedro. Agora, seu barco de madeira está ancorado na metade da desértica barragem e, como já não sai água das torneiras e os caminhões-pipa do governo não conseguem chegar a sua casa, Francisco precisou cavar um poço no Cedro para tentar buscar água, extremamente salgada, de seus aquíferos. No ""Paraíso Bar"" e em outros pequenos negócios os donos também cavaram poços para, ao menos, poder lavar o chão ou os banheiros, onde atualmente quase ninguém pisa. ""Além da pesca, aqui vivíamos do turismo e agora estamos praticamente a zero. Se a represa voltasse a ter água, tudo melhoraria para todos"", diz Gilberto Queiroz, funcionário do bar, enquanto carrega a bomba do poço para que ninguém a roube. Na parede onde este duto improvisado de água termina, está escrita a frase: ""O senhor é meu pastor, nada me faltará"".",ambiente
Desmatamento aumenta 16% na Amazônia em relação a 2014,"A recessão econômica não foi suficiente para reduzir o desmatamento na Amazônia registrado entre agosto de 2014 e julho de 2015. Em comparação com o período 2013-2014, foi registrado um aumento de 16%. Os dados são do Prodes, divulgados pelo Ministério do Meio Ambiente. No ano passado, o desmatamento tinha caído. Nos doze meses, foram derrubados 5.800 km2 da floresta, o equivalente a cerca de quatro cidades de São Paulo. O aumento no desmatamento já vinha sendo apontado por outros levantamentos independentes, como o da ONG Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia). Os dados chegam em um momento delicado, às vésperas da convenção do clima de Paris. O desmatamento é a principal causa de emissão de gases-estufa do Brasil. Houve um aumento particularmente grande do desmatamento em Mato Grosso. ""[Os números] foram uma surpresa"", disse a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira.",ambiente
Dados preliminares indicam alta de 68% no desmatamento na Amazônia,"Dados preliminares do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) indicam que o desmatamento na Amazônia voltou a subir. Segundo monitoramento feito pelo Deter (Sistema de Detecção do Desmatamento em Tempo Real do Inpe), os alertas de desmatamento cresceram 68% nos últimos 12 meses (agosto de 2014 a julho de 2015), em relação ao ao período entre agosto de 2013 e julho de 2014. A taxa total de 5.121,92 Km2 –cerca de três vezes a cidade de São Paulo– é a mais elevada, nos registros do Deter, nos últimos seis anos. Mais uma vez, o Mato Grosso liderou a lista do desmatamento (35%), seguido pelo Pará (cerca de 30%) e Rondônia (15%). Embora seja feito pelo Inpe, esse levantamento não representa o número oficial do desmatamento no Brasil, que é feito por um outro sistema, mais preciso, do mesmo instituto: o Prodes. Embora seja menos preciso –o Deter do só detecta desmatamento acima de 25 hectares e sofre mais com a interferência da cobertura de nuvens–, o sistema é considerado um bom termômetro do ritmo do desmatamento na Amazônia. ""Sabemos que os sistemas de alertas não representam o total de desmatamento e nem são eficazes para pegar pequenos desmatamentos com menos de 25 hectares e é exatamente isso que preocupa, pois com este aumento de alertas podemos esperar também um crescimento na taxa anual medida pelo Prodes"", afirma Rômulo Batista, da Campanha da Amazônia do Greenpeace. AUMENTO ESPERADO O sistema de monitoramento independente SAD, feito pela ONG Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia) e divulgado na semana passada, já indicava uma tendência de alta de 63% nos alertas. A taxa oficial do desmatamento, feita pelo Prodes do Inpe, só será divulgada em novembro, próxima à Convenção Mundial do Clima de Paris. O desmatamento é a principal fonte de emissões de gases-estufa do Brasil. Os últimos números oficiais do sistema Prodes, referentes a agosto de 2013 a julho de 2014, indicaram uma redução de 15% em relação ao mesmo período do ano anterior.",ambiente
Igreja Católica orientará fiéis sobre cuidados com o ambiente pela 1ª vez,"Tem quem diga que religião e ciência não conversam entre si. Mas o papa Francisco não pensa assim. O líder católico está prestes a divulgar a primeira encíclica ambiental (espécie de carta de recomendações) da história da Igreja. O documento, com foco em mudança climática, tem o papel de orientar os fiéis sobre como se posicionar à luz da doutrina católica a respeito de questões como o aquecimento global. Ele será distribuído nas próximas semanas aos milhares de bispos e padres ao redor do globo e dirigido à comunidade de mais de um bilhão de católicos. Segundo porta-vozes do Vaticano, é esperado que o papa ressalte o papel do povo cristão na preservação da saúde da Terra, numa visão de que o homem é o guardião da criação de Deus e tem a obrigação de cuidar dela. A ideia é mobilizar os fiéis para o modo como a mudança climática afeta as regiões e populações mais vulneráveis. É mais um passo fora da curva partindo de um papa que já interferiu na política externa entre EUA e Cuba, reconheceu o Estado palestino e atacou a desigualdade provocada pelo capitalismo. ""Ele está emulando São Francisco de Assis,"" compara Eduardo Cruz, professor de teologia da PUC-SP, em referência ao santo que, além de protetor dos pobres, também é patrono da ecologia. Veja imagens Ele lembra que não é a primeira vez que um papa se pronuncia sobre questões sociais. O maior marco foi o ""Rerum Novarum"" (em português, ""Das Coisas Novas""), encíclica escrita em 1891 pelo papa Leão 13, que apoiava os direitos trabalhistas no auge da Revolução Industrial. A publicação é tida como estopim da chamada doutrina social da Igreja, e teve efeitos até para o campo do direito trabalhista. A encíclica ""Humani Generis"", de 1950, também se destacou por comentar sobre a teoria da evolução. O papa Pio 12, que a redigiu, não se furtava a fazer manifestações específicas sobre ciência e tecnologia. O tema foi abordado também por João Paulo 2º, outro papa cujas encíclicas sobre trabalhismo chamam atenção. ""Esperamos que a encíclica a ser publicada tenha um impacto tão poderoso que se torne o Rerum Novarum do século 21,"" empolga-se Sérgio Leitão, diretor de políticas públicas do Greenpeace. ""Tomara que seja um choque no imobilismo dos governos em dividir a conta da redução da emissão de gases danosos"". O papa tem mesmo, com o documento, a intenção de ter influência direta na discussão política do assunto. A COP 21, cúpula de mudança climática da ONU que será o ponto culminante de duas décadas de negociações entre chefes de Estado, ocorre no final do ano em Paris. ""A iniciativa histórica do papa deve servir de incentivo a outros líderes, além do povo católico,"" diz Carlos Nomoto, secretário-geral da WWF Brasil. ""A missão da harmonia do homem com a natureza atrai todo tipo de pessoa."" FIÉIS E INSTITUIÇÃO A impressão de que a comunidade cristã é conservadora quanto a questões científicas é corroborada por um estudo desenvolvido pelo biólogo Josh Rosenau, do Centro Nacional de Estudos Científicos dos Estados Unidos. Ele mostra que católicos estão atrás de judeus, muçulmanos e protestantes na taxa de apoio a regulações para frear a mudança climática. O bispo dom Guilherme Werlang, presidente da comissão para o Serviço da Caridade da Justiça e da Paz da CNBB, tenta desfazer a confusão entre a opinião dos fiéis e posicionamentos oficiais das entidades católicas. ""Percebemos que embora muitos fiéis católicos não creiam no aquecimento global como consequência da ação do homem, a Igreja enquanto instituição tem se preocupado muito com a questão e procura ajudar na conscientização de todos."" Mas a discussão de temas científicos pela Igreja não perdeu seu fator de surpresa. Para o professor Eduardo Cruz, ela tem que ser dissipada. ""Líderes católicos geralmente são contra ideias anticlericais, mas na verdade sempre foram mais favoráveis à tecnologia que suspeitos."" ""Alguns líderes radicais são inseguros em relação à ciência, porque acham que é contra a religião,"" destaca Tércio Ambrizzi, coordenador do Núcleo de Pesquisa de Mudanças Climáticas da USP. ""Mas temos que entender que a fé explica o que a ciência não alcança, e as duas hoje caminham mais lado a lado"".",ambiente
Desenvolvimento urbano é tema de debate em mostra de cinema em SP,"O desenvolvimento urbano está no centro do debate que será realizado nesta quarta-feira (7), às 20h30, dentro da 6ª Mostra Ecofalante de Cinema, que vai até o dia 14 de junho em São Paulo. Apesar do tema ""Cidades"" ter como foco a China, o debate sobre os empecilhos a uma cidade sustentável será precedido pelo curta ""Champ des Possibles"" e o longa ""Frágil Equilíbrio"". Enquanto o filme de 13 minutos de duração enfoca a cidade como prisão, o filme mais longo pré-debate mistura em sua análise três realidades distintas, costuradas a partir de uma entrevista com o ex-presidente uruguaio Pepe Mujica. O drama dos migrantes africanos que todos os dias tentam atravessar para a Espanha em um barco furado, as pessoas retiradas de suas moradias pela especulação imobiliária na Espanha e a história de dois executivos esgotados de tanto trabalhar no Japão são os exemplos usados pelo diretor Guillermo López para ilustrar o frágil equilíbrio da vida nas cidades. Entre os filmes que abordam todas as contradições do grande crescimento chinês e de suas gigantescas cidades, ""Minha Terra"", já premiado no Festival de Berlim, terá mais duas apresentações, segundo a programação oficial do evento, que pode ser consultada no site www.ecofalante.org.br. Uma das oportunidades é logo após o debate no Reserva Cultural, às 22h. A outra é no domingo, às 14h, no Spcine Olido. Todos os filmes têm entrada gratuita. A história filmada na China retrata Chen Jun, um trabalhador migrante rural que vive na periferia de Pequim. Como a expansão da cidade alcança o local onde Jun vive, e a terra vira alvo da especulação imobiliária, o trabalhador decide resistir. Apesar de todos os vizinhos da região resolverem sair. A mostra de filmes ambientais em São Paulo, além do tema cidade, exibe produções que abordam os assuntos: contaminação, economia, mudanças climáticas, povos e lugares e trabalho. Existe também uma competição de filmes latino-americanos e uma mostra de filmes universitários. O panorama histórico deste ano enfoca filmes sobre a região amazônica. Vincet Carelli é o diretor homenageado desta edição. ""Martírio"", filme lançado em 2016, feito por ele, escancara a violência contra os índios Guarani Kaiowá.",ambiente
Primeiro animal não humano a ganhar habeas corpus tenta superar depressão,"É quase meio dia e Cecilia sobe para o terraço. Há barulho do lado de fora e ela quer saber o que está acontecendo: é Marcelino, que alguns metros à frente tenta chamar sua atenção. Ela ainda não está preparada para uma relação, mas após quatro meses lutando contra a depressão, se sente cada vez mais viva. Como a grande maioria de seus companheiros, esta chimpanzé de 20 anos estava com a alma destroçada quando chegou em abril ao Santuário de Grandes Primatas de Sorocaba, 100 km a oeste de São Paulo. Ela deixou o zoológico de Mendoza, na Argentina, onde passou toda a vida presa em uma jaula, sem jamais sentir a grama, e consumida pela solidão depois da morte dos colegas Charly e Xuxa. Suas condições de vida ""deploráveis"" foram denunciadas por uma ONG local, que conseguiu que uma juíza lhe concedesse um habeas corpus para ser levada ao Santuário. Em sua decisão, a magistrada a considerou um ""sujeito não-humano de direito"". Cecilia fez história ao se tornar a primeira chimpanzé no mundo a ser efetivamente transferida com uma ordem deste tipo, segundo os especialistas em animais, mas a tristeza a estava matando. ""Quando chegou, não tinha problemas físicos, estava muito deprimida. Passava o tempo encostada, não interagia com ninguém"", relembra a veterinária Camila Gentille, que é capaz de reconhecer os 52 chimpanzés que vivem no Santuário como se fossem a sua família. Nenhum deles chegou por acaso a este refúgio de 50 hectares (500 mil metros quadrados), resguardado entre as árvores, onde 280 animais –entre os quais há pequenos primatas, leões e ursos– tentam curar as feridas de um passado de abusos. A maioria vive formando pequenos grupos em extensos recintos onde podem correr, brincar e, sobretudo, sentir que não estão sós. Alguns, no entanto, têm marcas profundas demais e necessitam de remédios para seguir em frente ou parar de se automutilar. Do alto de uma das torres no topo de cada espaço, os gritos e golpes secos de Dolores revelam os traumas sofridos no circo onde trabalhou parte de seus 18 anos. Ela não conseguiu superar a dor como Jimmy, que chegou ao Santuário depois de uma intensa luta legal contra o zoológico onde vivia amontoado no Rio de Janeiro, e exerce agora o papel exemplar de pai adotivo de Sofia, Sara e Suzi. ""Estes animais foram abusados e maltratados em circos, zoológicos ou confiscados por traficantes que os comercializaram. Precisam de um local onde sejam tratados decentemente, sem visitas públicas. E o único local assim na América Latina é este"", afirma Pedro Ynterian, dono do Santuário. PERIGO DE MORTE Com a cumplicidade dos velhos companheiros de viagem, Jango abre um enorme sorriso desdentado quando vê chegar este microbiologista cubano de 77 anos, que fez de sua paixão pelos animais uma luta que já dura quase duas décadas. Este chimpanzé idoso que gosta de macarrão foi castrado e teve os dentes arrancados em um circo no interior do Brasil antes de chegar ao Santuário em 2003. Por isso, Ynterian começou a investir parte da fortuna que fez com a venda de materiais de laboratório para transformar seu terreno em Sorocaba em um íntimo retiro para os animais que já não podiam voltar à vida selvagem. Suas prioridades mudaram três anos antes, quando comprou Guga, um chimpanzé de três meses, que na época custava cerca de US$ 20 mil. ""Eu queria que morassem com a gente, o que é uma imbecilidade total. Com ele começamos a descobrir um mundo que não conhecíamos, que é o dos abusos feitos contra eles"", relembra, enquanto passeia pelo terreno onde agora trabalham 30 funcionários. Logo se associou ao Projeto GAP, que luta pelos direitos dos grandes primatas e começou uma campanha de denúncia contra circos e zoológicos, que multiplicou os seus inimigos e quase lhe custou a vida. ""Tive problemas sérios e, inclusive, tentaram me matar há anos porque o mercado dos animais movimenta muito dinheiro"", conta sobre a época mais difícil. Desse período surgiu uma denúncia feita pela União Brasileira de Circo Itinerante que o acusou de integrar uma rede de tráfico de animais. Após a abertura de uma investigação, o caso foi arquivado em 2012, segundo confirmação do Ministério Público de São Paulo à AFP. PRIMEIROS PASSOS E a última luta deste homem que não hesitou em contar à imprensa brasileira como participou de um atentado frustrado contra Fidel Castro em 1962 foi por Cecilia. ""Aqui está conhecendo um mundo diferente: primeiro pode andar pela terra, pela grama, é livre naquele território provisório, e já vê que existem outros chimpanzés e famílias próximas"", assegura, convencido de que, com o tempo, também vencerá o medo. ""Ela está procurando isso, se integrar com alguém para parar de viver sozinha. E ela vai conseguir"", afirma. Depois do fracasso de sua aproximação com o impetuoso Billy, a equipe do Santuário acredita que terá mais química com Marcelino, que precisa sair do recinto que divide com a família porque a cada dia o relacionamento com o pai fica mais difícil. Mas serão eles que vão decidir quando, se querem viver juntos ou se vão compartilhar algo além de espaço. Ela, enquanto isso, não para de caminhar, como se quisesse recuperar os passos que lhe foram roubados.",ambiente
Navio será encalhado no gelo para a 'maior expedição ao Polo Norte',"Uma empreitada alemã está sendo considerada a maior expedição de pesquisa já planejada ao Ártico. Um navio de pesquisa de 120 metros de comprimento, o Polarstern, deverá encalhar e flutuar pelo mar de gelo do Polo Norte. A viagem de 2.500 quilômetros começa em 2019 e deve durar um ano. Pesquisadores esperam reunir informações sobre a região onde o clima vem mudando rapidamente. Mês passado, a extensão do gelo do Ártico foi a menor já registrada (durante a era dos satélites) para o mês de janeiro, com temperaturas vários graus acima da média de longo prazo. ""A redução do gelo do Ártico vem ocorrendo muito mais rapidamente do que os modelos climáticos podem prever, então precisamos de modelos melhores para ter previsões mais precisas para o futuro"", diz o professor Markus Rex, que coordenará o chamado projeto MOSAiC. ""Há uma previsão de que em poucas décadas o Ártico não tenha gelo no verão. Esse seria um mundo diferente e precisamos saber disso antecipadamente; precisamos saber se isto vai ou não ocorrer"". Rex detalhou o plano durante o encontro anual da Associação Americana para Avanços da Ciência (AAAS, na sigla em inglês). O pesquisador alemão do Instituto Alfred Wegener, em Bremerhaven, disse que a expedição custará 63 milhões de euros (R$ 207 milhões), dos quais a maior parte já está financiada, com contribuições de parceiros internacionais estratégicos. Reino Unido, Rússia, China e Estados Unidos estão entre eles. A missão lembra a expedição do explorador norueguês Fridtjof Nansen que, por volta de 1890, foi o primeiro a chegar ao Polo Norte e flutuar pelo mar congelado. Uma escuna chamada Tara também atravessou o oceano de gelo –das águas da Sibéria até o Estreito de Fram– da mesma maneira, há uma década. Mas o Polarstern é uma enorme plataforma científica e sua lista de tarefas e objetivos faz os esforços anteriores na região parecerem pequenos. ""Estamos embarcando vários equipamentos: muitos contêineres com instrumentos de medição, sensores de uso remoto para serem instalados no local"", afirma Rex. ""Vamos coletar amostras de água, gelo e ar, além de instalar acampamentos no mar gelado próximo ao Polarstern e a até 20-30 quilômetros de distância. E toda a instalação vai ficar à deriva pelo Ártico. Isto vai nos dar novas e fascinantes informações sobre o sistema climático"". A equipe do MOSAiC planeja até instalar uma pista de decolagem para que um avião de pesquisa auxilie o Polarstern. Será uma expedição complicada para os cientistas envolvidos, especialmente durante meados do inverno, quando o Sol não surgirá no horizonte. Os pesquisadores também terão que estar alertas à aproximação de ursos polares predadores. Mas o professor Rex disse que a empreitada é vital para a compreensão da região remota, destacando sua importância até para quem vive longe do Polo Norte. ""Um polo mais quente afetaria os padrões climáticos em latitudes médias (entre os trópicos e os polos Sul e Norte)"", diz ele à BBC News. ""O aquecimento do Ártico significa que o contraste existente entre o Polo Norte e nossas latitudes será reduzida no futuro. Isto significa que o ar gelado do Ártico poderá chegar às nossas latitudes, e o ar mais quente de latitudes baixas, ao Polo Norte. Isto certamente provocará um grande impacto no clima"". O Polarstern deverá ser posicionado no gelo marinho em meados de 2019, com a previsão de ser liberado um ano depois.",ambiente
Morte de insetos põe agricultura em risco e pode custar bilhões ao Brasil,"A população de abelhas e outros insetos polinizadores está diminuindo em todo o mundo, o que faz cientistas correrem para calcular o impacto na agricultura e de propor possíveis soluções. Segundo as contas feitas por pesquisadores de Minas Gerais e do México, o Brasil poderá perder de 16,5 a 51 milhões de toneladas de produtos agrícolas se a situação continuar piorando. Isso equivale a um prejuízo de US$ 4,9 bilhões (R$ 16,6 bi) a US$ 14,6 bilhões (R$ 49 bi). O motivo disso é que as culturas que são polinizadas têm alto valor de mercado, representando 68% do total da agricultura brasileira. Segundo os cientistas, muito do impacto econômico causado pela falta de insetos o seria sofrido pela agricultura familiar, responsável por 74,4% do setor. Para chegar aos números, os pesquisadores desenharam dois cenários –um pessimista e um otimista– e estimaram qual seria o prejuízo para cada um dos 53 principais cultivos no país, de acordo com a dependência da polinização para a produtividade de cada plantação. Por exemplo, o café,o melão e a maçã são culturas que têm de moderada a alta dependência de polinizadores. Em última análise, a produção de sementes (como a soja) e de frutos (como a goiaba) depende desse serviço ecológico, que consiste no transporte das células reprodutivas masculinas, levando-as até as células femininas. Em algumas culturas, como na de maracujá, há apenas uma espécie que faz bem o trabalho (a abelha conhecida como mamangava). Sem ela –por causa de defensivos agrícolas ou baixa tolerância às mudanças climáticas, por exemplo–, a produtividade despenca. Em alguns casos, o vento, a água e até a autopolinização podem dar conta do recado. É o caso de três das principais culturas do país: cana-de-açúcar, milho e arroz. Mas isso não quer dizer que essas plantações estejam livres de ""culpa"" pelo que está acontecendo, segundo os autores do estudo, publicado na revista ""Plos One"". O principal fator para o declínio é a mudança de uso da terra, ou seja, a transformação de extensas áreas de floresta ou mata nativa em monocultura. POLINIZAÇÃO-DEPENDENTE - A importância para as 15 culturas economicamente mais importantes do país SOLUÇÕES Uma das medidas para mitigar esse impacto está na agenda dos ambientalistas há tempos: manter uma área da mata nativa junto à propriedade –e que ela não seja fragmentada–, explica Cássio Nunes, doutorando da Universidade Federal de Lavras e um dos autores do artigo. Com isso, polinizadores como abelhas, mariposas, borboletas, moscas e até morcegos podem ser preservados, já que não faltariam alimento ou abrigo, para que ofereçam seus serviços aos agricultores. Por outro lado, se há abelhas pode haver pragas circulando pela plantação. Seria possível fazer um inseticida que não agredisse as abelhas e outros polinizadores? Segundo Osmar Malaspina, professor da Unesp e um dos maiores especialistas do país no assunto, esse produto não existe. Ele diz que o uso incorreto dos agrotóxicos também contribui para a mortandade das abelhas e que as próprias fabricantes estão preocupadas e estudando o assunto. ""Mas existem relatos de lugares em que o número de colônias de abelhas está aumentando"", afirma. Dessa forma, seria difícil bater o martelo sobre o tamanho do prejuízo, embora exista um consenso científico na área de que os polinizadores estão, sim, ameaçados. Tanto que a substituição deles pela força de trabalho humana é uma realidade na China, onde a população de insetos em algumas regiões caiu a níveis alarmantes. Sem a intervenção do homem, a produção dos pomares de macieiras despencaria. ""É uma tarefa custosa, e é por isso que o governo tem que tomar posições, para que daqui 150 anos não digam que poderíamos ter salvo a produção de alimentos se tivéssemos preservado as abelhas"", diz Malaspina. Uma das ações possíveis é aumentar o rigor para um novo agrotóxico ser aprovado pelo Ibama. A previsão é que uma lei vigore em 2017. Outra solução, aventada pelos autores do estudo da ""Plos One"", é o incentivo ao uso da agricultura orgânica. O problema é o alto custo dessa forma de cultivo, diz Malaspina, o que torna a prática tão inviável quanto uma abolição completa do uso de agrotóxicos. - VIDA DE INSETO Perda de polinizadores ameaça importantes culturas no Brasil O que são? Polinizadores são animais, geralmente insetos, que se deslocam de flor em flor, carregando células reprodutivas masculinas das plantas, levando-as até as células femininas e fazendo com que haja fecundação, formação de sementes e, consequentemente, de frutos Na prática A quantidade produzida de algumas culturas pode cair, tornando-as indisponíveis e/ou mais caras Dependência Entre os exemplos de culturas altamente dependentes da polinização estão: maçã, abacate, café, goiaba, melão, maracujá, melancia, tomate, pêra e pêssego De 16 a 51 milhões De toneladas de comida podem ser perdidas no futuro por causa do declínio na população dos polinizadores US$ 14,56 bi Pode ser o prejuízo financeiro no pior cenário estimado PROBLEMAS E PROPOSTAS Grandes áreas de monocultura > Problema: Ou o inseto não consegue se alimentar da cultura ou ele fica sem comida na entressafra > Proposta: Manter um trecho de mata nativa na propriedade e/ou aplicar rotação de culturas Mudanças climáticas > Problema: Alguns polinizadores não conseguem sobreviver muito bem a temperaturas elevadas e em ambientes secos > Proposta: Tentar atenuar os efeitos no clima causados pelo homem, como as emissões de carbono para a atmosfera Inseticidas > Problema: Muitas vezes inseticidas e pesticidas acabam tendo como efeito colateral e indesejável a morte de insetos polinizadores > Proposta: Aumentar o número de pesquisa para desenvolver defensivos agrícolas e estratégias que não afetem os polinizadores",ambiente
Peixes-boi saem de Cingapura para repovoar ilha do Caribe,"Dois peixes-boi nascidos e criados no zoológico de Cingapura deixaram a cidade-estado, no Sudeste Asiático, rumo à ilha de Guadalupe, no Caribe, como parte do primeiro programa de repovoamento do mundo para este mamífero, que foi extinto na ilha caribenha francesa. Os machos Kai, 7, e Junior, 6, saíram de Cingapura às 4h50 desta segunda-feira (8) –17h50 de domingo (7), horário de Brasília– para a viagem de 34 horas em um voo de carga fretado da Singapore Airlines, disse o operador do zoológico. Depois de uma cerimônia de despedida no domingo, que contou com a presença de representantes da embaixada francesa, os peixes-boi, que pesam centenas de quilos, foram levados sobre lonas até caixas abertas feitas sob medida e forradas com uma esponja grossa, em uma operação que envolveu dezenas de funcionários do zoológico. Os animais serão periodicamente borrifados com água durante a viagem. Dois veterinários do parque nacional de Guadalupe e um aquarista do zoológico de Cingapura estão viajando com eles. Kai e Junior, que nasceram em cativeiro, serão os primeiros peixes-boi a chegar no Grand Cul-de-Sac Marin, uma baía protegida de 15 mil hectares em Guadalupe, um território ultramarino francês no sul do Caribe. Outros 13 peixes-boi de diferentes gêneros serão enviados de zoológicos de todo o mundo para se juntar a eles. Qualquer prole do grupo será lançada na natureza, como parte do programa de repovoamento. ""Estamos felizes de ter a oportunidade de contribuir para o repovoamento (...) dos peixes-boi no Caribe, onde eles não foram avistados em mais de um século"", disse Mike Barclay, chefe-executivo da operadora do zoológico de Cingapura, Mandai Park Holdings. ""Projetos como este nos permitem fazer a nossa parte para proteger e conservar a biodiversidade mundial"", disse Barclay na cerimônia de despedida. O programa de repovoamento começou a ser discutido em 2007 em Guadalupe, e incluiu educar a população sobre os animais, disse o consultor do projeto Ray L. Ball. ""Você não pode reintroduzir uma espécie animal em um país se as pessoas não querem isso"", disse Ball. Conhecidos localmente em Guadalupe como ""maman d'lo"", ou mãe do mar, o peixe-boi das Índias Ocidentais era uma parte importante da ecologia do território, antes de ser caçado até sua extinção no início do século 20. A espécie está listada como ""vulnerável"" na Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da União Internacional para a Conservação da Natureza, com a variedade das Índias Ocidentais extinta no Caribe devido à caça excessiva. O peixe-boi é um animal manso que pode crescer até atingir 4,5 metros de comprimento. Seus habitats naturais são as águas quentes litorâneas, manguezais e estuários onde pastam nas plantas.",ambiente
Obama usa lei antiga e proíbe novas explorações de petróleo e gás,"O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, proibiu permanentemente nesta terça-feira (20) novas perfurações de poços de petróleo e gás em águas federais nos oceanos Atlântico e Ártico, em uma de suas últimas pressões ambientais antes de deixar o cargo no próximo mês. Na proteção das águas, Obama usou uma lei da década de 1950 chamada ""Outer Continental Shelf Act"" que permite que presidentes limitem áreas de cessão mineral e perfuração. Grupos ambientais disseram que o uso da lei por Obama significa que a futura gestão do presidente eleito Donald Trump não poderia simplesmente reverter a ação, mas teria de combatê-la nos tribunais. A proibição afeta águas nacionais perto do Alasca, no mar Chukchi e a maior parte do mar Beaufort, e no Atlântico, desde a Nova Inglaterra até a Baía de Chesapeake. A medida ocorreu em um anúncio conjunto de Obama e do primeiro-ministro canadense Justin Trudeau para lançar ações que garantam uma economia e ecossistema árticos fortes, sustentáveis e viáveis. Obama disse em comunicado nesta terça-feira que as ações conjuntas refletem a avaliação científica de que, mesmo com os padrões de alta segurança que os dois países colocaram em vigor, os riscos de um derramamento de petróleo nesta região são significativos e a habilidade de limpar um derramamento nas condições críticas desta região é limitada.",ambiente
Poluição é uma das ameaças à beleza natural da China,"Há mais de 140 anos, o governo dos Estados Unidos designou Yellowstone o primeiro parque nacional. Desde então, outras 450 áreas ganharam proteção, tornando-se importantes pontos turísticos para o país. Hoje a China tenta fazer com alguns de seus espaços naturais o mesmo que os EUA fizeram durante seu florescimento industrial. Recentemente, as autoridades de Pequim anunciaram um plano para instituir parques nacionais em nove províncias nos próximos três anos. ""Um sistema de parques nacionais que proteja e administre as ricas e belas áreas ecológicas do país pode ser fonte de grande orgulho nacional e educação ambiental"", disse Henry M. Paulson Jr., ex-secretário do Tesouro americano e fundador do Instituto Paulson, que tem dado grande destaque à pesquisa sobre os problemas ambientais da China. ""O truque na China será permitir que o público compartilhe seus tesouros naturais e ao mesmo tempo os proteja."" Em alguns lugares na China onde a natureza ainda é pujante, como os populares parques alpinos de Huanglong e Jiuzhaigou, na província de Sichuan, as iniciativas de conservação tornaram-se secundárias frente a empreendimentos de companhias concessionárias de turismo. Essas áreas também são muitas vezes ameaçadas pela poluição industrial e a construção. Porém, em dezembro de 2013, segundo reportagens na imprensa estatal chinesa, o presidente Xi Jinping disse em uma reunião com autoridades graduadas do governo que o país deveria criar um verdadeiro sistema de parques nacionais. O Instituto Paulson mantém contato desde o ano passado com a Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma, órgão do governo chinês que ajuda a supervisionar o planejamento econômico, sobre como poderia ajudar. ""Essa foi uma grande notícia"", disse Rose Niu, a principal diretora ambiental no Instituto Paulson, sobre os comentários de Xi. ""Número um, o sistema nacional de parques é um conceito novo na China. Número dois, essas questões de conservação ambiental nunca tiveram tanto destaque em um nível político tão elevado."" Niu, que é da província de Yunnan, disse que o instituto forneceria ""apoio técnico"" à agência chinesa enquanto as autoridades exploram maneiras de administrar e proteger os parques experimentais. Esse apoio inclui a promoção de intercâmbios entre autoridades chinesas e especialistas dos EUA, o desenvolvimento de diretrizes para administrar os parques-piloto e estudos de caso de parques nacionais em sete países: Brasil, Alemanha, Japão, Nova Zelândia, África do Sul, Tailândia e Estados Unidos. Algumas autoridades chinesas nos níveis provincial e regional têm experiência em conservação de parques. Niu teve papel crítico ao ajudar a criar uma área de conservação chamada Pudacuo. A área protegida abrange cerca de 300 quilômetros quadrados, onde o fluxo paralelo dos rios Yangtse, Mekong e Salween escavaram vales profundos. ""A China quer desenvolver um sistema de parques nacionais de acordo com práticas e padrões internacionais, mas também adequado ao contexto chinês"", disse Niu. ""Os recursos naturais existem cada vez menos na China. O país não apenas precisa combater a poluição do ar, da água e do solo, como também precisa investir em seu capital natural.""",ambiente
Temer revoga decreto sobre reserva mineral e apresenta novo texto,"Menos de uma semana depois de anunciar a extinção de uma área de reserva mineral na Amazônia, o governo do presidente Michel Temer voltou atrás, nesta segunda (28), e decidiu publicar novo texto mais detalhado sobre o tema. O novo decreto –que anula o anterior mas volta a extinguir a Renca (Reserva Nacional de Cobre e seus Associados)– proíbe, ""exceto se previsto no plano de manejo"", a exploração mineral nas áreas da extinta reserva onde houver ""sobreposição parcial com unidades de conservação da natureza ou com terras indígenas demarcadas "". Nas áreas onde não há sobreposição, o novo texto afirma que a exploração mineral ""atenderá ao interesse público preponderante"", considerando elementos como uso sustentável da área, dimensionamento de impacto ambiental e uso de tecnologia para reduzir os impactos. O texto ainda diz que a obtenção de título de direito minerário estará vinculado à comprovação de não participação em atividade mineral ilegal anterior. Além disso, foi criado pelo decreto o Comitê de Acompanhamento das Áreas Ambientais da Extinta Renca -de caráter consultivo. O ministro do Meio Ambiente, Sarney Filho, admitiu o receio de um ""desmatamento desenfreado"" na região, depois de dizer que a pasta não participou da edição do primeiro decreto. O anuncio foi feito na tarde desta segunda (28) por Sarney Filho e peloo ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho. A antiga Renca, área de 46.450 km² se sobrepõe a partes de três unidades de conservação de proteção integral e duas terras indígenas. ""Seria um desserviço à politica ambiental se não fizéssemos um novo decreto para deixar nítido para as pessoas que esse decreto não iria afrouxar regras ambientais nem interferir nas unidades de conservação. Com essas decisões vamos ter responsabilidade na região e não vai acontecer um desmatamento desenfreado conforme era nosso receio"", disse Sarney Filho. Em entrevista no Palácio do Planalto, o ministro do Meio Ambiente afirmou que conversou com Temer e com o ministro de Minas e Energia sobre a necessidade de ""clarificar"" a decisão de extinguir a reserva. Para ele, houve uma ""sinalização de que o governo estaria abandonando a Amazônia para o setor minerário. ""Muito pelo contrário"", completou. Sarney Filho acrescentou que o novo decreto mantém a extinção da Renca, mas traz ""um vigor muito maior"" para garantir a preservação das unidades de conservação. ""O novo decreto colocará ponto por ponto de como deverá ser agora após a extinção da Renca, preservando as questões ambientais, indígenas, sejam elas reservas estaduais ou federais. [...] A mineração só irá ocorrer dentro da legislação ambiental em vigor"", disse Fernando Coelho Filho. Segundo o ministro de Minas e Energia, o novo decreto ""reforça"" os pontos sobre a preservação. Fernando Coelho Filho disse que, como em ""qualquer área no país"", antes de fazer uma requisição de pesquisa em determinada área, será preciso apresentar ""um plano de impacto ambiental"". CELEBRIDADES Desde a manhã desta segunda (28), artistas se envolveram em uma mobilização nas redes sociais pedindo que a população proteste contra a decisão do governo sobre a Renca. Caetano Veloso e Anitta, que protagonizaram a campanha, publicaram mensagens na internet com a hashtag #TudoPelaAmazônia. tweet A modelo Gisele Bündchen tem divulgado textos nas redes sociais em defesa da região e diz que o governo está ""leiloando"" a floresta. CONFUSÃO Na sexta-feira (25), dois dias após a publicação do decreto, Fernando Coelho Filho já havia convocado uma entrevista às pressas, na qual disse que a Renca não é uma reserva ambiental e garantiu que não haveria redução em áreas de preservação no local. Na ocasião, Coelho Filho argumentou que, dentro da área da Renca, existem hoje cerca de 28 pistas de pouso clandestinas e mil pessoas praticando garimpo ilegal e que, sem o decreto, o ministério não podia atuar nesta área. A área é de 46.450 km² –tamanho equivalente ao do Espírito Santo–, na divisa entre Pará e Amapá. A região possui reservas minerais de ouro, ferro e cobre. A Renca foi criada em 1984, durante o regime militar. Dentro da reserva estão localizadas partes de três unidades de conservação de proteção integral, de quatro unidades de conservação de uso sustentável (uma delas na qual a mineração era permitida a partir de um plano de manejo) e de duas terras indígenas. - O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art. 84, caput, inciso IV, da Constituição, e DECRETA: Art. 1º Fica revogado o Decreto nº 9.142, de 22 de agosto de 2017. Art. 2º Fica extinta a Reserva Nacional de Cobre e Seus Associados, reserva mineral constituída pelo Decreto nº 89.404, de 24 de fevereiro de 1984, localizada nos Estados do Pará e do Amapá. Art. 3º Nas áreas da extinta Renca onde haja sobreposição parcial com unidades de conservação da natureza ou com terras indígenas demarcadas fica proibido, exceto se previsto no plano de manejo, o deferimento de: I - autorização de pesquisa mineral; II - concessão de lavra; III - permissão de lavra garimpeira; IV - licenciamento; e V - qualquer outro tipo de direito de exploração minerária. Art. 4º A autoridade competente para a análise dos títulos de direto minerário relativos à pesquisa ou à lavra em área da extinta Renca sobreposta a unidades de conservação da natureza federais ou a terras indígenas demarcadas iniciará os processos administrativos para o cancelamento dos títulos concedidos e indeferirá os requerimentos de novos títulos de direito minerário requeridos entre a criação e a extinção da Renca. Art. 5º Nas áreas da extinta Renca onde não haja sobreposição com unidades de conservação da natureza federais, nas quais é proibida a exploração mineral, ou com terras indígenas demarcadas, a exploração mineral atenderá ao interesse público preponderante. § 1º Para fins do disposto neste Decreto, considera-se atendido o interesse público preponderante quando houver: I - a correta destinação e o uso sustentável da área; II - o dimensionamento do impacto ambiental da exploração mineral; III - o emprego de tecnologia capaz de reduzir o impacto ambiental; e IV - a capacidade socioeconômica do explorador de reparar possíveis danos ao meio ambiente. § 2º A concessão de títulos de direito minerário nas áreas a que se refere o caput será precedida de habilitação técnica perante os órgãos e as entidades competentes. § 3º O início da explotação dos recursos minerais estará condicionado à aprovação pelos órgãos e pelas entidades competentes dos seguintes planos, observado o disposto em legislação específica: I - aproveitamento econômico sustentável; II - controle ambiental; III - recuperação de área degradada, quando necessário; e IV - contenção de possíveis danos. Art. 6º Fica proibida a concessão de títulos de direito minerário a pessoa que comprovadamente tenha participado de exploração ilegal na área da extinta Renca. § 1º Nas solicitações de título de direito minerário apresentados por pessoas jurídicas, o solicitante deverá apresentar comprovação de que as pessoas naturais que compõem a sociedade, direta ou indiretamente, não estão impedidas de contratar com a administração pública e de que não tenham participado de exploração ilegal na área da extinta Renca. § 2º A proibição estabelecida no caput se aplica aos sócios, aos controladores dos sócios e às pessoas naturais que compõem, direta ou indiretamente, as empresas do mesmo grupo econômico da pessoa jurídica solicitante. Art. 7º Caberá à Agência Nacional de Mineração, nas áreas da extinta Renca, a autorização para transferência do título de direito minerário, que somente será autorizada após decorrido o prazo de dois anos, contado da data da expedição do título, para as pessoas naturais ou jurídicas que comprovarem deter as mesmas condições técnicas e jurídicas do detentor original. Art. 8º Nas áreas da extinta Renca onde haja sobreposição parcial com unidades de conservação da natureza federais e estaduais ou com terras indígenas demarcadas, ficam mantidos os requisitos e as restrições previstos na legislação relativa à exploração mineral em unidades de conservação da natureza, terras indígenas e faixas de fronteira. Art. 9º Fica criado o Comitê de Acompanhamento das Áreas Ambientais da Extinta Renca, no âmbito da Casa Civil da Presidência da República, que será composto por um representante, titular e suplente, dos seguintes órgãos e entidades: I - Casa Civil da Presidência da República, que o presidirá; II - Ministério de Minas e Energia; III - Ministério do Meio Ambiente; IV - Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República; V - Ministério da Justiça e Segurança Pública, escolhido dentre os servidores da Fundação Nacional do Índio - Funai; e VI - Agência Nacional de Mineração. § 1º Serão convidados a participar do Comitê de Acompanhamento das Áreas Ambientais da Extinta Renca: I - um representante do Poder Executivo do Estado do Amapá; e II - um representante do Poder Executivo do Estado do Pará. § 2º O Comitê de Acompanhamento das Áreas Ambientais da Extinta Renca terá caráter consultivo e será ouvido pela Agência Nacional de Mineração antes da outorga de títulos de direito minerário relativos à área da extinta Renca. § 3º Os representantes dos órgãos referidos nos incisos I a IV do caput serão indicados pelos respectivos Ministros de Estado e designados em ato do Ministro de Estado Chefe da Casa Civil da Presidência da República. § 4º Os representantes referidos nos incisos V e VI do caput serão indicados pelos dirigentes máximos das respectivas entidades e designados em ato do Ministro de Estado Chefe Casa Civil da Presidência da República. § 5º A participação no Comitê de Acompanhamento das Áreas Ambientais da Extinta Renca será considerada prestação de serviço público relevante, não remunerada. Art. 10. Ficam revogados: I - o Decreto nº 89.404, de 24 de fevereiro de 1984; e II - Decreto nº 92.107, de 10 de dezembro de 1985. Art. 11. Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.",ambiente
"Último macho de sua espécie, rinoceronte entra no Tinder","Sudan, o último macho na Terra da espécie de rinoceronte-branco-do-norte, agora está no aplicativo de encontros Tinder como parte de uma campanha por fundos para tentar salvar a espécie da extinção. Com 43 anos (o equivalente a 100 em anos humanos), Sudan vive no Quênia e é descrito no aplicativo como ""tipo único"", que gosta de comer grama e relaxar na lama. As tentativas de acasalamento com fêmeas da espécie foram frustradas, e cientistas agora apostam na fertilização in vitro (FIV). Para tanto, os cientistas buscam arrecadar US$ 10 milhões (R$ 32 milhões). ""Isto nunca foi feito em rinocerontes"" afirmou à BBC Richard Vigne, diretor da ONG Ol Pejeta Conservancy. ""É um programa de dez anos para recuperar a espécie"". ""Esperamos mantê-lo vivo o máximo que pudermos, mas estamos numa corrida contra o tempo para salvar a espécie"". No Tinder, o perfil de Sudan diz ainda: ""Eu não quero soar presunçoso, mas o destino da minha espécie literalmente depende de mim"". ""Eu reajo bem sob pressão...tenho 1.83 m de altura e peso 2,2 mil kg, se isso importa"". Numa campanha conjunta lançada por Ol Pejeta Conservancy e Tinder, os usuários do aplicativo podem fazer doações quando abrem o perfil de Sudan. Cientistas de vários países estão pesquisando técnicas de FIV nas duas fêmeas da espécie. Eles também não descartam usar o esperma de Sudan para inseminar artificialmente fêmeas de rinocerontes-brancos-do-sul. Embora sejam de espécies diferentes, a opção desse cruzamento seria melhor do que a extinção do animal, dizem os especialistas. Sudan –que é frequentemente descrito como ""o solteiro mais cobiçado do mundo""– tem sua própria equipe de guarda-costas armados, que o protegem dia e noite. Além da dificuldade de reprodução, os rinocerontes-brancos-do-norte enfrentam a ameaça de caçadores em busca de seus chifres.",ambiente
UE pede a países como Brasil e Índia metas para reduzir emissões de CO2,"O comissário europeu para o Clima, Miguel Arias Cañete, convocou nesta quinta-feira (20) vários países, entre eles Brasil e Índia, a apresentarem rapidamente suas metas para reduzir as emissões de carbono, ante a iminência da Conferência Mundial sobre o Clima (COP-21) em novembro em Paris, na França. ""Vários países chave do G20, como Argentina, Brasil, Índia, Indonésia, Arábia Saudita, África do Sul e Turquia devem apresentar suas intenções sem demora"" visando um acordo para limitar a 2 graus o aquecimento do planeta, disse à imprensa, lamentando que os ""aspectos técnicos estejam muito atrás das discussões políticas"". Cañete lamentou que as ""discussões técnicas estão seriamente por trás das discussões políticas"" nesta matéria, e considerou que ""isso deve mudar"". O comissário, contudo, considerou um ""progresso"" que 56 países, que representam 61% das emissões globais, já tenham apresentado os seus objetivos de redução de dióxido de carbono. O comissário lembrou ainda que o Protocolo de Quioto, que está em vigor e que os ambientalistas e cientistas consideram muito insuficiente para combater o aquecimento global, continha metas claras apenas de 36 países, o que representa 14% das emissões mundiais. ""Contribuições atuais não vêm somente dos grandes emissores como a China, a União Europeia ou os EUA, mas também de países mais vulneráveis da África, do Caribe e do Pacífico"", áreas afetadas pelo aumento da água por causa do degelo das calotas polares, disse Cañete. ""Nós temos que ter uma ideia clara de um esforço em conjunto antes do encontro em Paris para saber onde estamos em relação ao objetivo de um aumento da temperatura abaixo dos 2°C "", disse. O comissário lembrou ainda a meta apresentada pela UE, em março, de reduzir em 40%, em relação a 1990, as emissões de gases-estufa até 2030. EMISSÃO DE CO2 DA CHINA A China acaba de se tornar um país que emite um pouco menos de gases-estufa, segundo um estudo publicado nesta quarta (19) na revista científica ""Nature"". Pesquisadores de instituições chinesas, americanas e europeias atualizaram a maneira de se medir a produção de CO2 para a atmosfera na queima de combustíveis fósseis, como o carvão, e na produção de cimento. O estudo propõe uma ""redução"" das emissões chinesas de CO2 na ordem de 1,1 bilhão de toneladas (ou 1,1 gigatonelada) em 2013 –mais de dois ""Brasis"" em emissões dentro da mesma categoria, ou 14% das emissões chinesas estimadas anteriormente pela base Edgar (Emissions Database for Global Atmospheric Research), utilizada como uma referência internacional. No entanto a China, mesmo com a correção, lidera o ranking dos causadores do efeito-estufa com folga sobre o segundo colocado, os EUA. A redução proposta pelos cientistas nas emissões chinesas se dá a partir de uma análise mais detalhada de fatores como a quantidade de carvão de fato utilizada pelos usinas termelétricas do país e o potencial de liberação de CO2 a partir da sua queima. Ou seja, os cientistas substituíram estimativas mais gerais, realizadas por modelos matemáticos, por medições mais concretas registradas em observações de campo.",ambiente
Eleição de Trump é um solavanco no acordo sobre mudança do clima,"Um balde de água fervendo se derramou sobre a Conferência do Clima em Marrakech (COP22) com a vitória de Donald Trump nos EUA. Demorará um tanto, porém, até que se saiba quantas vidas ainda sobram para os gatos escaldados que há 24 anos negociam tratados para conter o aquecimento global. Desde a adoção da Convenção da ONU sobre Mudança do Clima, em 1992 no Rio, uma série de fracassos e frustrações não impediu que, há apenas 11 meses, se chegasse ao Acordo de Paris –aquele que Trump prometeu revogar. O acordo entrou em vigor na sexta-feira (4) e, em Marrocos, precisaria ganhar musculatura. Mesmo incapaz, até aqui, de garantir a meta de conter o aquecimento da atmosfera terrestre entre 1,5ºC e 2ºC, Paris já tem força de lei internacional para os países que o ratificaram (como EUA e Brasil). Pela letra do texto, os americanos só poderiam deixar o tratado dentro de quatro anos, quando Trump estará em busca da reeleição. O republicano não conseguirá, portanto, revogá-lo de imediato –mas pode bem ignorá-lo. O meio de fazê-lo seria desmontar as políticas domésticas avançadas pelo democrata Barack Obama. Trump prometeu acabar com os subsídios para energias limpas (eletricidade solar e eólica), recuperar a queima de carvão (pior combustível fóssil, abundante nos Estados mais conservadores dos EUA) e eliminar a agência ambiental EPA. Essa plataforma levou a consultoria em inovação Lux Research, de Boston, a projetar que os EUA emitiriam 3,4 bilhões de toneladas adicionais de CO2 caso Trump governe o país por oito anos. Seria 0,4 GtCO2 por ano, um acréscimo de 7,5% sobre os níveis atuais (para comparação, em 2015 o Brasil emitiu 1,9 Gt CO2). Note que, de acordo com o gráfico, não há correlação perfeita entre democratas e decréscimo de CO2, por um lado, e republicanos e aumento de emissões, por outro. Bill Clinton tinha o ""homem-ozônio"" Al Gore como vice, mas o carbono disparou com ele tanto ou mais do que com George W. Bush, filho legítimo da elite petroleira do Texas. Para Trump, o aquecimento global constitui uma farsa inventada pela China para prejudicar os EUA e tirar empregos dos americanos. Mesmo que não seja o caso de levá-lo ao pé da letra, fica difícil imaginar que dê curso à aproximação com Xi Jinping iniciada com sucesso por Obama, a ponto de destravar a negociação internacional. A reação chinesa a Trump não será necessariamente puxar o freio de mão em suas iniciativas para conter emissões de carbono, nas quais já se tornou campeã (28% do total mundial, contra 16% dos EUA). Diminuir a utilização do carvão como fonte de energia, na ótica de seus engenheiros ditatoriais, representa dupla oportunidade: conter os galopantes índices de poluição urbana, nos quais Pequim só perde para Nova Déli (Índia), e dominar os setores de energia que mais crescem no mundo, geração eólica (ventos) e fotovoltaica (luz solar). Trump impôs um tropeço ao pós-Paris. No entanto, a intensidade do impulso adquirido pelas alternativas aos combustíveis fósseis, algo difícil de mensurar em meio à aceleração, é que vai definir se o republicano conseguirá atrasar o mundo todo na rota para uma economia limpa –ou apenas o seu país.",ambiente
66% das emissões brasileiras de CO2 vêm de atividade agropecuária,"A agropecuária é a responsável pela maior parte da emissão de gases estufa no Brasil. Quando considerados desmatamento para atividade agropecuária e o exercício direto dela, a porcentagem das emissões chega a cerca de 66%. Os dados são do Seeg (Sistema de Estimativa de Emissão de Gases Estufa), realizado pelo OC (Observatório do Clima). O relatório, lançado nesta terça (6), na sede do SOS Mata Atlântica, analisa a evolução histórica das emissões brasileiras. Considerando dados referentes ao ano de 2014, de forma direta, 23% das emissões de CO2 no Brasil são provenientes da agropecuária. Dentro desse universo, 76% das emissões estão relacionadas à pecuária, sendo 64% derivados do consumo de carne (bovinos de corte), segundo dados da Imaflora, parte do OC. A mudança de uso da terra é líder de emissões no país, com cerca 42%. O termo, de forma geral, se refere aos desmatamentos, normalmente associados à atividade agropecuária. Esse tipo de emissão somado aos 23% emitidos diretamente pela ação agropecuária alcançam o valor aproximado de 66%. Segundo dados do Imazon, também parte do OC, com uma melhor aplicação da legislação ambiental atual seria possível aumentar a arrecadação em mais de R$ 1 bilhão por ano. A energia é a segunda colocada entre as fontes dos gases estufa, com 26%. Essas emissões vêm crescendo anualmente, em parte por conta da crise na produção de energia hidrelétrica. Segundo o Instituto de Energia e Meio Ambiente, que também faz parte do OC, quase metade (46%) das emissões relacionadas à energia estão associadas ao transporte, tanto de carga quanto de passageiros. FUTURO Os dados levantados pelo OC mostram que o Brasil, caso cumpra os compromissos firmados no Acordo de Paris, como restauração e reflorestamento de matas, recuperação de pastos, entre outros, conseguirá reduzir as emissões de gases estufa mais do que o planejado no INDC (Contribuições Nacionalmente Determinadas Pretendidas). ""O nosso estudo aponta que dá para ser mais ambicioso"", afirma Tasso de Azevedo, coordenador do Seeg.",ambiente
"'Secador de cabelo', o fenômeno que ajuda a derreter a Antártida","O vento não traz boas notícias para as plataformas de gelo do leste da península Antártica: segundo um novo estudo, um fenômeno atmosférico que provoca o derretimento da região é mais frequente do que se pensava. Trata-se dos chamados ventos foehn, que percorrem as grandes montanhas da península, aumentando a temperatura do ar no lado oposto de onde ele sopra e provocando o descongelamento dessa área. ""A melhor maneira de entender estes ventos é [vê-lo] como um secador de cabelo"", explica Jenny Turton, da Pesquisa Britânica Antártica (BAS, na sigla em inglês). ""Eles são quentes e secos e sopram ladeira abaixo. Na primavera, o ar sobre a plataforma de gelo é geralmente de -14°C, mas com os ventos foehn a temperatura fica acima do ponto de congelamento [de 0°C]."" Com isso, criam-se grandes lagos de água de um azul brilhante sobre a superfície da estrutura de gelo. DUZENTOS POR ANO Esses ventos quentes que sopram ladeira abaixo são muito comuns em outras regiões do planeta, e em cada lugar são chamados de um nome diferente. Um exemplo são os ventos chinook, que sopram sobre as ladeiras orientais das Montanhas Rochosas, na América do Norte, e são exatamente iguais. Foehn é o nome que esse vento ganhou originalmente nos Alpes europeus. E embora sua presença no continente branco seja conhecida há bastante tempo, o estudo da BAS representa o primeiro esforço de tentar quantificar seu comportamento. Depois de examinar dados obtidos entre 2009 e 2012, Turton e seus colegas identificaram mais de 200 episódios de foehn por ano. Isso quer dizer que esses ventos ocorrem com uma frequência muito maior do que se pensava. E as zonas onde eles são produzidos também é mais ampla: foram registrados muito mais ao sul da península do que se esperava. Com isso, os pesquisadores acreditam que a influência do fenômeno atmosférico no processo de derretimento do gelo na região tenha sido subestimada. ""Esperávamos que houvesse o processo de derretimento em janeiro, fevereiro, mas estamos vendo que ele também ocorre várias vezes em setembro, outubro, quando há frequentes ventos foehn"", disse Turton à BBC. AMEAÇA A pesquisa foi apresentada em abril no congresso anual do Sindicato de Geociência Europeia (EGU 2017), em Viena, na Áustria. E ela é oportuna porque atualmente há um grande interesse na situação da plataforma de gelo Larsen C. Cientistas estão preocupados com que ela seja afetada da mesma forma que ocorreu com suas irmãs, Larsen A e Larsen B, localizadas mais ao norte da Antártida. Elas colapsaram em 1995 e 2002, respectivamente. A Larsen C tem semelhanças com as irmãs, especialmente no fato de existirem lá várias lagoas de água derretida. A água se torna um problema porque pode inundar as fendas e acabar forçando novas rachaduras no gelo. Esse processo, conhecido como hidrofraturação, vai progressivamente debilitando a plataforma. Isso está levando à formação de um enorme iceberg na Larsen C. Trata-se de uma massa de gelo de 5 mil km² prestes a se separar do continente. Ao se descolar, um bloco desse tamanho pode mudar a configuração de forças da estrutura da plataforma original. PASSOS LENTOS Os colapsos das plataformas Larsen A e B também foram precedidos por grandes rachaduras. Mas o processo não ocorre de um dia para o outro –ele demora anos para ser concluído. A plataforma Larsen C está unida ao continente gelado por uma extensão de apenas 20 km de gelo. Mas, pelo menos, a fenda que pode futuramente levar à sua separação está se aprofundando num ritmo mais lento do que o registrado anteriormente. ""A fenda agora está em uma zona que é mais mole, uma vez que o gelo é mais quente e tem mais água"", explicou à BBC o pesquisador Adrian Luckman. E por essa razão, acrescenta, não pode se propagar tão rápido como aconteceu no caso do gelo mais frio. Ainda assim, eles acompanham de perto o avanço da fenda e a cada seis dias recebem informações por um radar. Os resultados indicam que ela se abre numa velocidade de um metro por dia. No total, a lacuna já tem mais de 450 metros.",ambiente
Estudo traça impacto e estima prejuízo com a mudança climática no Brasil,"O aumento da temperatura global vai afetar –e muito– as cidades da costa brasileira, causando desde enchentes, deslizamentos e outros desastres naturais até a destruição de ecossistemas e prejuízos na economia. As conclusões são do relatório ""Impacto, vulnerabilidade e adaptação das cidades costeiras brasileiras às mudanças climáticas"" lançado nesta segunda-feira (5). O documento é resultado de uma extensa revisão e análise de publicações científicas, que permitiram traçar o sombrio cenário para as cidades da costa do Brasil. ""Está bem ruim mesmo. A situação está difícil, mas a função do relatório é apontar os cenários que podem acontecer"", resume Suzana Kahn, presidente do Comitê Científico do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas, corpo científico criado pelos ministérios da Ciência e Tecnologia e do Meio Ambiente para reunir e avaliar informações científicas sobre os impactos do aquecimento global no Brasil, publicadas agora no relatório. Das 42 regiões metropolitanas dos Brasil, 18 estão localizadas na zona costeira ou são influenciadas por ela: Macapá, Belém, São Luiz, Fortaleza, Natal, Aracaju, Maceió, João Pessoa, Recife, Salvador, Vitória, Rio de Janeiro, Vale do Paraíba/Litoral Norte de São Paulo, Baixada Santista, Joinville, Foz do Itajaí, Florianópolis e Porto Alegre -que, embora não seja oficialmente uma zona costeira, recebe grande influência dela pela sua localização nas margens da lagoa dos Patos. O relatório mostra que essas regiões, que respondem por cerca de 30% do PIB (produto interno bruto) nacional, estão sujeitas a uma espécie de efeito dominó causado pelo aquecimento global. Conforme as temperaturas sobem em todo o planeta, calotas polares e o gelo dos oceanos vão derretendo, provocando a subida do nível do mar. Uma mudança que é perceptível em algumas regiões e que deve se intensificar ainda mais num futuro não muito distante. O efeito mais flagrante da elevação do nível do mar são as inundações das áreas costeiras, que afetam diretamente a população e a infraestrutura urbana. O problema, porém, não se limita a isso, mostra o relatório. Ao analisar os estudos, os cientistas do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas identificaram que também são alteradas as dinâmicas de fenômenos naturais, como os ciclos de chuvas. Esse tipo de mudança contribui para a intensificação de eventos extremos, como tempestades ou longos períodos de seca. Além de afetarem a população, esses eventos ainda prejudicam a economia, atingindo a agropecuária e até a indústria. MAIS AFETADAS O estudo ainda mostra que as regiões Nordeste, Sudeste e Sul apresentam uma propensão maior para a ocorrência de desastres naturais. A região Nordeste, que é tradicionalmente afetada pela seca, está sujeita a sofrer ainda mais com as estiagens. No Sul e no Sudeste há um risco combinado de secas e fenômenos hidrológicos. Em termos de risco de mortalidade da população, um maior número de vítimas está associado a desastres hidrológicos, sobretudo na costa do leste do Nordeste, e nas regiões Sudeste e Sul. Os pesquisadores estimaram ainda quanto isso custaria para a economia dessas cidades e do Brasil como um todo. Os maiores danos são no setor de infraestrutura, que são 59% do total. O prejuízo com casas e habitações são de 36% e os em instalações de saúde, ensino e outras 5%. ""Enchentes, inundações e temperaturas mais altas ainda causam uma série de problemas de saúde pública"", enfatiza Suzana Kahn. ESPERANÇA O trabalho usou a mesma estratégia de preparação dos relatórios do IPCC (painel de mudanças climáticas da ONU) e indica impactos diferentes mediante cenários climáticos mais ou menos extremos. A presidente do Comitê Científico do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas sublinha que, para evitar as piores consequências, é fundamental haver um esforço para reduzir as emissões de gases-estufa. ""Além das reduções, é preciso também combinar as chamadas medidas de adaptação e mitigação"", diz Kahn, para quem o relatório tem a missão de ajudar a orientar políticas públicas e a tomada de decisões.",ambiente
"Quem matou os tubarões encontrados sem testículos, fígado e estômago","Biólogos sul-africanos estão às voltas com um assassino serial. Ou melhor: dois. Nas últimas semanas, especialistas do Dyer Island Conservation Trust, entidade com base na província de Western Cape, foram acionados quatro vezes para inspecionar carcaças de tubarões-brancos que apareceram em praias da região. Todas apresentavam a mesma característica: tinham sido basicamente dissecadas para a remoção do fígado, com precisão quase cirúrgica –algumas tinham perdido coração, estômago e mesmo testículos. O mistério aqui não é exatamente a identidade dos autores do ""crime"". Afinal, os biólogos sabem que os tubarões foram atacados por orcas e este tipo incidente já foi registrado antes. Mas chamou a atenção o fato de os animais terem se aventurado contra a espécie que está no topo da cadeia alimentar em Dyer Island. E mais: os ""criminosos"" em questão sequer se deram ao trabalho de deixar a cena do crime. ""Vimos uma dupla de orcas que acreditamos ser as responsáveis pelas mortes em duas ocasiões. Em ambas, os tubarões-brancos pareceram ter deixado a área"", afirma Alison Towner, biólogo do Dyer Island Conservation Trust, especializado nesta espécie de tubarão. Os cientistas também ficaram intrigados com a maneira seletiva com que os cetáceos atacaram a presa: em casos antes registrados, os animais também atacavam a carne do animal. A seletividade também não é tão incomum: quando caçam baleias, orcas muitas vezes matam filhotes e comem apenas a língua. Uma possível explicação é que alguns órgãos têm concentrações maiores de nutrientes e fornecem, assim, bem mais energia do que o resto da carne –ou seja, esse tipo de alimentação seletiva seria uma forma de conservação de energia. ""O fígado de tubarões-brancos contém o nutriente esqualeno, mas não sabemos se as orcas comeram os outros órgãos ou se eles simplesmente vieram junto com o fígado no ataque"", diz a bióloga. Por enquanto, o que se sabe é que as orcas conseguiram afetar até a indústria do turismo em Western Cape. Empresas que promovem passeios de observação de tubarões relatam que diversas viagens terminaram sem que um único animal fosse avistado.",ambiente
"Após um ano, plano climático do Brasil não saiu do papel, afirma especialista","O lançamento de um relatório que identifica as principais vulnerabilidades das cidades da costa brasileira é uma contribuição valiosa para orientar políticas públicas que evitem mortes e prejuízos econômicos, avalia o secretário-executivo do Observatório do Clima, Carlos Rittl. O especialista em mudanças climáticas alerta, porém, que é preciso começar a tirá-las do papel, o que o Brasil não está fazendo. ""O Brasil tem o Plano Nacional de Adaptação à Mudança do Clima, que passou por um intenso debate no processo de elaboração e lista medidas importantes para adaptar o país ao aumento global de temperaturas. Infelizmente, ele não começou a sair do papel"", diz Rittl. Instituído no apagar das luzes do governo Dilma –em 10 de maio de 2016, poucos dias antes do impeachment–, o plano que lista medidas prioritárias para que o Brasil esteja preparado para os piores efeitos do aquecimento global não teve nenhuma de suas medidas efetivamente implementada. Para o secretário-executivo do Observatório do Clima, o Brasil, na verdade, vive um retrocesso em suas políticas ambientais e climáticas. ""É uma tragédia. O desmatamento na Amazônia e na mata atlântica disparou. Fora os projetos, capitaneados pela bancada ruralista, que podem esvaziar a legislação de licenciamento ambiental"". TRUMP O fato de o presidente Michel Temer não ter se manifestado contra a saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris –pacto mundial para a redução de emissões de gases-estufa– anunciada por Donald Trump na quinta (1º) foi simbólico, segundo Rittl. ""No Brasil, quem assinou a nota foram os ministérios do Meio Ambiente e das Relações Exteriores, não o presidente. Na França, o próprio Macron [Emmanuel] fez uma condenação enfática"". A saída americana do pacto do clima representa um retrocesso significativo, mas a resposta da comunidade internacional, e até de setores do partido Republicano nos Estados Unidos, dão esperança de que ainda é possível acreditar na agenda ambiental e na redução das emissões de carbono, analisa Rittl. A resposta global, de fato, não tardou a aparecer. Os 28 países da União Europeia assinaram um comunicado conjunto reforçando o compromisso do continente. O primeiro-ministro da China (atualmente maior emissor global de gases-estufa), Li Keqiang, anunciou que Pequim segue apoiando o acordo: ""A China vai assumir as suas responsabilidades nas alterações climáticas"". Nos EUA, vários governos locais anunciaram que seguirão suas políticas de auxílio às metas dos objetivos do Acordo de Paris, apesar da posição oficial de Washington.",ambiente
Desmatamento na Amazônia cai 15% em 2014,"O país teve queda de 15% no desmatamento na Amazônia no último ano, segundo levantamento consolidado divulgado pelo governo nesta sexta-feira (14). Os dados, que se referem aos meses de agosto de 2013 a julho de 2014, são do sistema Prodes, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). Desmatamento cai em medida oficial Em novembro, estimativas preliminares do sistema feitas a partir de 89 imagens de satélite apontavam uma queda de 18% no desmatamento para este período. Agora, dados consolidados indicam uma queda de 15%. A análise foi feita por meio de 214 imagens de satélite de alta resolução. Tradicionalmente, as comparações são feitas entre agosto e julho, o chamado ano fiscal do desmatamento. Ao todo, 5.012 km² de floresta foram derrubados neste período, o equivalente a cerca de três vezes a área do município de São Paulo. Apesar do montante expressivo, este é o segundo menor número registrado na série histórica, iniciada em 1988, perdendo apenas para o período entre 2011 e 2012. Em dez anos, a redução é de 82%. Em números absolutos, o Estado que teve o pior resultado foi o Pará, com 1.887 km² desmatados, seguido do Mato Grosso, com 1.075 km². Três Estados tiveram aumento no desmatamento no último ano. O maior deles ocorreu no Acre, de 40%. Os demais são Amapá e Roraima, com crescimento de 35% e 29%. Segundo a ministra Izabella Teixeira (Meio Ambiente), no Acre, esse fenômeno está associado à implantação de mais assentamentos rurais e ao avanço da agricultura de subsistência. Já nos demais, o avanço pode estar atrelado à migração e consequente aumento da população nestes locais nos últimos anos, de acordo com a equipe técnica do ministério. Hoje, os dados divulgados não permitem separar a quantidade de desmatamento ocorrida de forma ilegal e o total equivalente ao permitido por lei. De acordo com Teixeira, o Acre deve ser o primeiro Estado a cumprir um acordo com o Ministério do Meio Ambiente e a tornar disponível sua base de dados sobre a supressão da vegetação –o que poderá permitir, no futuro, essa comparação entre o desmatamento legal e ilegal. Ainda segundo a ministra, os números consolidados indicam uma reação do governo diante do aumento de 29% no desmatamento entre 2012 e 2013, período anterior aos últimos dados. ""O dinheiro da restrição orçamentária não impediu a fiscalização"", afirmou. Em junho, a presidente Dilma Rousseff prometeu zerar o desmatamento ilegal até 2030. A meta foi anunciada durante visita aos Estados Unidos. Na ocasião, a presidente também se comprometeu a recompor cerca de 12 milhões de hectares de florestas até o mesmo ano. 'ESPECULAÇÃO' A confirmação da queda, porém, não exime o país do receio de um novo avanço no desmatamento. Dados de outros sistemas de monitoramento, como o Deter e o Imazon, indicam um possível aumento na derrubada da floresta nos três meses seguintes ao período analisado pelo Prodes, que teve os dados divulgados somente até julho de 2014. Embora usados para mapear tendências e aumentar a fiscalização, os dados dos demais sistemas, no entanto, são considerados menos precisos que o do Prodes, que é especializado em computar o ritmo de corte raso da floresta. A área mínima mapeada é de 6,25 hectares. Questionada, a ministra Izabella Teixeira evitou comentar dados que podem indicar uma tendência para os próximos meses. ""No ano passado, falaram que iria subir 200%, e reduziu 15%"", comparou. Uma nova estimativa de desmatamento pelo Prodes deve ser divulgada em novembro. ""Continuarei vivendo essa expectativa até o final do ano. As expectativas que tenho em campo, do Ibama, indicam que temos ainda muita degradação, e temos áreas com incremento de alertas. Mas a fiscalização ainda não relata expectativa de crescimento no desmatamento. Tudo é especulação, e não trabalho com especulação"", disse. AGENDA BRASIL A ministra também evitou se posicionar sobre as propostas que se referem ao meio ambiente apresentadas pelo Senado ao Planalto na chamada ""Agenda Brasil"". Entre as sugestões, estão uma possível simplificação do processo de licenciamento ambiental e novas regras para atividades produtivas em áreas indígenas, por exemplo. Teixeira disse que ainda não conversou com o presidente do Senado, Renan Calheiros, sobre o assunto. ""O debate é importante. Se for necessário aprimorar, vamos discutir. Não dá para proteger sem produzir. Nem produzir sem proteger"", disse.",ambiente
"Em Curitiba, entrega de lixo reciclável rende ingresso para show e teatro","Lá se vão 26 anos desde que Curitiba implantou a coleta de material reciclável. A produção de detritos só cresceu, e a despesa da coleta seletiva virou um peso para a cidade -é seis vezes maior que o custo do recolhimento de lixo convencional, com aproveitamento de apenas 30% do total recolhido. Hora de buscar novas soluções. Em maio, surgiu a primeira Estação da Sustentabilidade Inteligente, onde cidadãos deixam o lixo reaproveitável e ganham, no cartão-transporte, pontos que poderão ser trocados por brindes como ingressos para teatro e shows. A Estação Inteligente une-se a outras três Estações da Sustentabilidade, que começaram a ser instaladas pela prefeitura em novembro de 2014 -nestas, o registro do acesso ainda não foi ativado-, com a promessa de aumentar a taxa de reciclagem e com o desafio de vencer a resistência da população. O movimento ainda é pequeno -foram 22 visitas à Estação Inteligente na primeira semana de funcionamento. ""Com o tempo, as pessoas vão começar a usar mais. A vantagem é que não preciso ficar esperando o caminhão passar"", diz a comerciante Jaqueline Pinheiro. Visitas de alunos do ensino fundamental têm sido uma das estratégias da prefeitura para apresentar o projeto à população, com vista a uma mudança de hábito a longo prazo. ""Até o fim do ano, a meta é ter uma Estação em cada uma das nove regiões da cidade"", diz o secretário municipal de Meio Ambiente, Renato Lima. Cada estrutura custa de R$ 50 a R$ 60 mil.",ambiente
Fernando de Noronha vai ganhar centro de pesquisas em 2018,"O arquipélago de Fernando de Noronha é dominado por gente que aproveita as praias ou ganha a vida com o fascínio que elas despertam. São turistas, mergulhadores, donos de pousadas e restaurantes, comerciantes. Agora é a vez dos pesquisadores, que irão fincar os pés nas ilhas que pertencem ao Estado de Pernambuco. Fernando de Noronha terá uma estação científica, com previsão de abertura em 2018. Entre os postos de pesquisa mantidos pela Marinha em ilhas do Atlântico, esse será o maior, com capacidade inicial para receber até 16 pesquisadores simultaneamente. As outras estruturas voltadas aos estudos científicos na chamada ""Amazônia Azul"" (o território marítimo brasileiro) ficam na ilha de Trindade, que recebe até oito pesquisadores, e no arquipélago de São Pedro e São Paulo, com quatro, no máximo. Assim como essas duas, a nova estação será erguida por uma iniciativa da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar (CIRM), grupo cuja coordenação fica a cargo do comando da Marinha. O plano começou a ganhar corpo em 2013, quando representantes da CIRM convidaram o Escritório Modelo do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da PUC-Rio para a concepção do projeto. A aproximação entre as duas entidades ocorreu após a universidade obter menção honrosa no concurso promovido pela Marinha para escolher o projeto arquitetônico da estação do Brasil na Antártida (a empresa Estudio 41, de Curitiba, foi a vencedora). Voltado a projetos de cunhos cultural, social e acadêmico, o escritório da PUC é formado por professores e alunos, sob a supervisão da arquiteta Vera Hazan. A parceria da CIRM com a universidade não envolve remuneração. O projeto da PUC-Rio está em fase final de avaliação pela Marinha e por membros da comunidade acadêmica. Não há, por ora, uma estimativa de custo para a construção da estação. De acordo com o capitão-de-corveta Marco Antonio Carvalho de Souza, coordenador do programa Proarquipélago, ligado ao CIRM, a Marinha está em contato com empresas para que sejam feitas doações de material para a construção. Carvalho de Souza estima um custo de manutenção de R$ 700 mil por ano. Para efeito de comparação, a Marinha gasta cerca de R$ 2 milhões anuais com a base de São Pedro e São Paulo, dos quais R$ 1,5 milhão se destina ao transporte, que só pode ser feito por meio de navios e barcos. No caso de Noronha, os deslocamentos serão realizados, sobretudo, por via área. A estação será erguida a cerca de 300 m do principal porto do arquipélago. O terreno tem, ao fundo, uma colina sobre a qual está a capela de São Pedro. Para não comprometer a vista da igreja, a construção em madeira terá, no máximo, 7 m de altura. A área construída, que inclui ainda a capitania dos portos, ocupará 1.380 m², um pouco maior do que um campo de futebol. CNPQ Os pesquisadores interessados em estudos no arquipélago terão que recorrer ao CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), que publicará um edital com a lista dos requisitos necessários. Será o mesmo modelo utilizado pelo órgão do governo federal para quem pretende fazer pesquisas em São Pedro e São Paulo e em Trindade. Entre os inscritos nas duas estações já existentes, há predomínio de biólogos, mas profissionais de outras áreas também podem participar. - * Previsão de abertura do espaço, uma parceria da Marinha com a PUC-Rio, é 2018 CAPACIDADE A estação será usada inicialmente por 16 pesquisadores O QUE A ESTAÇÃO TERÁ > 3 laboratórios > 3 quartos > 2 auditórios > 2 espaços de convívio > 2 vestiários > Departamento de mergulho > Espaço de exposições COMO SERÁ O TRANSPORTE DOS MÓDULOS DE CONSTRUÇÃO Navio do porto de Natal às imediações de Fernando de Noronha Bote das proximidades de Noronha ao porto da ilha Caminhão do porto ao terreno onde será construído PROJETO CONTEMPLA RECURSOS SUSTENTÁVEIS > Captação de energia por meio de placas fotovoltaicas > Captação da água da chuva > Reúso da água de esgoto > Prioridade à iluminação natural O jornalista NAIEF HADDAD viajou a convite da Marinha do Brasil",ambiente
Governo estuda beneficiar pequeno e médio produtor com cadastro rural,"O MMA (Ministério do Meio Ambiente) avalia fazer uma prorrogação estratificada do prazo de inscrição no Sicar (Sistema Nacional de Cadastro Ambiental Rural), que termina em maio. Em abril, o governo federal vai analisar as inscrições já recebidas até agora e decidir se fará e como fará uma prorrogação por mais um ano no prazo, cuja possibilidade já estava prevista em lei. Até agora, de cerca de 370 milhões de hectares cadastráveis, foram cadastrados 132 milhões de hectares, segundo dados divulgados pelo MMA. Entre as possibilidades, por exemplo, estaria prorrogar apenas para os pequenos e médios produtores, enquanto os grandes produtores não seriam beneficiados. Nesta quinta-feira (5), integrantes do governo federal receberam representantes dos governos estaduais para discutir o andamento do Sicar. Na ocasião foi discutida essa possibilidade de prorrogação, mas a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, afirmou que ainda não há definição sobre isso. ""Vamos fazer uma discussão interna no governo e submeter à Presidente da República se nós vamos prorrogar e em que condições"", disse Izabella, em entrevista coletiva. O Sicar foi instituído pelo Código Florestal, sancionado em maio de 2012, mas o sistema só foi colocado no ar dois anos depois. O objetivo da iniciativa é reunir informações detalhadas sobre todos os imóveis rurais do país, para determinar áreas desmatadas a serem recuperadas e manter um controle dessas propriedades. Os produtores rurais que não se cadastrarem devem passar a ter restrições no acesso a crédito rural. Pela legislação, a partir de 2017 eles terão formalmente essas restrições, mas a expectativa do governo é que os bancos passem a exigir o cadastro como critério já a partir deste ano.",ambiente
Larva devoradora de plástico pode ajudar combate a problema ambiental,"A descoberta de uma larva capaz de devorar polietileno, um dos materiais plásticos mais resistentes que existem, utilizado em embalagens, oferece a perspectiva de biodegradar rapidamente um poluente que leva séculos para se decompor no meio ambiente, contaminando especialmente os oceanos. ""Os dejetos plásticos são um problema ambiental mundial, sobretudo o polietileno, particularmente resistente e que muito dificilmente se degrada naturalmente"", explicou a cientista Federica Bertocchini, do Centro Espanhol de Pesquisa Nacional (CSIC), autora da descoberta desta larva, a Galleria mellonella, conhecida como traça da cera. Todos os anos, cerca de 80 milhões de toneladas de polietileno são produzidas no mundo, estimam os pesquisadores que participaram do estudo, publicado na edição desta segunda-feira (24) da revista americana ""Current Biology"". Criada comercialmente para servir como isca para a pesca, na natureza, essa larva é um parasita das colmeias que se alimenta da cera das abelhas em toda a Europa. A cientista, que também é apicultora amadora, observou que os sacos plásticos onde ela colocava a cera das colmeias infectadas pelo parasita, ficavam rapidamente cheios de buracos. Em outra observação, com um saco de supermercado no Reino Unido exposto a uma centena dessas larvas, os insetos destruíram o plástico em menos de uma hora. EXTREMAMENTE RÁPIDO Os buracos começaram a aparecer depois de 40 minutos e, após 12 horas, a massa plástica do saco havia sido reduzida a 92 miligramas, o que é considerável, afirmaram os cientistas. Eles destacaram que esta taxa de degradação é ""extremamente rápida"" em comparação com outras descobertas recentes, como a de uma bactéria, no ano passado, capaz de decompor centenas de plásticos, porém mais lentamente, ao ritmo de 0,13 miligrama por dia apenas. Os autores desta última descoberta acreditam que a larva da traça da cera não ingere apenas o plástico, mas o transforma, ou o quebra quimicamente, com uma substância produzida por suas glândulas salivares. ""Uma das próximas etapas será tentar identificar esse processo molecular e determinar como isolar a enzima responsável"" pelo mesmo, disseram. ""Se for uma simples enzima, nós poderemos fabricá-la em escala industrial, graças à biotecnologia"", afirmou Paolo Bombelli, da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, um dos principais coautores deste trabalho. Segundo ele, ""essa descoberta poderia ser uma ferramenta importante para eliminar os dejetos de plástico polietileno que se acumulam nos lixões e nos oceanos"". 400 ANOS NA NATUREZA O polietileno é usado, sobretudo, em embalagens e responde por 40% da demanda total de produtos plásticos na Europa, dos quais 38% se encontram em lixões. Todos os anos, um trilhão de sacos plásticos é usado no mundo, e cada indivíduo usa, em média, mais de 230 destes por ano, produzindo mais de 100 mil toneladas de dejetos. Atualmente, o processo de decomposição química desses rejeitos plásticos com produtos muito corrosivos, como o ácido nítrico, pode levar vários meses. Deixado na natureza, levará um século para que esses sacos plásticos se decomponham completamente. No caso dos plásticos mais resistentes, o processo pode levar até 400 anos. Em média, oito milhões de toneladas de plástico são descartadas todos os anos nos mares e nos oceanos do mundo, segundo um estudo publicado em 2015 na revista científica americana ""Science"". Segundo cientistas, pode haver até 100 milhões de toneladas de dejetos plásticos nos oceanos. Pequenos fragmentos podem ser absorvidos por peixes e outras espécies marinhas, como tartarugas, provocando, inclusive, a morte desses animais.",ambiente
Quais alimentos são mais prejudiciais ao meio ambiente?,"Enquanto a humanidade enfrenta a ameaça do aquecimento global, estamos cada vez mais conscientes de como as escolhas que cada um de nós faz podem deixar suas marcas no ambiente. E isso é particularmente verdadeiro quando se trata do que comemos. A agropecuária, a produção de alimentos processados e o transporte desses produtos são majoritariamente movidos pela queima de combustíveis fósseis, gerando gases de efeito estufa que armazenam o calor na atmosfera. Cientistas medem esse impacto em ""pegadas de carbono"", expressas pelo volume de dióxido de carbono (CO²) produzido a cada cem gramas de alimento no prato. Com isso, é possível criar uma pirâmide baseada nos prejuízos que cada tipo de comida e guloseima causam para o ambiente. Carne e laticínios ficariam na base, responsáveis pelos maiores danos, enquanto frutas, legumes e verduras são mais ""verdes"" e estariam no topo. Alimentos à base de grãos, como pães, massas e doces, ocupariam as camadas intermediárias. Essa abordagem, no entanto, não considera a quantidade de energia que nosso organismo absorve a partir desses alimentos. Por exemplo: uma pessoa precisa de muito mais alface para obter o mesmo número de calorias que uma fatia de bacon. Um estudo da Universidade Carnegie Mellon, dos Estados Unidos, indica que essa quantidade da verdura liberaria três vezes mais gases de efeito estufa para poder oferecer a mesma energia nutricional. Legumes em conserva ou importados de produtores distantes poderiam ser ainda mais nocivos. Em um artigo no ""American Journal of Clinical Nutrition"", o cientista Adam Drewnowski, da Universidade de Washington, tentou levar esse aspecto em consideração ao calcular as emissões de carbono para cada 100 calorias de diferentes alimentos. A partir desse ângulo, a pirâmide se inverteria: bolos e chocolates teriam uma pegada de carbono dez vezes menor do que o impacto de legumes em conserva ou congelados, por exemplo. A carne vermelha tende a emitir metade dos gases estufa referentes aos ovos. Isso não quer dizer que você tem sinal verde para liberar o seu lado ""formiguinha"" –afinal, há fortes indícios de que o excesso de açúcar leva a vários problemas de saúde. Enquanto isso, legumes e verduras frescos, produzidos localmente, ainda são a melhor opção para o ambiente e para a saúde.",ambiente
Siga 16 passos para uma vida mais sustentável,Você fecha a torneira enquanto escova os dentes e troca a lâmpada por modelo mais econômico? Veja como ir além a favor do ambiente. agenda sustentavel,ambiente
"Temer veta corte de floresta no Pará, mas vai propor lei com nova redução","O presidente Michel Temer vetou integralmente nesta segunda-feira (19) medida provisória que reduzia o nível de proteção de parte da Floresta Nacional (Flona) do Jamanxim, no Pará. O texto modificado na Câmara e aprovado na Casa e no Senado previa a transformação de 486 mil hectares da floresta em APA (Área de Proteção Ambiental), a categoria mais baixa de proteção, que permite propriedade privada e atividades rurais. A medida visava legalizar dezenas de grileiros e posseiros. Contudo, o ministro do Meio Ambiente, Sarney Filho, anunciou que o presidente enviará ao Congresso Nacional um projeto de lei com o teor da proposta original –ou seja, de redução de nível proteção de 300 mil hectares da floresta, o equivalente a quase duas cidades de São Paulo. Segundo ele, a iniciativa terá ""urgência constitucional"". O veto à MP foi anunciado por Sarney Filho. Em vídeo dirigido aos ""amigos e amigas"" do entorno da Flona do Jamanxim, ele afirmou que a MP não tinha base jurídica sólida, o que poderia provocar uma disputa judicial. temer ""Ficaria como ainda existem, no Brasil, determinadas regiões que estão sub judice e que não se pode avançar em nada. Seria o pior dos mundos"", afirmou, ao lado do senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA), um dos principais defensores da criação da APA. Sarney disse ainda que um dos problemas da MP é a falta de um parecer técnico do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), responsável pela gestão da Flona. O ministro, porém, antecipou que esse parecer será favorável à criação da APA. ""O ICMBio vai dar um parecer técnico acatando as decisões no sentido de transformar determinadas áreas da Flona em APA"", disse. A mudança na Floresta Nacional do Jamanxim foi criticada por ambientalistas e contraria relatório de 2009 do próprio ICMBio, segundo o qual apenas uma área de 35 mil hectares deveria ser excluída da floresta. Em virtude da pressão, Temer fez questão de anunciar o veto integral primeiro pelas redes sociais à modelo Gisele Bündchen e à WWF, entidade que defende a conservação do meio ambiente. Na semana passada, a brasileira tinha pedido ao peemedebista que vetasse a iniciativa. No entanto, uma nota de várias entidades ambientais, incluindo a WWF Brasil, afirma que o veto não garante a proteção à floresta. ""O veto apenas serve para transferir do presidente para o Congresso, hoje dominado por parlamentares sem compromisso com a conservação ambiental, a responsabilidade de desproteger essa parcela significativa da floresta amazônica (...) A manobra do governo traz de volta a ameaça inicial"", diz o texto, assinado também pelo Instituto Socioambiental (ISA) e pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), entre outros. A Floresta do Jamanxim é a unidade de conservação onde a taxa de desmatamento mais cresce no país. A área de influência da rodovia BR-163 concentra 70% dos novos desmates da Amazônia Legal. Nesta segunda (19), Temer ainda vetou parcialmente a MP 758, que altera outra área de proteção ambiental no Pará para a construção de estrada de ferro próxima à BR-163. Ele vetou mudança feita pela Câmara dos Deputados que fazia o Parque Nacional do Jamanxim perder mais de 100 mil hectares para a formação de uma nova APA, que não estava na proposta original. Como justificativa, o presidente afirmou que a modificação ""altera substancialmente o regime de proteção"" e tem potencial para ""comprometer e fragilizar a preservação ambiental em uma região sensível da Amazônia brasileira"". No texto aprovado, o parque Jamanxim perde 862 hectares por causa da construção da ferrovia Ferrogrão. OCUPAÇÃO A proposta que previa a criação da área de proteção da APA (Área de Proteção Ambiental) Rio Branco abre caminho para a mineração e o desmatamento, como mostrou reportagem da Folha. O argumento principal dos defensores da APA é que, ao permitir a ocupação humana e atividades como garimpo e pecuária, ela vai regularizar posseiros que já estão no local desde antes da criação do parque, em 2006. No entanto, o ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), responsável pela administração do parque, afirma que a área da APA está praticamente intacta e que não há posseiros vivendo nela. O mesmo argumento de regularizar a ocupação humana é utilizado pelos que defendem transformar parte da floresta do Jamanxim em APA. Reportagem da Folha, porém, mostrou que a MP beneficiava latifundiários, um possível laranja e o prefeito de Novo Progresso, Ubiraci Soares da Silva (PSC), o Macarrão. No último dia 8, agentes do Ibama flagraram um desmatamento em seu lote de quase mil hectares. A sua quarta multa ambiental deveria ser entregue ainda nesta semana –ele já deve R$ 1,9 milhão por causa das autuações anteriores.",ambiente
Concurso reúne imagens incríveis de natureza pelo mundo,"Luz e névoa na China, noite gelada na Lapônia, icebergs na Antártida, leões brincando na África, formações rochosas nos EUA, vulcões em erupção no Oceano Índico. A edição 2016 do concurso National Geographic Travel Photographer of the Year, que premia melhores fotografias de viagem pelo mundo, está com inscrições abertas até 27 de maio. Confira alguns dos competidores na categoria natureza. A julgar pela qualidade das imagens, o páreo será duro. O vencedor receberá uma viagem para um safári fotográfico de ursos polares.",ambiente
"É difícil atribuir seca em SP ao aquecimento global, diz climatologista","O renomado climatologista Carlos Afonso Nobre está muito preocupado com a crise hídrica. No Sudeste, para que a estação chuvosa janeiro-março fique na média histórica, seria preciso chover 60% a 80% mais que o usual nos dois meses que faltam. O problema é que não há como prever se isso vai ocorrer. No ano passado, o bloqueio atmosférico (massa de ar que impede a entrada de umidade) durou até meados de fevereiro. A boa notícia é que, neste janeiro de 2015, ele foi rompido pela frente fria dos últimos dias –mas nada impede a sua volta. As condições do Sudeste, afirma, fazem dele uma região de baixa previsibilidade para secas e chuvas, mesmo na escala de semanas. Secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, Nobre se encontra na posição desconfortável de ser um destacado estudioso da mudança do clima com funções executivas num ministério em que o titular (Aldo Rebelo) já pôs o fenômeno em dúvida. Evita tratar do assunto, porém, por ter convivido pouco com o novo ministro. De todo modo, Nobre não abandona a prudência científica. ""É difícil atribuir ao aquecimento global um extremo climático como as secas do Sudeste"", afirma nesta entrevista, concedida por escrito. A impossibilidade de se relacionar diretamente a mudança climática a episódios específicos não significa, porém, que governos não devam se preparar para o aumento de eventos extremos causado por ela, diz Nobre. * Folha - O verão 2013/14 foi o mais seco em 62 anos no Sudeste, em especial na bacia que alimenta o Cantareira. Já é possível avaliar se o de 2014/15 irá superá-lo ou igualá-lo? Carlos Nobre - Ainda não, pois fevereiro e março são meses da estação chuvosa. De qualquer maneira, para que a estação chuvosa no Sudeste se encerrasse dentro da média histórica, as chuvas em fevereiro e março deveriam ficar de 60% a 80% acima da média. Até novembro e dezembro de 2013, as previsões sazonais não haviam sido capazes de indicar a estiagem que viria em janeiro de 2014. De fato, não há quase nenhuma previsibilidade para a região Sudeste e Centro-Oeste quando se trabalha com uma escala de meses. Tal região não está entre os locais do planeta com previsibilidade climática sazonal, como o norte do Nordeste, partes da Amazônia e Sudeste da América do Sul (centro-leste da Argentina, Uruguai e Paraguai, e sul do Brasil). A variabilidade climática no Sudeste é fortemente influenciada por frentes frias e por fenômenos atmosféricos de grande escala, como os bloqueios, que geram os veranicos [com estiagem] no meio da estação chuvosa, que são difíceis da prever. Isso aumenta o nível de incerteza na gestão dos recursos hídricos. Isso vale para a maior parte do Brasil? No semiárido do Nordeste, as previsões de secas com antecedência de alguns meses têm alto índice de acerto, quase 80%, e são forma importante para políticas de mitigação dos impactos das secas. Para a estação chuvosa principal do semiárido, de fevereiro a maio deste ano, as previsões indicam risco de chuvas abaixo da média, um quadro de continuidade do deficit hídrico de vários anos. No caso da Amazônia, é significativo o risco de grandes incêndios florestais, como em 1998 em Roraima? Para o norte da Amazônia, especialmente Roraima, as chuvas dos últimos meses têm estado um pouco abaixo da média histórica, e fevereiro e março são meses do período mais seco do ano. A principal explicação para chuvas abaixo da média no norte da Amazônia é o El Niño [superaquecimento das águas do Pacífico que aquece a atmosfera], ainda que o episódio atual seja considerado fraco e deva se enfraquecer-se nos próximos meses. Não se espera uma seca tão intensa em Roraima como foi aquela de 1997-98, reflexo do mega-El Niño ocorrido então. Em janeiro de 2014, o bloqueio atmosférico permaneceu até meados de fevereiro. Com a frente fria que chegou a SP nesta quinta-feira (22), pode-se dizer que o pior já passou? Como disse, prever bloqueios atmosféricos com semanas de antecedência não é factível. Mas, de fato, a situação a partir da chegada de uma fraca frente fria ao Sudeste nos últimos dias é diferente daquela de janeiro e fevereiro de 2014. A repetição em 2014 e 2015 de condições de estiagem grave, ao menos no Sudeste, pode ter relação com o aquecimento global? Afinal, 2014 foi declarado pela Nasa e pela Noaa o mais quente já registrado. Qual é a chance de que seja apenas uma coincidência? O fato de que as observações globais indicam a continuidade da tendência de aquecimento global, com 2014 sendo o ano com a mais alta temperatura à superfície desde 1860, é algo bem esperado, em razão da crescente quantidade de gases do efeito estufa na atmosfera. Por outro lado, é bem mais difícil atribuir ao aquecimento global um extremo climático como as secas do Sudeste. São necessários estudos com modelos climáticos globais complexos, nos quais se simula o clima com e sem os aumentos dos gases-estufa. Além disso, sempre é necessário estabelecer quais são os mecanismos físicos para a mudança. No caso de bloqueios atmosféricos, envolveria entender como mecanismos complexos. Como a propagação de ondas atmosféricas de milhares de quilômetros está respondendo ao aquecimento global? Trata-se de uma tarefa cientificamente bastante desafiadora. Como se explica que reservatórios relativamente próximos, como Guarapiranga/Billings e Cantareira tenham comportamento tão díspares? Em anos de bloqueios atmosféricos grandes sobre o Sudeste, toda a região apresenta chuvas abaixo da média. O efeito de ilha urbana de calor [afetadas pela temperatura mais elevada da cidade, massas úmidas de passagem viram tempestades], porém, atua para fazer com que os deficits sobre a região metropolitana de São Paulo sejam menores do que em regiões vizinhas, como o Cantareira. Por outro lado, mesmo excetuando fenômenos de grande escala como os bloqueios, observa-se uma diminuição relativa das chuvas sobre o Cantareira nas últimas décadas e um aumento das chuvas sobre a cidade. Hipoteticamente, esse efeito de longo prazo pode estar relacionado com a ilha urbana de calor, mas estudos em andamento precisarão comprovar, ou não, essa hipótese. O governo federal já trabalha com a hipótese de que a Grande São Paulo chegue a um estado de calamidade pública, com esgotamento completo do sistema Cantareira, por exemplo? O Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais) desenvolveu um modelo hidrológico para o sistema Cantareira e instalou, em abril e maio de 2014, 33 pluviômetros automáticos para melhorar o monitoramento das chuvas sobre as bacias de captação. Como não é factível prever hoje as chuvas em fevereiro e março, pode-se apenas traçar cenários. No caso de continuidade de chuvas abaixo da média nesses meses, de fato há risco de o reservatório não ter condições de manter o abastecimento nos níveis atuais. O que o poder público deve fazer no médio e no longo prazos para prevenir a repetição dessa situação limítrofe? Diria que se trata do principal problema no campo da adaptação à mudança do clima? Adaptação às mudanças climáticas deve ser uma prioridade de política pública. Hidrólogos devem incorporar o fato de que os extremos climáticos estão se tornando mais frequentes e, em muitos casos, mais intensos. Em outras palavras, as séries históricas de observações hidrológicas não podem mais ser consideradas estacionárias. O planejamento da utilização dos recursos hídricos deve levar em conta isso. A atual crise hídrica já está tendo um impacto em demonstrar que o Brasil precisa urgentemente buscar desenvolver sistemas e infraestruturas resistentes ao aumentos dos extremos climáticos. Qual é a sua avaliação da Conferência de Lima e sua expectativa com relação a Paris, em dezembro? Lima trouxe progressos incrementais. Embora exista a expectativa de algo maior em Paris, creio que seja realista não esperar uma revolução. Além disso, é preocupante a relativa diminuição recente dos preços dos petróleo e gás: se persistir, irá causar um inevitável aumento das emissões de gases do efeito-estufa.",ambiente
Raio mata mais de 300 renas em parque na Noruega,"Mais de 300 renas morreram após serem atingidas por um raio em um parque nacional da Noruega na última sexta (26). Trata-se do maior acidente desse gênero já registrado no país. As 323 renas foram encontradas mortas por um guarda-florestal em Hardangervidda, um parque nacional onde 10 mil renas vivem em liberdade. De acordo com especialistas, existem cerca de 25 mil renas selvagens nas tundras da região montanhosa do sul da Noruega. ""Aconteceu uma tempestade muito forte na sexta na região. Os animais se reúnem quando o tempo fica ruim e estes foram atingidos por um raio"", afirmou Kjartan Knutsen, funcionário da Direção Norueguesa de Meio Ambiente. ""É algo incomum. Nunca antes havíamos visto algo similar em uma escala tão grande"", disse. Imagens exibidas na televisão mostram os animais mortos, concentrados em um espaço limitado. Dos 323 animais, 5 tiveram de ser eutanasiados, por causa dos ferimentos sofridos. As autoridades norueguesas ainda não sabem o que fazer com as renas mortas. Raio mata mais de 300 renas na Noruega",ambiente
"Fragmentação deixa 70% das florestas sob ameaça, aponta estudo","Está cada vez mais difícil ficar perdido na mata. Se uma pessoa for jogada num ponto aleatório em qualquer floresta do mundo, ela terá 70% de chance de conseguir sair da vegetação fechada andando menos de um quilômetro. O número saiu de um estudo que compilou os mapas de fragmentação dos principais biomas do planeta e os experimentos sobre o que acontece nas bordas das florestas, onde a influência humana é ameaça à biodiversidade. O problema dos pedaços isolados de floresta é que, quando são muito pequenos, não acomodam uma população mínima de certas espécies de animais ou plantas. Apesar de não serem contados como desmatamento, bordas de biomas podem perder de 13% a 75% de sua biodiversidade original. ""Um fragmento pequeno pode não conter número suficiente de indivíduos de uma espécie para que haja reprodução e manutenção da população"", afirma Clinton Jenkins, do IPÊ (Instituto de Pesquisas Ecológicas), coautor do estudo publicado na revista ""Science Advances"". O trabalho foi liderado por Nick Haddad, da Universidade do Estado da Carolina do Norte. Florestas tropicais intocadas tinham tipicamente 90% da área fora da zona de risco, situadas perto dos limites do ecossistema. Na Amazônia, esse número se reduziu para 75%, o que significa que ela ainda está em áreas relativamente contínuas, comparada à média mundial. Mas a mata atlântica, que foi quase toda destruída, só 9% das áreas remanescentes estão a mais de 1 km de distância da influência humana. Na África subsaariana, praticamente metade da floresta que resta está em fragmentos, e no Sudeste Asiático, onde uma parte significativa das florestas fica em ilhas, a área vulnerável é grande. O limite de 1 km não foi escolhido arbitrariamente. Experimentos longos como o Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais, operando desde 1979 no Amazonas, mostram que é nas bordas que ocorrem coisas como invasão de espécies, colapso do microclima e mudanças na composição de plantas. Nesse cenário, ""a tendência geral é que o número de espécies presentes se reduza"", diz Jenkins. Essa redução porém, não é linear. DÍVIDA DE EXTINÇÕES ""Se você reduz pela metade o tamanho do de um fragmento de floresta, você reduz em cerca de 10% o número de espécies"", explica o ecólogo. ""Se você corta 90% de uma floresta você perde metade das espécies, e para os 10% restantes, cada pedacinho que você corta tem um impacto maior na biodiversidade."" Experimentos indicam, porém, que populações de alguns animais e plantas demoram a sumir, e muitos fragmentos florestais ainda tem uma ""dívida de extinções"". ""Se restaram dois papagaios dentro de um pedaço de floresta, eles podem viver por muito tempo, mas isso não significa que eles poderão ampliar sua população"", diz o biólogo americano. A demora no pagamento da dívida de extinções sinaliza que ainda há tempo para salvar algumas criaturas dentro de pequenos fragmentos. Isso requer reflorestamento ou deixar que essas áreas sejam recolonizadas por mata secundária, o que é lento, caro e incerto. A preservação de grandes fragmentos que já existem é, portanto, prioritária. Mas o Código Florestal, a legislação brasileira sobre cobertura vegetal, não favorece isso nem em sua encarnação antiga nem na nova versão, vigente a partir de 2013. ""A lei brasileira se concentra em um percentual de floresta que deve ser preservado em dada propriedade, mas às vezes isso resulta em pedaços isolados de floresta"", diz Jenkins. ""Não existe muito incentivo para proteger floresta que já esteja conectada a outras florestas, em vez de proteger a área mais fácil.""",ambiente
Expedição verificará se Everest encolheu após terremoto de 2015,"Uma expedição científica viajará ao Everest no fim do inverno no hemisfério norte para verificar se a altitude da montanha, conhecida como o teto do mundo, diminuiu após o terremoto que sacudiu o Nepal há dois anos, informaram autoridades indianas. Medições feitas por satélite indicariam que o sismo de magnitude 7,8 –registrado em 2015– fez o Everest perder alguns milímetros ou centímetros, mas até agora isto não tinha sido possível comprovar. ""Passaram-se dois anos desde o grande sismo do Nepal e na comunidade científica há uma dúvida sobre o fato de que [o Everest] teria diminuído verdadeiramente"", declarou na terça-feira (24) o topógrafo geral da Índia, Swarna Subba Rao. ""Vamos medi-lo novamente"", acrescentou Swarna Subba Rao. Uma expedição de cinco pessoas será destacada ao final do inverno no hemisfério norte, que termina em março, e tomará medidas para determinar a altitude real do Everest, que oficialmente tem 8.848 metros, informou uma autoridade indiana à AFP. O violento terremoto de 25 de abril de 2015, que deixou nove mil mortos e destruiu meio milhão de moradias, teria deslocado em alguns metros a terra sob Katmandu, capital do Nepal.",ambiente
Cientistas lançam guia ilustrado com dezenas de serpentes do cerrado,"Cientistas de instituições de pesquisa paulistas estão lançando nesta quinta (7) um novo livro sobre as dezenas de espécies de serpentes que habitam o cerrado brasileiro. A obra intitulada ""Serpentes do Cerrado: Um Guia Ilustrado"" traz quase 200 fotografias de mais de cem tipos de serpentes, inclusive algumas nunca antes fotografadas. Os biólogos não gostam quando nos referimos a esses bichos como ""cobras"", que denomina corretamente apenas um número pequeno de espécies. O termo ""serpente"" se refere a todos os membros dessa subordem da classe dos répteis. Para cada uma, os autores apresentam sua morfologia (jeitão do bicho, tamanho, detalhes da cauda e dentição), hábitos alimentares, modo de reprodução (ovíparo ou vivíparo), táticas defensivas e se oferece risco de envenenamento grave ao ser humano, explica André Eterovic, da UFABC (Universidade Federal do ABC). A empreitada de catalogar os répteis começou há mais de 15 anos, com outra composição do grupo de autores (que ainda é mais ou menos a mesma). Em 2001 foi lançado o ""Serpentes da Mata Atlântica"", e, em 2005, o ""Serpentes do Pantanal"", ambos pela editora Holos, de Ribeirão Preto (SP). Enquanto seus colegas publicavam os guias da mata atlântica e do pantanal, o herpetologista Cristiano Nogueira percorria 40 mil km no coração do Brasil em busca dos bichos, durante seu doutorado, entre 2000 e 2006. ""Lembro perfeitamente de quando comecei a planejar meus estudos com répteis no cerrado, ainda no mestrado e doutorado. Ouvia colegas mais experientes, dizendo: 'Cerrado? Não vai encontrar muita coisa por lá. As poucas serpentes que ocorrem por lá são generalistas [ou seja, também aparecem em outros biomas].', Ou seja, elas seriam pouco interessantes. Felizmente eles estavam errados"", afirma Nogueira, agora pesquisador do Museu de Zoologia da USP. O levantamento é o primeiro do tipo e pode ajudar na conservação das espécies do local. ""Existe desinformação e preconceito contra as serpentes, vistas sempre como perigosas. Grande parte é inofensiva. Mesmo assim, são perseguidas e mortas nas localidades rurais do Brasil central."" Cerca de um terço desses répteis vivem apenas no cerrado. A obra contou com o apoio financeiro da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e da ONG WWF Brasil. O lançamento do livro acontece nesta quinta (7), em São Paulo, com palestra de Nogueira. * SERPENTES DO CERRADO - GUIA ILUSTRADO AUTORES Otavio Marques (Instituto Butantan), André Eterovic (UFABC), Cristiano Nogueira (USP) e Ivan Sazima (Unicamp) EDITORA Holos QUANTO R$ 63 (248 págs.) LANÇAMENTO Dia 7/4, às 19h, no auditório do Museu Biológico do Instituto Butantan (av. Vital Brasil, 1500, São Paulo). Tel. (11) 2627-9540.",ambiente
França inaugura a primeira estrada com painéis solares do mundo,"A França inaugurou nesta quinta-feira (22) a primeira estrada solar do mundo. A rodovia é pavimentada com painéis solares capazes de fornecer energia para a iluminação pública de Tourouvre, pequena cidade de 5.000 habitantes no noroeste do país, na região da Normandia. O trecho de um quilômetro coberto com 2,8 metros quadrados de painéis solares revestidos de resina foi ligado à rede de energia elétrica local, segundo anunciou a ministra do Meio Ambiente francesa, Ségolène Royal. ""Este novo uso da energia solar aproveita grandes extensões de infraestrutura rodoviária já em uso para produzir energia sem ocupar novos espaços"", disse Royal por meio de um comunicado. A ministra anunciou um plano de quatro anos para o ""desenvolvimento das estradas solares"", com projetos iniciais na Bretanha, no oeste, e em Marselha, no sul do país. Uma média de 2.000 carros trafega pela estrada em Tourouvre diariamente, testando a resistência dos painéis para o projeto desenvolvido pela empresa de engenharia civil francesa Colas, uma subsidiária do gigante da construção Bouygues. A ideia, que também está sendo explorada na Alemanha, Holanda e Estados Unidos, é que as estradas sejam ocupadas por carros em apenas 20% do tempo, oferecendo vastas extensões de superfície para absorver os raios solares. Na Alemanha, a inovação energética está em fase de testes num trecho de 150 metros perto da cidade de Colônia, no oeste do país. Nos Estados Unidos, o estado do Missouri trabalha na instalação de painéis numa pequena área perto da famosa Route 66, a estrada que atravessa o país. A Colas diz que, em teoria, a França poderia se tornar independente de energia não renovável pavimentando apenas um quarto dos seus milhões de quilômetros de estradas com painéis solares. CRÍTICAS O projeto foi alvo de críticas de diversas organizações ambientalistas que consideram seu custo, de 5 milhões de euros, exagerado para a quantidade de energia que pode produzir. ""Sem dúvida é um avanço técnico, mas para desenvolver as energias renováveis há outras prioridades do que este brinquedo que sabemos que é muito caro, mas não funciona bem"", disse ao jornal Le Monde o vice-presidente da Rede para a Transição Energética (CLER), Marc Jedliczka. O preço do quilowatt produzido nesta via solar chega a 17 euros, frente aos 1,3 euros para a geração de em uma instalação fotovoltaica –que produz volts de energia por meio da luz solar – em um telhado. Os especialistas destacam que as instalações inclinadas são mais eficientes na hora de produzir eletricidade, uma desvantagem desta iniciativa, pois está em posição horizontal. Os responsáveis pelo projeto sustentam que o trecho inaugurado hoje é uma prova de que o preço da infraestrutura diminuirá à medida que aumente a demanda, o que barateará também o custo da energia produzida. Em 2020, disseram, o preço do quilowatt produzido em uma estrada solar será similar ao de outra usina de energia solar.",ambiente
"Com passos pequenos, energia solar cresce à margem de incentivos oficiais","No Brasil, o uso do potencial solar para gerar energia elétrica ainda é pequeno, mas tem dado passos importantes. A possibilidade de qualquer um ter painel solar para abastecer a própria casa foi aberta com a resolução 482 da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que em 2012 regulamentou a micro e a minigeração de energia no Brasil. O que antes era um ""gato"" agora é uma ação prevista legalmente, que permite compensar o que foi gerado na conta de luz. Desde a criação da norma, as instalações de painéis cresceram mais de 670% em dois anos: hoje, há cerca de 580 sistemas operando no Brasil. Em 2013, eram 75. A previsão da Associação Brasileira de Energia Solar (Absolar) é de que, até o fim do ano, eles cheguem a mil. Para Mauro Passos, presidente do Instituto Ideal, focado no desenvolvimento de energias alternativas para a América Latina, o impulso não é por causa do governo. ""Os incentivos para o setor praticamente inexistem,"" reclama. ""O maior deles são os reajustes tarifários que estão sendo feitos, que fazem as pessoas buscarem outras opções"". O gerador de energia doméstico também tem custo elevado. Um sistema fotovoltaico que supre as necessidades de uma família de quatro pessoas custa ao menos R$ 15 mil, e isso para regiões com alta incidência de sol, como o Nordeste. Há quem pense em montar os próprios painéis solares sozinho, seguindo instruções encontradas na internet. Mas fazer isso, além de ser complicado, pode render ação judicial. Existem tanto normas de segurança quanto exigências legais para conectar a geração particular à rede elétrica nacional –então, o mais recomendado é contratar uma empresa especializada. Rodrigo Sauaia, diretor-executivo da Absolar, diz que é possível tentar financiamento de bancos para a instalação e que dá para propor às empresas usar parte da conta de luz para ir parcelando a compra do sistema. De qualquer jeito, o valor total do gerador só vai se pagar num período médio de 7 a 12 anos. ""Não vale a pena pedir empréstimo para fazer a instalação,"" aconselha o professor Arno Krenzinger, chefe do Laboratório de Energia Solar da UFRGS. ""Mas é algo que vai beneficiar quem tem um dinheiro que não vai usar na próxima década e está procurando onde investir"". TRANSFERÊNCIA Um dos pontos positivos citados com mais frequência quando se fala em energia solar é sua adaptação ao meio urbano. ""Tem um transtorno menor para se instalar, você tem que fazer menos modificações no ambiente do que quando vai construir uma usina eólica ou hídrica,"" aponta o professor Krenzinger. ""A energia excedente é muito versátil,"" resume Mauro Passos. ""Você pode, por exemplo, gerar energia na sua fazenda no interior e transferi-la para o seu escritório na avenida Paulista."" Ele cita o caso do estádio de Pituaçu, em Salvador, que teve placas fotovoltaicas instaladas na cobertura, cuja energia era transferida para abastecer um prédio administrativo do governo da Bahia. Aquela pequena arena, com capacidade para 25 mil pessoas, foi a inspiração para o que se fez em maior escala no Mineirão. O palco da tragédia do 7 a 1 não é só fonte de lamentos para os brasileiros: ele produz, com os painéis solares implantados no teto, energia suficiente para abastecer mil residências. O projeto foi tocado pela Cemig (Companhia Energética de Minas Gerais), com estudo fornecido pelo Instituto Ideal. Ao custo de 12 milhões de reais, a usina joga toda a energia que produz na rede elétrica. Só 10% dela pertence contratualmente ao estádio (o que dá e sobra para suas necessidades). ""Foi uma ideia para dar visibilidade à energia solar,"" diz Alexandre Bueno, superintendente de tecnologia e alternativas energéticas da Cemig. Ele conta que foi buscar financiamento do banco alemão KSW, que pagou 80% da obra, para que o projeto fosse economicamente viável: o preço da energia na época chegava a 300 reais por kWh, muito alto comparado a outras alternativas. Apesar do custo, não vêm faltando iniciativas do poder público para geração solar. O Estado de Pernambuco se tornará em novembro o primeiro a consumir esse tipo de energia em larga escala, com a construção de uma usina com capacidade de 11 MW (0,03% da demanda estadual). Já em Búzios (RJ), foram instalados painéis solares em três escolas municipais. A ação vem permitindo redução de 30% na conta de luz, ou cerca de R$ 540 mensais. O projeto é da distribuidora Ampla, que ressalta a importância de se trazer a energia renovável para a realidade dos estudantes. É certo que as próximas gerações terão que aprender cada vez mais a lidar com fontes energéticas limpas, como a solar. Em 2050, segundo pesquisa da EPE (Empresa de Pesquisa Energética), a participação da geração fotovoltaica na matriz brasileira será de 13% –um salto considerável, se pensarmos que a taxa atual é de apenas 0,01%.",ambiente
"'Vamos regular área já ocupada', diz senador sobre menor proteção florestal","Defensor da redução do nível de proteção de 597 mil hectares de áreas na Amazônia –o equivalente a quatro municípios de São Paulo–, o senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA) afirma que o objetivo principal das mudanças é regularizar áreas já ocupadas por pequenos produtores, mas admite que também há interesses minerários no local. O parlamentar foi autor de duas emendas parlamentares aprovadas no Congresso. Uma delas anulou o aumento de 51 mil hectares do Parque Nacional do Jamanxim, previsto no texto assinado pelo presidente Michel Temer. A justificativa, baseada em parecer do Ministério de Minas e Energia, é de que a ampliação afetaria 156 processos de direitos minerários em andamento. Depois de passarem pela Câmara e pelo Senado, as medidas provisórias dependem agora da sanção de Temer. * Por que transformar parte da Floresta Nacional e do Parque Nacional do Jamanxim em APA [Área de Proteção Ambiental]? Flexa Ribeiro - Não houve redução nenhuma, houve apenas uma recategorização. Alteramos a unidade de conservação para que as atividades possam ser desenvolvidas nas áreas já ocupadas há décadas. Ninguém é contra área de reservas, seja ambiental seja indígena. Somos contra a forma como elas são criadas. Isso que gera problema em quase todas as áreas. Basta um decreto para o governo criar uma área de conservação. Se for para alterar o limite ou categoria, só pode fazê-lo por lei. Aí reside o grande ponto de conflito. Eu tenho um projeto tramitando no Senado pelo qual a criação das áreas de reserva também tem de ser por lei e passar no Congresso, para que os Estados sejam ouvidos. Na maioria das vezes, essas áreas conflitam com o zoneamento econômico e ecológico do próprio Estado. Qual foi o critério que o sr. adotou pra fazer as emendas? Não só eu, mas vários parlamentares do Estado e alguns de Mato Grosso. Foi no sentido de atender à demanda das associações que reúnem pequenos produtores que lá estão. A principal atividade da região da Floresta Nacional do Jamanxim é uma pecuária de baixa produção. Vale a pena ceder mais área da Amazônia que não gera muito emprego e não é muito produtiva? Aí é que é o conflito. Não estamos cedendo mais área. Estamos regularizando áreas que já estão ocupadas. Por exemplo, defendemos que não precisa derrubar uma árvore a mais na Amazônia. Basta que se possa produzir com tecnologia nas áreas já ocupadas. No caso da 758, segundo o ICMBio [Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade], não há nenhuma demanda fundiária. Por que então transformar parte do Parque Nacional em APA? Essa mudança de categoria das unidades é pra atender as pessoas que estão trabalhando lá há mais de dez anos, as pessoas de boa-fé que estão nas áreas. Não é para atender grileiro, não. O governo não fez ao longo de dez anos e fez agora porque tem de ser por força de lei pra mudar a categoria para desafetar o espaço pra passar a [ferrovia] Ferrogrão. Então, as duas medidas provisórias nos permitem fazer ajustes por emendas pra que pudéssemos fazer aquilo que vínhamos tentando nos últimos dez anos. Não é um interesse sobretudo minerário? A APA permite que você faça a mineração. Ninguém quer fazer nada fora da legislação, que é rigorosa. O município de Novo Progresso tem 75% do seu território transformado em área protegida. Só tem 25% para desenvolver todas as suas atividades, inclusive o núcleo urbano. O sr. confirma então que o interesse é sobretudo fundiário, e não minerário? Inicialmente, é fundiário. Mas na região há ao menos uma jazida grande de cassiterita... Toda essa região. Por que fazem área de reserva em cima de potenciais enormes de exploração mineral? Por que não fazer reserva em outra área que, pelo zoneamento econômico do Estado, se destina a isso? A maior reserva ambiental que existe no Pará é estadual. Ou seja, o Estado não é contra. Só que tem de ver qual área você pode usar para desenvolver e qual área para preservar. A MP 756 incluiu na APA Jamanxim áreas reivindicadas por vários infratores ambientais. Há, por exemplo 4.500 hectares transformados em pasto em 2015 em nome de um provável laranja. Na mudança de categoria, não dá pra identificar quem está lá. Se existe alguém que entrou depois da criação da Flona [Floresta Nacional do Jamanxim, em 2006] –ou seja, é de má-fé–, ele não deve ter a sua área regularizada. A melhor forma de haver uma preservação da floresta não é pela ação fiscalizatória do Ibama, é regularizando a situação daqueles que estão na área. Eles passam a ter CNPJ, CPF, para o Ibama poder multá-lo, caso tenha transgredido a legislação. Agora, ninguém lá tem CNPJ. Esse laranja, como você vai identificar? Só regularizando para saber se é laranja ou não. Mas esses que estavam antes da criação não eram grileiros ou posseiros por estarem em terra pública que não compraram? Você não pode generalizar. A maioria das pessoas que veio pra lá foi com o chamado do governo. Lá atrás era: ""Homem sem terra para terra sem homens"". Era um movimento migratório produzido pelo próprio governo que trouxe essas pessoas para a Amazônia. Vou citar o caso concreto da família de Nelci Rodrigues, presidente da associação do Vale do Garça. Eles só chegaram em 1998, 13 anos depois do regime militar. Não havia mais essa política de Estado. Verdade. Mas entraram lá antes da criação. Aí eles são posseiros. Mas eles devem ser um dos mais novos. Como entraram antes da Flona, mesmo como posseiros, eles entraram de boa-fé. Um lote está no Cadastro Ambiental Rural em nome do filho de 27 anos. Não deveria ter havido mais critério na definição de quem seria beneficiado? Acho que a verificação deve ser feita na época da regularização. Não vamos ter grandes áreas regularizadas para uma pessoa. Todo esse critério deve ser feito na época da regularização. Ninguém está aqui pra atender grileiro e quem pratica crimes ambientais. - Nome completo Fernando de Souza Flexa Ribeiro Nascimento 12.set.1945 (71 anos), em Belém (Pará) Trajetória * Engenheiro civil e professor da Universidade Federal do Pará até 1987 * Filiação ao PSDB (1993) * Em 2005, após Duciomar Costa ser eleito prefeito de Belém, assumiu o mandato de senador, para o qual foi reeleito",ambiente
Por que não vale a pena matar as onças que comem gado no Pantanal,"Matar onça-pintada que andou comendo bezerro desgarrado pode até satisfazer o desejo do fazendeiro de ir à forra e não ficar no prejuízo, mas é uma péssima ideia do ponto de vista do bolso. Pesquisadores calcularam quanto uma região do Pantanal ganha por ano com o turismo de observação de onças e compararam o valor com os prejuízos trazidos pelos felinos que gostam de comer picanha bovina de vez em quando. Resultado: o que se perde com as reses devoradas equivale a menos de 2% do que se ganha com os turistas fãs de onça. Em números absolutos, estamos falando de quase US$ 7 milhões amealhados em 2015 com o ecoturismo dedicado aos felinos, versus apenas US$ 121 mil perdidos por conta da ação de onças que enjoaram de comer capivara. Isso, é bom lembrar, em apenas um pedaço do Pantanal - a região do Parque Estadual Encontro das Águas, nos municípios de Poconé e Barão de Melgaço (MT). Os dados, expostos em artigo na revista científica ""Global Ecology and Conservation"", foram levantados por uma equipe que inclui Fernando Rodrigo Tortato, da Universidade Federal de Mato Grosso e da ONG Panthera, e Carlos Peres, da Universidade de East Anglia (Reino Unido). ""Nossos dados podem ser extrapolados para outras regiões que exploram o ecoturismo e a observação da onça-pintada no Pantanal, como Cáceres, em Mato Grosso, e Aquidauana, Corumbá e Miranda, no Mato Grosso do Sul"", declarou Tortato à Folha. Mesmo na área estudada, os números obtidos pelos pesquisadores estão claramente subestimados porque levaram em conta apenas os ganhos obtidos de forma direta com a observação de felinos, sem considerar coisas como as refeições dos turistas em restaurantes da região ou seus gastos com deslocamento. POUSADAS Para chegar aos resultados, Tortato e seus colegas visitaram sete pousadas da área estudada que oferecem pacotes especificamente voltados para safáris fotográficos de onças (com duração média de três dias). Computaram então as diárias de cada pousada por hóspede, o número total de visitantes em 2015 e a taxa mínima de ocupação diária nos estabelecimentos. Só esses dados entraram na conta. Um pouco mais complicado foi definir a área impactada pelas onças no parque e em seu entorno. Com a ajuda de coordenadas de GPS dos locais onde os bichos costumam ser observados (em geral ao longo dos rios), e levando em conta os deslocamentos típicos da espécie, eles estimaram uma área de 81 mil hectares para o território das onças na região. Considerando uma densidade de cabeças de gado típica do Pantanal (0,2 cabeça por hectare), eles estimaram que a população bovina da área estaria na casa dos 16 mil animais. Cruzando esse número com estudos sobre o impacto médio das onças nos rebanhos daquela zona (uma mortalidade de 2,5% das reses ao ano), com um valor perdido de US$ 300 por boi morto, o grupo chegou ao prejuízo anual de US$ 121 mil. Na área do estudo, a observação de onças costuma ser realizada por empresas que não estão ligadas às fazendas de criação de gado. Os pesquisadores propõem que uma parte muito modesta da renda gerada pela atividade poderia ser usada para cobrir os custos da perda de bois - turistas entrevistados por eles disseram topar que uma média de 7% a mais de suas diárias fosse usada para esse fim. Mas não seria mais lógico que os fazendeiros também virassem empreendedores de ecoturismo? ""Na porção sul do Pantanal, as pousadas normalmente estão associadas às fazendas. Com isso, a onça-pintada pode representar lucro e prejuízo para o mesmo proprietário"", diz Tortato. ""Mas não é necessário que todos os pecuaristas do Pantanal diversifiquem o seu portfólio econômico. Acho que seria melhor que algumas propriedades se especializem em ecoturismo, enquanto outras podem se concentrar na pecuária extensiva com um manejo modernizado do rebanho"", argumenta Carlos Peres. ""O mais importante é que os pecuaristas possam exercer um regime de tolerância ao jaguar que possa ser financeiramente neutralizado por um sistema de compensação.""",ambiente
"Desmatamento cresce 282% na Amazônia em fevereiro, diz instituto","Em fevereiro deste ano, o desmatamento na Amazônia foi de 42 km², o que representa um aumento de 282% em relação ao mesmo mês de 2014, quando foram devastados 11 km². Os dados foram detectados pelo SAD (Sistema de Alerta de Desmatamento), do Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia), ONG que monitora a região com sistema próprio. De acordo com o boletim, em fevereiro de 2015, a maior parte da devastação foi observada em Mato Grosso (37%) e Roraima (28%), seguidos por Amazonas (16%), Pará (14%) e Rondônia (5%). O desmatamento acumulado entre agosto de 2014 e fevereiro de 2015 –sete primeiros meses do calendário oficial de medição– atingiu 1.702 km², um crescimento de 215% em relação ao período anterior (agosto de 2013 a fevereiro de 2014), quando 540 km² foram destruídos. O Imazon também divulgou dados sobre as florestas degradadas na região: 49 km² em fevereiro de 2015, contra 50 km² do ano anterior, uma redução de 2% na área de estrago. A ONG pondera, porém, que mais da metade (59%) da área florestal da Amazônia Legal estava coberta por nuvens, o que pode dificultar o monitoramento. Os dados completos sobre devastação na região são consolidados anualmente por outro sistema, o Prodes (Monitoramento da Floresta Amazônica Brasileira por Satélite), do Inpe.",ambiente
Beleza verde: lei facilita pesquisa e populariza insumos da Amazônia,"A árvore de pracaxi, planta nativa da Amazônia, produz frutos em forma de vagens que abrigam sementes ricas em um óleo que tem sido muito procurado pela indústria de cosméticos, principalmente para produtos de hidratação para cabelos. Mas os ribeirinhos também utilizam o óleo de pracaxi para ajudar na cicatrização de picadas de cobra, o que despertou o interesse da Beraca, empresa química especializada em ativos da biodiversidade brasileira, que começou a investir em pesquisas para conhecer melhor a planta. Foram mais de três anos de pesquisas, e a empresa descobriu que, além de ser bom para o cabelo, o óleo de pracaxi também tem ótimas propriedades para a pele: ajuda no clareamento de manchas e estrias e estimula a produção de colágeno, o que o torna ideal para aplicação em cremes anti-idade. O pracaxi é um entre tantos ingredientes da Amazônia com potencial para gerar riqueza com a floresta em pé, desestimulando o desmatamento. Nos últimos anos, as empresas de cosméticos começaram a desenvolver cadeias de negócios com comunidades extrativistas, e os ativos amazônicos se tornaram mais comuns na vida do consumidor. Agora, as pesquisas com a biodiversidade brasileira devem ganhar novo impulso. Um dos últimos atos da presidente Dilma Rousseff antes do impeachment foi regulamentar a lei 7.735/2014, que traz novas regras para o acesso ao patrimônio genético e simplifica os procedimentos para a pesquisa científica. Antes, para realizar pesquisas com determinada planta, o pesquisador deveria solicitar solicitação prévia ao Ministério do Meio Ambiente. Agora, o governo pretende controlar o acesso ao patrimônio genético com um cadastro de empresas e pesquisadores. Há mudanças também nas regras sobre a repartição dos benefícios -espécie de royalty pago pelas empresas para as comunidades que detém o conhecimento sobre o uso de determinada planta ou animal. A lei prevê a criação de um fundo para gerenciar esses recursos e reinvesti-los em projetos de conservação. ""A nova lei tem como objetivo facilitar a pesquisa e o desenvolvimento de novos produtos. Ela poderá representar ganho de celeridade e competitividade para a indústria"", afirma Kevyan Macedo, gerente de sustentabilidade da Natura. A empresa foi uma das responsáveis por popularizar os ingredientes amazônicos em suas linhas de cosméticos. Utiliza castanha, buriti, ucuuba, andiroba, açaí, copaíba e murumuru. Há 15 anos mantém relações comerciais diretamente com as comunidades e, mais recentemente instalou uma fábrica de sabonetes no Pará. ""Criamos uma área dedicada ao relacionamento com essas comunidades fornecedoras e a nova lei não provoca nenhuma mudança nessa forma de atuar"", diz Macedo. Beleza que vem da floresta APELO A biodiversidade brasileira desperta o interesse dos consumidores em países onde o apelo da floresta é muito forte, como na Europa. ""O buriti é mais conhecido lá fora do que no Brasil"", diz Thiago Terada, gerente de assuntos corporativos da Beraca. A empresa fornece óleos essenciais para mais de 40 países, com grandes clientes, como o grupo francês L'Oréal. Começou a trilhar esse caminho há 15 anos, após a compra de uma startup em Belém criada por professores da Universidade Federal do Pará. Para que a riqueza da biodiversidade não fique restrita a grandes empresas, o governo paraense está estruturando um arranjo produtivo local (APL) para cosméticos da biodiversidade. O arranjo foi formalizado no final de 2015, com a adesão de 20 empresas, entre fabricantes de cosméticos, de óleos essenciais e pequenas e médias empresas da região, junto com o Sebrae. A primeira tarefa do APL será mapear o potencial de fornecimento de matérias-primas dos extrativistas no Pará. Um estudo preliminar apontou cerca de 500 mil associações e comunidades no Estado. O Sebrae também planeja treinar as comunidades em padrões de qualidade para fornecer as matérias-primas para a indústria.",ambiente
Suecos defendem caça a lobos,"Cercas elétricas rodeiam carneiros, dois cães montam guarda e um vizinho monitora a floresta adjacente com uma câmera de segurança. Às vezes, a proximidade dos lobos faz os fazendeiros desta região da Suécia, chamada Varmland, se sentirem como que sitiados, disse Ulf Ekholm. Ele tem até um apelido para esta parte do interior sueco: Predatorland –""terra dos predadores"". Muito depois de seu desaparecimento da região, o lobo está de volta –e sua presença provoca uma intensa disputa. A fazenda de Ekholm, na aldeia de Olmhult, fica na linha de frente da batalha que coloca fazendeiros e caçadores contra ambientalistas e autoridades europeias. Outrora caçado sem piedade, o lobo hoje é uma espécie protegida, e seu retorno provoca intranquilidade da Finlândia à França. Na Suécia, a população de lobos ainda é relativamente pequena –cerca de 415, segundo o governo, que indeniza os agricultores por prejuízos causados por ataques dos animais e subsidia a construção de cercas de proteção. No entanto, os agricultores afirmam que a indenização não cobre todos os custos ou compensa a ansiedade e a perturbação causadas em suas vidas. Os caçadores dizem que os lobos estão matando animais como os alces, prejudicando as tradições de caça e assustando as pessoas que vivem no campo. Quando a Suécia realizou sua mais recente eliminação seletiva, de 44 lobos, recebeu a última de uma série de cartas de advertência da Comissão Europeia, o órgão executivo da União Europeia. As autoridades europeias dizem que sua função é aplicar as leis que garantem a sobrevivência de espécies raras –regras que a Suécia e outros países acataram. A UE critica o modo como a Suécia conduziu as recentes caçadas anuais a lobos. Segundo a organização, o país não considerou alternativas e não mostrou que a eliminação seletiva não representa uma ameaça à sobrevivência em longo prazo da população de lobos. Magnus Bergstrom, vice-diretor do Ministério do Meio Ambiente e Energia da Suécia, afirma que a população de lobos é extremamente bem monitorada e que a seleção visa animais com genes fracos. ""Temos DNA de cerca de 90% dos lobos"", disse. ""Em geral se diz que esta é a população de lobos mais bem monitorada do mundo ocidental."" Isto não tranquiliza Per Dunberg, porta-voz da Associação de Lobos da Suécia, que diz que, para ser sustentável, a população dos animais deveria ser de 1.500 a 3.000 indivíduos. ""É um predador importante, e muitas outras espécies dependem do lobo, como as aves e as raposas"", disse Dunberg, que acusou as associações de caçadores de disseminar o alarme. Em Varmland, há uma crescente frustração com a União Europeia. Em sua fazenda na aldeia de Lindas, Elsa Lund Magnussen afirmou que a questão tem a ver em parte com a democracia. ""As pessoas que vivem aqui e têm problemas com os lobos deveriam estar no processo de decidir com quantos animais podemos lidar"", disse ela. Segundo Gunnar Gloersen, diretor da associação de caçadores da Suécia, Svenska Jagareforbundet, a caça –uma antiga e importante tradição em Varmland– hoje está ameaçada. O retorno do lobo teve um ""enorme impacto"" na população de alces, afirmou Gloersen, acrescentando que os caçadores mataram 17.500 alces em Varmland em 1983, mas apenas 4.200 em 2014 –pouco mais que os cerca de 4.000 mortos por lobos. Em sua fazenda em Olmhult, Ekholm explicou que cerca de 50 animais foram mortos em ataques a duas fazendas próximas no ano passado. ""Estamos esperando por um ataque"", disse Ekholm. ""Vai acontecer.""",ambiente
EUA falham na pesquisa de energia,"Meses antes da cúpula do clima em Paris, marcada para dezembro, quando países ricos e pobres esperam entrar em acordo sobre uma estratégia para desacelerar o aquecimento global, a Agência Internacional de Energia (AIE) apresentou uma previsão sombria. Mesmo pelas avaliações mais otimistas, limitar o aquecimento da atmosfera a 2°C acima da média da era pré-industrial –considerado um ponto de inflexão na direção de uma perturbação climática– parece estar ficando fora de alcance. ""Pela primeira vez desde que a AIE começou a monitorar o progresso da energia limpa, nenhum dos campos tecnológicos acompanhados está cumprindo seus objetivos"", escreveu a diretora-executiva da agência, Maria van der Hoeven. ""Nossa capacidade de produzir um futuro em que as temperaturas aumentem de forma modesta corre o risco de ficar ameaçada."" A utilização de energia renovável está avançando, mas não com rapidez suficiente. A energia nuclear está abaixo da curva. Tecnologias-chave como a captura e o armazenamento de carbono, que o Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática considerou críticas para nos mantermos dentro da meta, ainda estão na infância. A única usina de energia movida a carvão em escala comercial equipada com tecnologia de captura de dióxido de carbono foi inaugurada em outubro passado no Canadá. Em 2014, os investimentos globais em energia renovável diminuíram pelo quarto ano consecutivo, para menos de US$ 250 bilhões. Os Estados Unidos poderiam estar na liderança no desenvolvimento de novas energias alternativas, mas não estão. Inundada de energia barata do óleo de xisto e de gás, os EUA perderam de vista o objetivo: descarbonizar o suprimento de energia mundial em questão de décadas. Considere o sol. O mundo deu enormes saltos em tecnologia solar. No entanto, ela ainda representa apenas 1% da energia mundial. Para acompanhar a crescente demanda por eletricidade, a energia solar deveria fornecer 27% da energia elétrica até 2050, segundo um modelo da AIE. Um relatório de pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) salientou os obstáculos no caminho da energia solar: ela ainda é mais cara que os combustíveis fósseis; é diminuta em relação ao grande papel que precisa desempenhar no sistema energético global; e é intermitente. Para começar, há a necessidade de armazenar energia em grande escala: enormes baterias, talvez, ou geradores a gás natural com tecnologia de captura de carbono para compensar a redução quando o sol baixa. Nada disso existe ainda. Também é necessário um salto na tecnologia de conversão de fótons em energia elétrica para reduzir o preço. Os painéis solares baseados em silício que hoje produzem a maior parte da energia solar não resolvem esse problema. Cientistas e empresários desenvolveram abordagens promissoras a esses desafios, mas sua viabilidade comercial continua indefinida. O setor privado por sua própria conta não irá financiar a pesquisa adicional necessária. ""É patético ver como existem poucos recursos"", disse David Miller, do grupo Clean Energy Venture, que fornece capital para inovadores em energia. ""Eles poderiam atingir a escala comercial, mas não têm fundos para chegar lá."" O orçamento para pesquisa, desenvolvimento e demonstração do Departamento de Energia dos EUA continua estagnado em cerca de US$ 5 bilhões, mais ou menos o mesmo que meia década atrás, empalidecendo ao lado dos esforços de outros países. A China, por exemplo, gasta um quinto de seu orçamento de pesquisa em energia. ""É crítica a mudança de ritmo no compromisso dos EUA com a inovação em energia"", segundo um relatório divulgado em fevereiro pelo Conselho Americano de Inovação Energética. ""Qualquer líder empresarial sério reconheceria que o país precisa aproveitar sua força atual e agir agora para criar um futuro energético limpo."" Muitos líderes políticos pensam de modo diferente. Até agora, o apoio federal à pesquisa básica de energia foi barrada pelos muitos republicanos no Congresso que negam a mudança climática causada pelo homem e se opõem a gastar mais para evitá-la. Com o Congresso bloqueando as verbas para inovação, o governo Obama recorreu ao único instrumento a seu alcance para mudar o perfil energético do país: a regulamentação. A Agência de Proteção Ambiental vai revelar em breve as regras finais de seu plano de energia limpa, que, se sobreviver aos obstáculos legais, obrigará as usinas energéticas a reduzir as emissões de gases do efeito estufa. Esse é um passo necessário. Sem um grande esforço tecnológico, porém, provavelmente se mostrará insuficiente.",ambiente
Metade das espécies de árvores na Amazônia está em risco,"Cerca de metade das 15.000 espécies de árvores na Amazônia está ameaçada pelo desmatamento, de acordo com um estudo internacional divulgado na última sexta-feira (20). ""Pelo menos 36% e até 57% de todas as espécies de árvores na Amazônia podem ser classificadas como ameaçadas"", relata a pesquisa publicada na ""Science Advances"", que usou critérios da IUCN (Union for Conservation of Nature). Se o cenário continuar no ritmo atual, cerca de 40% da selva original amazônica estará destruída até 2050, advertiram os especialistas. Eles acrescentam, porém, que, se forem tomadas estritas medidas de conservação, esse número pode cair pela metade. A boa notícia é que importantes populações de árvores em perigo estão nas zonas protegidas da região amazônica. De acordo com os pesquisadores, é chave manter uma vigilância constante de espécies valiosas, como a castanha-do-pará –63% dos quais podem se perder até 2050–, caso se queira preservar a capacidade de absorção de dióxido de carbono dessa região. Se este panorama não mudar, o cacau pode recuar em 50% em 35 anos, e a palma de açaí, em 75%, completou o estudo, que contou com pesquisadores de 21 países. ""Ou defendemos e protegemos esses importantes parques e reservas indígenas, ou o desmatamento vai evoluir até que vejamos extinções em larga escala"", disse o principal autor do estudo, Hans ter Steege, do Centro de Biodiversidade Natural da Holanda. As emissões do Brasil estão em seu segundo nível mais alto em seis anos. Na Colômbia, a mineração ilegal, o desmatamento para áreas de cultivo, os incêndios e a seca são as principais causas da destruição da mata, segundo o Instituto de Hidrologia, Meteorologia e Estudos Ambientais (Ideam). Quase metade (45%) dos terrenos desmatados no ano passado na Colômbia está na Amazônia.",ambiente
"'Vale do Silício Amazônico' pode manter floresta em pé, diz estudo","A maior floresta tropical do planeta, a Amazônica, berço de pelo menos metade de todas as espécies vivas, pode se transformar no próximo ""Vale do Silício"". A proposta parte de cientistas: os 6,7 milhões de km2 de floresta –quase 19 vezes o tamanho da Alemanha–, escondem matérias-primas que devem impulsionar a quarta revolução industrial, diz um estudo publicado nesta semana na revista ""Proceedings of the National Academy of Sciences"", dos Estados Unidos. ""As nossas análises mostraram que, se continuarmos com os dois modelos de desenvolvimento historicamente usados, que são a conservação pura da floresta e a atividade agropecuária, o desmatamento vai continuar. Se não encontrarmos uma outra maneira, a floresta vai desaparecer"", afirma em entrevista o climatologista Carlos Nobre, principal autor do estudo e recém-eleito membro da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos. Chamada de ""terceira via"", a proposta dos cientistas enxerga a Amazônia como um patrimônio biológico global, que pode impulsionar a nova revolução movida a inteligência artificial e tecnologias que ""imitam"" a natureza –o biomimetismo. ""Estamos dizendo que existe um valor agregado muito maior nos recursos biológicos da Amazônia que podem gerar uma economia muito robusta, de longo prazo, que sustentará um novo modelo e que é compatível com a floresta em pé"", explica Nobre. Desvendar de que plantas e animais são feitos, como organismos se locomovem e percebem o ambiente, por exemplo, são a chave para criação de materiais, sensores e até robôs do futuro. ""Conhecemos o caso de uma espuma resistente produzida por um sapo que inspirou a criação de uma nova tecnologia de captura de CO2 da atmosfera"", diz Juan Carlos Castilla-Rubio, um dos autores e presidente do conselho da Space Time Ventures, incubadora de start-ups de tecnologia. HISTÓRICO DE DESTRUIÇÃO Em mais de 50 anos de exploração da Amazônia, que se estende por 9 países e ocupa 47% do território brasileiro, a expansão da agropecuária e ocupação já desmataram 20% da floresta. Segundo diversos estudos publicados por climatologistas, se mais de 40% da floresta for destruída, a mata densa não consegue mais se recuperar e se transforma numa savana. A Amazônia também é fundamental no combate às mudanças climáticas –a estimativa é que suas árvores armazenem até 200 bilhões de toneladas de carbono. A liberação desse gás de efeito estufa na atmosfera poderia elevar a temperatura do planeta num ritmo ainda mais acelerado. ""Talvez a proposta de explorar esse patrimônio biológico seja, de fato, a única possibilidade de conservar a Amazônia"", avalia Nurit Bensusan, especialista em biodiversidade do Instituto Socioambiental (ISA). ""Mas é preciso muito cuidado para que haja a repartição de benefícios, para que a exploração dos recursos naturais não vire patentes nas mãos de empresas internacionais detentoras de tecnologia"", alerta. ""VALE DO SILÍCIO"" AMAZÔNICO Para Castilla-Rubio, a Amazônia é o próximo centro de inovações do mundo, mas ainda é cedo para dizer se a floresta tropical será tomada por laboratórios de alta tecnologia. ""Ainda não sabemos como isso vai acontecer exatamente, é um tema que vai durar 20 anos ou mais. Mas sabemos que a capacidade e conhecimento local precisam ser reforçados, e muito"", comenta Castilla-Rubio, que compara o nível de dificuldade do projeto ""à ida do homem à Lua"". Atualmente, apenas 2% dos doutores formados anualmente no Brasil vêm de universidade amazônicas. Ao mesmo tempo, a Amazônia é o lar de cerca de 2,7 milhões de indígenas. Para que essas comunidades se beneficiem do ""Vale do Silício Amazônico"", a pesquisadora Bensusan diz que é preciso reverter uma tendência. ""Caminhamos para uma situação em que os conhecimentos tradicionais estão sendo desrespeitados. É preciso fazer um reconhecimento do importante papel que eles desempenham, não só identificando determinados princípios, mas também usando plantas e animais para processos de cura e cosméticos, fazendo a distribuição espacial de muitas espécies, e o manejo"", critica Bensusan. Nobre reconhece as dificuldades. ""É difícil essa articulação do que realmente retorna para os povos da floresta quando o conhecimento deles é apropriado e se torna um produto no mercado. Mas a Lei da Biodiversidade está aí para ser testada"", diz o cientista, fazendo referência à legislação aprovada em 2015, que prevê pagamento às comunidades indígenas por parte da indústria. É por isso que a revolução impulsionada pela Amazônia tem que ser inclusiva, defende Nobre. ""E a única maneira de isso acontecer é pela qualidade da educação. E não dá para eliminar o governo: é ele que tem que garantir capacitação profissional e pesquisa básica. A revolução vai acontecer, queremos que ela traga o melhor impacto e benefício para a floresta e quem vive dela"", finaliza.",ambiente
Temer regulamenta Acordo de Paris em busca de apoio em meio a crise,"Em uma tentativa de fazer um contraponto a Donald Trump, o presidente Michel Temer assinou nesta segunda-feira (5) decreto que regulamenta o Acordo de Paris. A iniciativa é feita no momento em que o peemedebista enfrenta a pior crise política de seu mandato e busca apoio social para seguir à frente do Palácio do Planalto. Em esforço para demonstrar que conta com respaldo no Poder Legislativo, participaram da solenidade integrantes da base aliada e o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ). O acordo, que estipula meta de reduzir de 26% a 28% as emissões de gases causadores do efeito estufa até 2025, já havia sido ratificado em setembro e entrado em vigor no país em novembro. O objetivo do decreto assinado nesta segunda-feira (5) foi apenas incluir as propostas da iniciativa na legislação brasileira. ""Nós estamos reiterando o firme apoio do país ao Acordo de Paris para que ele ganhe força de lei"", disse o presidente. Lição de casa Segundo o ministro do Meio Ambiente, Sarney Filho, o governo brasileiro já vinha cumprindo as metas e o único efeito prático do decreto é obrigar juridicamente seu cumprimento. Na semana passada, o presidente dos Estados Unidos anunciou a retirada do país do Acordo de Paris, o que levou os países europeus a buscarem grandes empresas americanas para cumprir com as metas da iniciativa. No radar, estão, por exemplo, Facebook, Apple, Ford e Microsoft que criticaram a decisão do presidente norte-americano. O ministro do Meio Ambiente, Sarney Filho, disse que a decisão dos Estados Unidos causou ""profunda preocupação"". ""Nós mostramos ao mundo que o empenho do Brasil para sua implementação permanece inabalável"", disse. Na terça-feira (6), o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) irá voltar a julgar processo de cassação da chapa presidencial de 2014. Com o agravamento da crise política, o Palácio do Planalto avalia que o placar, que antes era favorável, tornou-se apertado, ameaçando a continuidade do presidente no cargo. A aposta de assessores e auxiliares presidenciais é de que um dos ministros mais próximos do presidente façam pedido de vista, o que poderá atrasar a conclusão do julgamento para o final de junho.",ambiente
Armadilhas colocam em risco jacarés da mata atlântica,"Um grupo de pesquisadores descobre um jacaré preso em uma armadilha e corre para resgatá-lo. Após cerca de 36 horas de cuidados veterinários, o fim da história é a morte do animal. ""Essa é a realidade, é o que acontece com a maioria dos jacarés resgatados"", afirma Yhuri Nóbrega, coordenador do Projeto Caiman, de Vitória, no Espírito Santo, iniciativa que busca a conservação na mata atlântica do Caiman latirostris, o jacaré-de-papo-amarelo. O grupo de resgate foi chamado por moradores do município de Serra (ES), que avistaram o animal preso com um engasgo, armadilha composta de fio e anzol. vídeo Para se alimentar, os jacarés fazem o ""giro da morte"" –no qual o bicho morde a presa e gira para arrancar pedaços e engoli-los. Por conta desse comportamento, o anzol pode provocar sérios danos internos no animal. ""Pulmão, coração e esôfago estavam completamente lesionados"", diz Nóbrega. A tentativa de resgate do jovem C. latirostris, que tinha entre 4 e 5 anos, começou com uma endoscopia para a retirada do anzol. Segundo Nóbrega, por ser pouco invasiva, trata-se da melhor alternativa para a resolução do problema. Contudo, pelo fato de o anzol ter se fixado de forma muito intensa no tórax do jacaré, uma cirurgia foi necessária. Segundo Nóbrega, a intervenção cirúrgica para a retirada do anzol é necessária em 90% dos casos de jacarés resgatados. O resultado, porém, costuma ser a morte. O jacaré-de-papo-amarelo costuma ser vítima da caça pelo valor comercial de seu couro e de sua carne, e também pela diminuição do seu habitat, a mata atlântica –o que faz com que ele se aproxime de áreas mais urbanizadas. Nóbrega alerta que comer a carne do animal pode ser perigoso, considerando a possibilidade de contaminação dela, o que poderia provocar problemas de saúde. ""Os jacarés, além do valor cultural, desempenham um papel de regulação ecológica"", diz Nóbrega. O C. latirostris não consta na lista oficial de animais ameaçados de extinção, mas uma avaliação de risco de 2013 do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade afirma que a elevada pressão de caça em algumas regiões pode afetar o fluxo gênico entre populações da espécie, o que merece atenção.",ambiente
Conferência do Clima começa e tenta colocar Acordo de Paris em ação,"Com o Acordo de Paris em vigor, o desafio dessa edição será implementar ferramentas de transparência e fiscalização que garantam o cumprimento das metas nacionais de redução das emissões de carbono. A delegação brasileira está em Marrakech com uma lista de propostas para a COP22 (Conferência da ONU sobre o Clima), que começa hoje e vai até dia 18. Entre as propostas brasileiras para esta COP está a regulamentação do mercado de carbono, que já existe desde o Protocolo de Kyoto, mas ganha ares de complexidade com o Acordo de Paris. Antes, apenas países desenvolvidos eram obrigados a reduzir emissões e, para ajudar a alcançar suas metas, poderiam comprar créditos de carbono de países em desenvolvimento. Agora, qualquer país pode comprar ou vender créditos. Em Marrakech, o Brasil deve apresentar propostas de transparência e regulamentação desse mercado, principalmente sob a preocupação de uma possível contagem dupla –compradores e vendedores abatendo a mesma emissão de carbono das suas metas nacionais. Uma das propostas do Brasil já levantou polêmica entre ambientalistas o país. Ela excluiria do mercado de carbono os projetos que, pela proteção de florestas, evitam emissões. Eles já são regulados pelo mecanismo de Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação e financiados por doações. A restrição desaponta organizações que podem perder a oportunidade de vender seus créditos de carbono a partir da proteção florestal. Contudo, ela é tida como necessária por países em desenvolvimento que possuem grandes áreas florestais. Segundo eles, a venda de créditos para a proteção florestal impediria o desenvolvimento econômico, enquanto permitiria que países mais ricos continuassem crescendo sem deixar de emitir carbono. O mecanismo de créditos de carbono nasceu de proposta brasileira em 1997, para engajar os países em desenvolvimento na transição para um crescimento econômico de baixo carbono. O Brasil que negocia o clima BRASIL QUE NEGOCIA Internamente, o Brasil é criticado por ambientalistas pelo desperdício do talento natural para desenvolvimento sustentável. Mas, lá fora, o país é visto como potência ambiental e tem posição confortável para discutir rumos em negociações climáticas. Representantes de diferentes nações presentes em outras COPs relatam características brasileiras na discussão do clima: construtor de consensos; prefere bastidores aos palcos; e já salvou reuniões que tinham todas as condições para fracassar. O que os observadores das negociações destacam e que pode explicar a posição mediadora do Brasil é a capacidade da diplomacia brasileira exercer empatia com diferentes países e situações. É um país em desenvolvimento, industrializado e com matriz energética em grande parte limpa, mas que também explora petróleo. Quando o assunto é clima, ninguém desgosta do Brasil. O país também ""saiu bem na foto"" ao ser o único em desenvolvimento a propor metas ""incondicionais"" –implementadas independentemente de dinheiro internacional.",ambiente
"Temer vetará corte de floresta, mas vai propor lei parecida na mesma semana","O presidente Michel Temer deverá vetar nesta segunda-feira (19) a medida provisória 756, que prevê a redução de 37% da Floresta Nacional (Flona) de Jamanxim, no sudoeste do Pará, mas enviará ao Congresso um projeto de lei com o mesmo teor ainda nesta semana. A MP, assinada em dezembro por Temer e aprovada com alterações no Congresso, previa a transformação de 486 mil hectares da Flona em APA (Área de Proteção Ambiental), a categoria mais baixa de proteção, que permite propriedade privada e atividades rurais. A medida visava legalizar dezenas de grileiros e posseiros. O veto foi anunciado pelo ministro do Meio Ambiente, Zequinha Sarney. Em vídeo dirigido aos ""amigos e amigas"" do entorno da Flona, ele afirmou que a MP não tinha base jurídica sólida, o que poderia provocar uma disputa judicial. ""Iria ficar como ainda existem, no Brasil, determinadas regiões que estão sub judice e que não se pode avançar em nada. Seria o pior dos mundos"", afirmou, ao lado do senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA), um dos principais defensores da criação da APA. Sarney disse que um dos problemas da MP é a falta de um parecer técnico do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), responsável pela gestão da Flona. Ele, no entanto, antecipou que esse parecer será favorável à criação da APA. ""O ICMBio vai dar um parecer técnico acatando as decisões no sentido de transformar determinadas áreas da Flona em APA"", disse o ministro. Sarney assegurou que o projeto de lei com o mesmo teor da MP terá ""urgência constitucional"" e que poderá ser votado pela Câmara e pelo Senado nas próximas semanas, promessa que dificilmente será cumprida devido aos trâmites burocráticos do Executivo e do Legislativo. No vídeo, o ministro não mencionou a medida provisória 758, que transforma em APA 101 mil hectares do Parque Nacional do Jamanxim, na mesma região. A tendência, no entanto, é que também seja vetada, devido às semelhanças com a 756. O jornalista FABIANO MAISONNAVE viajou a Oslo a convite do Ministério do Clima e Meio Ambiente da Noruega.",ambiente
Nepal drena lago glacial que ameaçava inundar aldeias e trilhas no Everest,"O Exército do Nepal anunciou que conseguiu drenar a um nível seguro um lago glacial perto do Monte Everest. Localizado a aproximadamente 5 mil metros de altura, o Lago Imja corria o risco de inundar aldeias, trilhas e pontes da região. ""O lago, que tinha originalmente 149 metros de profundidade em algumas áreas, teve seu nível de água reduzido em 3,4 metros após meses de trabalho árduo"", afirmaram as autoridades. O Imja é um dos milhares de lagos glaciais na Cordilheira do Himalaia. As cheias na região são atribuídas, principalmente, ao derretimento acelerado das geleiras em meio ao aumento da temperatura global. O terremoto do ano passado no Nepal também é apontado como uma das causas de desestabilização dos lagos. Segundo os militares, esse foi o maior projeto de drenagem do tipo já realizado –equipes do Exército e de sherpas trabalharam durante seis meses para construir um canal que liberasse gradualmente a água. Após a construção da saída, cerca de 4 milhões de metros cúbicos de água foram drenados, em um processo que levou dois meses. A ideia agora é levar o projeto para outros lagos da região. ""Foi um projeto piloto que concluímos sem qualquer incidente infeliz e agora este modelo será replicado para reduzir os riscos em outros lagos glaciais"", informou à BBC Top Khatri, gerente do projeto no departamento de Hidrologia e Meteorologia. Os maiores desafios do projeto foram a neve pesada e a altitude elevada. De acordo com as autoridades, as equipes só podiam atuar com segurança durante algumas horas do dia. ""Nós sofremos com estresse e cansaço enquanto estávamos trabalhando nessa altitude e localização extrema"", disse à BBC o tenente-coronel Bharat Shrestha, que liderou a equipe do Exército. ""No início, algumas pessoas tiveram que ser retiradas, pois estavam sofrendo com o mal da altitude, mas aos poucos todos nos aclimatamos"", completou. A drenagem do Lago Imja é parte de um projeto da ONU para ajudar o Nepal a minimizar o impacto das mudanças climáticas. A ONU forneceu quase US$ 3 milhões em financiamento para baixar o nível da água do lago. Também foram instalados sistemas de alerta preventivos para as comunidades da região. Muitos sherpas consideram, no entanto, que tem sido dada atenção exagerada ao Lago Imja, com relatos alarmistas da mídia apavorando os moradores locais, enquanto os riscos apresentados por outros lagos glaciais são ignorados pelas autoridades. ""Vivemos com medo que possamos ser atingidos repentinamente por inundações de lagos glaciais que estão se tornando perigosos, mas não receberam nenhuma atenção"", disse Nimji Sherpa, um líder na vila Thamo. Lagos glaciais já provocaram mais de 20 inundações no Nepal desde 1960, sendo que três incidentes aconteceram na região do Everest.",ambiente
COP da biodiversidade convidará agricultura para proteger ecossistema,"A 13ª conferência da ONU sobre biodiversidade começou nesta sexta-feira (2) em meio ao pessimismo e com pouco tempo para alcançar suas metas urgentes, enquanto o México, o anfitrião, propõe promover uma mudança de rumo ao convidar setores como o turismo e a agricultura. ""Diante dos relatórios pouco animadores"", se pedirá que os tomadores de decisões das mais de 190 nações que formam o Convênio sobre a Diversidade Biológica (CDB) ""intensifiquem seus esforços"" para proteger os ecossistemas, ""nos quais se baseiam a segurança alimentar, o acesso à água e a saúde de bilhões de pessoas"", indica um comunicado divulgado pela ONU. Durante as reuniões, que serão realizadas no balneário de Cancún até 17 de dezembro, serão avaliados estudos que demonstram que cerca de dois terços das metas estabelecidas em 2010 –chamadas de metas de Aichi– não serão alcançadas no prazo estimado de 2020. Isso ""terá graves repercussões para o bem-estar humano"", acrescenta a parte. A quatro anos do vencimento do prazo para melhorar as condições das florestas, dos oceanos, da água doce e das espécies silvestres, apenas 5% dos países poderão cumprir com os objetivos, informou a ONG ambientalista World Wildlife Fund (WWF). Em 2020 ""é possível que o mundo tenha sido testemunha de uma diminuição de dois terços na população da fauna mundial em apenas meio século"", segundo a WWF. Sir Robert Watson, presidente da plataforma intergovernamental científico-política, afirmou que a contínua perda de biodiversidade minará a capacidade de mitigar a pobreza e melhorar a saúde humana. HUMANIZAR A BIODIVERSIDADE E agora, ""o que nos fará crer que podemos acelerar o passo e alcançar as metas de Aichi? Porque o enfoque habitual das empresas não nos levará a isso"", disse à AFP Deon Nel, diretor global de conservação na WWF. Diante deste panorama, o México –como anfitrião– levará à mesa líderes dos setores agrícola, florestal, pesqueiro e turístico, que têm um impacto negativo sobre a biodiversidade, para que incorporem em suas políticas critérios de conservação e uso sustentável das espécies e recursos. ""Estamos humanizando a biodiversidade, não apenas é bonita e exótica e intocável, mas temos que geri-la de maneira responsável"", comentou o biólogo Hesiquio Benítez, da Comissão Nacional mexicana para o Conhecimento e Uso da Biodiversidade. Se isso funcionar, nas próximas reuniões serão convidados representantes de outros setores, como o energético, minerador e de transporte. Mas para Nel isso não será suficiente. A inclusão da biodiversidade ""deve partir do coração dos planos econômicos e financeiros (...) em um nível mais fundamental"", para posteriormente ir até os setores mais específicos, explicou.",ambiente
"2016 será o ano mais quente já registrado, prevê ONU","O mundo muito provavelmente voltará a bater o recorde de temperatura em 2016, com uma média de 1,2ºC a mais em relação ao nível da era pré-industrial, anunciou nesta segunda-feira (14) a OMM (Organização Meteorológica Mundial). ""Se isso for confirmado, o século 21 terá registrado 16 dos 17 anos mais quentes desde que tiveram início os registros"" de temperatura no mundo, no final do século 19, informou a OMM, subordinada à ONU. ""Tudo parece indicar que 2016 será o ano mais quente"" já registrado até agora, superando os dados do ano anterior, disse a organização em um comunicado durante a COP22 (Conferência da ONU sobre o Clima), que está sendo realizada em Marrakesh. A tendência de aquecimento aumentou em 2015 e 2016 devido ao El Niño, o fenômeno meteorológico que afeta o Pacífico, explicou a OMM. A cada cinco anos aproximadamente, o El Niño provoca um aumento das temperaturas, através de correntes de ar quente. Os índices relativos às mudanças climáticas também bateram recordes, alerta a instituição. O sinal mais evidente da aceleração do fenômeno é a concentração de gases de efeito estufa na atmosfera. A calota polar do Ártico encolheu até níveis desconhecidos, e regiões inteiras da Groenlândia sofrem longas épocas de degelo. ""Em algumas regiões árticas da Federação Russa, a temperatura foi entre 6ºC e 7ºC acima do normal"" destacou o secretário-geral da OMM, Petteri Taalas. ""E em muitas regiões árticas e subárticas da Rússia, Alasca e noroeste do Canadá, a temperatura ultrapassou o nível normal em ao menos 3ºC"", acrescentou o texto, que ressalta que ""até agora, os recordes de calor eram expressados em frações de grau"" centígrado. A única região continental onde a temperatura foi inferior à normal está situada na zona subtropical da América do Sul, no norte e centro da Argentina e em partes do Paraguai e da Bolívia.",ambiente
"Sobe para 70% chance de La Niña nos próximos meses, diz agência dos EUA","O Centro de Previsão do Clima dos EUA divulgou nesta quinta-feira (13) um novo relatório no qual estima em 70% as chances de formação do fenômeno La Niña durante o outono no hemisfério Norte. O órgão ressalta ainda que as condições estão ligeiramente favoráveis para que o fenômeno se prolongue até o inverno (55%). A ocorrência de La Niña deverá vir na sequência de um El Niño forte que se dissipou há poucos meses, depois de ter causado danos em lavouras ao redor do mundo, inclusive com prejuízos à produtividade no centro-oeste do Brasil. O La Niña geralmente é menos prejudicial que o El Niño, sendo caracterizado por temperaturas abaixo da média na superfície do oceano Pacífico equatorial. O La Niña tende a ocorrer a cada dois ou sete anos, de maneira imprevisível. Ocorrências fortes estão ligadas a secas e enchentes, dependendo da região do planeta. No Brasil, o La Niña é favorável às chuvas na região Nordeste e desfavorável no Sul nos meses de verão e outono, o que poderia colocar em risco produtividades das lavouras de grãos em importantes Estados produtores, como Paraná e Rio Grande do Sul. Em relatório recente, o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), vinculado ao Ministério da Agricultura, disse que a primavera no Brasil (outono do hemisfério Norte) deverá ser marcada por um fenômeno La Niña de intensidade fraca e de duração inferior a 12 meses.",ambiente
Paris sofre pior episódio de poluição invernal em uma década,"Paris está sofrendo o pior e mais prolongado episódio de poluição invernal dos últimos dez anos, indicou nesta quarta-feira (7) o organismo de vigilância de qualidade do ar na capital francesa, o Airparif. Este episódio se deve a um aumento da emissão de partículas causado pelo tráfego e pela calefação com lenha, e por persistentes condições meteorológicas –pouco vento, temperaturas contrastadas–, que favorecem que estes elementos permaneçam perto do chão, explicou a agência. A ""superação do nível de alerta por poluição com partículas"", ou seja, uma concentração superior a 80 microgramas/m3 de partículas finas no ar, ocorre há uma semana e se prolongará na quinta-feira (8), segundo Airparif. A quinta-feira, dia 1º de dezembro, foi o dia recorde de poluição, com concentrações máximas de 146 microgramas/m3. Pela quarta vez em 20 anos, as autoridades francesas impuseram na terça e nesta quarta-feira um dispositivo de rodízio em Paris e seus arredores, para tentar lutar contra a poluição. Os veículos com placas pares puderam circular na terça-feira, e os com placas ímpares nesta quarta, além dos automóveis com ao menos três ocupantes e os que têm alguma derrogação. Entre outras medidas adotadas em Paris e sua região figuram a gratuidade dos transportes públicos, limitações de velocidade nos grandes eixos viários e a proibição para os caminhões de transitar pela capital. A poluição também afetou na terça-feira (6) as cidades de Lyon (centro-leste), e as regiões próximas de Chambéry e Annecy. As partículas finas são especialmente nocivas para a saúde. Podem gerar câncer, asma, alergias ou doenças respiratórias ou cardiovasculares. O dióxido de nitrogênio, emitido sobretudo por motores a diesel, provoca asma e doenças pulmonares nas crianças.",ambiente
Queimadas ajudam a preservar diversidade de espécies no cerrado,"O único jeito de preservar a diversidade de espécies do cerrado, um dos biomas mais ricos e ameaçados do Brasil, é queimá-lo de vez em quando. Sem a presença intermitente do fogo, as plantas típicas desse ambiente correm o risco de sumir, dando lugar a uma formação florestal relativamente empobrecida, revela um estudo feito no interior paulista. De modo geral, as áreas de cerrado do município de Águas de Santa Bárbara (SP) que passaram três décadas sem serem tocadas pelas chamas devem ter perdido 27% de suas espécies vegetais e 35% de suas espécies de formigas (grupo muito diversificado, que serve como indicador da biodiversidade animal da região como um todo). Se a conta incluir somente os ""especialistas"" em cerrado, que vivem apenas nesse bioma, o cenário fica ainda mais desanimador: perda de 67% das plantas e 86% das formigas. ""A gente acabou de apresentar os resultados num congresso sobre restauração florestal, e todo mundo ficou espantado"", contou à Folha a pesquisadora Giselda Durigan, do Instituto Florestal (órgão do governo do Estado). Giselda e seus colegas (de instituições como Unesp, Unicamp, Universidade Federal de Uberlândia e Universidade da Carolina do Norte) também estão publicando os dados na edição desta semana da revista especializada ""Science Advances"". Em alguma medida, o problema detectado pela equipe seria esperado, visto que os vários tipos de vegetação que perfazem o cerrado parecem ter evoluído para se adaptar à ação dos incêndios naturais, provocados pela longa estação seca que caracteriza o bioma. De fato, diversas plantas desse ambiente precisam até de uma mãozinha do fogo para que suas sementes germinem. Outras, como os arbustos e as gramíneas, não conseguem crescer em áreas de vegetação mais fechada, e a queima periódica ajuda a manter o terreno livre para que prosperem. NA PRÁTICA Nas circunstâncias atuais, no entanto, as áreas que são reservas naturais tendem a adotar uma política restritiva de controle de incêndios, ao passo que os trechos de cerrado nas mãos de proprietários rurais, além de já muito degradadas e fragmentadas, não queimam como antigamente. Giselda e seus colegas usaram dois métodos para medir o impacto dessa transformação. Primeiro, estudaram a diversidade de espécies de plantas e formigas em 30 trechos diferentes de cerrado da Estação Ecológica de Santa Bárbara. Incluíram na análise tanto áreas em que o cerrado é naturalmente mais fechado, com presença razoável de árvores, quanto as que têm predomínio de campos mais abertos –e, o que é crucial, os trechos onde formações florestais surgiram faz pouco tempo, nas últimas décadas. A medição da diversidade de espécies atual foi comparada com imagens de satélite que ajudam a contar como era a região há 30 anos e como ela está hoje. É isso o que ajuda os pesquisadores a saber qual seria a distribuição de espécies típica do cerrado ""natural"" e, portanto, o quanto se perdeu com o aparecimento das novas matas. ""Em geral, essas áreas florestais novas são formadas por espécies muito generalistas. Em inglês, o pessoal usa até o termo 'tramp species' [espécies vagabundas]"", conta a pesquisadora. Nas condições atuais, explica Giselda, deixar que os incêndios naturais façam a diversidade de espécies do cerrado voltar ao normal não seria uma boa ideia por causa da fragmentação do ambiente, que poderia perder suas poucas áreas remanescentes se não houver controle. O ideal seria o manejo ativo do fogo nessas áreas. ""Temos um conhecimento tradicional que poderia ser empregado para ajudar nisso, como o do manejo de pastos, dos próprios canaviais, e o utilizado pelas populações indígenas há séculos."" - Entenda a importância do fogo para o cerrado FOGO DO BEM O cerrado é um bioma que combina áreas com mais espécies de árvores e vastos trechos de vegetação aberta, com biodiversidade única que depende da forte presença da luz solar e de incêndios naturais periódicos para que suas sementes germinem VIROU FLORESTA O manejo das reservas naturais do cerrado hoje, bem como alterações trazidas pela expansão agropecuária, tem impedido esses incêndios naturais. Numa área de cerrado do interior de SP, essa mudança fez com que áreas naturalmente abertas virassem floresta nos últimos 30 anos MENOS ESPÉCIES O resultado foi uma diminuição de cerca de 30% na diversidade de espécies de plantas e de formigas dessas áreas -provavelmente porque espécies únicas do cerrado já não conseguiam se estabelecer COM CUIDADO Para reverter essa perda, o recomendável é fazer a queima controlada dessas áreas abertas do bioma",ambiente
"Usado na medicina, pangolim é o mamífero mais traficado do mundo","O mamífero mais traficado em todo o mundo é um animal típico de regiões da África e da Ásia e pouco conhecido na América do Sul, embora tenha algumas características semelhantes às do tamanduá, comum em terras brasileiras. Algumas de suas peculiaridades, porém, fazem do pangolim um dos bichos mais visados por caçadores. Com o corpo coberto por escamas (feitas de queratina) e sem dentes –ele se alimenta principalmente de formigas e usa sua longa língua para capturá-las–, o animal virou alvo principalmente por ser utilizado na medicina tradicional (alternativa, baseada em crenças e teorias) de países como China e Vietnã. ""Os asiáticos usam as escamas dele com vários propósitos, que vão de tratamento de câncer até o de males mais simples, como inchaço e artrite"", explica Lisa Hyood, da organização Tikki Hywood Trust, baseada no Zimbábue, que resgata, reabilita e liberta pangolins. ""Alguns curandeiros tradicionais africanos também utilizam o pangolim, mas não no mesmo nível e na mesma quantidade que eles têm sido usados na Ásia."" Existem oito espécies do bicho, todas ameaçadas de extinção. Eles são animais de hábitos noturnos e solitários, que costumam se enrolar em torno do próprio corpo quando se sentem ameaçados. Estima-se que cerca de um milhão de pangolins foram caçados na última década. Por causa da alta procura pelo animal na Ásia, ele está praticamente extinto no continente –numa tentativa de suprir a demanda, os caçadores têm se voltado agora para a África. Uma conferência internacional que acontece nesta semana na África do Sul pode determinar o futuro do mamífero mais traficado no mundo. A deliberação da Cites (Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas de Fauna e Flora Selvagem), acordo entre governos com objetivo de garantir que a venda de espécies de animais e plantas selvagens não ameace a sua sobrevivência, pode tornar a caça a pangolins algo ilegal.",ambiente
Brasileiro identifica a árvore tropical mais alta do mundo,"O engenheiro florestal Matheus Nunes, 28, atravessou bambuzais, escalou montanhas e caminhou por áreas inóspitas da Malásia em busca do que poderia ser a árvore tropical mais alta do mundo. Depois de três horas, alguns hematomas e arranhões, ele encontrou dois exemplares do gênero Shorea, uma com 90,6 metros e a outra 89,5 metros. Ambas superam o recorde mundial de 2007, quando norte-americanos encontraram, numa outra região da Malásia, uma árvore de pouco mais de 88 metros –que, até a descoberta do pesquisador brasileiro, em agosto de 2015, era considerada a árvore mais alta dos trópicos. A genética de espécies desse gênero explica a elevada altura delas. Mas, segundo Nunes, ainda não se sabe o que contribuiu para que essa árvore ultrapassasse os 90 metros –o equivalente a um edifício de uns 30 andares. ""Um pouco de ciência básica, como análise das propriedades químicas e genéticas das folhas, serial essencial para mostrar as direções de quais fatores ambientais foram determinantes para levar estas árvores a essas dimensões"", observa o brasileiro, que é aluno de doutorado e integrante do grupo de Conservação e Ecologia Florestal na Universidade de Cambridge. O grupo é coordenado pelo professor David Coomes, o principal pesquisador responsável por coletar dados na Malásia usando uma espécie de ""radar laser"" que faz sensoriamento remoto. Ainda em 2014, o radar já havia identificado a possibilidade de existir novas árvores gigantes na Malásia. Em agosto de 2015, Nunes estava na Malásia para coletar dados para sua pesquisa, que investiga como as plantações de óleo vegetal afetam as florestas e contribuem para a emissão e absorção de carbono. Foi então escalado para conferir se as medidas inicialmente capturadas pelo radar eram precisas. Acompanhado do estudante de graduação Alex Shutleworth, também da Universidade de Cambridge, seguiram desbravando uma área ainda pouco explorada com ajuda de GPS. ""Não tínhamos nenhum guia local e decidimos explorar a área sozinhos. Andamos cerca de 3 horas até encontrar uma região com árvores com mais de 80 metros. Nessa hora eu senti que ali seria um passo para encontrar a árvore mais alta do mundo tropical"", conta o brasileiro. Após várias medidas, confirmou que as duas árvores batiam o recorde anterior. Além de atrair interesse público, a descoberta, segundo Nunes, é importante para assegurar a preservação de Maliau Basin, região onde as árvores foram encontradas. Ele acredita que esse novo recorde implicará em mais recursos para a Malásia, maior produtor de óleo vegetal do mundo. Para Nunes, sua descoberta mostra também a importância e precisão do sensor remoto usado para coletar dados na região. Essa tecnologia, segundo ele, essa é uma ferramenta amplamente usada para medir o conteúdo de carbono e diversidade de florestas, uma vez que é capaz mapear diferentes formas de terreno e capturar a altura das árvores.",ambiente
"Na Polônia, uma batalha pelo destino da última floresta primeva europeia","Em junho, cerca de 30 manifestantes de reuniram ao raiar do dia em Postolowo, uma aldeiazinha no nordeste da Polônia. No limiar de um bosque, eles se algemaram a uma motosserra vermelha capaz de abater até 200 árvores por dia, em protesto contra as operações madeireiras em larga escala na última floresta primeva da Europa. ""Isso é solo sagrado, e precisamos protegê-lo"", disse Klaudia Wojciechowicz, 41, uma artista que dirigiu por metade da noite para chegar a Postolowo. A floresta de Bialowieza, parte do Patrimônio Histórico Mundial da ONU, serve há mais de um ano como campo de batalha entre o governo conservador da Polônia e dezenas de cientistas e ativistas ambientais. As autoridades polonesas argumentam que a exploração da madeira protege a floresta contra uma infestação violenta de besouros que se alimentam de cascas de árvores. A indústria madeireira também é fonte importante de empregos para os moradores locais. ""Eles querem destruir a floresta"", disse Mariusz Agiejczyk, gerente assistente de administração florestal no distrito de Postolowo, que estava observando os manifestantes de longe, em meio à névoa do começo da manhã. Ele disse que a infestação já destruiu quatro mil hectares de árvores. ""Não fossem esses chamados ecologistas, poderíamos tê-las salvado."" Mas os manifestantes, com apoio dos ambientalistas, dizem que todas as operações invasivas na floresta primeva ameaçam seu ecossistema. Eles têm o apoio da União Europeia, cuja ala executiva alertou o governo polonês de que, se ele não detiver a exploração da madeira, será processado no Tribunal Europeu de Justiça, sob a acusação de violar as normas de proteção ambiental da união. A Organização de Educação Ciência e Cultura das Nações Unidas (Unesco) também os apoia. Na semana passada, em uma reunião na cidade polonesa de Cracóvia, os delegados aprovaram uma resolução que insta o governo polonês a suspender as operações de extração de madeira na floresta, especialmente nas áreas de árvores mais antigas. A Unesco também está estudando incluir a floresta em sua lista de Patrimônio Histórico sob Ameaça, um status usualmente reservado a terras e propriedades que estejam ameaçadas por conflitos militares e desastres naturais. ""Trata-se de um laboratório biológico único, no qual podemos observar como funcionavam os processos naturais 10 mil anos atrás"", disse Tomasz Wesolowski, biólogo florestal na Universidade de Wroclaw. ""Mexer em qualquer coisa no interior da floresta é uma barbaridade."" O protesto realizado em Postolowo foi apenas um em uma série de atos de desobediência civil organizados recentemente na área por ambientalistas, para bloquear a ação das madeireiras. ""Já tentamos tudo mais –negociar com o ministério, alertar instituições internacionais"", disse Katarzyna Jagiello, dirigente da Greenpeace polonesa. ""Chegou a hora de tomarmos medidas desesperadas."" A floresta de Bialowieza é parte das terras baixas europeias que servem como fronteira entre a Polônia e Belarus. Como relíquia das florestas do passado, ela abriga algumas das maiores e mais velhas árvores do continente, além de espécies raras ou extintas em outras áreas. Também abriga a maior colônia europeia de bisões. A biodiversidade da floresta é imensa e comparável à das selvas tropicais, disse Wesolowski, que há 43 anos visita a Bialowieza para trabalhos de campo, a cada primavera. Ainda assim, funcionários do governo polonês afirmam que a Bialowieza não é uma floresta dita virgem, ou seja, gerada espontaneamente com uma variedade de espécies, tamanhos e idades de árvores, e interferência humana mínima. ""Não há um único pedaço da floresta que não tenha sido tocado por mãos humanas"", disse Grzegorz Bielecki, um dos administradores da Bialowieza, em entrevista. Isso não importa, rebatem os ambientalistas. ""Não existe praticamente lugar algum no planeta que não mostre traços de atividade humana"", disse Jerzy Szwagrzyk, da Universidade de Agricultura de Cracóvia, especialista em ecologia e questões florestais. ""Mas isso de maneira alguma altera a importância dessa floresta. Não há outra como ela no continente."" Jan Szyszko, ávido caçador e antigo trabalhador no setor de exploração florestal que se tornou ministro do Meio Ambiente da Polônia, disse recentemente ao Legislativo do país que a Unesco havia classificado a floresta de Bialowieza ""ilegalmente"" como parte do Patrimônio Histórico da Humanidade, em 2014, e solicitou que os procuradores públicos poloneses estudassem essa classificação. Szyszko, que não respondeu a um pedido de entrevista, se queixou em uma mesa redonda organizada por uma organização noticiosa direitista que a floresta de Bialowieza se havia tornado ""uma espécie de carro-chefe para o movimento libertino de esquerda da Europa Ocidental"". Funcionários da organização florestal do governo polonês, que administra as florestas do país –todas elas propriedade do Estado– dizem que a infestação por besouros irrompeu em 2012, depois que o governo polonês anterior, de centro-direita, reduziu significativamente o volume de madeira que podia ser extraído das florestas. Como resultado, eles afirmam que mais de 10% de todos os abetos foram afetados. O governo triplicou o volume autorizado para extração de madeira, em 2016. Em fevereiro, revogou a proteção a grupos de árvores com mais de 100 anos de idade. De 2012 para cá, as madeireiras abateram mais de 180 mil árvores infectadas. Das árvores abatidas este ano, 25% tinham pelo menos 100 anos de idade. Szwagrzyk, da Universidade de Agricultura de Cracóvia, disse que porque a madeira só podia ser extraída de determinadas áreas da floresta –as reservas naturais e o parque nacional estão excluídos–, a infestação pode continuar a se espalhar, partindo dessas áreas protegidas, mesmo que as árvores infectadas na área aberta a exploração sejam abatidas. A complicada situação legal da floresta complica ainda mais os esforços para protegê-la. Polônia e Belarus vêm administrando suas parcelas da floresta em separado há décadas. Do lado polonês, há mais de 20 reservas naturais, um parque nacional e uma floresta comercial. Os limites de algumas das reservas são imprecisos, o que gera disputas sobre as áreas em que as madeireiras estão autorizadas a operar. A melhor solução, concordam os especialistas, seria fazer de toda a floresta um parque nacional, mas o governo da região torpedeou todos os esforços para que isso aconteça. O destino das árvores que já foram mortas pelos besouros é outra questão em disputa. As madeireiras dizem que a madeira precisa ser cortada por motivos de segurança. Mas os ecologistas dizem que madeira em decomposição é um ingrediente indispensável para bosques primevos. Cerca de 40% dos organismos que vivem neles, incluindo insetos, fungos e pássaros, dependem criticamente de árvores mortas ou moribundas. Eles afirmam que a direção das florestas estatais polonesas está promovendo o corte de árvores mortas porque precisa do dinheiro. A instituição tem a obrigação legal de ser financeiramente autossuficiente, e quase 90% de sua receita –sete bilhões de zloty poloneses (quase US$ 2 bilhões)– veio da venda de madeira, em 2015. O escritório distrital de administração florestal disse não manter registros sobre a remoção de árvores mortas, mas Bielecki, um dos administradores distritais, classifica as acusações como ""profundamente injustas"". Enquanto o destino da floresta é debatido, Wesolowski, o biólogo, alerta que certas coisas não poderão ser desfeitas. ""Não é possível restaurar uma floresta primeva"", ele disse. ""Se pudéssemos já o teríamos feito, em algum lugar perto de Berlim ou Londres. Nossa floresta de Bialowieza é única e nós, como idiotas, estamos tentando destrui-la."" Tradução de PAULO MIGLIACCI",ambiente
"No Alasca, geleiras escancaram impacto de mudanças climáticas","Três meses antes de assinar o Acordo de Paris, em 2015, o então presidente Barack Obama posou para as câmeras diante da geleira Exit, num parque nacional em Seward, no Alasca, para falar sobre a importância de combater o aquecimento global. ""Queremos ter certeza de que nossos netos vejam isso"", disse. Em 2015, a geleira, que fica sobre uma montanha, já havia retrocedido dois quilômetros desde 1815. Só no último ano, havia diminuído 41 metros em sua extensão. O Alasca foi escolhido por Obama para o seu esforço final antes da Conferência do Clima de Paris justamente por ser o Estado americano em que os impactos do aquecimento do planeta são mais perceptíveis. Quatro meses depois de assumir o poder, Donald Trump retiraria os EUA do acordo global. ""Aqui o efeito é bastante visual: você vê a retração das geleiras, a degradação do permafrost [área de solo que fica congelada permanentemente]. É difícil lutar contra o argumento de que antes a geleira estava ali e agora não está mais"", diz Martin Truffer, físico especialista em geleiras da Universidade do Alasca em Fairbanks. Espalhadas pelo parque, que foi visitado pela reportagem, há placas com anos, mostrando toda a extensa área que era ocupada pela geleira Exit naquela época. A marcação assustadoramente começa onde hoje é a estrada de acesso ao parque. A retração não é exclusividade do parque em Seward, no centro-sul do Alasca. Segundo o Serviço Nacional de Parques, das mais de 100 mil geleiras do Estado, 95% estão atualmente diminuindo de tamanho ou estagnadas. Dados da agência federal de pesquisa geológica dos EUA (USGS), mostram que as geleiras do Alasca perdem hoje 75 bilhões de toneladas de gelo por ano –um quadro muito mais acelerado que na década de 50. Truffer explica que, no caso da maioria das geleiras do Alasca, que estão sobre as montanhas, a única justificativa para a retração é o aquecimento global. ""As geleiras em oceanos têm sua própria dinâmica, que as faz retroceder e expandir. Mas nas geleiras mais simples, como as do Alasca, o que importa é o quanto elas recebem de neve e o quanto derretem, coisas que são influenciadas pela temperatura."" Segundo o especialista, há variações sazonais, e portanto uma possível expansão das geleiras no inverno, mas a mudança é quase imperceptível ao olhar. Estudos recentes mostram o impacto das mudanças climáticas além das geleiras. Pesquisadores da Universidade Harvard publicaram levantamento neste ano que revela que as emissões de gás carbônico pela tundra na encosta norte do Alasca cresceu 70% entre os meses de outubro e dezembro, desde os anos 70. A tundra é a vegetação que fica sob o gelo nas áreas de permafrost. Com as temperaturas mais altas, uma maior parte dessas áreas tem descongelado e demorado mais para congelar novamente no fim do outono. Sua exposição maior permite a respiração das plantas e decomposição orgânica, que liberam CO2. Outro impacto é visto em vilas litorâneas do Alasca. Segundo o governo, pelo menos 31 delas –geralmente ocupadas por comunidades nativas– estão sob risco de inundações ou erosões por conta do aumento no nível do mar. Truffer observa que o derretimento das geleiras do Alasca tem impacto direto sobre os ecossistemas e a rede hidrográfica locais, mas não influencia no aumento do nível do mar. ""Perto das geleiras, o nível do mar, na verdade, está baixando. E a razão é porque o gelo 'afunda' a terra, e quando ele vai embora, essa terra se eleva novamente"", diz. O especialista admite que, apesar de o Alasca apresentar mudanças mais ""óbvias"", o impacto econômico é muito maior com o aumento do nível do mar na Flórida. ""Mas talvez não impacte tanto as pessoas no Alasca porque também não temos tanta gente assim"", diz Truffer, rindo. - Como as mudanças climáticas têm impactado o Estado mais ao norte dos EUA GELEIRAS 2 km foi o que a geleira Exit retrocedeu desde 1815; só entre 2015 e 2016, foram 41 metros PERMAFROST INUNDAÇÕES E EROSÕES",ambiente
Ministro recua e diz não ter prazo para nova lei que reduz proteção de floresta,"Em recuo, o ministro do Meio Ambiente, Zequinha Sarney, afirmou nesta quinta-feira (22) que o governo não tem prazo para apresentar um novo projeto de lei que reduz a proteção de parte da Floresta Nacional (Flona) do Jamanxim, no sudoeste do Pará. O ministro afirmou também que o Congresso ""desvirtuou"" a Medida Provisória 756 ao aumentar de 305 mil hectares para 486 mil a área da Flona que seria transformada APA (Área de Proteção Ambiental), medida que abre caminho para a legalização de grileiros e posseiros ao permitir propriedades privadas e atividades rurais. As MP 756 e 758, que transformava em APA 101 mil hectares do Parque Nacional do Jamanxim, foram vetadas nesta segunda-feira (19) pelo presidente Michel Temer. Em vídeo divulgado no fim de semana, Sarney havia afirmado que o projeto de lei seria apresentado ""em urgência constitucional"" para ser votado no plenário da Câmara ainda nesta semana. No mesmo vídeo, o senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA) afirmou que o projeto de lei do governo usaria a área de 486 mil hectares aprovado no Congresso. Sarney parece concordar balançando a cabeça e não corrige a declaração. veja vídeo Questionado nesta quinta (22) pela Folha sobre esse trecho, o ministro disse que ""aí, você já quer forçar a barra"". Sarney afirmou que a definição do tamanho da APA ainda depende de um parecer técnico do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), responsável pela gestão de unidades de conservação. ""O que há de concreto é que não há nada. O resto é especulação"", disse. MAIA Nesta quarta-feira (21), a Folha revelou, a partir de fonte do alto escalão da área ambiental do governo que participa das negociações, que o Planalto planejava apresentar, nesta sexta (23), projeto de lei por meio do presidente em exercício, Rodrigo Maia (DEM-RJ). A manobra evitaria desgaste político para Temer e estaria dentro do prazo inicialmente estabelecido por Sarney. Em carta à Folha, a assessoria de imprensa de Maia informou que ele ""nunca tratou da possibilidade de apresentar um projeto de lei com esse teor nem de qualquer alternativa nesse sentido. ""Maia entende que se trata de um assunto grave, de competência exclusiva do Executivo, e repudia o tratamento inconsequente dado pelo jornalista Fabiano Maisonnave, que em nenhum momento entrou em contato com o parlamentar ou com sua assessoria. ""O presidente solicita a imediata correção da reportagem, no jornal impresso e no site, que causou bastante transtorno ao ser replicada por outros veículos."" A reportagem mantém a apuração, reforçada pelo fato de que o governo federal havia prometido apresentar o projeto ainda nesta semana, pese a ausência de Temer do país. O repórter FABIANO MAISONNAVE viajou a convite da Interfaith Initiative, liderada pela Rainforest Foundation da Noruega.",ambiente
Governo Temer foge de atritos e revoga decreto que extinguia a Renca,"Sob críticas de entidades ambientais, o presidente Michel Temer (PMDB) decidiu revogar o decreto que extinguiu a reserva na região amazônica conhecida como Renca (Reserva Nacional do Cobre Associados). A informação foi confirmada pelo Ministério de Minas e Energia, por meio de nota, no início da noite desta segunda-feira (25). O texto defende que ""o debate em torno do assunto deve ser retomado em outra oportunidade"" e deve ocorrer ""da forma mais democrática possível"". ""As razões que levaram a propor a adoção do decreto com a extinção da reserva permanecem presentes. O país necessita crescer e gerar empregos, atrair investimentos para o setor mineral, inclusive para explorar o potencial econômico da região"", diz a nota do ministério. Nesta terça-feira (26), será publicado novo decreto no Diário Oficial da União, que revoga as iniciativas de Temer e restabelece as regras que vigoram desde 1984. Esse será o terceiro decreto do peemedebista sobre o mesmo tema desde que ele decidiu abrir a região para investimentos privados na área de mineração, em agosto. A decisão de revogar o decreto foi tomada no final de semana. O presidente tratou do tema com o ministro Fernando Coelho Filho (Minas e Energia) e consultou a base aliada sobre o impacto político de extinguir a reserva. O presidente do Senado Federal, Eunício Oliveira (PMDB-CE), foi um dos consultados que se manifestou contra a manutenção da extinção da reserva. ""Estou muito feliz e recompensado com a decisão do presidente Michel Temer em revogar o decreto que extinguia a Reserva Nacional do Cobre e Associados (Renca), uma área com mais de 4 milhões de hectares, na divisa entre o Amapá e o Pará"", escreveu Eunício na internet. ""O presidente mostrou sensibilidade política, administrativa, além de responsabilidade com o meio ambiente"", afirmou Oliveira. A avaliação do Planalto foi que o tema criaria um desgaste desnecessário junto à opinião pública e à classe artística no momento em que ele tenta barrar nova denúncia, desta vez por obstrução judicial e organização criminosa. Em nota nesta segunda (25), o Greenpeace afirmou que ""não há governante absolutamente imune à pressão pública"". Segundo a entidade, o recuo é ""uma vitória da sociedade sobre aqueles que querem destruir e vender a floresta"". RECUOS O primeiro decreto extinguiu a Renca, que possui reservas minerais de ouro, ferro e cobre. Ela foi criada em 1984, durante o regime militar. O primeiro recuo do presidente foi ainda em agosto, quando apresentou um novo decreto sobre o tema, menos de uma semana depois de tê-la proposto, com mais detalhes da medida. Depois, em mais um recuo, o MME (Ministério de Minas e Energia) informou que paralisou todos ""procedimentos relativos a eventuais direitos minerários"" na área da Renca. A extinção representou, inicialmente, a vitória do MME em uma queda de braço com o Ministério de Meio Ambiente. Uma nota técnica de junho sobre a reserva na Amazônia –mais de um mês antes da publicação do decreto de Temer–, mostra que o Meio Ambiente se posicionou contra a extinção da reserva. A pasta afirmou que a ""área é composta por uma floresta densa e exuberante, cujo entorno também está bem preservado."" Nesse período, houve ainda uma série de decisões judiciais contrárias ao governo em várias regiões do país. Em nota, o Ministério de Minas e Energia disse ainda que reafirma o seu compromisso e de todo o governo com a preservação do ambiente e também com as salvaguardas previstas na legislação de proteção e preservação ambiental. ARTISTAS Além de ambientalistas, houve forte pressão de artistas para que o governo federal voltasse atrás na decisão de extinguir a Renca. Uma grupo foi no último dia 12 a Brasília pressionar a Presidência da República, então exercida interinamente por Rodrigo Maia, pela revogação do decreto. No grupo estavam os atores Susana Vieira, Luiz Fernando Guimarães, Victor Fasano, Alessandra Negrini, Christiane Torloni, Arlete Salles e Maria Paula, os cantores Maria Gadú, Rappin' Hood e Tico Santa Cruz e a atriz e produtora Paula Lavigne. Outra famosa que fez pressão, especialmente via redes sociais, foi Gisele Bündchen, que, à época do primeiro decreto, escreveu: ""VERGONHA! Estão leiloando nossa Amazônia! Não podemos destruir nossas áreas protegidas em prol de interesses privados."" Tweet de Gisele - NOME Reserva Nacional de Cobre e seus Associados (Renca) ÁREA 46.450 km², entre o Amapá e o Pará ANO DE CRIAÇÃO 1984 COMPOSIÇÃO A área da reserva mineral se sobrepõe a outras áreas de proteção e terras indígenas OBJETIVO DA RESERVA Segundo o Ministério de Minas e Energia, evitar o desabastecimento de recursos minerais estratégicos para o país, como ouro, platina, cobre, ferro, manganês e níquel EXPLORAÇÃO É bloqueada para investidores privados; até então não aconteceram parcerias com o governo devido ao alto custo operacional RISCOS DA EXTINÇÃO Pressão sobre terras indígenas e unidades de conservação; nova corrida pelo ouro; desmatamento e ameaça à biodiversidade HISTÓRICO MINERAÇÃO O setor corresponde a 4% do PIB brasileiro e a produção em 2016 foi de US$ 25 bilhões Assista ao vídeo",ambiente
Ministro afirma que desmatamento na Amazônia está em queda neste ano,"O ministro do Meio Ambiente, Sarney Filho, afirmou nesta terça-feira (21) que dados preliminares apontam queda nos índices de desmatamento na Amazônia em 2017. Após quase uma década de queda, os índices começaram a subir , principalmente a partir de 2015. No ano passado, foram quase 8.000 quilômetros quadrados desmatados na região. ""Dados preliminares, não oficiais ainda, indicam que neste ano já houve reversão da curva do desmatamento para trajetória descendente"", afirmou o ministro em seu discurso na abertura do Aliança Pelas Florestas Tropicais 2020 (TFA 2020), um evento do Fórum Econômico Mundial. O TFA 2020, criado em 2012 durante a Rio+20, é uma aliança global de governos, organizações e empresas para produzir commodities florestais sem desmatar as florestas tropicais. O evento desse organização traz ao Brasil ministros do setor de vários países como Noruega, Congo e Colômbia, além de técnicos e governantes locais. O ministro Sarney Filho atribuiu o aumento do desmatamento ao enfraquecimento dos órgãos de fiscalização, citando o Ibama e o ICM-Bio (Instituto Chico Mendes), dizendo que a crise política e econômica do país nos últimos dois anos enfraqueceu o orçamento deles. Segundo ele, ao chegar aos ministério em 2016, encontrou um quadro de funcionamento precário desses órgãos e que, a partir do meio do ano, as liberações de verbas voltaram a ocorrer e foi possível terminar o 2016 sem contingenciar recursos do orçamento. EM PÉ De acordo com Sarney Filho, a fiscalização é essencial para evitar a perda da área florestal na região, mas não é instrumento suficiente para manter ""a floresta de pé"". ""Comando e controle são importantes. Não fosse isso, não teríamos tido a redução. Mas não é a solução definitiva. A vertente mais importante é a da sustentabilidade. É preciso que se valorize a floreta em pé"", disse Filho. Para aumentar a conservação da Amazônia, o ministro citou as concessões de áreas florestais que, segundo ele, estão crescendo 18% em relação ao governo anterior devido à maior segurança jurídica sobre o tema. Ele afirmou que a ideia agora é estimular concessões de menor porte para atingir mais pessoas. Para isso, Sarney Filho afirmou que é essencial o funcionamento de dois sistemas de informação desenvolvidos pelo ministério, o Cadastro Ambiental Rural (CAR) e o Sinaflor. O primeiro reúne as informações sobre todos os imóveis rurais do país e o segundo faz o monitoramento da produção florestal (principalmente madeira), desde o plantio até a exportação ou industrialização. Segundo o ministro, o uso desses dois instrumentos vai capacitar o ministério a melhorar o gerenciamento das florestas para que o país possa cumprir seus compromissos internacionais de conservação. ""O ministério tem interesse em acompanhar os trabalhos da TFA 2020, que são coincidentes com nossas prioridades e diretrizes para diminuir o desmatamento"", disse Filho. O italiano Marco Albani, diretor do TFA 2020, agradeceu à liderança do país em relação ao combate ao desmatamento, lembrando que o Brasil pode ter uma fantástica colaboração com os esforços da Aliança para a redução do desmatamento no mundo.",ambiente
Cientistas tentam descobrir se elevou frequência de ressacas no Brasil,"Morar pertinho da praia pode ter inconvenientes bem piores do que a ferrugem nos móveis e eletrodomésticos, efeito da maresia. Volta e meia o mar se revolta e invade quiosques e avenidas com suas ondas, causando estragos consideráveis como os vistos recentemente no litoral do Sul e do Sudeste. Ainda faltam métodos confiáveis de previsão das ressacas e dados que confirmem se elas estão ocorrendo com maior frequência. Por isso mesmo, o fenômeno oceano-meteorológico tem ganhado mais atenção e protagonismo nas discussões e pesquisas climáticas, numa tentativa de compreendê-lo melhor. ""Há uma crescente percepção nas últimas duas décadas de que as ressacas são um problema"", afirma o climatologista José Marengo, do Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais (Cemaden). O problema é que não há um registro histórico detalhado nem muita informação a respeito das ressacas no litoral brasileiro, segundo Roberto Fontes, professor da Unesp de São Vicente. Daí a dificuldade em dizer se os fenômenos aumentaram em número e intensidade nos últimos anos –seja por causa do aquecimento global ou outras mudanças climáticas. Como se forma a ressaca Uma estatística curiosa é o registro de que, entre eventos chamados de popularmente de ""maré alta"" e ressacas, 73% dos fenômenos se concentram na década de 2000, de acordo com uma pesquisa de 2008 baseada em acervos de jornais e em bancos de dados de desastres da cidade de Santos, no litoral de São Paulo. em 88 anos observados Apesar de não existir uma capacidade observacional tão detalhada do clima para saber exatamente o que está acontecendo, para o estudioso do clima e professor da USP Paulo Artaxo o risco é claro. ""Todos os modelos climáticos apontam claramente para um aumento contínuo nas ressacas e no nível do mar, que subiu 25 cm nos últimos cem anos."" Para o físico e professor da USP Belmiro Castro, porém, é prematuro dizer que as mudanças climáticas estão causando um aumento na ressaca. Dentro do complexo sistema climático, o aquecimento global poderia até arrefecer as ressacas, caso reduzisse a intensidade das frentes frias, por exemplo. BARREIRAS Se há dúvidas com relação ao aumento da frequência de ressacas, fica a certeza de que as cidades têm de estar preparadas para o pior. Artaxo afirma que não há nenhuma perspectiva de diminuição dos eventos climáticos extremos. Pelo contrário. Em Santos, uma pesquisa recente apontou que a população em áreas de risco rejeita fortemente a ideia de ser realocada para uma área mais segura. As opções que restam são a criação de barreiras e o ""engordamento"" da praia, ""empurrando"" o mar para mais além de onde fica. Outra medida importante é a dragagem, que retira dejetos do fundo do estuário, aumentando a profundidade e dificultando que, em eventos extremos, o mar avance tanto. A previsão é que ele suba pelo menos 18 centímetros até 2050 em Santos. Estima-se que, com um investimento de menos de R$ 300 milhões, seja possível reverter mais de R$ 1 bilhão em prejuízos. Como 44% da população mundial vive em regiões costeiras, a pesquisa do impacto de eventos climáticos extremos e dos cenários de adaptação ganha cada vez mais relevância. ORIGEM A aparente indisciplina oceânica é produto da combinação de dois fatores: a presença de ventos fortes e da altura da maré –fenômeno determinado astronomicamente pelas posições relativas do Sol, da Lua e da Terra. Os maiores efeitos (ou seja, maiores amplitudes de marés altas) acontecem quando os três astros formam uma linha reta, maximizando a ação da força gravitacional, que move as águas. Isso acontece nas fases de lua nova e de lua cheia. Descontando os efeitos meteorológicos, a variação da altura do nível do mar é o que o cientistas chamam de um fenômeno determinístico, ou seja, é possível saber com certeza qual será a altura da maré a cada instante. A preamar (pico da maré alta) e a baixamar (menor nível da maré baixa) se alternam em intervalos de um pouco mais de seis horas. A pior ressaca possível aparece principalmente quando há coincidência de ventos fortes, causados por frentes frias, com as marés cheias. Para prever as ressacas, o difícil é saber quando a ventania virá. As massas geladas de ar que vão provar ressacas nas regiões Sul e Sudeste do Brasil se formam na Antártida, ao sul. Ao passarem próximos à costa com grande intensidade –fenômeno que recebe o nome de ciclone extratropical–, os ventos provocam a ressaca. Quando os ventos vêm do norte, o efeito geralmente é oposto, diminuindo o nível do mar na costa, explica Castro. Não dá para afirmar ao certo quando um ciclone desses passará próximo à nossa costa e quão intensa será a força desses ventos. O que se sabe é que o período de maior incidência é em torno do inverno. A previsão só funciona bem quando o evento já está bem perto de acontecer, relata Castro, que coordena um laboratório que estuda o tema. Um dos resultados da pesquisa é um mapa de risco que consegue prever, com confiabilidade maior que 80%, uma ressaca com até dois dias de antecedência. A meta, diz Castro, é chegar a uma previsão confiável com cinco dias de antecedência. Por ora, as previsões para o Estado de São Paulo podem ser acompanhadas no site do projeto.",ambiente
Como tubarões estão ajudando as Filipinas a se recuperar de um tufão,"Há três anos, o tufão Haiyan atingia as Filipinas e causava o maior número de mortos da história do país em um único evento. Com quase 600 quilômetros de extensão, a massa entrou pelo leste, destruindo as pitorescas ilhas do arquipélago antes de chegar ao Vietnã e o Laos. Os ventos de mais de 300 km/h derrubaram árvores, ruíram construções e varreram carros para longe. Em 48 horas, mais de um milhão de casas foram destruídas e mais de 6 mil pessoas morreram. A ilha de Malapascua, que ficava bem na rota do Haiyan, foi particularmente atingida. Para muitos, parecia que esse pequeno paraíso, antes tão popular entre turistas, jamais se recuperaria. Mas Malapascua contou com aliados poderosos e acima de qualquer suspeita: seus tubarões. ESPETÁCULO PARA MERGULHADORES A espécie mais abundante na ilha é o tubarão-debulhador (Alopias pelagicus), um dos membros do gênero conhecido por possuir uma cauda fina e longa que eles usam para chicotear a água e, assim, assustar e paralisar suas presas. Um adulto pode chegar a 3 metros de comprimento, o que não é muito em se tratando de tubarões. Assim como as outras duas espécies do gênero, o debulhador é altamente migratório e pode ser encontrado tanto em águas profundas quanto no litoral. Esse tubarão tem apenas dois filhotes por ano e só chega à maturidade sexual por volta dos 8 anos de idade, o que o coloca entre as espécies mais ameaçadas de extinção em todo o mundo. Diariamente, os animais de Malapascua se dirigem ao banco de areia de Monad, na costa da ilha. Segundo Alessandro Ponzo, diretor-executivo da divisão filipina do Projeto de Grandes Vertebrados Marinhos, isso acontece porque eles precisam se livrar de parasitas em sua pele. ""Para isso, logo de manhã eles vêm perto da praia para deixar que pequenos peixes removam esses parasitas"", explica. Além disso, o banco de areia está cercado de águas profundas cheias de sardinhas, oferecendo aos tubarões a chance de caçar e se alimentar. Desde 1999, mergulhadores de todo o mundo têm visitado a região para admirar essa maravilha natural. Todas as manhãs, eles aguardam pelos debulhadores a uma profundidade de 20 metros. ""Não precisamos de jaulas ou iscas para que os mergulhadores aproveitem essa atração de perto"", conta Anna Oposa, cofundadora da ONG Save Philippine Seas. Por tudo isso, os tubarões têm sido fundamentais na recuperação de Malapascua desde a passagem do Haiyan. ""Como os tubarões não foram atingidos pela tragédia, o turismo de mergulho já estava de pé duas semanas depois do tufão, e isso ajudou a trazer dinheiro para a ilha"", diz. Graças ao ecoturismo, Malapascua praticamente já reergueu suas casas, escolas e agências de mergulho. MUDANÇA DE MENTALIDADE Os moradores reconhecem o papel fundamental dos tubarões na manutenção da economia local. ""Eles oferecem muitas oportunidades de trabalho para nós"", diz Bryan Barcenas, dono de uma loja de souvenires que vende esculturas artesanais de tubarões. ""Depois que os turistas mergulham, eles vêm aqui e compram meus objetos. Para mim, esses tubarões são um presente para Malapascua."" O ex-pescador Renato Reuyan também refez sua vida com o negócio em torno dos tubarões. Antes do tufão, ele caçava os animais para abastecer o movimentado mercado de barbatanas da Ásia. Depois da tragédia, decidiu se dedicar à proteção deles. ""Antes, os tubarões não significavam nada para nós - em uma noite de caçada, eu conseguia pegar de cinco a dez deles"", conta. ""Agora me tornei um guia de mergulho. Sei que ter mais tubarões significa ter mais mergulhadores, e, assim, mais dinheiro."" COMÉRCIO ILEGAL Mas apesar do entusiasmo dos habitantes de Malapascua, o turismo em torno dos tubarões-debulhadores ainda enfrenta grandes desafios nas Filipinas. ""A pesca ilegal e comercial desses animais está tirando as oportunidades do turismo em todo o país"", afirma Oposa. As barbatanas dessa espécie representam 2,3% de todas as barbatanas comercializadas anualmente em Hong Kong, o maior mercado do mundo para esse produto, segundo um estudo de 2006 publicado na revista ""Conservation Biology"". Isso significa que milhões de debulhadores são mortos a cada ano. ""Tubarões de todas as espécies estão enfrentando uma crise de mortalidade global, com cerca de 100 milhões mortos a cada ano"", afirma Luke Warwick, diretor de preservação de tubarões na organização Pew Charitable Trust. ""O debulhador é um caso particularmente preocupante, porque podem levar mais de dez anos para amadurecerem e começarem a se reproduzir, e só têm um ou dois filhotes por ano. Com o declínio insustentável que atinge 70% de seus habitats, essa espécie está destinada à extinção.""",ambiente
Habeas corpus de primata é fruto de décadas de articulação política,"A decisão judicial em favor da fêmea de chimpanzé Cecilia é fruto de décadas de articulação política internacional. Em última instância, o objetivo dessa aliança entre primatologistas, filósofos, advogados e ativistas é que as nações da Terra adotem uma espécie de ""Declaração Universal dos Direitos Não Humanos"", segundo a qual os parentes mais próximos do Homo sapiens (e talvez outros animais também) deixem de ser classificados legalmente como coisas e passem a ser vistos como pessoas. O primeiro grande marco desse plano veio em 1993, com a criação do GAP (sigla inglesa de ""Projeto Grandes Macacos""). Capitaneado pelo filósofo australiano Peter Singer e por sua colega italiana Paola Cavalieri, o GAP recebeu ainda a adesão da mais célebre especialista em chimpanzés do mundo, a britânica Jane Goodall, e de um conterrâneo ainda mais famoso dela, o biólogo Richard Dawkins. O braço brasileiro do GAP é responsável pelo santuário de Sorocaba para onde Cecilia ""se mudou"". Lançando mão de décadas de descobertas científicas de peso sobre os grandes macacos, os membros do GAP e de outros grupos ativistas argumentam que chimpanzés, orangotangos e gorilas possuem várias das características mentais tradicionalmente usadas para descrever a ""pessoalidade"" supostamente única dos seres humanos. Entre esses atributos estão a consciência de si próprio (associada à capacidade de se reconhecer no espelho, coisa muito rara no resto do reino animal), o planejamento de ações futuras e a complexidade cultural e social. A consequência lógica do reconhecimento dessas características nos bichos seria conceder a eles ao menos alguns direitos básicos: o direito à vida, o direito à liberdade e o direito de não ter sua integridade física violada. Na prática, tribunais e órgãos governamentais de ao menos alguns países desenvolvidos têm concordado, em parte, com esses princípios. Em novembro de 2015, por exemplo, os NIH (Institutos Nacionais de Saúde), principal coordenador da pesquisa biomédica nos EUA, anunciou que não apoiaria mais estudos com chimpanzés e afirmou que os membros de seu plantel da espécie seriam progressivamente ""aposentados"". Países como a Nova Zelândia, a Áustria e a Holanda já tinham seguido o mesmo caminho a partir do fim dos anos 1990. Concessões de habeas corpus –ou seja, a garantia de liberdade diante de uma prisão considerada ilegal– são bem mais raras porque dão a entender que o primata seria um indivíduo com status legal semelhante ao de um humano, o que nenhuma legislação do planeta chegou a determinar com todas as letras. A Argentina tem sido pioneira nesse ponto: em 2014, a fêmea de orangotango Sandra foi beneficiada por uma decisão judicial muito semelhante à que se refere a Cecilia. Nos EUA, por outro lado, diversas ações tentaram obter habeas corpus para os chimpanzés Tommy e Kiko desde 2015, sem sucesso por enquanto. Os grandes macacos são o alvo mais frequente dessas iniciativas, mas outros animais inteligentes e de vida social complexa, como elefantes, baleias e golfinhos, têm sido colocados em patamar muito semelhante pelos especialistas. O fluxo constante de novas descobertas sobre a inteligência animal tem tudo para ampliar cada vez mais essa lista.",ambiente
"'Problemas de relacionamento' matam ambientalistas, diz ministro da Agricultura","O ministro da Agricultura, Blairo Maggi (PP-MT), tornou-se o centro das atenções da delegação brasileira desde que chegou na Conferência da ONU sobre o Clima (COP22), na última terça (15). Em sua sequência de declarações que desagradou entidades ligadas ao clima, o ministro afirmou que ""a agricultura brasileira é a mais sustentável do mundo, todos os rios são protegidos por uma legislação. Mas, mais que a legislação, são protegidos pela consciência dos produtores brasileiros"". Em outra ocasião, questionou quem iria pagar a conta da proteção ambiental nas propriedades rurais brasileiras –estimadas em US$ 40 bilhões. As mudanças vão desde controle do desmatamento até troca de fertilizantes. Mas a afirmação que mais gerou repercussão foi a que atribuiu assassinatos de ambientalistas e mortes em conflitos de terra a ""problemas de relacionamento"". ""Quando você vai no cerne da questão, vai ver que tem problema de relacionamento de pessoas de determinados lugares e que não podem ser computados nesta questão"", disse ele na quarta (16). A resposta das organizações brasileiras que acompanham a COP aconteceu nesta quinta (17). Em carta lida em evento da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura e entregue ao ministro no final do dia, o secretário-executivo do Observatório do Clima, Carlos Rittl, relembrou e respondeu cada uma das frases. Rittl disse que o Cadastro Ambiental Rural, instrumento previsto no novo Código Florestal, ainda não está funcionando para monitorar a ""consciência"" dos produtores. A carta ainda afirma que para haver o dinheiro necessário à agropecuária de baixo carbono, ""bastaria que os produtores rurais pagassem suas dívidas"" com o Plano Safra, que em 2016 destinou R$ 202 bilhões ao financiamento do setor, cuja inadimplência histórica média é de cerca de 5%. Sobre a declaração de Maggi a respeito de mortes no campo, a carta cita dados da ONG Global Witness de que um terço das 150 mortes de ambientalistas em 2016 aconteceram no Brasil, a maioria delas na Amazônia. ""Olha que boa notícia, 150 mortes, morreram 50 ambientalistas a menos; ontem não falavam em 200?"", respondeu o ministro, que convidou o Observatório do Clima a debater as questões em seu gabinete na volta ao Brasil, mas não fez ressalvas sobre suas declarações. Para Rittl, ""afirmar que esses óbitos se devem a 'problemas de relacionamento' pode ser comparado ao negacionismo climático expresso pelo presidente eleito dos EUA, como quando disse que o aquecimento global é invenção dos chineses para tornar a indústria do EUA menos competitiva."" Sobre os US$ 40 bilhões para as mudanças na agricultura, o ministro foi lembrado pela reportagem que as metas brasileiras do Acordo de Paris são ""incondicionais"". ""Não contem com [a verba do] Ministério da Agricultura"", respondeu. No mesmo evento, Maggi levou um puxão de orelha da diretora de agricultura do Banco Mundial, Ethel Sennhauser. ""A partir de 2020, a transição no setor energético para tecnologias de baixo carbono fará com que o setor da agricultura seja apontado como o maior contribuinte para as mudanças climáticas"", apontou Sennhauser. PRESENTE Para os ambientalistas, as afirmações de Maggi, que também é um dos maiores produtores de soja do mundo, formam um conjunto de ""pérolas"". Para simbolizar a indignação com que receberam as declarações do ministro, jovens brasileiros da ONG Engajamundo entregaram a ele um colar de pérolas no fim da conferência. Questionado sobre o presente, Maggi respondeu que não entendeu o porquê da brincadeira, mas que repassaria o colar para sua filha.",ambiente
"Tenha menos filhos para conter mudança do clima, diz estudo","Esqueça a reciclagem ou o uso de lâmpadas mais eficientes: se você deseja dar uma contribuição pessoal significativa para a luta contra as mudanças climáticas, o negócio é ter menos filhos, não andar de carro nem de avião e abolir a carne do cardápio. A receita parece radical e, de certa maneira, a ideia era essa. Os pesquisadores Seth Wynes, da Universidade da Colúmbia Britânica, no Canadá, e Kimberly Nicholas, da Universidade Lund, na Suécia, costumavam ver com ceticismo os conselhos moderados a respeito das ações individuais que poderiam ajudar a humanidade a enfrentar o aquecimento global. Decidiram, então, colocar na balança as possíveis atitudes de cada cidadão em relação ao problema e ver quais teriam mais impacto real. Os resultados foram publicados na revista científica ""Environmental Research Letters"". DESENVOLVIDOS Para chegar às estimativas, Kimberly e Wynes compilaram informações de 39 estudos a respeito do impacto de ações individuais sobre o clima, realizados levando em conta a economia de países desenvolvidos. Essas nações são, em geral, as que mais produzem gases do aquecimento global per capita. Os estudos analisados levam em conta a chamada análise de ciclo de vida, que considera o impacto de longo prazo de um produto ou serviço –quanto combustível um automóvel vai consumir durante os anos em que for usado, digamos, e quantas vezes será necessário trocar pneus ou peças do carro. Tudo isso exige gastos de energia os quais, por sua vez, podem ser convertidos em um ""preço"" de emissões de gases-estufa e de impacto climático. Também é possível converter escolhas pessoais nessa moeda climática. A partir dessa metodologia, os cálculos mostraram que ter um filho a menos (digamos, um casal que decide ter só dois filhos, em vez de três) reduziria as emissões per capita em quase 60 toneladas de gás carbônico por ano. A segunda intervenção mais eficaz seria evitar o uso de automóveis (redução anual de 2,4 toneladas de gases-estufa), não fazer viagens de avião (redução de 1,6 tonelada) e evitar o consumo de carne (0,8 tonelada). Uma única família americana que decidir ter um filho a menos será capaz de evitar a mesma quantidade de emissões que quase 700 pessoas que passarem a reciclar todo o seu lixo. Um dos grandes desafios na tentativa de evitar mudanças climáticas extremas é o fato de que a maioria dos habitantes dos países em desenvolvimento deseja um padrão de vida semelhante ao padrão de consumo intenso dos países ricos –incluindo coisas como carros maiores e consumo frequente de carne. Para enfrentar o problema em ambas as partes do mundo, os pesquisadores defendem métodos mais claros de conscientização. ""Nós não vamos conseguir diminuir as emissões no ritmo necessário só com novas tecnologias menos poluentes. Se conseguirmos passar de maneira clara a mensagem sobre os métodos que funcionam, temos uma chance de modificar o comportamento das gerações mais novas"", diz Wynes.",ambiente
Níveis alarmantes de poluição fecham escolas e causam indignação na China,"O episódio de poluição maciça que há seis dias asfixia grande parte do norte da China gerou uma grande polêmica nesta quarta-feira (21) na cidade mais afetada, onde as autoridades demoraram para fechar as escolas. Desde sexta-feira, uma nuvem tóxica e cinzenta cobre grande parte do país mais populoso do planeta (1,3 bilhão de habitantes), afetando ao menos 460 milhões de pessoas que vivem na grande região em torno de Pequim. Shijiazhuang, capital da província de Hebei (norte), decretou na sexta-feira, como outras 20 cidades, um ""alerta vermelho"". Este status implica a ativação de medidas de emergência, entre elas o fechamento de empresas poluentes e o rodízio de veículos. Hebei, onde se localizam numerosas indústrias pesadas, costuma ser acusada de causar a poluição que atinge Pequim, situada a cerca de 300 km. Embora Shijiazhuang tenha sido duramente afetada por esta nuvem tóxica, o departamento de educação da cidade esperou até a noite de terça-feira para ordenar o fechamento das escolas primárias e dos jardins de infância, uma medida que já tinha sido tomada pelas metrópoles vizinhas de Pequim e Tianjin. O anúncio acrescentou, porém, que o fechamento das escolas secundárias não era obrigatório. O comunicado municipal gerou indignação nas redes sociais. ""Os corpos dos alunos do ensino médio têm purificadores de ar?"", questionou um internauta, acrescentando: ""Vocês vão esperar que todos nós fiquemos doentes para resolver isso?"" Uma foto da cidade de Linzhou, na província vizinha de Henan, que mostra mais de 400 alunos fazendo uma prova sentados em um campo de futebol após a escola ter sido forçada a fechar, foi amplamente divulgada nas mídias sociais. A agência de educação e esportes da cidade suspendeu o diretor da escola por organizar as provas ao ar livre, informou a agência estatal de notícias Xinhua. Em Shijiazhuang, os registros de poluição dispararam nas últimas 48 horas. A concentração de partículas de 10 micrômetros de diâmetro superou 1.000 microgramas por metro cúbico, informou a Xinhua. O índice é tão alto que fez com que os captores ficassem bloqueados na cifra máxima que são capazes de registrar, 999. Já os níveis de partículas de 2,5 micrômetros de diâmetro - ainda mais perigosas, já que são absorvidas na corrente sanguínea e causam doenças respiratórias e cardiovasculares -, chegou a 733 microgramas/m3, mais de 29 vezes o nível máximo recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), de 25. ""TENHO QUE TRABALHAR"" Nesta quarta-feira, as ruas de Shijiazhuang –com uma população de 10,7 milhões de pessoas– estavam impregnadas de um forte cheiro de carvão, enquanto os pedestres e ciclistas circulavam sob uma espessa névoa que esfumava a silhueta dos edifícios. Só alguns deles usavam máscaras, que são habituais na capital, Pequim, desde que o governo lançou em dezembro pela primeira vez um alerta vermelho por poluição. ""Não gosto desta poluição, mas tenho que trabalhar"" diz à AFP o gari Dong Xiai, de 44 anos, acrescentando que seus colegas não usam máscaras porque as autoridades municipais não as fornecem. Na internet, os habitantes se divertem comparando as fotos batidas antes e durante a poluição. Em uma foto do ""antes"", o céu limpo permite ver as montanhas ao fundo. Agora, a fumaça esconde inclusive o edifício que está na frente. ""As partículas provocam câncer. É pior que fumar, mas o governo não faz nada"", lamenta Wu Zhiwei, de 28 anos.",ambiente
Japão mata 177 baleias no Pacífico para 'fins científicos',"Os japoneses mataram 177 baleias na costa nordeste do arquipélago no Pacífico, em uma missão que teria ""fins científicos"", segundo anunciou nesta terça-feira (26) a agência de pesca japonesa. Três navios especializados em caça às baleias iniciaram a missão em junho e capturaram 43 baleias Minke e 143 baleias-sei, de acordo com a agência. Segundo os japoneses, a caça às baleias seria ""necessária"" para calcular a quantidade de potenciais capturas a longo prazo, justificou a agência, que tem como objetivo ""retomar algum dia a pesca comercial"", segundo explicou o funcionário da agência Kohei Ito. O Japão é signatário da moratória da caça às baleias da Comissão Baleeira Internacional (CBI), mas afirma que recorre à medida com fins de pesquisa, no Pacífico e na Antártica. As organizações de defesa das baleias denunciam a alegação japonesa, assim como vários países, que consideram que Tóquio utiliza de maneira desonesta uma exceção da proibição da caça aos cetáceos, de 1986. Em 2014, o Tribunal Internacional de Justiça exigiu de Tóquio o fim da caça às baleias no Atlântico, por considerar que os japoneses não cumpriam os critérios científicos exigidos. O Japão cancelou a temporada de caça de inverno de 2014-2015, mas retomou a pesca no ano seguinte. CONFRONTOS O Oceano Antártico já foi cenário de confrontos entre baleeiros japoneses e defensores dos cetáceos. No mês passado, a organização ecologista Sea Shepherd anunciou a desistência de tentar impedir a ação dos baleeiros japoneses no Sul, reconhecendo seus próprios limites ante a potência marítima nipônica. A Noruega, que se opôs à moratória de 1986 e considera que esta não a afeta, e a Islândia, são os únicos dois países no mundo que praticam abertamente a caça comercial. O Japão tenta provar que a população de cetáceos é suficientemente grande para a retomada da caça comercial. O consumo da baleia tem uma longa tradição no Japão, onde a caça é praticada há muitos séculos. A indústria baleeira teve seu auge depois da Segunda Guerra Mundial. Mas a demanda dos consumidores japoneses caiu consideravelmente nos últimos anos, o que provoca muitos questionamentos sobre o sentido das missões científicas.",ambiente
ONU diz que fenômenos climáticos extremos prosseguirão em 2017,"Após um ano de 2016 com temperaturas em nível recorde no qual a banquisa (banco de gelo) ártica seguiu minguando e o nível do mar continuou subindo, a ONU (Organização das Nações Unidas), nesta terça-feira (21), afirma que os fenômenos climáticos extremos prosseguirão em 2017. A Organização Meteorológica Mundial (OMM), uma agência especializada da ONU, publicou seu relatório anual sobre o estado mundial do clima coincidindo com a jornada meteorológica mundial, que será realizada em 23 de março. ""O relatório confirma que 2016 foi o ano mais quente já registrado. O aumento da temperatura em relação à era pré-industrial alcançou 1,1ºC, ou seja, 0,06ºC mais que o recorde anterior de 2015"", disse o secretário-geral da OMM, Petteri Taalas, em um comunicado. Segundo a OMM, os fenômenos chamados extremos não apenas seguirão em 2017, mas os estudos recentes ""dão a entender que o aquecimento dos oceanos pode ser mais pronunciado do que se acreditava"". Os dados provisórios dos quais a ONU dispõe revelam que o ritmo de crescimento da concentração de dióxido de carbono (CO²) na atmosfera não foi freado. ""Depois que o potente [fenômeno climático] El Niño de 2016 se dissipou, hoje assistimos a outras alterações no mundo que não conseguimos elucidar, estamos no limite de nossos conhecimentos científicos sobre o clima"", disse por sua vez o diretor do program mundial de investigação sobre o clima, David Carlson. O fenômeno El Niño, que ocorre a cada quatro ou cinco anos com intensidade variável, provocou um aumento da temperatura do Pacífico, desencadeando, por sua vez, secas e precipitações superiores à média. Em geral, este fenômeno chega ao seu ponto máximo no fim do ano, perto do Natal, daí seu nome, em referência ao menino Jesus. Por sua vez, o Ártico viveu ao menos três vezes neste inverno o equivalente polar de uma onda de calor, segundo a OMM, que ressalta que em alguns dias a temperatura era próxima ao degelo. Segundo as conclusões dos pesquisadores, as mudanças no Ártico e o degelo da banquisa provocam uma modificação geral da circulação oceânica e atmosférica que afeta, por sua vez, as condições meteorológicas de outras regiões do mundo. É o caso do Canadá e de grande parte dos Estados Unidos, que tiveram um clima suave pouco habitual, enquanto na península arábica e no norte da África foram registradas no início de 2017 temperaturas anormalmente baixas. Além disso, as temperaturas na superfície do mar foram em 2016 as mais altas já registradas e o aumento do nível médio do mar prosseguiu, enquanto a superfície da banquisa no Ártico foi inferior à normal durante grande parte do ano. ""A concentração de CO² na atmosfera não para de bater recordes, o que demonstra cada vez com mais clareza a influência das atividades humanas no sistema climático"", explicou Taalas.",ambiente
A morte lenta das geleiras nos Alpes,"""Está quase na hora de dizer adeus às nossas geleiras"", diz o agricultor austríaco Siggi Ellmauer, enquanto observa os cumes escarpados ao longo do vale de Pyhrn. Após um giro pela colônia de férias que está construindo para crianças, ele fala sobre como a mudança climática global altera o mundo dele. ""Quando criança, eu nunca teria imaginado que elas poderiam desaparecer. Mesmo 20 anos atrás, ainda havia faixas de gelo naquelas encostas voltadas para o norte. Eu observei, todos nós observamos as geleiras minguarem aqui e em todo o país."" Segundo os cientistas, até o ano 2100 a maioria das formações de gelo nas montanhas da Áustria e por todos os Alpes terão desaparecido. Mesmo que todas as emissões de gases causadores do efeito estufa fossem zeradas imediatamente, já há suficiente poluição na atmosfera para derreter quase todo o gelo, afirma o climatologista Carl-Friedrich Schleussner. Caso se limitasse o aquecimento global a 1,5 grau centígrado, parte dos futuros impactos climáticos poderia ser mitigada, mas não o sumiço das geleiras alpinas, diz Schleussner, que trabalha como assessor científico da ONG Climate Analytics, sediada em Berlim. Alguns resquícios de gelo sobreviverão nas escarpas mais elevadas e protegidas do sol, mas os poderosos rios gelados que, apenas 150 anos atrás, atravessavam os vales, terão sumido. E, segundo o climatologista alemão, o clima estará provavelmente quente demais para permitir que novas geleiras se formem nos próximos séculos. ATÉ 65 M EM UM ANO Com base nos dados mais recentes, divulgados neste mês de abril, Andrea Fischer afirma que o derretimento extremo prosseguiu nos Alpes em 2016. Ela dirige a equipe de cientistas e voluntários da associação austríaca Österreichischer Alpenverein, que elabora relatórios anuais sobre as geleiras. Entre outubro de 2015 e setembro de 2016, as geleiras da Áustria retrocederam 14,2 m, em média, com um recorde de menos 65 m sendo registrado na geleira de Hornkees, nos Alpes de Zillertal, no oeste do país. Entre as 90 formações monitoradas, 87 retrocederam, dez das quais em mais de 30 m. Única exceção, Landeck Kees ganhou um metro. Acredita-se que isso se deva a circunstâncias topográficas: se a geleira voltar a derreter até um ponto em que o terreno seja ligeiramente íngreme, ela poderá se precipitar montanha abaixo mais rapidamente. A água resultante da fusão também lubrifica a base, acelerando o movimento da geleira. Desde 1870 o Alpenverein compila dados sobre as massas de gelo alpinas, e as cifras mais recentes confirmam que o derretimento se intensificou dramaticamente no século 21, quando as temperaturas globais batem novos recordes a cada ano. De 1900 até agora, seu volume total se reduziu à metade. INUNDAÇÕES As geleiras são o maior reservatório de água doce do planeta, contendo mais líquido do que todos os lagos, rios, terrenos e plantas juntos. As reduções de fluxo ou alterações de volume sazonais resultante das geleiras minguantes poderão se fazer notar mais nos cursos d'água menores dos vales mais elevados. Lá, terão impacto tanto sobre a fauna fluvial, incluindo insetos e peixes, como sobre os habitats ribeirinhos, cujas árvores e arbustos, por sua vez, são cruciais para a vida das aves. Os pesquisadores estão estudando esses efeitos, mas ainda não chegaram a conclusões definitivas. Por outro lado, as geleiras fora das regiões polares contêm água suficiente para elevar o nível do mar de 30 a 60 cm. Isso inundaria algumas ilhas mais baixas e agravaria as enchentes litorâneas durante tempestades e furacões, afetando cerca de 670 milhões de seres humanos. ""ESTÁ MORRENDO, SE DESFAZENDO"" O derretimento excessivo registrado no último relatório da Österreichischer Alpenverein merece ainda mais atenção por ter ocorrido em condições relativamente boas. Como aponta Andrea Fischer, a neve da primavera formou uma camada refletora. e a temporada sem neve foi mais breve do que em anos anteriores, ajudando a evitar uma fusão ainda maior: em 2015, três geleiras chegaram a diminuir mais de 90 m. As massas geladas austríacas não estão perdendo apenas área –ou seja, sua extensão vale abaixo–, mas também espessura, diz Anton Neureiter, glaciólogo do Instituto Central de Meteorologia e Geodinâmica (ZAMG) da Áustria, que monitora 12 geleiras ao norte e ao sul do cume principal dos Alpes. Próximo à borda da geleira Pasterze, Neureiter se prepara para perfurar o gelo até atingir a rocha abaixo. Ele confere o mesmo ponto todos os anos, a fim de documentar quão mais delgada a camada está. Na realidade, contudo, o especialista sequer precisa de equipamento para confirmar a rapidez do derretimento glacial. ""É tão tangível. Podem-se observar as mudanças de ano a ano, mesmo a cada mês, toda vez que se visita a geleira: ela está morrendo, está se desfazendo"", comenta, antes de começar a perfuração, apontando para as pilhas cinzentas e marrons de gelo semiderretido na área da borda. A espessura da Pasterze –maior geleira da Áustria, próxima a seu ponto mais alto, o Grossglockner– vem diminuindo, em média, um metro por ano, e a perda chega a nove metros, perto das bordas inferiores. Segundo a atualização mais recente do Serviço Mundial de Monitoração de Geleiras, o declínio na Áustria correspondente às atuais médias globais. Dados coletados em 130 geleiras do planeta apontam uma perda média anual de 1,1 m: em relação a 1980 as formações de gelo estão 20 m menos profundas.",ambiente
Lei da Biodiversidade vai a votação sem prever cobrança de royalty da soja,"Ambientalistas criticam o projeto de lei, a ser votado nesta segunda-feira (9) na Câmara dos Deputados, que trata do acesso às informações genéticas de plantas, animais e outros seres vivos para fins científicos, terapêuticos, industriais e comerciais, regulamentando a Convenção da Diversidade Biológica, em vigor desde 1993, ratificada pelo Brasil e por outros 167 países. Apresentado na quarta-feira (4) pelo deputado federal Alceu Moreira (PMDB-RS) e aprovado por uma comissão especial, o texto a ser votado exclui da proposta original, do governo, a cobrança de royalties para pesquisa e desenvolvimento com espécies não nativas como soja, cana-de-açúcar e arroz, entre outras. Segundo o parlamentar, os royalties relativos à soja e outras plantas elevariam custos de produção, prejudicando a competitividade comercial do agronegócio nacional. Na proposta do governo, a cobrança era prevista para espécies da biodiversidade brasileira e também para as de origem estrangeira. O ISA (Instituto Socioambiental) critica o substitutivo por ter sido elaborado sem contribuições da participação de representantes de comunidades indígenas e tradicionais, cujo conhecimento é muitas vezes aproveitado na identificação de recursos genéticos. Em nota divulgada na quinta-feira (5), a ONG afirmou que os termos do texto permitem ""uma competição entre povos e comunidades tradicionais para ver quem oferece melhores condições financeiras"" às empresas interessadas no acesso a recursos genéticos. No seu parecer, Moreira destacou que o texto substitutivo ""foi amplamente discutido com representantes do setor privado, especialmente o agropecuário e o industrial"". E acrescentou que a proposta original se baseou em informações técnicas dos ministérios do Meio Ambiente, da Ciência, Tecnologia e Inovação e da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, entre outros. ""Fizemos reuniões com 94 atores responsáveis do setor privado e do próprio governo. Cabia a eles ter feito o debate com esses outros setores"", disse o parlamentar à reportagem. ""O texto que vamos votar não foi feito com a pretensão de ser uma lei definitiva"", acrescentou. ATRASO Moreira afirmou também que o governo demorou muito para mandar o projeto de lei para alterar regulamentação vigente desde 2001 por medida provisória. ""Pior do que não ter essa lei agora é não ter nenhuma, deixando o patrimônio genético do país vulnerável à concorrência internacional"", disse o deputado. Enviado em junho pelo governo com pedido de votação em regime de urgência, o projeto não teve trâmite normal nas comissões. Em novembro, a reunião da comissão geral criada para apreciar a proposta não conseguiu deliberar nenhum encaminhamento. Em 17 de dezembro, o plenário rejeitou pedido do deputado Sarney Filho, líder do PV, para retirada do projeto da pauta de votações. Com a aprovação na semana passada do texto elaborado por Moreira, foram descartadas todas as 166 emendas de plenário propostas para o projeto de julho a outubro. Um dos objetivos principais do projeto é reduzir as exigências burocráticas vigentes para a pesquisa sobre recursos genéticos da biodiversidade brasileira e para renegociar dívidas de multas aplicadas antes da vigência da norma atual, iniciada em 2001. A regulamentação em vigor exige autorizações prévias para a pesquisa e também o pagamento, com a repartição de benefícios, logo que é confirmada a possibilidade de exploração econômica do material genético. O projeto de lei propõe o cadastramento prévio e a fiscalização posterior de instituições para o acesso e a pesquisa, mantendo a exigência de autorizações prévias para estrangeiros que não tenham vínculo institucional com entidades brasileiras. A proposta prevê também o pagamento pela exploração econômica somente um ano depois da exploração comercial do produto final.",ambiente
Brasil chega ao término de conferência do clima com papel de destaque,"A primeira Conferência da ONU sobre o Clima após a assinatura do Acordo de Paris tinha tudo para ser uma edição tranquila, sem sustos. Mas o final reservou surpresas. A missão de Marrakech seria definir uma agenda para os próximos dois anos, com um calendário para a resolução de regras técnicas sobre o financiamento e a prestação de contas das ações prometidas em Paris. As negociações acumulavam alguns nós que, na última hora e com apoio importante do Brasil, foram se desfazendo. Ao final do encontro que adentrou a madruga deste sábado (19), na cidade marroquina, o Brasil, em pareceria inédita com Argentina e Uruguai, realizaram um manifesto conjunto ressaltando a importância da adaptação às mudanças climáticas, da agricultura e segurança alimentar e das florestas. Temas comuns aos três países. Antes disso, alguns problemas tiveram de ser resolvidos. Não se tratavam de soluções imediatas, mas do estabelecimento por parte dos países de uma agenda comum a todos para que a discussão pudesse continuar nos próximos dois anos, até 2018. O primeiro dos problemas era a questão do Fundo para Adaptação às Mudanças Climáticas na agenda de regulamentação. Embora o Fundo Verde para o Clima, acordado em 2009, já inclua uma distribuição nos recursos, haveria mais interesse internacional nos investimentos em mitigação (redução de emissões), o que faz com que os países vulneráveis ao clima insistam na proposta. Houve, por alguns instantes, um desacordo entre Brasil e China por causa dos ciclos de revisão das metas nacionalmente determinadas para redução de emissões. Em 2015, alguns se comprometeram a revisá-las a cada cinco anos, outros a cada dez. Após a mediação do Brasil, ficou acordado que esse tópico será uma das prioridade nas próximas etapas das negociações sobre o clima. O fórum adequado para a discussão é a CMA, dos signatários do Acordo de Paris, mas os países que ainda não aderiram, pode dar sugestões até o ano de 2018, quando a CMA assume essa função da COP. Uma nota enviada pela delegação brasileira à imprensa destaca um ponto de avanço na agenda da COP22: um calendário de financiamento proposto pelos países desenvolvidos, fora das salas de negociação da COP. Eles estavam sendo cobrados pelos países em desenvolvimento sobre o financiamento de longo prazo ao clima, para depois de 2020. Um ""mapa do caminho"" foi produzido pelo grupo dos mais ricos e saudado pelo documento da COP22, que não deve entrar no mérito do conteúdo. PROGRESSO Também nesse último dia, uma coalizão de 48 países em desenvolvimento e vulneráveis ao clima anunciaram uma meta conjunta de chegar a 100% de energias renováveis nas próximas décadas. Embora não tenha definido um prazo estrito, o anúncio animou quem se preparava para deixar a COP, especialmente porque dessa vez foram os países em desenvolvimento que puxaram a ação. Segundo análise de observadores, a entrada em vigor do Acordo de Paris no último 4 de novembro adicionou complexidade à implementação do documento. A expectativa era de que ele virasse lei internacional somente por volta de 2020, quando começa o primeiro período de compromisso com as metas de redução de emissões nacionalmente determinadas. Além de dificuldades técnicas intrínsecas ao processo, também houve mais um elemento de confusão, logo no terceiro dia de COP: a eleição de Donald Trump nos EUA. Por negar as mudanças climáticas e ameaçar deixar o Acordo de Paris, Trump roubou a cena na COP e a chegada de ministros e Chefes de Estados na última segunda (14) foi pautada por questões sobre o futuro do acordo climático. O secretário de Estado americano, John Kerry, também esteve na COP e deixou o recado para Trump: ""As mudanças climáticas são reais"". Na noite da última quinta-feira (17), os líderes se reuniram na plenária para celebrar a Declaração de Marrakech: um documento de apenas uma página, clamando por compromissos políticos com o clima. Mais um recado para o recém-eleito presidente dos EUA. - MISSÃO A Conferência da ONU Sobre o Clima, que aconteceu em Marrakech, no Marrocos, tinha como missão estabelecer uma agenda de implementação de medidas de fiscalização, transparência e de adaptação até o ano de 2018 sobre o que havia sido acordado no Acordo de Paris, que tem como meta limitar o aquecimento global DE VENTO EM POPA Por causa da implementação em tempo recorde do acordo de Paris –um ano–, o clima era de otimismo do íncio da COP, mas, no fim das contas, essa euforia não foi até o final EFEITO TRUMP Três dias após o início da conferência, no dia 7, acontecia a eleição nos EUA. A vitória fora do script do republicano Donald Trump pegou as delegações e observadores de surpresa CETICISMO Trump defende uma posição cética em relação às mudanças climáticas, e é favorável ao uso de energia proveniente de combustíveis fósseis e do carvão DESESPERO A COP22 está terminando sem tantos resultados notórios. Existe uma cobrança de ""comrpomisso político"" dos países contra as mudanças climáticas, o que, teoricamente, ja teria sido acordo em Paris DINHEIRO Com EUA menos interessados na questão climática, será mais difícil atingir os R$ 100 bilhões de 2009 pra o Fundo Verde do Clima, o que preocupa os ambientalistas ADAPTAÇÃO O tema de adaptação às mudanças climáticas, como obras para conter os efeitos do aumento do nível do mar, perderem espaços e ficaram de fora das conversas CARVÃO A indústria do carvão fez movimentos para tentar emplacar uma modalidade menos agressiva ao ambiente da produção de combustível, com grande resistência por parte das ONGs NEGÓCIOS Com poucos assuntos que interessem à maioria das pessoas, empresas e executivos aproveitam para fechar negócios e trocar cartões de visitas PRESSÃO Por sua vez, ONGs e ambientalistas aproveitam para pressionar os representantes do governo, como aconteceu após as frases polêmicas de Blairo Maggi (ministro da Agricultura) sobre conflitos e mortes no campo",ambiente
Ventos desmataram área equivalente a 700 campos de futebol em SP em 2016,"Perdas consideráveis da cobertura florestal colocaram o Estado de São Paulo novamente na lista do desmatamento da mata atlântica no último ano. Foram 698 hectares desmatados entre 2015 e 2016, 15 vezes o desmatamento verificado entre 2014 e 2015, que atingiu 45 hectares. Um hectare equivale a 10.000 m², um pouco mais do que a área de um campo de futebol. O Estado vinha reduzindo a área desflorestada desde 2010 e, em 2013, tinha atingido o ""grau zero"", que é atribuído quando há perda de menos de 100 hectares (1 km²) de mata nativa. Os dados fazem parte do mais recente Atlas da Mata Atlântica, levantamento que cobre todo o imenso bioma, produzido pela Fundação SOS Mata Atlântica e pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Criado em 1985, o monitoramento começou com balanços a cada cinco anos e recentemente passou a ter atualizações anuais, com publicação de resultados em maio. Segundo o coordenador técnico do Inpe Flavio Ponzoni, especialista em vegetação, a maior parte do desmatamento no Estado foi causada por ventos muito fortes ocorridos em junho de 2016. O município que mais perdeu área de cobertura nativa foi São Roque, com decréscimo de 322 hectares. Na sequência vêm Mairinque, com 134 hectares, Atibaia, com 107 hectares, e Embu-Guaçu, com 55 hectares. Descontado o fenômeno natural, o desmatamento causado pela ação humana teria sido de 80 hectares, o que manteria o Estado fora da lista de desmatadores. Os ventos causaram estragos também nas áreas urbanas de Jarinu, Jundiaí e Vargem Grande Paulista nos dias 5 e 6 de junho de 2016, provocando quedas de árvores e postes, destelhamentos de edificações, tombamento de veículos e ao menos uma morte (em São Roque). Ponzoni diz que é possível ver as ""cicatrizes"" do vendaval na vegetação nativa nas imagens de satélite tomadas nos dias seguintes ao evento climático. Laercio Namikawa, que atua na área de detecção de danos do Inpe, diz que não é possível afirmar que houve um tornado, embora existam indícios de um percurso de destruição. Marcia Hirota, diretora-executiva do SOS Mata Atlântica, sobrevoou a área na última quarta-feira (24), quase um ano depois do vendaval, e diz que já é possível ver alguma recuperação nos locais atingidos. ""Precisamos garantir que essas áreas sejam regeneradas e se mantenham protegidas"", diz. Segundo Hirota, a área da serra do Mar está razoavelmente preservada no Estado, mas nos limites da mancha urbana da capital é possível ver o ""efeito formiga"" da ocupação desordenada do solo por moradias. ""O desafio no Estado é a recuperação ambiental, com a proteção dos fluxos hídricos com mata ciliar. Os municípios têm de planejar seu crescimento e respeitar a Lei da Mata Atlântica, que veta ocupação que não seja de interesse público ou social"", afirma a ambientalista. ""Cabe ao poder público emitir licenças e autuar infratores com a Polícia Florestal."" AVALIAÇÕES DISTINTAS Desmatamento nos últimos 30 anos - Municípios paulistas que mais perderam floresta nativa Desmatamento nos últimos 30 anos - Desmatamento (em hectares) O secretário do Meio Ambiente de São Paulo, Ricardo Salles, informou que, de acordo com os dados do governo estadual, não houve aumento do desmatamento. Salles afirma que a secretaria monitora os biomas do cerrado e da mata atlântica sem distinção, além das áreas de proteção ambiental (APAs) hídricas. Além das amplitudes diferentes, há também diferença conceitual importante nos levantamentos realizados pela secretaria e pela SOS Mata Atlântica. Para o órgão do governo paulista, o desmatamento é apenas o que foi retirado sem o licenciamento ou a compensação ambiental requeridos nos Termos de Compromisso de Recuperação Ambiental emitidos pela Cetesb. Isso quer dizer que, enquanto os dados da SOS Mata Atlântica flagram os remanescentes florestais, os dados citados pelo secretário levam em conta a própria ação da administração ambiental sobre a ocupação econômica do território. Se há licenciamento e/ou compensação, não há, para ele, desmatamento. HISTÓRICO A mata atlântica cobria originalmente 69% da área do Estado, cerca de 17 milhões de hectares. Hoje, restam 2.810.668 hectares, ou 16,5% do que havia. De acordo com o Atlas da Mata Atlântica, nos últimos 30 anos foram desmatados 187.811 hectares do bioma no Estado de São Paulo. Dos 645 municípios paulistas, 574 estão localizados no bioma da mata atlântica. São Paulo tem seis municípios na lista dos cem municípios que mais desmataram a mata atlântica no país entre 1985 e 2015, e a área total desmatada no Estado nesse período atingiu 33.719 mil hectares, cerca de 337 km², o que corresponde ao tamanho do município de Ilhabela. - Pau-brasil à vista Quando Cabral aportou por aqui, a mata atlântica cobria 131 milhões de hectares –15% dos 851 milhões de hectares que tem o Brasil atual. Hoje são 16 milhões de hectares, ou seja, menos de 2% da área do país. Em três décadas De 1985, quando começou o monitoramento da SOS Mata Atlântica, a 2015, o país perdeu 1,89 milhão de hectares do bioma 3.429 dos 5.570 municípios do país (61% do total) estão em bioma de mata atlântica Campeões 1 Dois Estados do Sul e um do Sudeste foram os maiores desmatadores entre 1985 e 2015 (em mil hectares) Paraná - 457 Minas Gerais - 384 Santa Catarina - 283 Campeões 2 Mas foi nesses mesmos Estados que houve a maior regeneração de mata atlântica de 1985 a 2015 (em mil hectares) Paraná - 75,6 Minas Gerais - 59,9 Santa Catarina - 25 Rebrotando A área total de mata atlântica regenerada no país entre 1985 e 2015 atingiu 219,8 mil hectares. A maior parte dessa regeneração ocorre naturalmente, sem a influência humana, em terrenos abandonados 72% da população brasileira vive em bioma de mata atlântica Mangue Estado com maior índice de desmatamento recente, a Bahia é a unidade da federação com a maior área de manguezais (em mil hectares) Bahia - 73 Paraná - 33,4 São Paulo - 26,6 Valparaíso A área de regeneração de floresta em São Paulo de 1985 a 2015 foi de 23 mil hectares. Os municípios paulistas onde houve maior regeneração de floresta são (em hectares) Valparaíso - 754 Castilho - 735 Quatá - 676 Dunas O Rio Grande do Sul é o Estado com maior área de dunas do país. São 102 mil hectares, mais do que a soma de todos os Estados do Nordeste Conservação Existem 2.233 Unidades de Conservação (federais, estaduais e municipais) em áreas de mata atlântica no país, que totalizam 12,1 milhão de hectares",ambiente
Seca transforma rio em 'cemitério de jacarés' no Paraguai; veja vídeo,"A pior seca na região do Chaco, na fronteira entre o Paraguai e a Argentina, transformou o rio Pilcomayo, um dos afluentes do rio Paraguai, em um ""cemitério de jacarés"". Centenas de jacarés mortos jazem no leito seco do rio Pilcomayo, no Paraguai. Alguns morreram de fome e sede, outros –que ainda estão vivos– se afundam no barro para evitar os ataques dos abutres. Durante a estiagem, entre abril e outubro, o rio fica seco, um fenômeno cíclico que se acentuou devido à mudança climática e ao desmatamento. Essa é a pior seca dos últimos 19 anos e não chove desde abril na região do Chaco. Seca transforma rio em 'cemitério de jacarés' no Paraguai Ambientalistas denunciaram que as canalizações anuais não foram realizadas em 2015 ou foram feitas de forma negligente. A Argentina disse que vai permitir ao Paraguai a entrada de suas maquinarias para canalizar o rio, cujas as águas estão estancadas a 800 metros de seu território. O rio Pilcomayo, que nasce nas cordilheiras orientais do planalto da Bolívia, se alimenta do derretimento dos Andes e deságua em uma bacia de 2.700 quilômetros quadrados na Argentina e no Paraguai, separando as regiões de Chaco Boreal a norte e Chaco Central a sul.",ambiente
Demanda mundial por água deve crescer 55% até 2050,"Por causa da rápida urbanização, principalmente nos países em desenvolvimento, a demanda por água deve crescer 55% no mundo todo até 2050, segundo o Relatório Mundial das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento de Recursos Hídricos 2015, da Unesco. O documento foi divulgado por conta do Dia Mundial da Água, comemorado em 22 de março. Ainda de acordo com o texto, se nada for feito, as reservas de água no mundo devem encolher 40% até 2030, O relatório reforça a necessidade de melhorar a gestão dos recursos hídricos e reduzir desperdícios para responder às demandas de uma população mundial cada vez mais numerosa e urbana e dos setores agrário e industrial. Até 2050, a agricultura deverá produzir 60% mais alimentos, elevando o consumo de água. Nos países em desenvolvimento, essa produção deverá dobrar. Já na indústria, o relatório aponta que o aumento da demanda de água em todo o mundo entre os anos 2000 e 2050 deve ser de 400% entre os países em desenvolvimento, puxado por Brasil, Rússia, Índia, Indonésia, China e África do Sul. Ainda segundo o texto, um quarto da população mundial vive em países desenvolvidos que sofrem com falta de água devido à ""fraca governança e capacidades humanas, e à falta de infraestrutura para transportar água de rios e aquíferos"".",ambiente
Imagem de satélite mostra movimento de iceberg gigante que se desprendeu da Antártida,"O iceberg gigante que se desprendeu na Antártida na última semana continua se deslocando para o mar aberto. Imagens de satélite mostram uma fenda entre o bloco de gelo de seis mil quilômetros quadrados, batizado de A-68, e a plataforma gelada Larsen C. O satélite Deimos-1 capturou a imagem na sexta-feira, o que não é fácil nesta época do ano na Antártida, por causa de suas longas noites de inverno cobertas de nuvens. A espaçonave que conseguiu avistar o iceberg usou radares e sensores infravermelhos para superar essa limitação. Até agora, o bloco de gelo, que tem uma área um pouco maior que o Distrito Federal e é um dos maiores já registrados, está se comportando como esperado por cientistas. Em teoria, ele deveria deslizar para o mar pelo declive formado pela ação de águas empurradas contra a costa pelos ventos do Mar de Weddell. Mas por conta da força de Coriolis, produzida pela rotação da Terra, o iceberg é empurrado para a esquerda - o lado contrário - , e isto deve manter o bloco relativamente próximo à fronteira do continente gelado. Na imagem do satélite Deimos, parece que um bloco de ""gelo permanente"" (a área de mar congelada ao longo da costa), antes grudada ao iceberg, agora se soltou. Este gelo permanente é consideravelmente mais fino que o bloco principal e tem poucos metros de espessura (enquanto que o iceberg tem 200 metros a mais). Thomas Rackow e colegas do Instituto Alfred Wegener, do Centro Helmholtz para Pesquisa Marinha e Polar, está acompanhando de perto o movimento do bloco. Eles recentemente publicaram uma pesquisa na qual modelaram o deslocamento de icebergs nas águas da Antártida - levando em conta os diferentes fatores que agem sobre objetos grandes e pequenos. Existem basicamente quatro ""rodovias"" pelas quais os icebergs viajam, dependendo de seu ponto de origem. O A-68 deve seguir pelo caminho rumo à costa leste da Península Antártica, desde o Mar de Weddell até o Atlântico. ""Ele deve provavelmente seguir um curso rumo ao nordeste, em direção mais ou menos ao Mar da Geórgia e às Ilhas Sandwich do Sul"", afirmou Rackow à BBC News. ""Será muito interessante ver se o iceberg se movimentará como esperado, comprovando os modelos atuais e nossa compreensão da física"". Agências de pesquisa polar já estão discutindo as oportunidades científicas que surgem do desprendimento do iceberg. Cientistas querem entender qual efeito a quebra do bloco de gelo deve ter sobre as áreas remanescentes da cobertura gelada. Dez por cento da área do Larsen C foi removida com a quebra do iceberg, e essa perda pode mudar a forma como as tensões e forças internas da plataforma de gelo irão se configurar e agir. Há várias fissuras ao norte, em um ponto conhecido como Elevação de Gelo Gipps. Essas fissuras estão estáticas há muito tempo e são mantidas por uma faixa de gelo relativamente macia e maleável. Pesquisadores querem ver se o rompimento da A-68 irá alterar o status dessas fissuras. Há ainda pesquisas fascinantes para serem feitas no fundo do mar quando o iceberg se deslocar totalmente da plataforma. Fissuras anteriores levaram, por exemplo, à descoberta de novas espécies de animais.",ambiente
Obama bloqueia possibilidade de exploração de petróleo no Ártico,"Obama começa a bloquear novas perfurações para retirada de petróleo e gás no Oceano Ártico. Segundo ambientalistas, além de intensificar o aquecimento global, a atividade industrial nessa área pode prejudicar a fauna. O governo Obama anunciou nesta sexta (18) novos planos, válidos por cinco anos (2017-2022), de perfuração de poços de petróleo no mar. O planejamento bloqueou a venda de direitos de novas perfurações ao norte do Alaska, região que corresponde ao Oceano Ártico. Perfurações ao sul do estado americano estão permitidas. O presidente eleito Donald Trump pode mudar as autorizações de perfuração, contudo, esse seria um processo que poderia se arrastar por meses ou anos. Centro da produção petrolífera americana, a exploração no Golfo do México prossegue. Dos 11 pontos de extração previstos no plano, dez estão localizados na região. A decisão, que já havia sido anunciada anteriormente, também barra perfurações no Oceano Atlântico. ""O plano se foca nos melhores locais para extração, os com maior potencial, menor conflito e melhor infraestrutura"", diz Sally Jewell, secretária do Interior dos EUA. ""Considerando o ambiente único e desafiador do Ártico, e o declínio do interesse da indústria na região, esse foi o caminho certo a ser tomado"". Representantes das indústrias não ficaram satisfeitos e classificaram a decisão como política e arrogante. ""Mais uma vez, nós vemos a atitude costumeira de Washington. Atitude que contribuiu para o resultado da eleição da semana passada"", afirma Randall Luthi, presidente da Associação Nacional das Indústrias Oceânicas (National Ocean Industries Association), citando a vitória de Donald Trump sobre Hillary Clinton. Luthi diz que mais de 70% dos habitantes do Alaska são favoráveis a perfurações no mar. Ele afirma que os três representantes do estado no Congresso, todos republicanos, também são favoráveis. O plano ""demonstra comprometimento com a priorização do senso comum construído entre economia e ciência, evitando dessa forma os costumeiros favorecimentos à indústria e à política"", comemorou Jacqueline Savitz, vice-presidente do grupo ambiental Oceana. Nos meses anteriores, cerca de 400 cientistas assinaram uma carta pedindo que Obama eliminasse a possibilidade de exploração de petróleo no Ártico.",ambiente
Polícia Federal desarticula roubo de ipê em terra indígena no Pará,"Com ações em três Estados, a Polícia Federal deflagrou nesta quarta-feira (4) uma operação contra a extração ilegal de madeira na Terra Indígena Cachoeira Seca (PA), uma das áreas protegidas mais devastadas da Amazônia. Em mobilização que envolveu 40 policiais, foram realizados 10 mandados de condução coercitiva, 11 mandados de sequestro de bens e valores e 6 mandados de busca e apreensão em imóveis pertencentes aos investigados. Duas empresas tiveram as atividades suspensas: Silva e Suski, em Rurópolis (PA), e Nelson da Silva Indústria, e Castelo dos Sonhos, distrito de Altamira (PA). Além de cinco cidades paraenses, houve também diligências em Curitiba, União da Vitória (PR), Porto União (SC), onde os proprietários têm residência. Um dos levados a depor é funcionário da Secretaria de Meio Ambiente do Pará. Ele é suspeito de fraudar guias florestais para legalizar a madeira extraída da Cachoeira Seca, habitada por um grupo da etnia arara contatado em 1987. De acordo com o delegado responsável pela operação, Yuri Rodrigo de Oliveira, o esquema envolvia manejos florestais da região aprovados com um volume acima do existente na área certificada. Esse excedente gera os créditos florestais fictícios usados para esquentar a madeira. O principal alvo dos madeireiros é o ipê, a madeira de alto valor comercial e facilmente localizável na floresta por causa da floração. Boa parte acaba exportada –as empresas sob investigação têm clientes em oito países, incluindo EUA, França, Alemanha e Coreia do Sul. O lucro com o ipê é tanto que compensa a abertura de centenas de quilômetros de estradas. Levantamento do ISA (Instituto Socioambiental) mostra que os madeireiros abriram 892 km de vias dentro da Cachoeira Seca ao longo dos últimos cinco anos. R$ 897 MILHÕES De acordo com laudo pericial da Polícia Federal, o dano ambiental é de R$ 897 milhões, incluindo o valor da madeira roubada e o desmatamento provocado para a extração das árvores. O envolvimento da Silva e Suski é conhecido desde outubro de 2015, quando uma operação do Ibama confiscou maquinário da madeireira dentro da Cachoeira Seca. O relatório foi enviado à PF, que passou a investigar. A empresa acumula quatro multas no Ibama, num total de R$ 611 mil. A reportagem telefonou e enviou e-mails para ambas as empresas fechadas pela PF, mas nenhum representante foi localizado ou respondeu ao pedido de entrevista. Por telefone desde a aldeia, o cacique da Cachoeira Seca, Mobu-odo Arara, afirma que os madeireiros agem livremente na terra indígena. ""Aquela coisa da retirada continua o mesmo de sempre."" O líder indígena também afirmou que o governo federal não nada fez para promover a desintrusão de cerca de mil famílias dentro da área. ""O presidente que entrou [Michel Temer] é contra índio, então está tudo parado."" Cachoeira Seca é a terra indígena do país com a maior taxa de desmatamento recente. Somente no ano passado, foram desmatados 1.315 hectares, segundo o ISA, que atribui o aumento às pressões geradas pela usina de Belo Monte. Responsável pela operação de 2015, o coordenador do GEF (Grupo Especializado de Fiscalização do Ibama), Roberto Cabral, afirma que a principal origem das irregularidades são os créditos de manejo florestal. Depoimentos colhidos na época indicavam a saída diária de dez caminhões carregados de madeiras, todos com papéis frios. O Pará e o Mato Grosso são os únicos Estados da Amazônia que não participam do Sinaflor (Sistema Nacional de Controle da Origem e dos Produtos Florestais). A falta de integração não permite que o Ibama monitore os dados nesses Estados.",ambiente
Divulgadas primeiras fotos dos corais da Amazônia,"A ONG Greenpeace divulgou nesta segunda (30) as primeiras imagens realizadas do recife de corais na Amazônia. As imagens foram feitas com o auxílio de um submarino. Segundo o Greenpeace, foram observados corais, esponjas e rodolitos (algas calcárias), além de peixes herbívoros, atuns e ciobas. A descoberta dos corais foi anunciada no ano passado. O recife tem cerca de mil quilômetros de extensão e se estende do Maranhão ao Amapá, com área total de 9.500 km², o que equivale a seis cidades de São Paulo. Além da observação dos corais, a ONG realiza uma petição para tentar impedir que petroleiras explorem a região da foz do Amazonas. A equipe do Greenpeace, utilizando-se do maior navio da organização, o Esperanza, permanecerá em expedição para observar os corais até 10 de fevereiro.",ambiente
Para onde está indo o iceberg gigante que acaba de se separar da Antártida?,"Já era anunciado há meses e acabou de acontecer: um iceberg gigante de quase 6 mil km² se descolou da Antártida. Agora que o imenso bloco de gelo com uma área maior que a do Distrito Federal se separou da plataforma de gelo Larsen C, para onde ele deve ir? O iceberg, que provavelmente será chamado de A-68, ficará à deriva no oceano, colocando os navios que passam por ali em perigo? Ou derreterá e aumentará o nível do mar? De acordo com os pesquisadores do projeto Midas, da Universidade de Swansea (Reino Unido), que acompanha o iceberg de perto, o bloco de gelo não aumentará o nível do mar imediatamente. No entanto, se a plataforma continuar perdendo sua área, isso pode resultar na separação de geleiras do continente rumo ao oceano, o que impactaria o nível do mar, ainda que em um índice moderado. A separação do iceberg da plataforma Larsen C reduziu sua área em 12% e transformou a paisagem da Península Antártica para sempre. Ainda que a plataforma continue a crescer naturalmente, os pesquisadores haviam previsto antes que a nova configuração é potencialmente menos estável do que aquela antes da fenda - e há o risco de que a Larsen C siga o modelo de sua vizinha, Larsen B, que se desintegrou em 2002 depois de uma fenda parecida. RUMO NORTE ""O movimento dos icebergs é controlado principalmente pelos ventos presentes na atmosfera e pelas correntes oceânicas que empurram o bloco de gelo que está abaixo da superfície da água"", disse à BBC Mundo Anna Hogg, especialista em observações de satélite da Universidade de Leeds, no Reino Unido. No entanto, isso também será determinado pela simetria do leito marinho. ""As grandes fendas topográficas, como por exemplo as pequenas montanhas no fundo do mar, podem ser suficientemente altas de forma que façam com que o iceberg permaneça no mesmo lugar por um tempo"", diz Hogg. Se nada o detiver e se ele começar a se mover, dará início a uma viagem ao redor do continente antártico, impulsionado pela corrente litorânea que gira em sentido anti-horário durante o ano inteiro. Se ele chegar à ponta da Península Antártica, ""continuará viajando até o norte, na direção da Passagem de Drake, de onde se dissipará"", explica a especialista. Esse processo pode demorar meses ou mesmo anos. ""Como outros volumes de gelo semelhantes, ele levará um bom tempo para derreter, independentemente de estar em águas frias ou mais quentes"", diz Hogg. PERIGO Os cientistas não sabem exatamente onde ele chegará, mas normalmente os icebergs não costumam chegar a uma zona habitada. E, à medida que ele se desloca para o norte, irá se dividir em fragmentos menores que podem continuar viagem em diferentes direções e de acordo com as forças que atuam sobre eles. Quando sair de perto do continente antártico, é importante ficar no seu encalço, já que o iceberg pode se tornar um perigo para os marinheiros. Agora não há perigo - em meio ao inverno no hemisfério sul - mas haverá durante o verão antártico: mesmo que a península esteja fora das rotas comerciais mais importantes, é o principal destino turístico de cruzeiros provenientes da América do Sul. Enquanto o iceberg se mantiver como peça única, ou várias peças grandes, ele é menos perigoso, já que podemos vê-lo à distância. Quando se despedaçar, a situação piora, já que é difícil estimar, da superfície, quanto gelo está submerso na água. GEÓRGIA DO SUL Muitas vezes, pedaços grandes de gelo vão parar na plataforma de gelo superficial que cerca a ilha de Geórgia do Sul, a cerca de 1.390 km a leste-sudeste das ilhas Malvinas/Falklands. Ao chegar ali, os icebergs liberam bilhões de toneladas de água doce no ambiente marinho local. Segundo pesquisadores britânicos, esses pedaços gigantes de gelo têm um impacto dramático no local e podem até alterar os ciclos de alimentação dos animais que habitam a ilha. A esta ilha, por exemplo, chegou o iceberg A-38 em 2004. ""A água doce tem um efeito mensurável na estrutura da coluna da água"", disse Mark Brandon, oceanógrafo da Universidade Aberta, no Reino Unido. ""Muda as correntes na plataforma porque muda a densidade da água do mar. E também baixa a temperatura da água"". O pó e os fragmentos de pedra que o iceberg traz da Antártida atuam como nutrientes quando se derretem no oceano e aumentam a produtividade das algas e das diatomáceas na base da cadeia alimentar. Mas, na Geórgia do Sul, esses pedaços de gelo podem ter um impacto negativo ao atuar como barreira contra o fluxo de krill, uma fonte vital de alimento para muitos animais da ilha, incluindo pinguins, focas e pássaros.",ambiente
Fernando de Noronha vira laboratório de negócios de carbono zero,"Os governos de Pernambuco e da Califórnia querem transformar a ilha de Fernando de Noronha (PE) em um tipo de laboratório para desenvolver modelos de gestão sustentável, novos negócios colaborativos e com baixa emissão de carbono. Os experimentos do ""Noronha Future City"" vão começar pela mobilidade. No início de dezembro, os dois governos vão reunir na ilha empresas nacionais e estrangeiras, a maioria pernambucanas e californianas, de carros elétricos, energia solar e de aplicativos, além de um grande banco para financiar a aquisição dos automóveis. O primeiro projeto é oferecer em Noronha carros elétricos carregados com energia solar que poderão ser acessados por aplicativos. A ideia também é estimular o compartilhamento dos veículos. O secretário de Meio Ambiente de Pernambuco, Sérgio Xavier, diz que os carros estarão ligados a uma rede de serviços. O app mostrará onde há vagas de estacionamento, postos de combustível e carros disponíveis. Para isso, a precária internet da ilha será melhorada nos próximos três meses, de acordo com o secretário. A expectativa é que o projeto de mobilidade comece a funcionar no primeiro semestre de 2017. Testes devem acontecer em março, diz a Secretaria de Meio Ambiente. ""Avançamos no sentido de criar em Noronha um laboratório não só para pesquisa, mas da vida real. A ideia é imediatamente formular em Noronha, ampliar para Recife e levar para outros locais"", diz Xavier. Ele diz que já há interesse da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) para reproduzir experiências que derem certo em outros lugares do mundo. O secretário diz não haver recursos públicos no projeto. Eles atuam na prospecção de empresas para desenvolver produtos e serviços alinhados à economia de baixo carbono. Algumas possibilidades são: água, reciclagem, arquitetura verde, energia renovável e novas ferramentas de gestão pública. A parceria entre os governos de Pernambuco e da Califórnia faz parte do Global Leadership Memorandum of Understanting, um memorando que foi assinado em 2015 não apenas pelos governadores brasileiro e americano, mas por cerca de 170 governos subnacionais. O ""Noronha FutureCity"" será apresentado em Marrakech, no Marrocos, na programação paralela à Convenção do Clima da ONU, a COP 22, na próxima semana.",ambiente
Crescentes temperaturas no Ártico alarmam cientistas,"A sequência de picos de calor, nos últimos dois meses, no Ártico tem alarmado os cientistas. Eles afirmam que as temperaturas mais altas podem ocasionar, no próximo verão, um recorde preocupante: a menor cobertura de gelo já registrada. Isso pode resultar em um maior aquecimento em uma área que está entre as mais atingidas pelas mudanças climáticas. Em meados de novembro, em algumas partes do Ártico, as temperaturas se encontravam cerca de 1,9 ºC acima do que é normalmente observado. No polo propriamente dito, as temperaturas ficaram aproximadamente 1,3 ºC acima do normal. De certa forma, essas condições já se normalizaram, mas os episódios de temperaturas extremas tendem a voltar –a partir desta quinta (22) se espera que as temperaturas estejam 1,5 ºC acima do normal. Jeremy Mathis, diretor do Programa de Pesquisa do Ártico da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (Noaa, na sigla em inglês), diz que o calor provocou um congelamento tardio do Oceano Ártico. Isso possivelmente levará ao recorde de menor cobertura de gelo na primavera e verão, o que, consequentemente, pode levar a mais aquecimento, já que haverá menos gelo para refletir o sol e maior porção de oceano –mais escuro– exposto para absorver os raios solares. ""Nós observaremos o verão de 2017 atentamente"", afirma Mathis. Um estudo, divulgado nesta quarta (21), liga as temperaturas anormalmente altas no Ártico à mudança climática causada pelo ser humano. Foram utilizadas simulações climáticas para analisar os períodos antes e depois da intensificação das emissões de gases estufa. Os pesquisadores descobriram que a probabilidade da ocorrência de temperaturas extremas, como as verificadas recentemente, saltaram de 1 a cada mil anos para 1 a cada 50 anos. ""Um evento como o que estamos observando agora ainda é algo raro"", diz Friederike E.L.Otto, cientista do Instituto de Mudanças Ambientais da Universidade de Oxford, no Reino Unido, e uma das responsáveis pelo estudo. ""Contudo, sem a presença humana, teria sido um episódio extremamente improvável."" Otto afirma que, se as mudanças climáticas continuarem no ritmo atual, episódios de temperaturas extremamente altas no Ártico podem passar a ocorrer a cada dois anos. ""É impressionante como o risco de eventos como esse estão aumentando"", ela diz. ""É uma região na qual os impactos da mudança climática são muito visíveis."" Walt Meier, pesquisador da Centro Espacial Goddard da Nasa, afirma que o aquecimento anormal é resultado de flutuações nas correntes atmosféricas que permitiram a entrada de ar gelado na América do Norte e ar quente no Ártico. Mesmo que esse tipo de calor extremo não seja novidade, há sinais de que eles estão se tornando mais comuns devido a ação humana, afirma Meier. ""Nós estamos deixando o dado viciado para que esse resultado seja mais provável."" A Terra, como um todo, está mais quente –2015 foi o ano mais quente desde o início dos registros e a previsão é que 2016 bata esse recorde–, mas o Ártico está esquecendo pelo menos duas vezes mais rápido que a média global. Os cientistas afirmam que, em parte, isso ocorre devido à menor cobertura de gelo. Normalmente, o gelo reflete entre 50% e 70% da energia solar. Por outro lado, a água, além de ficar mais quente, reflete somente 6%. Com a água aquecida, mais gelo derrete, o que ocasiona uma maior porção do oceano exposto e mais derretimento ainda. As recentes altas temperaturas tiveram um profundo impacto na formação do gelo ártico. A cobertura de gelo é a menor já registrada em qualquer novembro, desde o início das medições em 1979, segundo a Noaa. O gelo também está ficando mais fino enquanto placas geladas grossas, que duravam anos, são substituídas pelas que derretem anualmente. Nesse outono, as temperaturas foram tão incomuns que a Noaa decidiu lançar com atraso o anual ""Arctic report card"" (Relatório Ártico, em tradução livre). ""Pelas tendências impressionantes que vimos nos últimos meses, resolvemos fazer um adendo"", afirma Mathis. O relatório, que inclui descobertas feitas por projetos, patrocinados pela Noaa, com mais de 60 cientistas, foi divulgado na semana passada em uma conferência em São Francisco. Segundo Mathis, além dos picos de calor, o ano, como um todo, foi o mais quente já registrado. ""O 2016 do Ártico foi algo que nunca vimos antes"", disse Mathis. Embora uma parte do aquecimento se deva aos efeitos do El Niño –que afetou os padrões climáticos globais no ano passado–, o que se vê atualmente está no topo de uma já percebida tendência de aquecimento. O relatório da Noaa também demonstrou que, graças ao derretimento, o gelo da Groenlândia continua a diminuir –o que acontece desde 2002, quando começou o acompanhamento por satélite. Em 2016, o derretimento começou mais cedo do que em todos os anos anteriores, com exceção de 2012. Na conferência em São Francisco, Mathis afirmou que o aquecimento do Ártico tem um efeito cascata no ambiente. Segundo ele, as comunidades locais que dependem de pesca e caça ""deveriam estar muito preocupadas com a situação"". Contudo, Mathis deixou claro que as mudanças no extremo norte são da conta de todo mundo. ""Precisa ficar claro para as pessoas, elas precisam entender que o que acontecer no Ártico vai ter um impacto na vida de todos, independentemente de onde você viver.""",ambiente
"Baterias, anticoncepcionais e trens desaquecerão o mundo, diz cientista","Em palestra na Folha nesta terça-feira (29), o representante especial para mudanças climáticas do Ministério das Relações Exteriores britânico, David King, afirmou que está otimista sobre o encontro internacional do clima em Paris, em dezembro. Ele tratou ainda de assuntos como energia nuclear e demografia, além de questionar a baixa eficiência da pecuária brasileira e o alto uso de transporte rodoviário, que têm impactos ambientais. * TEMPERATURA King e equipe fizeram um estudo com companhias de seguros –especializadas em gerenciamento de risco e cujo negócio depende diretamente da habilidade em lidar como tema. Concluíram que o cenário mais provável é o de um aumento de 3,5°C a 4°C até o final do século e que, entre os principais riscos que isso traz, estão quebras de safra em plantações importantes, como de arroz na China, tempestades e o aumento do nível do mar no mundo todo. ""Para mim o dado é assustador, porque a Grã Bretanha é uma nação-ilha. Estamos cercados por oceano."" BRASIL Ele disse ter ficado positivamente surpreso com o plano brasileiro de cortar 43% de suas emissões em relação a 2005, divulgado no domingo. ""O Brasil mudou sua posição sobre a negociação. Foi um grande passo. Ainda assim, eu gostaria de ver uma meta mais ambiciosa. E eu espero que o Brasil diga o mesmo para o Reino Unido."" ""Nós vamos conseguir um acordo em Paris. E a mudança do Brasil é crítica para isso. Nós temos de evitar que a Índia bloqueie as negociações, mas eu não acho que ela vá ficar isolada impedindo um acordo."" CAMINHÃO E BOI Ele ainda lembrou que o país depende muito do transporte rodoviário de carga e passageiros –enquanto países europeus contam com uma boa rede ferroviária, que emite muito menos CO2. ""Não é só o clima, viajar longas distâncias em trens é muito mais confortável"", disse. King citou ainda a baixa densidade de bois por hectare da pecuária brasileira –seria possível produzir a mesma quantidade de carne em bem menos espaço, evitando desmatamento. ""É uma pecuária muito ineficiente"", afirmou. ""Eu não digo isso por ser contra a carne, mas porque a produtividade pode ser muito melhorada no Brasil."" ENERGIA NUCLEAR Questionado por um participante do evento, King disse não ser um inimigo da energia nuclear, como alguns ambientalistas ou ONGs. ""Nós temos que fazer o possível para descarbonizar a economia global. É isso que eu defendo, e a energia nuclear tem seu papel nessa descarbonização."" BATERIAS Com o avanço das fontes alternativas de energia, King afirmou que será essencial que se invista também em novas formas de armazenamento de energia. Pense, por exemplo, que a energia solar, ao contrário de um estoque de carvão em uma armazenamento de energia, não pode ser gerada a qualquer momento –é preciso acumulá-la nos tempos de ""fatura"". DEMOGRAFIA King reforçou que, na discussão ambiental, não se pode ignorar questões populacionais. Ele citou a educação feminina e a disponibilidade de anticoncepcionais como modos de evitar uma explosão demográfica, especialmente em países subdesenvolvidos, o que poderia acarretar mais emissões de gases-estufa no longo prazo. ""Colocar as meninas na escola causa um grande transformação. E isso já está acontecendo, inclusive na África.""",ambiente
Trump diz estar com 'mente aberta' em relação ao acordo de Paris,"O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, assegurou nesta terça-feira (22) que estuda uma eventual retirada de seu país do Acordo de Paris sobre as mudanças climáticas. Contudo, afirmou que mantém a ""mente aberta"" a esse respeito. ""Estou analisando essa questão muito detalhadamente. Tenho a mente aberta sobre o tema"", disse o presidente eleito a um painel formado por repórteres do jornal ""The New York Times"", veículo com o qual mantém uma guerra aberta. Quando lhe perguntaram se acreditava que a mudança climática estava relacionada às atividades humanas, o empresário se limitou a responder: ""Acho que há alguma conexão. Algo, alguma coisa. Mas depende de em que quantidade acontece"". Durante a campanha eleitoral, Trump prometeu que, se eleito, retiraria os EUA do Acordo de Paris. Ele chegou a afirmar que a mudança climática era uma farsa criada pela China para prejudicar a economia americana. Em suas declarações desta terça ao ""The New York Times"", Trump reconheceu que também analisa a questão da mudança climática do ponto de vista comercial. ""Quanto custará às nossas empresas?"" O presidente eleito também se disse preocupado com a competitividade dos produtos americanos. O acordo firmado em Paris no final de 2015 se propõe a reduzir o aquecimento global em 2ºC. Os Estados Unidos ratificaram o acordo em setembro, após empenho pessoal do atual presidente, Barack Obama.",ambiente
Emissões chinesas de carbono estão 'dois Brasis' superestimadas,"A China acaba de se tornar um país que emite um pouco menos de gases-estufa, segundo um estudo publicado nesta quarta (19) na revista científica ""Nature"". Pesquisadores de instituições chinesas, americanas e europeias atualizaram a maneira de se medir a produção de CO2 para a atmosfera na queima de combustíveis fósseis, como o carvão, e na produção de cimento. O estudo propõe uma ""redução"" das emissões chinesas de CO2 na ordem de 1,1 bilhão de toneladas (ou 1,1 gigatonelada) em 2013 –mais de dois ""Brasis"" em emissões dentro da mesma categoria, ou 14% das emissões chinesas estimadas anteriormente pela base Edgar (Emissions Database for Global Atmospheric Research), utilizada como uma referência internacional. No entanto a China, mesmo com a correção, lidera o ranking dos causadores do efeito-estufa com folga sobre o segundo colocado, os EUA. A redução proposta pelos cientistas nas emissões chinesas se dá a partir de uma análise mais detalhada de fatores como a quantidade de carvão de fato utilizada pelos usinas termelétricas do país e o potencial de liberação de CO2 a partir da sua queima. Ou seja, os cientistas substituíram estimativas mais gerais, realizadas por modelos matemáticos, por medições mais concretas registradas em observações de campo. Segundo o climatologista e atual presidente da Capes (órgão do governo federal ligado à educação superior) Carlos Nobre, é normal nesse campo de pesquisa que medidas realizadas em campo corrijam, aumentando ou diminuindo, as estimativas de emissões. Ele diz conhecer alguns dos autores e confiar na qualidade do estudo. Nobre acha que ainda há muito a avançar na medição de emissões de gases-estufa. ""Existir variação dos fatores de emissão entre as tabelas significa que o buraco é mais embaixo: as incertezas são maiores que o imaginado e precisamos avançar também na mensuração"", afirma o pesquisador. A superestimativa das emissões chinesas, agora relatada pelos pesquisadores, significa na prática uma redução do CO2 emitido entre 2000 e 2013 equivalente a 9,7 gigatoneladas de CO2. Esse valor é aproximadamente o que o país emite anualmente hoje em dia. Para Tasso de Azevedo, coordenador do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito-Estufa do Observatório do Clima, a redução da estimativa de emissões chinesa não muda o prognóstico ruim para a China. O quantidade de gases liberados na atmosfera pelo país deve continuar crescimento rapidamente. A meta do governo chinês é atingir o pico das emissões em 2030, passando a reduzi-las daí em diante. BRASIL Na ausência de medidas precisas que reflitam cada realidade nacional, o IPCC categoriza os dados em diferentes níveis de confiabilidade. O primeiro grupo de dados é reconhecidamente uma estimativa grosseira. O segundo é um pouco melhor, e leva em conta particularidades nacionais. O terceiro grupo é o mais preciso. No Brasil, explica Azevedo, a maior parte das medidas está no segundo nível. Segundo Nobre, existem diversos estudos publicados e em andamento para atualizar as medidas nacionais. O próximo relatório de emissões do governo brasileiro incorporou fatores de emissão mais precisos obtidos em estudos nacionais, conta Nobre, que coordenou o documento. ""Você não pode gerenciar aquilo que não consegue medir"", avalia. A liberação do material depende agora do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação, onde atuava até fevereiro de 2015.",ambiente
Medições incineram dúvidas semeadas pelos negacionistas,"O negócio dos céticos do aquecimento global é plantar dúvidas para colher desconfiança nos resultados dos pesquisadores que trabalham na área. O calor recordista registrado por três anos sucessivos, contudo, ajudará a calcinar as ervas daninhas que eles vinham semeando. Entrou em combustão espontânea a ideia de que o aquecimento global sofrera um ""hiato"" entre 1998 e 2013. O primeiro ano da série escolhida a dedo havia sido excepcionalmente quente, e a ausência de recordes nos anos subsequentes permitiu forjar a tese do resfriamento. Aí vieram 2014, 2015 e 2016. Todos, em sequência, os anos mais quentes já registrados desde 1880. O hiato virou pó. Agora alguns poderão tentar argumentar que a tríade de rachar mamona não vale, porque recebeu a ajuda de um El Niño intenso em 2015. Essa anomalia intermitente nas águas do oceano Pacífico, afinal, está associada com anos escaldantes, como foi 1998. Tudo ainda se encaixaria na moldura da variabilidade natural do clima. ANOS MAIS QUENTES - Diferença de temperatura anual em relação à média do século 20, em ˚C Haveria alguma verdade na primeira parte do argumento. Mesmo em 2016, quando o El Niño já arrefecia, a atmosfera ainda reverberava seus efeitos. Contra essa explicação, no entanto, pesa o fato de que 2014 não foi um ano de El Niño. Ele bateu o recorde, assim, sem ajuda externa. Além disso há uma questão quantitativa. O ano passado ficou 0,83°C acima da média do período de referência (1961-1990) empregado pela Organização Meteorológica Mundial. Já em comparação com a era pré-industrial, a atmosfera na superfície do planeta esteve 1,1°C mais quente, na média, em 2016. É um valor muito próximo do estipulado como variação máxima pelo Acordo de Paris (2015), 1,5°C. Um aquecimento dessa ordem, indicam análises estatísticas, seria de ocorrência muito improvável apenas sob a ação de fatores naturais, sem a contribuição dos gases do efeito estufa emitidos por atividades humanas como produção de energia, transportes e desmatamento. Estudo em janeiro de 2016 na revista ""Scientific Reports"" estimou que uma anomalia na temperatura da magnitude observada em 2014, por exemplo, tinha 600 a 130 mil vezes mais probabilidade de ocorrer na presença de atividades humanas do que sem elas. Ainda falta alguém calcular quais seriam as chances, sem o fator antropogênico, de uma série inaudita como 2014/2015/2016 acontecer. O ano de 2016 será inesquecível, e não só porque um cético do aquecimento global topetudo como Donald Trump se tornou o homem mais poderoso do mundo. Por volta do Natal, algumas áreas do Ártico enfrentavam temperaturas até 20°C acima do usual para a época do ano. Não por acaso, os modelos de computador que simulam o futuro do clima predizem que essa região do globo sofrerá o aquecimento mais intenso e rápido. Não há de ser coincidência, tampouco, que a camada de gelo marinho nos oceanos polares, tanto no Ártico quanto em torno da Antártida, tenha encolhido muito mais que a média em 2016. Não se trata de um recorde, ainda. Mas quem não desconfia da ciência tem boas razões para temer o pior.",ambiente
Intervenções de artista querem alertar para relação entre homem e ambiente,"O trabalho do artista plástico paulistano Eduardo Srur, 42, é fazer as pessoas enxergarem um cenário quase invisível: a própria cidade. Uma vez, chamou a atenção para a poluição do rio Pinheiros colocando sobre o leito caiaques com manequins. Em outra, atraiu olhares para monumentos ao vesti-los com coletes salva-vidas. Desafiado pela Folha a explorar o desperdício de comida, sua opção foi fazer uma intervenção na Ceagesp, maior central de distribuição de alimentos da América Latina. ""Meu trabalho questiona a relação entre o homem e a natureza. Vi o descuido que a gente tem com o alimento no Brasil"", diz. Para tirar o público da ""anestesia cotidiana"", Srur extrai objetos cotidianos do contexto original: no caso, aqui, criou uma caçamba parecida com a convencional, mas vazada, para mostrar que o lixo ""não desaparece num passe de mágica"". ""É um choque visual, porque a função da caçamba é remover entulho. Tiro essa função e a reconstruo em linhas no espaço. A função é transformada em reflexão"". Na intervenção que resultou na capa deste caderno, caixas e caixas de tomates, abacaxis e pimentões descartados foram despejadas dentro da escultura até que desceram as correntes do caminhão. A caçamba foi recolhida, mas a montanha de comida descartada ficou no chão. ""É uma provocação, mostra como a sociedade se comporta: quer ver o lixo afastado, mas ele vai para algum lugar. A maioria não tem um destino adequado"", diz o artista, que aplica a lógica do resíduo zero em suas obras. Suas famosas garrafas Pet gigantescas colocadas nas margens do rio Tietê em 2008, por exemplo, foram transformadas em mochilas. Srur participa de cada etapa -diz aos ajudantes como quer a comida, busca o lugar ideal para a instalação e olha no visor da câmera para ver se o enquadramento está bom. ""Sou prático, gosto de executar minhas operações mentais."" Não quer dizer que atue sozinho. ""Artista não sabe fazer tudo."" Algumas obras já lhe deram problemas: o ""Touro Bandido"", em posição de coito com uma vaca da Cow Parade, em 2010, o levou à delegacia (inquérito arquivado). O talento para ""causar"" virou fonte de renda. Criou uma empresa de intervenções para ações de marketing e sustentabilidade. ""Agências precisam de ideias fora da caixa, e eu preciso de recursos da publicidade, infinitamente maiores que os da arte"". Dediciu sair do ateliê, em parte, inspirado por Christo, não o da Bíblia, o artista búlgaro. ""Vi que artista pode ter uma produção colaborativa e levar uma visão de empreendedorismo para o trabalho."" Trocou o curso de publicidade por artes plásticas graças a uma aula chata de estatística. ""Sempre gostei de arte, mas não era diferente de ninguém na escola. Foi uma aposta profissional. Não acho que artista seja diferente de médico ou advogado.""",ambiente
Pinheiros de Natal naturais limitam impacto no ambiente,"Às vésperas do Natal, os produtores de pinheiros na França correm para atender os clientes que buscam uma árvore natural para decorar a casa. Em 2015, 22% dos franceses adquiriram um pinheiro de verdade, o que representa um volume de vendas de € 140 milhões por ano. A prefeitura de Paris criou um programa de reciclagem para transformá-los em adubos para seus parques. O pinheiro de verdade é de fato mais ecológico do que o artificial, apesar da logística que envolve a plantação e o transporte? A resposta é sim. ""Em termos ecológicos, é preciso comprar um pinheiro clássico, e não árvores cobertas de flocos branco, imitando a neve, que não podem ser recicladas. Esses pinheiros não são ecológicos. Bonitos, talvez, mas pouco ecológicos"", explica a secretária do Meio-Ambiente em Paris, Penélope Komite. Na França, os pinheiros são cultivados principalmente na região da Borgonha, no centro-oeste do país. Algumas associações denunciam o uso de pesticidas como o diazionon nas plantações, perigoso para aves, animais e seres humanos, mas isso seria um fato raro segundo a representante de Paris. Nos testes realizados nas árvores recolhidas pela prefeitura para avaliar a presença de produtos químicos, nada apareceu, afirma. A plantação também contribui para diminuir o efeito de gases poluentes que provocam o efeito estufa. Além disso, os pinheiros de Natal, depois das festas, podem ser reciclados e utilizados de maneira biodegradável. Esta é a iniciativa, por exemplo, da prefeitura de Paris, que criou mais de 150 pontos de coleta nos jardins e parques da cidade. Recolhidos, eles são triturados, transformados em adubo e reaproveitados nos espaços verdes da capital francesa, como explica a secretária do Meio Ambiente Penélope Kermite, ex-diretora do Greenpeace na França. Em 2015, mais de 70 mil pinheiros foram coletados e a expectativa esse ano é que quase 100 mil árvores sejam recicladas. Só no ano passado, foram produzidos 1200 m3 de adubo. ""Isso ajuda na gestão dos parques e jardins porque não utilizamos produtos fitossanitários. Por isso propomos aos parisienses, em vez de deixar o pinheiro na rua, trazê-lo em um dos pontos de coleta. Senão eles podem ser recolhidos e incinerados, o que é uma pena"". SOLUÇÃO SUSTENTÁVEL Uma startup parisiense também encontrou uma solução sustentável para os pinheiros. As árvores, com nome e sobrenome, são alugadas durante o período de Natal e recuperadas pela empresa em janeiro. Criada em 2012 por três jovens da capital francesa, a empresa Treez Mas seduziu muitos parisienses. Neste ano, cerca de dois mil pinheiros vão ganhar uma casa nova. Loïc Cesson, um dos criadores da empresa, conta que as árvores são plantadas novamente na floresta. Segundo ele, 50% dos pinheiros retornam em ""bom estado"". Ele também afirma que os produtores utilizam apenas fertilizantes naturais nas árvores. ""Não temos pretensões ecológicas, temos uma iniciativa responsável e nos comprometemos a recuperar os pinheiros dos clientes, vivos, para que não sejam abandonados na rua e virem lixo. Depois eles são reciclados. É uma escolha responsável, que custa para a gente, porque poderíamos ter uma margem de lucro maior. Mas é um compromisso da empresa"" diz. Um processo que, no fim, diminui o impacto ecológico e a avaliação de carbono, reduzida. PERSONALIZAÇÃO O aluguel do pinheiro também ajuda na educação ecológica. Os clientes que adotam o pinheiro no período das festas se comprometem a cuidar da planta, que tem nome: Arthur, Victor, Léon, Camille. ""É um pinheiro que tem uma história e uma idade, e isso possibilita e isso ajuda as pessoas a cuidarem da planta e ter uma empatia por ela"".",ambiente
Filhote de gorila nascido em BH recebe o nome de Ayô,"O filhote de gorila nascido no zoológico de Belo Horizonte em maio passado recebeu o nome de Ayô nesta sexta-feira (1º). O nome, que significa ""alegria"" em iorubá (língua falada na África Ocidental), foi escolhido em votação online. Cerca de 30 mil pessoas escolheram entre Ayô (40,44% dos votos), Toriba (38,94%) e Kong (20,62%). Bebê gorila Os nomes finalistas foram selecionados a partir de sugestões de alunos da rede municipal. Kong significa ""porto"" em chinês e Toriba significa ""felicidade"" em tupi-guarani. O nascimento de Ayô foi considerado uma importante contribuição para a conservação dos gorilas, criticamente ameaçados de extinção devido à caça comercial e à destruição do seu habitat natural. Na América do Sul, há gorilas somente em Belo Horizonte. O bebê foi o terceiro da espécie gorila da planície ocidental (Gorilla gorilla gorilla) a nascer na capital mineira. O Zoológico de Belo Horizonte tem agora três adultos e três filhotes de gorilas. Além de Ayô, há seu irmão Jahari, nascido em 2014. Imbi, a mãe dos gorilas, foi trazida do Reino Unido em 2011. O pai, Leon, veio da Espanha em 2013. Há ainda a gorila Lou Lou, vinda do Reino Unido em 2013, que teve o filhote Sawidi em 2014. O empréstimo dos animais ocorreu após a recomendação da Associação Europeia de Zoológicos e Aquários (EAZA, em inglês) e a obtenção de licenças do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) e do Ministério da Agricultura. Com quatro meses, Ayô já sai do colo da mãe e pode ser visitado de terça a domingo, das 8h às 17h.",ambiente
Operação do Ibama na Amazônia luta contra o desmatamento; veja imagens,"As colunas de fumaça sobre Apuí, no sul do Amazonas, podem ser vistas a alguns quilômetros de distância, em meio ao verde fechado da floresta amazônica, em um sinal de que as queimadas e o desmatamento voltaram a dominar a região. Os sinais da devastação feita pelo fogo estão por toda a cidade, dos caminhões levando toras de madeira nobre pelas estradas ao fogo que contamina o ar na cidade, irrita olhos e narizes. A pequena cidade de 21 mil habitantes está no centro do recrudescimento das queimadas e do desmatamento na região amazônica. O boletim de focos de queimadas preparado pela Secretaria de Meio Ambiente do Estado do Amazonas coloca Apuí em primeiro lugar na primeira semana de agosto. As vizinhas Manicoré, Novo Aripuanã e Humaitá estão entre os 10 primeiros. A região é a base da operação Onda Verde, que desde o dia 22 de julho –e durante um mês– levou agentes do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e agentes da Polícia Militar Ambiental do Amazonas a buscar e destruir acampamentos, multar desmatadores, recolher equipamentos. Alguns dias depois dos agentes deixarem Apuí, os desmatadores voltaram a atuar. ""É quase como enxugar gelo. Alguns se assustam, não voltam. Mas são os laranjas. Os grandes nem estão aqui"", disse à Reuters uma funcionária da fiscalização que preferiu o anonimato por temer ameaças. Perto da divisa com Rondônia, a região sul do Amazonas – Estado que, de acordo com a ONG WWF, era um dos menos afetados pelo desmatamento– tem sofrido os efeitos da abertura da Rodovia Transamazônica e do avanço do arco do desmatamento em busca de novas terras para pastagem. ""Essa região do sul do Amazonas não estava inserida da área de alto controle. Faz uns 120 dias que observamos um pico muito alto no desmatamento"", disse à Reuters o agente do Ibama Jaime Pereira da Costa, coordenador da operação. Fugindo da fiscalização, madeireiros têm vindo de Mato Grosso e Rondônia para desmatar na área. ""O madeireiro migra, fugindo da fiscalização. É o primeiro a chegar. Primeiro vem a especulação madeireira, depois vem a pecuária e depois a soja e outras plantações. Aí fica difícil de segurar"", disse. As queimadas que podem ser vistas em toda parte são a segunda etapa de uma economia predadora que começa com a retirada e venda de madeira de lei. Sem ter mais o que tirar, os madeireiros tocam fogo na mata e vendem a terra ilegalmente para pastagem. A abertura de novas frentes de desmatamento já aparece nos dados do governo. Depois de chegar a seu índice mais baixo em 2012, com 4.571 quilômetros quadrados, o desmatamento na Amazônia Legal voltou a subir já no ano seguinte. De acordo com dados do Prodes, o sistema de monitoramento por satélite, as áreas desmatadas subiram 29 por cento entre 2015 e 2016, chegando a 7.989 quilômetros quadrados. Os dados do último relatório do Deter –outro sistema de monitoramento por satélite, menos preciso, mas que revela pontos de atenção mês a mês– apontou que, em junho, 1.045 quilômetros quadrados da Amazônia estavam sob alertas para degradação da área florestal. O ministro do Meio Ambiente, José Sarney Filho, afirma que registros do ministério indicam que o desmatamento voltou a cair. Os dados do Prodes 2016/2017 só devem sair em novembro, mas os números preliminares indicariam uma reversão da tendência. ""São dados preliminares, mas tudo indica que a curva está caindo. Estamos otimistas"", afirmou. O ministro garante que o governo voltou a investir pesadamente em operações, como a Onda Verde.",ambiente
Peixe se adapta à vida em águas altamente poluídas,"A espécie Fundulus heteroclitus, pertencente a um grande grupo de peixes conhecido como ""killifish"" (muito apreciados por aquaristas), possui uma anormal e intrigante capacidade de adaptação à poluição, relata um novo estudo publicado na revista ""Science"". O bichinho vive nas águas do Atlântico Norte e muitas vezes habita zonas onde há despejo de rejeitos industriais ricos em toxinas. Um dos segredos para perseverar no hostil ambiente, de acordo com os cientistas americanos autores da pesquisa, é a grande variabilidade genética da espécie. Por exemplo, indivíduos de uma população do bicho podem ter uma facilidade em neutralizar as toxinas, ou simplesmente não deixar que elas consigam interromper processos bioquímicos vitais. Essa diversidade pode ter surgido bem antes de haver poluição no habitat dos F. heteroclitus ou de mutações novas que, de repente, favoreçam a sobrevivência. Em ambos os casos, populações com grande números de indivíduos, como é o caso dos peixinhos, contam a favor. O exemplo dos F. heteroclitus mostra que a evolução não precisa de uma escala de tempo gigantesca para se mostrar presente e eficaz.",ambiente
Natureza e biodiversidade são tema de exposição em shopping de SP,"Para quem gosta de exposições interativas, uma dica é a nova exposição sobre biodiversidade e natureza que acontece no shopping Eldorado (zona sul da capital) até 13 de abril. Uma das principais atrações é a Power Station, que conta com três bicicletas ligadas a uma ""árvore"", que se acende completamente quando as três estão sendo pedaladas. É possível saber quanto se economizaria de combustível fóssil e a quantidade de gases-estufa que deixaria de ser emitida. Cada pedalada é computada e o desafio proposto para cada cidade em que a exposição passar é bater o volume de pedaladas da cidade anterior. Como a exposição começa em São Paulo, resta aos paulistanos estabelecer uma marca difícil de ser batida. Com óculos rift, que geram um ambiente virtual, os visitantes poderão passear pela Reserva Natural Salto Morato, unidade de conservação no litoral paranaense, dentro do maior trecho contínuo de mata atlântica do país. Também há um telão ""sensorial"" em 360º, em que a proposta é provocar uma imersão em paisagens naturais do Brasil. A exposição é promovida pela Fundação Grupo Boticário. * Conexão Estação Natureza LOCAL No shopping Eldorado (av. Rebouças 3970, em Pinheiros) QUANDO Até 13 de abril QUANTO Gratuito",ambiente
"Após vetar medida, Temer propõe novo corte de floresta no PA","Cumprindo promessa feita à bancada paraense, o presidente Michel Temer (PMDB) enviou ao Congresso nesta quinta-feira (13) um projeto de lei (PL) que retira 349 mil hectares ou 27% da Floresta Nacional do Jamanxim, no sudoeste do Pará. O objetivo é legalizar grileiros e posseiros dentro da área. O PL 8.107 substitui a Medida Provisória 756, vetada por Temer no mês passado após críticas de ambientalistas e que previa uma redução ainda maior da floresta, de 37% da área total. A modelo Gisele Bündchen chegou a tuitar pedido para que o presidente vetasse a MP, a que Temer respondeu que havia vetado integralmente ""todos os itens das MPs que diminuíam a área preservada da Amazônia"". temer Os 349 mil hectares retirados da Floresta Nacional (Flona) seriam transformados em Área de Proteção Ambiental (APA), o que reduz seu nível de proteção, permite a propriedade privada e atividades rurais, como a pecuária, e desburocratiza a mineração. Em texto que acompanha o PL, o ministro do Meio Ambiente, Sarney Filho, afirmou que a Flona ""tem sido palco de recorrentes conflitos fundiários e de atividades ilegais de extração de madeira e de garimpo associados a grilagem de terra e a ausência de regramento ambiental"". ""Com reflexos na escalada da criminalidade e da violência contra agentes públicos, sendo necessária a implantação de políticas de governo adequadas para enfrentar essas questões"", justificou. O PL prevê que serão regularizados apenas posseiros que já estavam na Flona na época de sua criação, em 2006, mas o desenho da APA inclua áreas que foram invadidas e desmatadas após essa data. Com o envio do PL ao Congresso, manifestantes levantaram os protestos que vinham bloqueando a BR-163, importante via para o escoamento de soja. SUBSÍDIO Caso a diminuição seja aprovada pelo Legislativo, o governo dará um subsídio de pelo menos R$ 511 milhões aos ocupantes ilegais da Flona, segundo cálculo da ONG Imazon, com sede em Belém. Para chegar a esse montante, os pesquisadores Paulo Barreto e Elis Araújo compararam o valor de mercado de um hectare na região (R$ 1.800) com os preço referencial do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), cujas regras de cobrança foram modificadas pela Lei 13.465, sancionada por Temer nesta terça-feira (11) e apelidada de ""MP da Grilagem"" por ambientalistas. Na planilha do Incra, o preço mínimo da terra nua (não formada) na região é de R$ 672 por hectare. A nova lei prevê que, para a titulação, serão cobrados de 10% a 50% desse valor. Assim, posseiros e grileiros teriam um subsídio de R$ 511 milhões a R$ 605 milhões em relação ao preço de mercado, segundo o Imazon. ""As duas medidas reforçam a ideia de que o crime compensa. Incentivarão o desmatamento e aumentarão a pressão para reduzir outras áreas protegidas"", diz Barreto. Em nota, o Ministério do Meio Ambiente afirmou que a redução da Flona será acompanhada de ações para conter o desmatamento no sudoeste do Pará, como aumento da fiscalização, aceleração na regularização dos estabelecimentos rurais e implantação de projetos econômicos sustentáveis. Questionado pela Folha sobre a pressão da bancada ruralista para o envio do PL, o Palácio do Planalto disse que não comentaria o assunto. SEM SURPRESAS O PL não surpreende Carlos Rittl, secretário executivo do Observatório do Clima, considerando que Temer teria sido constrangido, pela pressão e repercussão internacionais, a vetar as MPs que tratavam da redução da proteção da Flona. Segundo Rittl, o socioambiental se tornou uma moeda de troca para Temer se livrar de denúncias ou para aprovar reformas. ""Ele está mais interessado no futuro imediato dele do que no do país."" As MPs originais relacionadas à Flona Jamanxim delimitavam uma área menor a ser transformada em APA (305 mil hectares) e, como contrapartida, acrescentavam 438 mil hectares à área de proteção permanente. O congresso, contudo, fez modificações e aumentou a área destinada à APA (486 mil hectares), que possui menor nível de proteção. ""No projeto original, a discussão começava de um ponto ruim. Agora ela começa de um ponto pior"", diz Rittl. ""É muito difícil você ver no congresso qualquer proposta sair melhor do que ela entrou, em especial na questão socioambiental."" Um dos argumentos dos defensores da criação da APA seria a diminuição dos conflitos relacionados às propriedades rurais locais, contudo o avanço do PL no congresso poderia ter o efeito contrário, aumentando a violência no campo e o desmatamento, de acordo com Rittl. O Brasil é o país mais letal para ambientalistas, segundo relatório da ONG Global Witness, divulgado nesta quinta (13). Em 2016, foram 49 assassinatos no país, dos quais 16 estavam ligados ao desmatamento e ao agronegócio. No mundo, foram 200 mortes. Colaboraram RUBENS VALENTE, da Sucursal de Brasília, e PHILLIPPE WATANABE, de São Paulo",ambiente
Antártida está ficando verde devido ao aquecimento global,"Plantas estão crescendo na Antártida como nunca antes na modernidade, estimuladas pelo aquecimento global que está derretendo o gelo e transformando paisagem branca em verde, anunciaram cientistas nesta quinta-feira (18). Pesquisadores que estudam musgos em uma área de 640 km de extensão descobriram um forte aumento no crescimento destes vegetais nos últimos 50 anos, de acordo com o relatório publicado no jornal ""Current Biology"". A Antártida possuía somente 0,3% de sua área com plantas. ""As elevações de temperatura durante cerca de meio século na península Antártica tiveram um efeito dramático sobre os bancos de musgos que crescem na região"", disse o coautor do estudo, Matt Amesbury, da Universidade de Exeter. ""Se isso continuar, e com o aumento das áreas sem gelo, a península Antártica será um local muito mais verde no futuro"". Cinco núcleos de musgo –ou amostras retiradas da Terra– mostraram evidências do que os cientistas chamam de ""pontos de mudança"", ou pontos no tempo, após os quais a atividade biológica aumentou claramente. As amostras das áreas incluem três ilhas da Antártida –Ilha Elefante, Ilha Ardley e Ilha Verde– onde crescem os bancos de musgo mais profundos e antigos, segundo o estudo. ""Isso nos dá uma ideia muito mais clara da escala em que essas mudanças ocorrem"", disse Amesbury. ""Anteriormente, tínhamos identificado tal resposta em um único local no extremo sul da península Antártica, mas agora sabemos que os bancos de musgo estão respondendo às recentes mudanças climáticas em toda a península"". As regiões polares estão esquentando mais rapidamente do que o resto da Terra, os gases de efeito estufa provenientes da queima de combustíveis fósseis sobem para a atmosfera e retêm o calor. O Ártico está ficando mais de quente e de forma mais rápida, mas a Antártida não fica muito atrás, com temperaturas anuais que sobem 0,5ºC a cada década, desde os anos 1950. ""O sensível crescimento do musgo relacionado ao aumento da temperatura no passado sugere que os ecossistemas irão se alterar rapidamente com o aquecimento no futuro, levando a mudanças na biologia e na paisagem desta região icônica"", declarou o pesquisador Dan Charman, professor na Exeter. ""Em suma, poderíamos ver Antártida 'esverdear' paralelamente com as observações bem estabelecidas no Ártico"". Alguns pesquisadores do projeto também vieram da Universidade de Cambridge e do British Antarctic Survey.",ambiente
"Brasil desmata o equivalente a um pequeno país a cada 4 anos, diz OCDE","Brasil tem feito grandes progressos quando se trata de meio ambiente. Reduziu a extração ilegal de madeira, tem uma política ambiental severa e um sistema de alto nível para controlar esta política, mas ainda desmata uma área similar ao território de Israel a cada quatro anos. A OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) divulgou um relatório para analisar o desempenho das políticas de proteção ambiental no Brasil, no qual apontou que, apesar de melhorias visíveis, o país ainda tem a maior perda de área florestal do mundo: 4.800 quilômetros quadrados, de acordo com dados de 2014. E uma das principais falhas de seu vasto programa ambiental é, para a OCDE, a longa brecha entre a legislação adotada e sua implementação de fato. ""O crescimento econômico e urbano, a expansão agrícola e de infraestrutura também aumentaram o consumo de energia, o uso de recursos naturais e as pressões ambientais"", aponta o relatório apresentado nesta quarta-feira (4), em Brasília. ""Apesar da severa legislação ambiental, ainda há muitas lacunas na sua execução e cumprimento. No atual cenário de uma economia encolhendo, uma melhor integração dos objetivos ambientais e das políticas econômicas e setoriais ajudaria o Brasil a avançar no sentido de um desenvolvimento mais mais verde e mais sustentável"", acrescenta o texto. No entanto, este país que abriga a maior biodiversidade do planeta está longe de ser a dramática situação de 2004, quando a floresta perdeu 27 mil quilômetros quadrados de árvores. É também a nação dos Brics (Brasil, Rússia, Índia e China) com maior oferta de energia renovável e já reduziu suas emissões para níveis abaixo da meta estabelecida para 2020. Mas os desafios permanecem, pouco antes do início da 21ª Conferência do Clima de Paris (França), que em dezembro reunirá 195 delegações a fim de manter o aumento constante da temperatura global a um máximo de 2°C desde o início da Revolução Industrial. O Brasil, que possui 12% da água doce do planeta, é um ator-chave para um acordo bem-sucedido em Paris.",ambiente
Professor empalhou mais de 6.000 bichos e criou um museu no Paraná,"Uma antiga estação ferroviária em Cornélio Procópio, no norte do Paraná, abriga um urso-marrom, um enorme jacaré-açu, um lobo-guará, uma sucuri e centenas de outros animais, entre aves, répteis, anfíbios e felinos. Na mesma cidade, quem abre a porta de uma sala da Universidade Estadual do Norte do Paraná (Uenp) dá de cara com tigres, leões e onças-pintadas. Um desavisado pode se assustar com tantas feras, mas os animais são inofensivos: estão mortos e foram taxidermizados por João Galdino, 77, professor de fala pausada, voz grave e entusiasta da educação ambiental. Dentista e biólogo, ele conheceu a taxidermia (processo de conservação de animais mortos) quando cursava Odontologia, em Campinas (SP), na década de 1960. Filho de pequenos agricultores e com pouco dinheiro no bolso, ele costumava visitar o Bosque dos Jequitibás, um dos parques mais antigos da cidade paulista. ""No bosque havia um professor que fazia taxidermia chamado Mario Lotufo. Colei nele. Observava tudo. Acabei aprendendo de tanto olhar"", recorda Galdino. O primeiro animal que empalhou foi um gavião. Não parou mais. Formado dentista, Galdino voltou ao Paraná. Atendia como odontólogo e lecionava a antiga disciplina de Ciências no ensino médio. E resolveu fazer faculdade de Biologia à noite para aprender mais sobre fauna e flora. ""Foi aí que soube que muitos animais de zoológicos sofriam com problemas dentários. Não havia profissionais para mexer nos dentes deles. Entrei nessa. Durante 16 anos fiz canais e obturações em leões, tigres, onças, ursos, javalis, chimpanzés de diversos zoos do país. Tive que fabricar instrumentos para mexer nas bocas de cada um deles"", conta o professor. Enquanto cuidava de dentes e dava aulas já como professor universitário de Biologia, Galdino foi formando seu acervo, com doações dos próprios zoológicos e de órgãos ambientais. ""Até hoje é assim. Quando morre um animal, ligam para mim. Se acho interessante, pego minha caminhonete e vou buscar, não importa a distância."" CONSTRUINDO UM MUSEU O acervo do professor chamou a atenção da Prefeitura de Cornélio Procópio em 2002, ano em que a cidade inaugurou um Museu de História Natural na antiga estação ferroviária do município. O espaço foi adaptado para receber as peças de Galdino, que formam hoje 100% do acervo. Paredes receberam pinturas para caracterizar os ambientes dos biomas representados. Galhos de árvores, folhas e outras plantas ajudam a compor os cenários em que os animais são astros. ""Não basta taxidermizar. Tem que saber a postura de cada um na natureza: o que come, o que preda, em qual árvore sobe, em qual não sobe. Assim é possível ter um trabalho de educação ambiental bem feito"", afirma Galdino. O museu trabalha de acordo com as restrições orçamentárias da prefeitura. Por falta de funcionários –são apenas dois– abre somente de segunda a sexta-feira, das 8h às 14h. O orçamento para manutenção do acervo é de R$ 7.200 mensais, repassados a um instituto presidido por Galdino. Mesmo assim, os livros de visita do museu registram mais de 60 mil nomes em 12 anos de atividades. Número superior à população de Cornélio Procópio, cidade de 48.615 habitantes. A maioria do público é de crianças de escolas da região. Quando possível, o próprio professor faz o papel de monitor das visitas. Gosta de explicar sobre os animais para crianças e outros públicos. ""Não tem nada mais emocionante do que ver um deficiente visual podendo tocar nos animais, pegá-los nas mãos."" Como o espaço histórico da estação ferroviária da cidade não permite ampliações e não comporta mais do que 300 animais, o professor recorre a espaços na Universidade Estadual do Norte do Paraná, onde permanece produzindo. Praticamente já não cabe mais nenhum bicho por lá. Mas eles continuam chegando, sobretudo animais silvestres que morrem atropelados em estradas, como onças-pardas, e outros oriundos de zoológicos. ARTE E PRÁTICA O processo de taxidermia é minucioso. Tudo o que é carne é retirado. Para a conservação, é utilizada uma pasta específica, à base de arsênico. O interior do animal é preenchido com serragem, parafina ralada, poliuretano ou palha. Também são utilizados outros materiais. Para empalhar um tigre-de-bengala que pesava 260 quilos, o professor precisou construir um esqueleto de ferro. Os olhos são de cristal, importados da Alemanha. Um par custa US$ 30. Sobre planos para o futuro, Galdino diz que sonha em encontrar um lugar que possa acolher e expor o acervo. A sala que a faculdade reservou para ele está saturada. Quase não dá para se locomover dentro do espaço. É preciso esforço para alcançar um condor que está atrás dos tigres e necessita de um reparo na asa. E isso sem pisar em uma sucuri de 7,4 metros capturada em um brejo do Rio Tietê, perto de Bauru (SP). ""Ela estava com 76 filhotes na barriga. Infelizmente foi laçada, fraturou vértebras e morreu"", lamenta. ""Tudo aqui tem um valor científico, cultural e pedagógico. Quero compartilhar"", conclui o professor que criou um museu de história natural praticamente sozinho.",ambiente
Radiografia ambiental do país avança a passos lentos,"Cerca de um quarto do território brasileiro entrou na rota da regularização ambiental prevista pelo novo Código Florestal: 2,13 milhões de km2 de propriedades agrícolas foram incluídas no Cadastro Ambiental Rural (CAR). Três anos depois de aprovada a legislação, ainda estão de fora 46% da área que deveria compor essa radiografia detalhada do desmatamento no país. O anúncio foi feito em Cuiabá por Raimundo Deusdará Filho, diretor do Serviço Florestal Brasileiro, órgão do Ministério do Meio Ambiente encarregado de coordenar o cadastro em escala nacional, já que cabe a cada Estado implantá-lo. Deusdará participou do seminário ""Mato Grosso: Cadeias Produtivas Sustentáveis"", organizado pelo jornal ""Valor Econômico"". Mais de 1,53 milhão de imóveis rurais se encontram no sistema eletrônico de registro. Cada produtor está obrigado a enviar pela internet um mapa de sua propriedade indicando o que nela corresponde a áreas de preservação permanente (APP, como margens de rios), à reserva legal (no caso da Amazônia, em geral 80% do imóvel) e à parte de uso consolidado. Com base nas informações fornecidas se torna possível saber se a propriedade está de acordo com as exigências da legislação, ou seja, se desmatou além do que a lei permite. O empreendimento rural que não tiver o CAR ficará impedido, a partir de 2017, de ter acesso a crédito agrícola. Mato Grosso foi o Estado que mais avançou. Um total de 513 mil km2 entraram no sistema, o que corresponde a 70% da área cadastrável. A posição de liderança decorre do pioneirismo do Estado, que já foi o grande vilão do desmatamento na Amazônia. O governo estadual iniciou um registro ambiental semelhante uma década atrás e transfere agora seus dados para o sistema federal. O lanterninha do CAR é o Rio Grande do Sul. Só 1,5% da área passível de cadastro no Estado foi radiografada. Em Santa Catarina, o índice é de 44%. Em São Paulo, 36%.",ambiente
Regras para caça de baleias são endurecidas,"A CBI (Comissão Baleeira Internacional) adotou nesta quinta-feira (27) medidas de supervisão mais rígidas à caça de baleias pelo Japão. Reunido em Portoroz, Eslovênia, o organismo endureceu a supervisão da exceção à proibição da caça de baleias imposta em nível mundial há 30 anos, que permite que o Japão mate centenas de baleias invocando razões científicas. Segundo opositores, fins comerciais são o verdadeiro objetivo. A resolução, contra a qual votaram Japão e os outros dois grandes países caçadores –Noruega e Islândia– foi aprovada por ampla maioria –34 votos a favor e 17 contra– na 66ª reunião da CBI. A resolução não é juridicamente vinculante para os membros da comissão, que não tem função de policiamento ou penalidade. Apresentada pela Austrália e Nova Zelândia, a resolução pretende ""melhorar"" o processo de revisão de programas científicos da caça de baleias –que o Japão conduz sozinho, o que permitiu a captura de mais de 15 mil desses mamíferos marinhos no país desde 1986. ""Recebemos este resultado como uma reação importante à emissão unilateral do Japão das suas próprias licenças para a chamada caça científica de baleias"", disse Matt Collis, do Fundo Internacional para o Bem-Estar Animal. ""Todos nós sabemos que a caça científica é uma farsa, é simplesmente a caça comercial com outro nome"", acrescentou. O Japão defendeu a sua caça anual de baleias no Oceano Antártico, dizendo que estava recolhendo dados científicos. O país insistiu que as suas ações estavam em conformidade com uma decisão do TIJ (Tribunal Internacional de Justiça) de 2014, que concluiu que as licenças emitidas pelo Japão ""não eram para fins de pesquisa científica"" e instruiu o país a interromper seu programa JARPA II. ""Relatórios muitas vezes dizem que o Japão começou a pesquisa independentemente do julgamento do TIJ, ou em violação à decisão do TIJ, e isso não é verdade"", disse o comissário do Japão para a CBI, Joji Morishita, a colegas delegados. No próprio julgamento do tribunal, ""está claro que o TIJ pressupõe que pode haver futuras atividades de pesquisa"", insistiu. ""PROFUNDA DECEPÇÃO"" ""O TIJ disse também que o uso de amostragem letal por si só é razoável em relação aos objetivos de pesquisa"", acrescentou Morishita. Após a decisão do tribunal, o Japão cancelou sua caça de 2014-2015, mas a retomou no ano seguinte no âmbito de um novo programa chamado NEWREP-A (Novo Programa de Pesquisa Científica de Baleias no Oceano Antártico). Com esse projeto matou 333 baleias minke no Oceano Antártico –muitas delas grávidas, segundo os observadores. O oceano Antártico hospeda um dos dois santuários de baleias do mundo. O assunto é extremamente polêmico nas reuniões bienais da CBI, que completou 70 anos este ano. A carne de caça do Japão acaba nas prateleiras dos supermercados e em restaurantes, de acordo com uma estipulação da CBI de que as baleias capturadas para pesquisa devem ser comidas. Sob a proibição da CBI, toda a caça de baleias, exceto para subsistência de indígenas ou para a ciência, é proibida. O Japão caça no âmbito da isenção científica, enquanto a Noruega e a Islândia apresentaram objeções formais à proibição e continuaram com a caça comercial. A comissária da Nova Zelândia, Amy Laurenson, expressou a ""profunda decepção"" do seu país com a retomada da caça de baleias pelo Japão sem a aprovação da CBI. O Japão tinha submetido o NEWREP-A ao comitê científico da CBI, mas começou a caçar as baleias antes que uma revisão pudesse ser concluída, disse Laurenson, acusando Tóquio de menosprezar a comissão. ""Com base nas informações que a comissão tem diante de si, é evidente que o NEWREP-A não é, de fato, para fins de pesquisa científica"", argumentou a comissária, convidando o Japão a ""cessar o componente letal do NEWREP-A"". ""O Japão ainda não justificou o uso da amostragem letal"", acrescentou. Para Kitty Bloco, da Humane Society International, a votação de quinta encolheu a ""brecha"" da caça científica de baleias.",ambiente
Levantamento inédito mostra as aves ameaçadas 'escondidas' na Cantareira,"Do lado do tráfego interminável do Rodoanel, a poucos quilômetros da massa urbana de São Paulo, mais de 300 espécies de aves, entre as quais sete ameaçadas globalmente de extinção, vivem nas matas da serra da Cantareira, revela o levantamento ornitológico mais completo já feito na região. Desses bichos, 80 são exclusivos da mata atlântica, como o barbudinho (Phylloscartes eximius), espécie sob risco de desaparecer cujo último reduto no Estado de São Paulo é justamente a Cantareira. Outras, normalmente alvo de caçadores que gostam de mandá-las para a panela e, portanto, cada vez mais raras, encontraram abrigo na selva urbana, graças à presença do Parque Estadual Serra da Cantareira. ""É quase paradoxal encontrar ali na Pedra Grande, observando São Paulo ao fundo, espécies como o macuco e o jacu-açu, cujas populações diminuíram muito por causa da incessante caça e perda de habitat e hoje podem ser vistas em poucas localidades na mata atlântica"", diz Luís Fábio Silveira, do Museu de Zoologia da USP. Silveira, que é um dos autores do novo levantamento, obteve seu recorde pessoal de observação de aves na própria serra, aliás: 114 espécies em apenas três horas de trabalho de campo. O estudo, que saiu recentemente na revista científica ""Zoologia"", combinou dados obtidos pelos próprios autores (quase 250 espécies flagradas por eles), com dados de museus (71 espécies) e de observadores amadores (270 espécies; os números não são simplesmente somados porque, é claro, há considerável sobreposição de espécies entre as diferentes fontes de informação). Os números são comparáveis aos de outras áreas preservadas de mata atlântica mais úmida e fechada –com a diferença de que essas regiões não estão perto de megalópoles como a Cantareira. De maneira geral, o trabalho indica a presença de uma fauna de aves bastante saudável na Cantareira, hoje considerada a maior floresta tropical urbana do planeta (com mais de 10 mil hectares, a área engloba ainda o Parque Estadual Alberto Löfgren, ou Horto Florestal, e alguns trechos adjacentes). Não por acaso, alguns observadores de aves costumam visitar a região apenas pela oportunidade de ver o esquivo barbudinho, conta o primeiro autor do trabalho, Vinicius Rodrigues Tonetti, biólogo da Unesp de Rio Claro. Em seu trabalho de mestrado, orientado por Marco Pizo, Tonetti descreveu pela primeira vez o ovo e o ninho do barbudinho e constatou que, além de ser raro, o bicho prefere matas perto de rios e lagos para se instalar. ""A implicação disso é que, para conservar a espécie, é necessário proteger esse tipo de mata, o que teria, inclusive, consequências positivas para o abastecimento dos reservatórios do sistema Cantareira"", argumenta o pesquisador –de fato, o abastecimento das nascentes melhora muito em áreas florestadas. Por outro lado, nove espécies que historicamente apareciam na região não são vistas por lá há pelo menos duas décadas. ""As que não ocorrem mais ou que ocorrem em densidades muito baixas em sua maioria são sensíveis a alterações de habitat"", diz Tonetti. O exemplo mais pungente talvez seja a pararu-espelho (Claravis geoffroyi), pomba exclusiva da mata atlântica, hoje uma das aves mais raras do mundo, que ainda podia ser encontrada em bandos de centenas de indivíduos nos anos 1950. O exemplar registrado na região foi capturado em 1937. Outras espécies que se tornaram raras, mas ainda aparecem por lá, são o araçari-banana (Pteroglossus bailloni), o araçari-poca (Selenidera maculirostris; os dois araçaris são tucanos de médio porte) e o cuiú-cuiú (Pionopsitta pileata), parente dos papagaios e maritacas. O trio é importante por dispersar sementes e, assim, manter a regeneração da mata. CARGA PESADA Considerando a riqueza da fauna de aves da serra, os pesquisadores, no estudo, sugerem que seria importante incorporar áreas adjacentes de mata ao trecho formalmente protegido pelo parque, como forma de mitigar possíveis impactos da ampliação do Rodoanel, quando ela for concluída. Ainda falta estudar o impacto que as partes do anel rodoviário já em funcionamento tiveram sobre as espécies do local, porém. ""Há diversos estudos que mostram que rodovias próximas a grandes remanescentes de vegetação nativa causam grande impacto à biodiversidade como um todo"", explica Tonetti. ""O ruído intenso dificulta a comunicação de aves e anfíbios, além de causar estresse nos animais e aumento de atropelamentos.""",ambiente
"Apesar de haver garimpos ilegais na Renca, há pouca área desmatada","A floresta protegia os garimpeiros do forte sol amazônico, enquanto um deles, José Antonio dos Santos, cavava no fundo de um poço de 13 metros. Já são 11 meses perfurando o solo da Floresta Estadual (Flota) do Paru (PA) em busca de ouro, mas até agora os quatro companheiros de trabalho não acharam um grama sequer do metal. Aos 72 anos, Santos é um dos cerca de 2.000 garimpeiros clandestinos que atuam dentro de uma região montanhosa a leste da Flota –o principal potencial minerário dentro da Renca (Reserva Nacional de Cobre e Associados), segundo o Serviço Geológico Brasileiro. A extinção da reserva pelo governo Michel Temer, em agosto, permitindo a exploração mineral, pegou os garimpeiros de surpresa. Acostumados a viver sem a presença do Estado, eles agora temem ser despejados por grandes mineradoras. Nenhum acredita que a medida tenha sido adotada a fim de legalizá-los. Limitado a até poucos metros da superfície por causa das técnicas rudimentares, o garimpo na região está em decadência –ou ""blefado"", na gíria local. Mas as informações geológicas disponíveis apontam a existência de possíveis depósitos de ouro e outros metais, como o cobre, em profundidades desconhecidas. ""Com certeza, o ouro de aluvião [leitos e barrancos de cursos d'água] é muito pouco"", diz Santos, que fareja o metal dourado na região desde 1974. A aposta do grupo de Santos foi cavar, em modalidade conhecida como garimpo de poço. Para encontrar o ouro, eles caminham pela floresta com duas varetas de cobre. Caso elas se cruzem, é indício de que há um veio enterrado. O grupo é liderado por Adonias Mercês, 62, que comprou informalmente a área de outro garimpeiro. Já foram três poços até agora. Na tentativa anterior, cavaram 13 metros de profundidade e mais 18 metros de túnel, sem sucesso. ""Por que o governo não dá uma Renca pra um miserável desses?"", vociferou o garimpeiro Boca de Burro (ele não quis dar o nome), 55, enquanto Santos pedia pra ser içado do poço escuro e com pouco oxigênio. Sobrevivente de um câncer, Mercês voltou ao garimpo desrespeitando ordens médicas. Quer ganhar dinheiro para pagar a faculdade de um dos filhos. Caso encontrem ouro, fica com 70%, e os demais, 30%. Por outro lado, é ele quem banca equipamentos e alimentação. No dia a dia, não há diferença entre eles. Moram em dois barracos de lona –um para dormir, outro é a cozinha. Ao contrário dos garimpos mais antigos, é uma moradia improvisada, já que não sabem se encontrarão ouro no local. OURO ESCASSO A avaliação de que o ouro está ""fracassando"" é compartilhada nos demais quatro garimpos visitados ao longo de três dias pela reportagem da Folha –a primeira equipe de jornalismo a visitar o local. A decadência do vale do rio Jari, iniciada nos anos 2000, levou muitos a se arriscar em outras regiões, principalmente na vizinha Guiana Francesa, mas também no Suriname e em outras partes da Amazônia brasileira. A maioria dos que ficaram, quase todos acima de 50 anos, transformou o garimpo em sítios, com plantações e criações de galinhas e porcos. A produção local de alimentos alivia os gastos com transporte –na ausência de estradas e diante da dificuldade imposta pelos rios encachoeirados que cercam a Floresta do Paru, quase tudo chega ali de avião, vindo de Laranjal do Jari (AP), a principal cidade do entorno da Renca, num voo de 35 minutos. Segundo pilotos da região, há 14 pistas ativas e outras 20 sendo engolidas pelo mato, mais um sintoma da produção em queda. A maioria foi aberta há mais de 20 anos. A viagem até o local por barco pode levar até oito dias no período seco, além de exigir caminhadas de várias horas pela floresta. Nas cachoeiras, é preciso descarregar e recarregar os barcos. Uma dessas cachoeiras localiza-se na Estação Ecológica (Esec) do Jari, unidade de conservação federal. O transbordo é monopolizado por dois donos de garimpo da região. No local, a reportagem constatou que um deles, Ney Sarraf, mantém um funcionário permanente no local. Ele cobra R$ 300 para o transporte de um lado a outro da cachoeira Itacará em um trator velho –um percurso de 1 km. No final de 2014, Sarraf e Nereu Einecke, o Catarino, foram notificados para deixar o local em 60 dias, mas não cumpriram a determinação. Desde então, não houve nenhuma ação do Estado para tirá-los da Esec, que fica entre os Estados do Pará e Amapá. À reportagem, Sarraf afirmou que mantém o trator ali desde antes da criação da Esec, em 1983, e que usa o porto para extrair a castanha e prestar serviço a extrativistas da região. Ele disse que está negociando a sua permanência com os órgãos ambientais. Para gerir essa unidade, também dentro da Renca, o ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) conta com apenas dois funcionários. Os três últimos gestores tiveram de deixar a região após ameaças –duas vindas de garimpeiros e a outra de um PM do Amapá flagrado pescando em local proibido. CASTANHA E MERCÚRIO Neste ano, os garimpeiros também passaram a dedicar parte do tempo à extração de castanha, que se tornou viável graças ao preço recorde. A produção sai em aviões monomotores que antes voltavam vazios após trazer mercadorias e equipamentos. Para chegar às pistas, é preciso enveredar por trilhas na floresta montanhosa. A locomoção ocorre sobretudo a pé, mas há algumas mulas trazidas nos aviões após serem amarradas e sedadas. As poucas áreas desmatadas são o resultado principalmente do garimpo de barranco, em que potentes jatos d'água rasgam a floresta. Alguns buracos mais antigos são engolidos pela mata e, com o tempo, se tornam locais de pesca. Maior área protegida do país, a Floresta do Paru tem 36.000 km² (pouco maior do que a da Holanda), dos quais apenas 0,2% foi desmatado, segundo o Sistema de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). Um das razões para a preservação do local é a ausência de PCs (escavadeiras), comuns em garimpos de acesso mais fácil, como os da bacia do rio Tapajós, no oeste paraense. ""É razoável pensar que, em termos de perda de cobertura florestal, apenas de 2008 (quando chegaram essas máquinas) até hoje, houve um impacto maior do que o acumulado de 1958 (quando foram descobertos os garimpos no Tapajós) a 2008"", afirma o cientista social Mauricio Torres, autor de diversos estudos sobre a região. Por outro lado, Torres, radicado em Santarém (PA), critica a demonização do garimpeiro. ""Um senso comum vende o garimpo como crime e a mineração como progresso e desenvolvimento. Não raro, ONGs ambientalistas embarcam nesse discurso. Entretanto o passivo acumulado do garimpo na região do Tapajós parece pequeno se comparado a catástrofes como a da Samarco, em Mariana."" Os garimpeiros admitem que usam mercúrio para a separação do ouro, mas afirmam que a contaminação diminuiu nos últimos anos, com a introdução do cadinho. O aparato, parecido com uma pequena panela, permite a recuperação da maior parte to mercúrio, que tem um alto custo –1 kg do metal custa ao menos R$ 1.500. Estudo publicado neste ano sobre a contaminação nos peixes da região mostrou que as três espécies analisadas no rio Jari, o maior da região, continham mercúrio, embora apenas uma (cachorra) tenha apresentado níveis acima do permitido pela Organização Mundial da Saúde. Primeiro levantamento feito sobre o tema na Renca, a pesquisa, coordenada pela ONG WWF, ressalva que a metodologia usada não identifica a origem do mercúrio, que pode ser tanto resultado de atividade humana quanto de ocorrência natural. Sob duras críticas de ambientalistas e contestado na Justiça, Temer acabou congelando o decreto da extinção da Renca por 120 dias, período em que o Ministério das Minas e Energia promete promover um ""amplo debate"". Por ser uma unidade de uso sustentável, a Floresta do Paru pode ser passível de mineração com o eventual fim da Renca –depende de um novo plano de gestão e de licenciamento ambiental, procedimentos técnico-administrativos. Atualmente, estão permitidos apenas manejo florestal e extrativismo. Isso não significa que toda a Floresta do Paru –e, analogamente, toda a área da Renca– têm potencial para mineração, explica a pesquisadora Lucia Travassos da Rosa Costa, chefe do Departamento de Geologia do Serviço Geológico do Brasil. ""A área não pode ser avaliada de forma homogênea. Existem grandes domínios que não têm maior interesse para a pesquisa mineral, em razão de suas características geológicas"", diz. O Serviço Geológico do Brasil estimou que, do total da área da Renca (46.450 km2, equivalente à do Espírito Santo), cerca de 10.000 km2 têm maior potencial para despertar interesse do setor mineral. Nesse cálculo, ficam também de fora áreas de unidades de conservação integral e terras indígenas. Embora sejam vetadas à mineração pela atual legislação, existem projetos de lei em tramitação no Congresso para permitir a exploração em ambos os casos. Costa afirmou que a parte da Terra Indígena (TI) Waiãpi (AP), que se estende para dentro da Renca e foi tema de reportagens recentes, não apresenta potencial destacável para pesquisa mineral, com base no conhecimento geológico que se tem hoje. Por outro lado, a TI Paru d'Este (PA), tem, em comparação, maior potencial para pesquisa de ouro e outros metais, explica a geóloga. Autora de uma tese de doutorado sobre a geologia da Renca, Costa diz que, apesar do potencial da região para a extração de ouro, já comprovado pela atividade garimpeira, a implementação de empreendimento mineiro na área dependeria ainda de mais estudos técnicos, além de licenciamento por órgãos ambientais, viabilidade econômica e infraestrutura logística, entre outros fatores. GRANDES EMPRESAS Isolados na floresta –muitos vivem sem eletricidade–, os garimpeiros receberam a notícia com preocupação, pois temem ser expulsos da região por empresas mineradoras. ""Quase nenhum garimpeiro sabe o que é a Renca. Um fala que é uma firma americana. Outro fala: não, isso é coisa do governo. Eles aceitam como ameaça"", diz John Santana, 51, que trabalha buscando pepitas floresta adentro com um detector de metais. ""Pelo que a gente vê, os garimpeiros ficam fora [da Renca]"", avalia a garimpeira Francisca Gonçalves, 54. ""Se nós sairmos daqui, lá na rua [cidade] não tem trabalho, então a situação fica difícil."" Há 20 anos dentro da Flota do Paru, Chiquinha, como é conhecida, diz que, neste ano ganhou pela primeira vez mais dinheiro com castanha do que com ouro. Em volta de sua casa, feita de madeira, há plantações de milho, mandioca e feijão, além de pasto para os burros de carga. Para Costa, a capacidade técnica e os investimentos exigidos para a extração do ouro em grandes profundidades inviabilizam o avanço da exploração por garimpeiros. Ela afirma que tem sido comum na Amazônia o interesse de empresas de mineração em áreas já exploradas pela atividade garimpeira. A geóloga cita o caso da mineradora canadense Belo Sun, às margens do rio Xingu, em Altamira (PA), que prevê investimento inicial de US$ 5 bilhões. Em abril, a Justiça suspendeu a licença de instalação por entender que não há estudos suficientes sobre o impacto do projetos em duas etnias indígenas da região. Para o gestor da Flota do Paru, Joanísio Mesquita, a eventual expulsão dos garimpeiros pode gerar um ""efeito cracolândia"", espalhando-os para outras regiões da Calha Norte, a maior área contínua preservada do mundo. ""A questão ambiental na Amazônia é social"", afirma Mesquita. ""A gente só vai conseguir salvar onça e peixe-boi se conseguir dar uma resposta pra população.""",ambiente
"Para poupar Temer, Maia deve apresentar lei para reduzir floresta","Em manobra para preservar o presidente Michel Temer, que está no exterior, o presidente em exercício, Rodrigo Maia (DEM-RJ), deve apresentar, nesta sexta-feira (23), um projeto de lei que reduz a proteção de 486 mil hectares da Floresta Nacional (Flona) do Jamanxim, no sudoeste do Pará, abrindo caminho para legalizar posseiros e grileiros. Segundo a Folha apurou, o projeto já está escrito e substituirá a medida provisória (MP) 756, que tinha o mesmo teor e foi vetada na última segunda-feira (19) por Temer. O presidente anunciou a decisão no Twitter, em resposta à modelo Gisele Bündchen e à ONG ambientalista WWF, contrários ao recorte da Flona. ""Vetei hoje integralmente todos os itens das MPs que diminuíam a área preservada da Amazônia"", escreveu o peemedebista. No fim de semana, porém, o ministro do Meio Ambiente, Zequinha Sarney (PV-MA), havia se comprometido com bancada paraense em trocar a MP por um projeto de lei sem alterações, em regime de urgência. Com a apresentação do projeto de lei por Maia, o governo cumpre o compromisso feito por Zequinha com a bancada paraense e ruralista e, ao mesmo tempo, livra Temer de encaminhá-lo pessoalmente. A proposta transforma 37% da Flona em APA (Área de Proteção Ambiental), categoria mais branda de proteção, que permite propriedades privadas e atividades rurais, como pastagem. Assim, fica aberta a possibilidade de legalização de grandes áreas desmatadas ilegalmente, a maioria delas multadas e embargadas pelo Ibama. Temer está na Rússia e chega nesta quinta-feira (22) a Oslo para uma viagem de dois dias. A volta ao Brasil está prevista para sábado. MAIA NEGA Em carta à Folha, Rodrigo Maia informou que nunca tratou ""da possibilidade de apresentar um projeto de lei com esse teor nem de qualquer alternativa nesse sentido. Trata-se de um assunto grave, de competência exclusiva do Executivo"". ""O jornalista Fabiano Maisonnave agiu de forma irresponsável e em nenhum momento entrou em contato comigo ou com minha assessoria. Solicito a imediata correção da reportagem"", disse. A reportagem mantém a apuração, obtida com membro do alto escalão da área ambiental do governo federal, reforçada pelo fato de que o governo federal havia prometido apresentar o projeto ainda nesta semana, em que pese a ausência de Temer do país. O jornalista FABIANO MAISONNAVE viajou a Oslo a convite da Interfaith Initiative, liderada pela Rainforest Foundation da Noruega",ambiente
"Área de reserva para mineração é igual a 4 anos de desmate, diz Procuradoria","O Ministério Público Federal (MPF) emitiu uma nota técnica, no final da tarde desta quarta (30), contra a extinção da Renca. O MPF afirma que o decreto de Temer que extinguiu a reserva provocará um aumento no desmatamento na região e que área que estaria liberada para mineração equivale a 4 anos de desmate na Amazônia. Segundo o MPF, a Renca (Reserva Nacional de Cobre e seus Associados) é coberta por um ""mosaico de unidades de conservação"" e possui ""significativo efeito na preservação da área"". ""Dentro da Renca temos hoje apenas 0,33% da área total desmatada, o que configura um cenário extremamente melhor do que o entorno que não possuía a mesma proteção"", diz a nota. A nota técnica –assinada pelo subprocurador-geral da República Mario José Gisi e pelo procurador da República Daniel Azeredo– afirma ainda que a área desmatada ocorre em áreas nas quais não deveria haver desmatamento, o que seria um indicador da pressão de ocupação que ocorre na região. ""Se essa extensão degradada já está sendo verificada em área sob proteção, a eliminação da Renca provocará um significativo avanço na degradação como já ocorre no entorno."" O MPF cita também a nota técnica do Ministério do Meio Ambiente (MMA), emitida em junho, antes do decreto de extinção da Renca. O MMA afirma que a ""área é composta por uma floresta densa e exuberante, cujo entorno também está bem preservado."" Segundo a nota do MPF, ""a área possibilitada pelo Decreto 9.147/20017 para a mineração equivale a mais do que todo o desmatamento na Amazônia acumulado nos últimos 4 anos"". ""Por essa razão, entendemos que a única forma de proteção dessa área é a reversão da extinção da Renca"" Por fim, o MPF afirma que a ""política de incentivo à mineração na Amazônia certamente compromoterá a obtenção da meta brasileira de redução do desmatamente e certamente trará para a região impactos socioambientais de difícil controle"".",ambiente
Cinco espécies de orquídeas são descobertas nas Filipinas,"Cinco novas espécies de orquídeas foram descobertas em montanhas remotas das Filipinas, onde estavam protegidas de furtos devido a uma rebelião na região, informaram ambientalistas na sexta (24). As espécies são encontradas apenas em uma cordilheira na região de Mindanao, no sul das Filipinas, devastada por uma rebelião, de modo que não eram conhecidas pelos pesquisadores que catalogam a vida vegetal no país, disse o especialista Miguel David de Leon. O furto de orquídeas selvagens, principalmente por moradores locais, está fora de controle nas Filipinas. Algumas comunidades costumam colher essas flores sem autorização para exportá-las ou vendê-las nas estradas. Mas Mindanao é uma das regiões do país devastadas por uma das rebeliões mais longas da Ásia, na qual guerrilhas maoístas se mantém em atividade com o apoio das comunidades locais. ""O problema da insurgência ajuda a evitar que caçadores de orquídeas entrem nas florestas"", disse De Leon, um conservacionista de plantas e animais selvagens que encontrou as espécies enquanto caminhava nas montanhas da província de Bukidnon, em Mindanao. ""Estas áreas são muito isoladas. O terreno é traiçoeiro, acessível apenas a pé e, ocasionalmente, por motocicleta ou cavalo"", disse Leon. As novas espécies, que foram descritas na publicação alemã OrchideenJournal neste ano, incluem uma deslumbrante flor amarela salpicada de manchas marrons. ""É uma das mais atraentes do seu gênero"", disse Leon. ""As outras espécies são vermelhas ou roxas, mas esta se destaca porque tem o tom mais brilhante de amarelo"", completou. De Leon, o taxonomista australiano Jim Cootes e o pesquisador filipino Mark Arcebal Naive batizaram a espécie mais vívida de Epicrianthesaquinoi, em homenagem ao presidente das Filipinas, Benigno Aquino, cuja família costuma vestir amarelo nos seus comícios políticos. As espécies descobertas incluem duas do gênero Dendrobium, uma toda branca e uma branca com toques de vermelho, uma Epicrianthes vermelha escura, e uma orquídea Phalaneopsis verde com listras vermelhas. Cootes, que já escreveu três livros sobre orquídeas filipinas, disse que as descobertas mostraram a rica biodiversidade da nação do sudeste asiático, com mais espécies à espera de serem encontradas. ""Precisamos preservar o que resta, porque as variações dentro das diferentes espécies é tão grande que é quase incalculável"", disse Cootes. ""As montanhas em todo o arquipélago precisam ser preservadas"", acrescentou. A organização Conservação Internacional, sediada nos Estados Unidos, coloca as Filipinas entre os 35 pontos com maior biodiversidade –as áreas com as vidas animal e vegetal mais ricas do mundo, mas também as mais ameaçadas. O desmatamento que se alastra pelas montanhas do país também destrói habitats de orquídeas, bem como arbustos, fungos e algas que mantêm as florestas vivas.",ambiente
Crescem pedidos de quebra de sigilo de climatologistas dos EUA,"A animosidade entre climatologistas e grupos que questionam a atribuição do aquecimento global às emissões de CO2 tem crescido, e uma nova guerra pelo controle da informação começa a ser travada nos bastidores, principalmente nos EUA. Os métodos usados nesse embate, porém, são diferentes daquele usado às vésperas da Cúpula do Clima de Copenhague, em 2009, quando diversos cientistas tiveram e-mails roubados e vazados na internet. Agora, céticos do clima usam pedidos formais, baseados em leis de acesso à informação, para tentar quebrar o sigilo de correspondência dos pesquisadores. ""Veremos uma escalada similar à medida que a Cúpula do Clima de Paris se aproxima, no fim de 2015"", disse o climatologista Michael Mann, da Universidade do Estado da Pensilvânia, em palestra no encontro da AAAS (Associação Americana para o Avanço da Ciência), em San Jose. Do encontro em Paris deve sair um novo acordo internacional para combater o aquecimento global, no lugar do Protocolo de Kyoto. ""Vai haver um esforço para confundir o público e os formuladores de politicas"", afirmou Mann. As petições que buscam quebrar o sigilo de e-mail e anotações de cientistas em geral alegam suspeita de fraude e se baseiam em leis de transparência de informações que garante acesso a documentos produzidos por funcionários de governo. Segundo um novo relatório da ONG Union of Concerned Scientists, esse tipo de abordagem a climatologistas cresce desde 2010, quando o promotor Ken Cuccinelli intimou a Universidade da Virgínia a liberar e-mails e anotações de Mann, que trabalhou para a instituição. O processo se estendeu por quatro anos e, mesmo com decisão favorável ao cientista, longas horas foram consumidas para discussões com a própria universidade –que ameaçava liberar os dados temendo ser punida. Mann foi o único a travar uma disputa pública. Mas, segundo a AGU (União Americana de Geofísica), questionamentos do tipo têm se direcionado a cientistas de instituições como Nasa, NOAA (agência oceânica e atmosférica) e o Departamento de Energia. Alguns desistem de travar a batalha legal. Steven Dyer, da Universidade Commonwealth da Virgínia, achou que passar mais de 100 horas compilando mensagens para responder a petições seria menos dispendioso e interrompeu seu período sábatico para fazê-lo. A entidade autora da petição –o centro de estudos conservador American Tradition Institute– passou então a exigir seus ""livros de registro"". Essa e outras entidades recebem verbas da indústria do petróleo. ""Eles acham que temos um livro onde os pós-graduandos relatam o que estão fazendo"", diz Michael Helpern, autor do relatório da Union of Concerned Scientists. Desde 2011, o congresso anual da AGU tem centro jurídico a disposição de cientistas de clima, que os orienta sobre como agir nesses casos. ""No último ano, tive muito trabalho"", conta a advogada Lauren Kurtz. Ela dirige agora o Fundo para Defesa Legal da Ciência do Clima, que levanta recursos para atender a cientistas assediados.",ambiente
A árvore artificial de musgo que se alimenta de poluição,"Um bosque concentrado em uma árvore. E não é uma árvore qualquer: é quadrada, sem tronco e com folhas de musgo. Seu nome é ""CityTree, a árvore da cidade"". É uma estrutura móvel criada por um grupo de designers que tentam combater um dos problemas ambientais mais graves que o planeta sofre: a contaminação do ar. Segundo seus criadores, essa árvore tem a capacidade de absorver dióxido de nitrogênio e partículas microscópicas do ar com a capacidade de 275 árvores naturais. Cada CityTree pode absorver 250 gramas de partículas por dia e armazena 240 toneladas métricas de CO2 por ano, dizem seus criadores. BAIXA MANUTENÇÃO Desenvolvida na Alemanha, essa instalação é na verdade uma parede de musgo, uma planta acostumada a viver sem terra e que funciona naturalmente como um filtro do ar. ""O musgo consegue armazenar todas as partículas da poluição e usá-las como nutrientes"", afirma Liang Wu, cofundador da Green City Solutions, empresa que criou a CityTree. Atualmente, essas árvores estão em 25 cidades do mundo, como Oslo, Hong Kong, Glasgow e Bruxelas, além de várias cidades alemãs. Sua instalação demora seis horas e sua manutenção é fácil. A árvore tem sensores embutidos que controlam a umidade do solo, a temperatura do ar e a qualidade de água. Eles também conseguem medir a qualidade do ar e avaliar sua eficiência. Tudo isso tem um custo. Plantar e manter uma árvore tradicional custa cerca de R$ 3.000 por década e uma CityTree custa cerca de R$ 90 mil. Muitos se perguntam se não seria melhor investir esses esforços –e dinheiro– em projetos que combatam diretamente a origem da contaminação e não suas consequências.",ambiente
Marinha administra o posto na ilha da Trindade desde 1957,"A última equipe de pesquisadores a chegar na ilha da Trindade viajou em relativo conforto. Normalmente, a Marinha envia suprimentos, seu pessoal e pesquisadores a cada dois meses para lá. O meio mais empregado é o navio-patrulha oceânico, como os três da classe Amazonas, que sacodem muito pelo caminho, mesmo com um tranquilo ""mar de almirante"". Mas durante as Olimpíadas eles estavam sendo utilizados na proteção marítima do Rio de Janeiro. Logo, a viagem para Trindade foi feita no mais lento, mas bem maior e mais confortável navio de desembarque de carros de combate Almirante Saboia. Na sua vida pregressa, esse navio de construção britânica foi o RFA (""Royal Fleet Auxiliary"") Sir Bedivere, veterano da guerra das Falklands/Malvinas de 1982. O navio da ""real esquadra auxiliar"" –tripulado por oficiais da Marinha Real, mas com marinheiros chineses civis de Hong Kong serviu para transporte de equipamento e de algumas unidades militares. Chegou a ser levemente danificado por uma bomba de um caça-bombardeiro argentino que atingiu a cabeça do principal guindaste, bateu no costado e caiu no mar. O Sir Bedivere foi reformado, aumentando de tamanho, e depois vendido ao Brasil. Foi usado para levar e trazer material da força de paz brasileira no Haiti. A partir de 2011, a Marinha do Brasil deu um novo impulso às pesquisas e conservação da Ilha da Trindade, inaugurando a Estação Científica, capaz de abrigar oito pesquisadores, e reconstruindo e ampliando a Estação Meteorológica. Atualmente há mais de 50 projetos de pesquisa em andamento na Ilha, em parte apoiados pelo CNPq, tratando de assuntos muito diversos. Ruy José Válka Alves, pesquisador do Museu Nacional da UFRJ, computou a evolução do conhecimento científico publicado sobre Trindade e Martin Vaz ao longo de três séculos (1760-2009). ""Alguns picos de produção científica são notórios: anos 1820 –coincide com a Independência do Brasil (1822); anos 1910 –primeira expedição do Museu Nacional à ilha em 1916 (expedição de Bruno Lobo); anos 1950 – resultados das expedições João Alberto, Baependi e Vega. Dos anos 1960 em diante se nota um crescimento relativamente estável do número de estudos científicos da Ilha, que reflete um crescente interesse da Marinha do Brasil em fornecer o apoio logístico às pesquisas e parcerias"", escreveu Válka Alves. Em 1957, durante o Ano Geofísico Internacional, a Marinha ocupou Trindade de forma permanente e iniciou a construção do Posto Oceanográfico da Ilha da Trindade (Poit), a princípio voltado para a meteorologia. Depois a Marinha convidou cientistas de vários campos para conduzirem pesquisas na ilha. O geólogo da USP (Universidade de São Paulo) Umberto Cordani datou 37 amostras de rochas de Trindade pelo método Potássio-Argônio, e publicou os resultados em 1970: a ilha é relativamente nova, a datação mais antiga sendo de 3,6 milhões de anos atrás. O jornalista viajou a convite da Marinha do Brasil, a bordo do NDCC Almirante Saboia",ambiente
Áreas úmidas da Amazônia são as mais vulneráveis às mudanças climáticas,"Um paradoxo assustador pode fazer com que a região da Amazônia mais vulnerável a incêndios catastróficos e a se transformar em savana por causa das mudanças climáticas seja justamente a que passa metade do ano debaixo d'água. Tais áreas úmidas estão no coração da bacia do Amazonas e, se nada for feito, acabarão virando o calcanhar-de-aquiles da floresta diante do aquecimento global, alertam pesquisadores do Brasil, da Holanda e da China em artigo recente na revista científica ""PNAS"". ""Estamos falando de um sétimo da Amazônia, o que não é pouca coisa"", ressalta o ecólogo carioca Bernardo Flores, um dos autores do estudo, que fez seu doutorado na Universidade de Wageningen, na Holanda. ""Os estudos anteriores tinham praticamente ignorado essas áreas inundáveis, e o que a gente está descobrindo é que elas têm uma alta inflamabilidade."" Trocando em miúdos: pegam fogo com surpreendente facilidade. PELAS BEIRADAS OU PELO MEIO? O espectro da chamada savanização - ou seja, a transformação da floresta fechada em áreas de vegetação aberta, com características de savana - ronda a Amazônia há tempos. Essa possibilidade costuma aparecer, por exemplo, em modelos computacionais do clima do futuro, que tentam prever o que acontecerá com a mata conforme a temperatura global for aumentando ao longo deste século. Entre as consequências aparentemente prováveis do calor aumentado nas próximas décadas está a multiplicação dos eventos climáticos extremos e, em especial, dos episódios de seca prolongada. Em tese, segundo os modelos, a tendência é que as beiradas amazônicas - o sul e o leste da região - estivessem mais sujeitas à savanização, uma vez que já são, por natureza, regiões relativamente mais secas e sazonais (com estações do ano mais marcadas). Quando os diferentes tipos de mata da região são examinados de forma detalhada, porém, o cenário muda bastante. O primeiro ponto importante verificado pelos pesquisadores é que as áreas úmidas, nas quais a floresta é inundada por meses todo santo ano, têm uma cobertura vegetal naturalmente menos densa que as áreas ditas ""de terra firme"", onde não se dá essa inundação: 66% de mata fechada contra 93%, respectivamente (veja infográfico). Isso significa, em primeiro lugar, que as áreas inundáveis já são mais abertas à influência da luz solar e de outros parâmetros que podem ressecá-las. Mas o dado mais revelador vem do estudo de centenas de áreas florestais amazônicas durante e após duas grandes secas que afetaram a bacia em anos recentes (1997 e 2005). Nesses episódios catastróficos, as áreas úmidas, por incrível que pareça, demoram muito mais para se recuperar do que a mata de terra firme. ""É uma vegetação difícil de secar, mas, quando seca, ela tem muito combustível acumulado, por conta de fatores como as raízes mais finas, que juntam muita matéria orgânica"", conta Flores. Além disso, o fogo que se espalha por esse tipo de mata não é um fogo relativamente ""limpo"", que incinera parte da floresta e segue em frente. A queima das matas úmidas costuma ser mais insidiosa e lenta, matando uma quantidade considerável de árvores pela raiz. ""Com impacto mais prolongado e recuperação mais lenta, a vegetação se mantém aberta por mais tempo e corre mais risco de ser aprisionada pelo fogo num estado aberto - essa é basicamente a definição de savana, uma vegetação que é mantida, em grande medida, pela interação com o fogo"", explica o ecólogo. PEIXE EM PERIGO Se esse cenário estiver correto, as implicações podem ser consideráveis. Para começar, nessas áreas, a riqueza de peixes - essenciais para o consumo de proteínas da população ribeirinha - tem relação estreita com a matéria orgânica que a própria floresta lança na água, por meio de frutos que são comidos pelos peixes ou por detritos que alimentam invertebrados, os quais, por sua vez, são alimento para outros peixes. Danificar a mata é atacar a base dessa cadeia de interpendências. Em escalas maiores, o avanço dessa bagunça ecológica nas áreas úmidas, que estão presentes principalmente no centro e no oeste da Amazônia, poderia desencadear um efeito-dominó em toda a floresta, espalhando a instabilidade do centro para as bordas. Como se não bastasse, tais regiões são ricas em turfeiras - acúmulos de matéria orgânica já bastante decomposta que estão no fundo dos rios e podem queimar com intensidade cada vez maior num contexto mais seco. ""Você pode acabar queimando carbono que está parado lá há 2.000 anos"", diz Flores - uma péssima notícia para o mundo, e não só para a Amazônia, já que essa queima intensificaria ainda mais as mudanças climáticas. Enquanto as iniciativas globais para diminuir as emissões de gases estufa ainda patinam, é possível ao menos minimizar os riscos desse processo descontrolado atuando na própria Amazônia, diz Flores. ""Não acho correto proibir o uso do fogo, já que as populações amazônicas precisam desse recurso, mas dá para controlá-lo. Nos anos de seca extrema, por exemplo, é possível emitir alertas sobre o risco de provocar incêndios descontrolados, e isso provavelmente teria um efeito positivo"", defende ele.",ambiente
"Líder em desmate, Paraná é cobrado a frear destruição da mata atlântica","A Fundação SOS Mata Atlântica entrou nesta segunda-feira (15) com pedido de moratória (uma espécie de suspensão temporária) para que o Governo do Paraná pare de conceder licenças e autorizações de desmatamento de Mata Atlântica no Estado até 31 de dezembro de 2018. O Paraná aparece como o Estado que mais destruiu a vegetação de mata atlântica em 30 anos no Brasil, segundo levantamento da ONG e do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), com base em imagens de satélite. Foram 456.514 hectares desmatado, área que equivale aproximadamente a 11 cidades de Curitiba. Seguido de Minas Gerais, com 383.637 hectares, os dois Estados destruíram em três décadas o equivalente a 5,5 cidades de São Paulo. No pedido encaminhado ao governador Beto Richa (PSDB), a entidade também solicita que seja realizada a revisão das demais licenças concedidas pelo governo estadual nos últimos 24 meses. DESMATAMENTO, POR ESTADO - Em hectares A moratória visa suspender por tempo determinado as licenças que provoquem desmate da mata nativa. ""Com a moratória, o poder público não poderá emitir licença que resulte em desmatamento. Espero que o governo acate o pedido"", afirma a diretora-executiva da SOS mata atlântica, Marcia Hirota. Nestas três décadas, a mata atlântica brasileira teve 1,887 milhões de hectares devastados, o que significa 12 vezes o tamanho da cidade de São Paulo ou quase o Estado de Sergipe. Além do Paraná e Minas, lideram o ranking de desmatamento Santa Catarina, São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia. A última análise de imagens de satélite, entre 2014 e 2015, mostrou que o ritmo de desmate não diminuiu –Minas, Bahia, Piauí e Paraná lideram o ranking (veja quadro nesta página). O mapeamento não inclui, nos anos iniciais, a série histórica de sete Estados -Alagoas, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe –pela falta de imagens claras de satélite nos anos 90 e 2000. Segundo dados de 2014, o Piauí é o Estado que possui maior porcentagem de bioma remanescente (35,4%). Pelos valores totais, MG tem a maior área relacionada ao bioma, 3.228.380 hectares, equivalente a 11,7% de vegetação remanescente. O PR aparece em quarto com 2.543.913 hectares, 13% de vegetação remanescente. Procurado, o chefe da Casa Civil do governo paranaense, Valdir Rossoni, afirma que ainda não teve acesso ao requerimento e que somente irá se manifestar depois de analisar o documento. ARAUCÁRIAS Segundo a SOS mata atlântica, o Paraná é um dos 17 Estados signatários da carta ""Nova História para a Mata Atlântica"", no qual as secretarias estaduais de Meio Ambiente assumiram, em maio de 2015, o compromisso de investir em restauração florestal e alcançar o desmatamento ilegal zero até 2018. A devastação da mata atlântica em 30 anos Ainda segundo a entidade, foram perdidos em três décadas 336.310 hectares de florestas com araucárias –espécie ameaçada de extinção. Restam 3% delas no Estado. A falta de fiscalização de órgãos estaduais e federais, o avanço das madeireiras no Paraná, do setor siderúrgico em Minas e das áreas agropastoris foram os principais responsáveis para que ambos os estados figurassem entre os campeões de desmatamento. Segundo Marcia Hirota, no Paraná, os picos de desmate ocorreram em virtude das madeireiras, especialmente na região centro-sul, e em Minas pelas indústrias siderúrgicas, principalmente no noroeste. ""Lá [Minas] as florestas foram transformadas em carvão para abastecer as siderúrgicas"", afirma. A entidade começou a monitorar o desmatamento do bioma em 1985. Desde o descobrimento do Brasil, a mata atlântica é alvo de cada ciclo econômico, lembra Hirota. A mata atlântica abrangia por volta do ano de 1500 uma área equivalente a 131.546.000 hectares. ""Hoje a perda é menor, mas só temos 12,5% do que existia originalmente."" FISCALIZAÇÃO Segundo o promotor Alexandre Gaio, de área de Meio Ambiente do Paraná, a ação de madeireiras é histórica e justifica o Estado ser o principal devastador da mata atlântica em 30 décadas. Muitos cortes de árvores nativas ocorrem legalmente, diz Gaio, com a liberação do órgão estadual ambiental. ""Faz quase 20 anos que não há concurso para o órgão. Isso dificulta a fiscalização. Mas há cortes que são ilegais, no nosso ponto de vista, não só pela clandestinidade, mas também por ocorrerem com liberação de corte."" A situação é semelhante à de Minas, segundo o promotor do setor Meio Ambiente do Estado, Carlos Eduardo Ferreira Pinto. ""Há ausência de fiscalização e cortes sem autorização, mas também licenciamentos de cortes com grave processo de ilegalidade no trâmite. A complexidade é maior"", diz. NEM TEM O QUE DESMATAR No histórico dos últimos 30 anos, o Estado de São Paulo aparece como o quarto que mais desmatou mata atlântica no país. No entanto, de 2012 a 2015 o Estado destruiu anualmente menos de 100 hectares –no ano passado foram somente 45. Isso se deve ao fato de que grande parte já foi destruída anos antes. ""Não tem mais onde devastar e onde tem é de difícil acesso"", diz o pesquisador do Inpe Flávio Jorge Ponzoni. O processo de urbanização contribuiu para a perda da vegetação, diz Marcia. contribuiu para a perda da mata nativa. Além disso, são realizados desmates menores de 3 hectares, que nem sempre são mapeados pelos satélites. ""É o que eu chamo de 'efeito formiga', em que há destruição de áreas menores"". Segundo o promotor ambiental no litoral norte paulista, Tadeu Bardaró, há um ano está em andamento um diagnóstico do desmatamento na região, que concentra a maior parte dos remanescentes de mata atlântica no Estado. ""A ideia é ter uma noção global do problema para traçar ações"", afirma. A região, diz, tem enfrentando problemas de desmate com empreendimentos do pré-sal e da ampliação do porto de São Sebastião. ""Todas essas obras, como as de logística portuária, coloca em risco a mata nativa. Além disso, muitas pessoas que vêm trabalhar nessas obras acabam fazendo ocupações irregulares em áreas de proteção ambiental."" OUTRO LADO O diretor de biodiversidade e áreas protegidas do Instituto Ambiental do Paraná, Guilherme Vasconcellos, admite faltar funcionários. ""Estamos montando um sistema de inteligência para poder otimizar e traçar ações"". Segundo ele, toda liberação de empreendimentos que irão afetar o meio ambiente seguem as normas legais. Via assessoria de imprensa, a Secretaria de Meio Ambiente de Minas afirma que atua para a recuperar áreas degradadas e na fiscalização ostensiva para coibir o desmate ilegal. Segundo a pasta, no ano passado foram realizadas sete operações para coibir o desmate da mata atlântica resultando em aproximados R$ 32,6 milhões em autuações. ""Em muitos casos não é possível identificar o verdadeiro autor, sendo responsabilizados os somente os 'laranjas'"", diz. Em 2014, cerca de 2,5 mil hectares de área nativa foram recuperados. O Ministério do Meio Ambiente informa que a fiscalização para combater o desmate deve ser realizado pelos governos federal, estadual e municipal, e cita que algumas medidas tomadas são a criação de unidades de conservação e fomento a atividades produtivas sustentáveis. ""A maior parte dos desmatamentos ocorre em pequenas áreas"", diz, ""o que dificulta seu monitoramento e aumentam, consequentemente, o custo da fiscalização, que é limitado"". Segundo o Ibama do Paraná, no ano passado o órgão emitiu R$ 4,4 milhões em multas por crimes ambientais e embargou 454 hectares por devastação de mata nativa. O Sindicato das Indústrias de Madeira do Estado do Paraná afirmou que não não tem empresas afiliadas que desmatem a mata atlântica, e que repudia a exploração ilegal. O sindicato das indústrias de ferro de Minas não se pronunciou.",ambiente
Grupo dá aulas grátis para quem tem medo de andar de bicicleta na cidade,"O tempo frio e chuvoso em São Paulo não espantou as cerca de 20 pessoas que se reuniram na praça dos Arcos, na avenida Paulista, no último domingo (31), na expectativa de aprender a andar de bicicleta pela primeira vez. Composto quase exclusivamente por mulheres, de jovens adultas a idosas, o grupo participa do Programa Escola Bike Anjo, que desde março oferece aulas gratuitas para ciclistas iniciantes. ""Minha filha mora em Amsterdã e, quando fui visitá-la, fiquei constrangida, porque todo mundo fazia tudo de bicicleta, enquanto eu tinha que ir a pé"", conta a servidora pública Maria Josefa Peres, 54, que na aula foi a primeira a pedalar. ""Volto em julho para uma surpresa."" Veja imagens Já a aposentada Patrícia Blancato, 62, foi resolver um ""trauma de infância"". ""Meus pais nunca se preocuparam em ensinar, e o tempo foi passando. Então procurei na internet e achei esse curso."" A ""escola"" que encontrou é a mais recente iniciativa do Bike Anjo, um projeto criado em 2010 para estimular o uso da bicicleta como transporte. Para o fundador João Paulo Amaral, 28, as cidades brasileiras oferecem dificuldades aos ciclistas, mas o medo de pedalar é que atrapalha. ""São Paulo é uma das cidades mais seguras em que eu já pedalei. O motorista aqui respeita o ciclista mais do que em outros lugares"", diz JP, como é conhecido. ""A falta de estrutura cicloviária adequada obrigou ciclistas e motoristas a aprenderem a compartilhar o espaço das ruas."" Para incentivar novos ciclistas, ele fez uma rede social (bikeanjo.com.br ), que é o coração de seu projeto. Nela, iniciantes pedalam com ciclistas experientes e recebem dicas de como locomover-se com segurança. Desde que foi criado, o site atendeu a mais de 7.000 pedidos por aulas e hoje reúne cerca de 1.600 voluntários em 250 cidades no Brasil, além de ter inspirado projetos em outros cinco países. Em 2013, a ação foi transformada em ONG e conta com patrocínio do Itaú. Seu orçamento anual é de R$ 400 mil. Dividido em seis módulos, o curso ensina até mecânica para bikes. Para participar, é preciso escolher a aula, se cadastrar e esperar um sorteio.",ambiente
Bichos aquáticos da Amazônia são os que mais sofreram com caça,"Num trabalho de detetive sem precedentes, pesquisadores brasileiros usaram obscuros registros portuários e dados estatísticos de órgãos do governo que nem existem mais para estimar o impacto da caça comercial na Amazônia ao longo do século 20. O resultado, à primeira vista, é estarrecedor: ao menos 23 milhões de bichos foram abatidos para obter couro ou pele entre 1900 e 1970, estimam os cientistas. Note que esse número nem se refere a toda a Amazônia brasileira. Entraram na conta apenas alguns Amazonas, Acre, Roraima e Rondônia, a respeito dos quais foi possível levantar informações mais precisas. Foi um ciclo de comércio que rendeu meio bilhão de dólares (valores de 2015) apenas entre os anos 1930 e 1960. Há uma boa notícia em meio a aparente hecatombe. Os dados sugerem que a pressão da caça não foi suficiente para colocar em perigo sério as populações da maioria dos animais terrestres de grande porte. Por outro lado, a situação dos bichos aquáticos e semiaquáticos é mais preocupante, com uma série de colapsos populacionais que provavelmente refletem uma fragilidade dessas espécies diante da exploração. Publicada na revista ""Science Advances"", a pesquisa é assinada por André Antunes, da WCS (Sociedade para Conservação da Vida Selvagem), e Carlos Peres, da Universidade de East Anglia (Reino Unido), além de estudiosos do Brasil, dos EUA e da Nova Zelândia. DILÚVIO DE DADOS ""Espero que a publicação desse artigo possa abrir uma nova perspectiva na ecologia histórica da Amazônia e encorajar outros pesquisadores a desbravarem outras fontes"", diz Antunes. ""Desbravar"" é o termo correto, de fato. Foi preciso vasculhar bibliotecas do Amazonas, do Acre e do Rio de Janeiro em busca de relatórios comerciais do porto de Manaus, da Associação Comercial do Amazonas e até da chamada Codeama, extinta comissão de desenvolvimento econômico amazonense. Em alguns casos, essas fontes citavam as espécies aos quais pertenciam couros e peles comercializados –mas nem sempre colocavam o número de indivíduos, apenas o peso do material. Outros registros nem falavam em espécies, grafando simplesmente ""fantasia"", por exemplo (para designar genericamente peles de felinos selvagens). Diante dessas dificuldades, foi necessário desenvolver modelos estatísticos para converter, por exemplo, quilos de pele ou de couro em número de indivíduos de uma espécie capturados. O resultado tem graus consideráveis de incerteza, mas mostra, de maneira geral, a trajetória da caça dos principais bichos da região ao longo de décadas. DA GUERRA À MODA Os dados indicam que, como qualquer outro negócio, a caça comercial seguiu algumas das grandes flutuações da economia mundial e amazônica ao longo do século 20. Faz sentido que o ramo de negócios tenha começado a ganhar força a partir da segunda metade dos anos 1910. Trata-se do momento no qual a obtenção da borracha a partir das seringueiras, até então grande motor da economia da Amazônia moderna, sofre grande baque por causa da concorrência malaia. O comércio de couros e peles vira uma alternativa de sobrevivência para a população da região. No fim dos anos 1930, há novo crescimento das capturas por um motivo inverso ao da primeira década do século. Com a Segunda Guerra Mundial, o Brasil novamente vira grande fornecedor de borracha da indústria militar dos EUA. Até 80 mil ""soldados da borracha"" se mudam para a Amazônia, e muitos complementavam renda com a caça comercial, que também tinha mercado nos EUA. A moda internacional –e a paixão por peles de felinos– dos anos 1950 e 1960 foi a responsável pelo último grande crescimento da caça, com quase 1 milhão de peles vendidas só em 1969. A indústria só declinou de vez nos anos 1980, mesmo com a proibição oficial da caça no Brasil em 1967 (a lei ainda permitia a venda de peles supostamente estocadas, o que explica o comércio recorde dois anos após a nova legislação). JACARÉ NADA DE COSTAS O que os registros comerciais sugerem é que, apesar de tudo, a captura da maioria das espécies terrestres mais visadas não tinha sofrido grandes declínios no fim do período de caça legal (a exceção é a queixada, bicho que vive em grupos com muitos indivíduos, que podem ser abatidos praticamente ao mesmo tempo por um caçador experiente). A história é bem diferente para os animais dos rios da região, como o jacaré-açu, a ariranha e o peixe-boi. Os pesquisadores defendem que esses bichos vivem em ambientes de acesso relativamente fácil (por barco, ao menos), enquanto os de terra firme conseguem se embrenhar em áreas mais remotas da mata, que servem de refúgios. Para eles, os resultados devem ajudar a rediscutir a questão da caça de subsistência na Amazônia, hoje tolerada em muitos casos, mas com um pé na ilegalidade e vista com desconfiança por ambientalistas. ""A Lei de Fauna no Brasil está completamente obsoleta em relação às abordagens modernas de manejo de espécies caçadas"", argumenta Peres. ""A caça de subsistência valoriza o capital natural da floresta em pé e pode perfeitamente ser manejada, em vez de ser proibida terminantemente e até criminalizada."" Dizer que seria difícil fiscalizar a caça controlada é falacioso, afirma Antunes. ""A falta de governança na Amazônia que poderia dificultar a fiscalização da caça se ela fosse regulamentada para fins exclusivos de subsistência é a mesma que vem fazendo vista grossa a todo tipo de caça e que viu a perda de aproximadamente 30 % da Amazônia através do desmatamento"", critica. Legalizar a caça controlada, em períodos e locais específicos, para um subgrupo das espécies da região, também estimularia a população local a colaborar para a preservação da mata.",ambiente
ONGs incentivam a construção de imóveis à prova de terremotos,"""Terremotos não matam as pessoas"", dizem os sismólogos. ""Os prédios é que matam."" Um forte terremoto atingiu o Nepal nesta terça, 17 dias após o abalo de magnitude 7,8 que derrubou imóveis. Os dois voltaram a demonstrar essa obviedade. Mas para Brian Tucker, fundador de uma ONG chamada GeoHazards International, dois terremotos no final da década de 1980 foram inspiradores. Em 1988, um sismo de magnitude 6,8 devastou a Armênia, então parte da União Soviética. O número oficial de mortos foi de 25 mil, mas estimativas extraoficiais apontam para 40 mil. Dez meses depois, um tremor de magnitude 6,9 ocorreu ao sul de San Francisco, afetando mais ou menos o mesmo número de pessoas que no terremoto armênio. Apenas 63 morreram. ""Fiquei chocado com isso"", disse Tucker. ""Meio que confirmou a minha intuição da enorme disparidade na letalidade dos abalos."" Em lugares como a Califórnia e o Japão, é padrão que as construções sejam resistentes a terremotos. Em outros, as leis de construção civil são negligentes, e os construtores fazem gambiarras. ""Achei que deveríamos descobrir uma forma de exportar essas práticas –adaptando-as, é claro– a países em desenvolvimento que estivessem realmente sob risco"", disse Tucker, cuja ONG atualmente ajuda países em desenvolvimento a se prepararem melhor para terremotos. Em Aizawl, no nordeste da Índia –uma região propensa a terremotos–, a GeoHazards convenceu a prefeitura a proibir a construção de casas em morros suscetíveis a deslizamentos. Katmandu, a capital do Nepal, estava no topo da lista de prioridades da GeoHazards. A cidade fica em cima da faixa onde o subcontinente indiano está sendo empurrado para baixo da placa tectônica eurasiana. A GeoHazards ajudou a criar uma ONG local, chamada Sociedade Nacional para a Tecnologia de Terremotos –Nepal, que agiu para adequar escolas e hospitais, treinar socorristas e conscientizar a população sobre os cuidados necessários. ""Acho que eles salvaram vidas"", disse Tucker. As mais de 8.000 mortes registradas no tremor de 25 de abril no Nepal foram menos que muitos temiam para um forte terremoto. ""Eles fizeram um trabalho fabuloso durante décadas, projetos que fazem a diferença, como a adaptação de escolas e o treinamento a construtores de vários países"", disse a sismóloga Susan Hough, do Departamento de Pesquisas Geológicas dos EUA, referindo-se à GeoHazards. Durante terremotos, os alunos em áreas vulneráveis são instruídos a se abrigarem sob suas carteiras, mas isso de pouco adianta se o móvel não resistir à queda de destroços do teto. O terremoto do mês passado no Nepal ocorreu num sábado, quando as escolas estavam vazias. Mas, em Sichuan (China), em 2008, milhares de crianças e professores morreram esmagados em escolas que desabaram en um abalo de magnitude 8,0. Cerca de um mês atrás, Tucker orientou Arthur Brutter, aluno da Academia Bezalel de Artes e Design, em Jerusalém, na criação de uma carteira à prova de terremotos, com tampo capaz de resistir a uma tonelada de peso, mas custando apenas US$ 70. Na cidade indonésia de Padang, a GeoHazards coordena um projeto para criar um platô de terra, com 7 metros de altura, onde até 20 mil pessoas poderiam se refugiar em caso de tsunami. ""O progresso é lento"", disse Tucker. ""Sinto como se estivesse escrevendo a eles por causa desse terremoto no Nepal e lhes dizendo: 'Gente, isso vai acontecer na sua cidade'.""",ambiente
O julgamento raro que expõe 'guerra' nas margens da Amazônia,"A maioria dos casos de violência no campo termina no dia da morte da vítima. Praticamente, não há julgamentos. Desde 1985, apenas 6 de cada 100 assassinatos foram julgados, segundo dados compilados pela Comissão Pastoral da Terra. Mas, um caso ocorrido em Rondônia no ano passado fugiu à regra e vai a júri popular em 15 de agosto. Em 31 de janeiro, cinco trabalhadores sem-terra foram perseguidos por um grupo de homens armados em Cujubim, norte do Estado. No dia seguinte, o corpo de um deles foi encontrado carbonizado em um carro. Um segundo homem desapareceu e foi dado como morto. Os outros três conseguiram fugir, embora um deles tenha sido assassinado neste ano. A violência irradiou para pessoas próximas ao caso. Testemunhas foram ameaçadas e um jornalista que cobriu a história sofreu um atentado. O episódio expõe a tensão nas margens da Amazônia. Mapeamento da BBC Brasil com base em dados da organização internacional Global Witness mostra que 9 de cada 10 ativistas brasileiros que lutam pela terra (como sem-terra, trabalhadores rurais e indígenas) ocorreram na Amazônia Legal - que engloba 8 estados e parte do Maranhão. Rondônia é o Estado com o maior número de vítimas. Pela morte dos dois homens e a tentativa de homicídio contra os outros três, o Ministério Público de Rondônia pediu a condenação de um pecuarista, do gerente de sua fazenda, do presidente de uma associação rural local e de dois integrantes da Polícia Militar de Rondônia. Os cinco acusados, que se dizem inocentes, estão presos preventivamente. ""Esse é um dos poucos casos de violência no campo que foi minimamente esclarecido. Chegou a júri e houve presos. É um avanço frente à impunidade existente"", diz Josep Iborra Plans, da Articulação Amazônia da Comissão Pastoral da Terra. Plans já foi, ele mesmo, ameaçado de morte. Para Plans, o caso também exemplifica a truculência no campo. ""Os mortos foram perseguidos sem misericórdia. Uma autêntica caçada humana"". PERSEGUIÇÃO E MORTE A história do assassinato dos dois sem-terra começa com a reintegração de posse da fazenda Tucumã, em Cujubim, que estava ocupada pelo acampamento ""Terra Nossa"". O dono da área não tinha título da propriedade. Em janeiro de 2016, o grupo sem-terra saiu do local por determinação da justiça. Não houve incidentes. A tragédia ocorreu em seguida. Após a reintegração, cinco ex-ocupantes voltaram ao antigo acampamento, sob a justificativa de recolher objetos que ficaram para trás. Era 31 de janeiro. Ao chegarem, encontraram os resquícios da ocupação destruídos. Deixaram o local e foram emboscados por um grupo armado, de acordo com testemunhas. Tentaram fugir e foram perseguidos por dezoito horas, segundo o MP. No dia seguinte, o corpo carbonizado foi encontrado dentro de um carro. Exames de DNA confirmaram que era o de Alysson Henrique de Sá Lopes, 23 anos. O estado do corpo não permitiu que a perícia identificasse a causa definitiva da morte. Ruan Lucas Hildebrandt de Aguiar, 18 anos, nunca foi achado, apesar das buscas, e foi dado como morto. Em 3 de fevereiro, na fazenda Tucumã, foi apreendida uma caminhonete que levava um ""arsenal"", nas palavras do MP: uma metralhadora, quatro espingardas, um revólver, munição, fardamento, GPS. CICLO DE VIOLÊNCIA Os outros três homens fugiram da área em meio às toras de madeira transportadas em um caminhão, segundo relatos. A fuga não foi uma solução. Mais tarde, em 4 de março deste ano, Renato de Souza Benevides foi assassinado. Outro, sofreu um novo atentado em 2016, sobreviveu e entrou no programa de proteção a testemunhas. O terceiro teve que sair da região. Os nomes dos dois sobreviventes foram omitidos pela BBC Brasil, por questão de segurança. A violência não se esgotou aí. Em fevereiro deste ano, Roberto Santos Araújo, liderança do acampamento Terra Nossa, foi morto. A mãe de Ruan, cujo nome não revelamos por questão de segurança, entrou no programa de proteção a testemunhas. Ela passou a procurar mais informações sobre o desaparecimento do filho e suspeitava que o corpo de Ruan tivesse sido atirado em um rio, amarrado em uma pedra. Em depoimento, a mãe de Ruan informou que uma testemunha da região contou a ela que, no dia dos fatos, teria visto o rapaz saindo do mato muito cansado e pedindo água. Em seguida, apareceram pessoas que se apresentaram como policiais, o detiveram, o amarraram e o levaram em um carro, que seria o mesmo onde o corpo de Alysson foi encontrado carbonizado. A testemunha também está sob proteção do Estado. Ivan Pereira da Costa, jornalista do norte de Rondônia que cobriu a história, foi vítima de atentado a tiros na frente da sua casa em Cujumim, em abril de 2016, e saiu da cidade. A BBC Brasil não conseguiu encontrá-lo. ""Me calaram. Não posso continuar na cidade e nem com o site"", disse em entrevista na época, para o G1 de Rondônia. Segundo o MP de Ariquemes, ainda não é possível saber se esses casos estão relacionados ao crime principal. DEFESA DOS ACUSADOS O proprietário da fazenda Tucumã, Paulo Iwakami, é um dos denunciados pelo MP pela morte de Alysson e Ruan. Natural do Paraná, Iwakami migrou para Rondônia há mais de três décadas. ""Ele pegou mata pura e formou a fazenda"", diz o advogado Marcos Vilela de Carvalho, que representa Iwakami. Uma de suas fazendas, a Tucumã, foi algumas vezes ocupada por grupos sem-terra. ""Na última invasão, (os sem-terra) mataram dezenas de animais, queimaram casa, curral, trator"", afirma Vilela de Carvalho. Em seu depoimento, Iwakami disse que Sérgio Sussumu, então presidente de uma associação rural da região, indicou pessoas para fazerem a segurança da fazenda Tucumã. Os funcionários teriam sido orientados a procurar a polícia se houvesse qualquer ocorrência, diz a defesa. ""Mas aconteceu aquela anarquia. O Paulo Iwakami é inocente. Cada um é responsável por seu CPF"", afirma seu advogado, incriminando os subordinados do fazendeiro. Já a defesa de Sergio Sussumu alega que ele é inocente e que sua participação no caso é uma ""história inventada"" pelo proprietário da fazenda Tucumã. Acrescenta que ele não foi reconhecido pelos policiais denunciados pelas mortes. Ressalta ainda que Sussumu também teve uma fazenda invadida por sem-terra e que resolveu o assunto sem ocorrência policial. O grupo contratado para fazer a segurança da fazenda Tucumã seria formado por Rivaldo de Souza, gerente e proprietário da caminhonete apreendida com armas, Jonas Augusto dos Santos Silva, cabo da PM, e Moisés Ferreira de Souza, sargento da PM. A BBC Brasil não conseguiu contato com a defesa dos dois primeiros. O sargento Moisés, como Souza é conhecido, também é suspeito na chacina de Colniza (MT), onde nove pessoas foram assassinadas em abril deste ano. Foi a maior chacina no campo desde Eldorado dos Carajás, em 1996. Segundo a Polícia Judiciária Civil de Mato Grosso, o sargento seria o líder de um grupo intitulado ""Encapuzados"". Ele estava foragido e se apresentou à justiça apenas no final de maio. A defesa de Souza diz que o sargento é inocente nos dois casos e acrescenta que tem provas de que ele estava na cidade de Ji-Paraná quando os crimes aconteceram. Portanto não poderia estar presente nas cenas dos homicídios. ""No Brasil, primeiro se prende, depois se investiga. Não existem provas. Moisés tem 6 anos no Exército, 22 anos na PM, foi para a Força Nacional, tem folha de elogios na corporação"", afirma o seu advogado, Jorge Muniz Barreto. MILÍCIAS E DESTRUIÇÃO Assim como no caso de Alysson e Ruan, em Rondônia, há outros episódios de violência no campo envolvendo seguranças contratados por donos de terras. Segundo Anderson Batista de Oliveira, promotor de Justiça de Ariquemes e responsável pelo caso dos dois jovens, esses seguranças são contratados para ""andarem armados, apesar de não terem porte legal de armas, e evitarem a tomada da terra"". ""São os jagunços, chamados de guaxebas aqui em Rondônia. Andam em pequenos grupos, de cavalos ou carros, e fazem patrulhas pelas estradas de terra. Como se fosse um estado paralelo, uma milícia"", afirma Oliveira. Casos de assassinato de proprietários rurais ou de seus funcionários também ocorrem, segundo as fontes ouvidas pela BBC Brasil. E também há episódios de violência, sem morte, dos dois lados. ""Aqui há muita terra pública grilada. Quando algum grupo invade a terra, a solução de ambos os lados é violenta. Há casos, por exemplo, em que os invasores matam animais, queimam pasto, disparam arma de fogo nas redondezas. Até o ápice, mais raro, que é a invasão total da sede da fazenda"", completa Oliveira. As características da Amazônia dificultam o combate a esses crimes. ""São fatos que ocorrem na selva, em áreas de grandes latifúndios, a centenas de quilômetros da cidade, onde não pega celular, com muitas rotas de fuga e esconderijo e onde qualquer presença diferente é facilmente percebida. Não vai ser a investigação convencional para delitos urbanos que vai elucidar esse tipo de crime cometido na zona rural. Infelizmente, não existe estrutura na Polícia Civil e no Ministério Público para fazer essa investigação"", explica o promotor de Justiça. Cristiane Lima, coronel da PM do Pará na reserva e professora de direitos humanos, aponta um novo fator de conflito: ""Voltou a aparecer aqui no Pará a participação do policial na violência do campo. É o ressurgimento de um discurso de guerra. Um sentimento de justiceiros, de que é preciso resolver os problemas na minha área"", comenta. REFORMA AGRÁRIA O delegado Mario Jorge Pinto Sobrinho, da delegacia de conflitos agrários de Rondônia, convive diariamente com a violência no campo. Para ele, ""o grande problema da violência no campo é a ausência da reforma agrária"". ""Se o Estado fizesse reforma agrária, Rondônia não estava nessa briga toda. O Incra está acabando em Rondônia, sem servidores"", diz. O presidente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) de Rondônia, Cletho Muniz de Brito, confirmou à BBC Brasil a gravidade da situação do campo na região. ""Todo dia está ocorrendo reintegração de posse em Rondônia. É hoje o Estado onde mais está morrendo gente no campo. Pode ocorrer em algum momento alguma situação que fuja do controle."" A Secretaria de Segurança de Rondônia afirmou, em nota, que vem atuando ""com a Patrulha Rural e priorizando a investigação dos crimes relacionados ao conflito de terras"". Sobre a morte de Alysson e Ruan, disse que ""todas as medidas legais de responsabilidade das polícias como investigação e produção de provas foram feitas dando suporte ao Judiciário"". O julgamento é esperado com grande expectativa por movimentos sociais do campo de Rondônia. A Comissão Pastoral da Terra está organizando uma vigília de oração na véspera, dia 14 de agosto, em Ariquemes, onde será realizado.",ambiente
"Quer compartilhar, mas não sabe o que é a Renca? Entenda aqui","A Renca (Reserva Nacional de Cobre e Associados) é uma criação do regime militar que governou o país até meados dos anos 1980. Desde o princípio, foi estabelecida não como área de proteção ambiental, mas como uma espécie de monopólio do Estado sobre a futura exploração de minérios na região –a intenção era proteger recursos minerais estratégicos, e não a floresta. O que explica, portanto, a preocupação de ambientalistas com o destino da área? O primeiro ponto é a sobreposição do território da reserva –mais de 46 mil quilômetros quadrados, equivalente a todo o Estado do Espírito Santo– com oito UCs (unidades de conservação, essas sim destinadas à preservação ambiental) e duas terras indígenas, pertencentes respectivamente aos povos wajãpi (que falam uma língua da família tupi-guarani) e aparai e wayana (ligados ao grupo linguístico caribe). Entre as UCs se destacam a Floresta Estadual do Paru, maior área protegida do país, e o Parque Nacional Montanhas do Tucumaque, recordista em tamanho entre as áreas sob proteção federal no Brasil. Algumas dessas unidades são de preservação permanente e, portanto, não permitem, por lei, nenhuma forma de uso agrícola ou extrativista do território, enquanto outras são de uso sustentável, o que viabiliza, em tese, a exploração econômica. Em segundo lugar, embora um comunicado da Presidência da República tenha afirmado que a Renca ""não é um paraíso, como querem fazer parecer, erroneamente, alguns"", apontando problemas como a contaminação de cursos d'água com o mercúrio de garimpos clandestinos, dados do próprio governo sugerem que a região ainda é relativamente intocada. Documentos do Ministério do Meio Ambiente datados de junho deste ano, obtidos pela ONG Observatório do Clima, afirmam que apenas uma fração mínima da área da Renca foi desmatada até hoje, e que as lavras de garimpeiros que existem são antigas e de pequena escala. Segundo o ministério, a abertura da área à exploração poderia desencadear o surgimento de ""uma nova frente de conversão em áreas que ainda não foram alteradas de forma significativa"". Os recursos minerais que justificariam essa exploração são consideráveis. Além do cobre que empresta seu nome à reserva, há jazidas de ouro, platina, ferro, manganês, níquel e ainda metais mais raros, como o nióbio (importante para ligas usadas em jatos e foguetes) e o molibdênio (também comum em ligas de aço muito resistentes). Não é trivial, no entanto, realizar a exploração de minérios em grande escala com impacto ambiental relativamente baixo. Há ainda a preocupação com uma espécie de efeito-dominó que tem sido comum em contextos similares na Amazônia. O crescimento rápido da atividade econômica extrativa em locais até então relativamente intocados cria um ciclo de aumento populacional (via migração de outros centos, em busca de emprego), crescimento rápido da infraestrutura (o que multiplica o desmatamento e os efeitos sobre os rios) e violência no campo e contra a população indígena (causada por disputas por terra entre a população que acaba de chegar à região).",ambiente
Derretimento de geleiras está levando ao ressurgimento de doenças,"Seres humanos, bactérias e vírus têm coexistido ao longo da história. Da peste bubônica à varíola, nós evoluímos para resistir a eles, e em resposta eles desenvolveram novas maneiras de nos infectar. Já faz mais de um século que temos os antibióticos, desde que Alexander Fleming descobriu a penicilina. Mas as bactérias não deixaram por menos: elas responderam evoluindo sua resistência aos antibióticos. A batalha parece sem fim: nós passamos tanto tempo com patógenos, que, às vezes, desenvolvemos um tipo de impasse natural. No entanto, o que aconteceria se nós, de repente, ficássemos expostos a bactérias e vírus mortais que ficaram ausentes por milhares de anos –ou então que nunca vimos antes? É possível que estejamos perto de descobrir que aconteceria. As mudanças climáticas estão derretendo o solo da região do ártico que existiram ali por milhares de anos e, conforme o solo derrete, ele vai liberando antigos vírus e bactérias que, depois de ficarem tanto tempo ""dormentes"", voltam à vida. Em agosto de 2016, em uma região remota da tundra da Sibéria chamada Península Iamal no Círculo Ártico, um garoto de 12 anos morreu e pelo menos 20 pessoas foram hospitalizadas após terem sido infectadas por antraz. A teoria é que, há mais de 75 anos, uma rena infectada com antraz morreu e sua carcaça congelada ficou presa sob uma camada de solo também congelado, chamado de permafrost. Lá ela ficou até a onda de calor que invadiu a região no verão de 2016 –e derreteu o permafrost. Isso expôs a carcaça da rena infectada e liberou o vírus para a água e para o solo do local –e, consequentemente, para os alimentos que as pessoas que viviam lá comiam. Mais de 2 mil renas nasceram infectadas ali, e houve um número menor de casos em humanos. O medo agora é que esse não tenha sido um caso isolado. Conforme a Terra vai aquecendo, mais camadas do permafrost vão derretendo. Sob circunstâncias normais, cerca de 50 cm das camadas de permafrost mais superficiais derretem no verão. Mas com o aquecimento global, camadas mais profundas e antigas têm derretido também. O permafrost congelado é o lugar perfeito para as bactérias se manterem vivas por um longo período de tempo, talvez até um milhão de anos. Isso significa que o derretimento das geleiras pode abrir a caixa de pandora das doenças. A temperatura no círculo ártico está aumentando rapidamente, cerca de 3 vezes mais rápido do que no resto do mundo. Conforme o permafrost derrete, outros agentes infecciosos podem ser liberados. ""O permafrost é um bom lugar para preservar micróbios e vírus, porque ele é frio, não tem oxigênio e é escuro"", explica o biólogo evolucionista Jean-Michel Claverie da Universidade Aix-Marseille, na França. ""Vírus patogênicos que podem infectar humanos ou animais podem ser preservados em camadas antigas de permafrost, inclusive alguns que podem ter causado epidemias globais no passado."" Só no início do século 20, mais de um milhão de renas morreram por causa de infecção por antraz. Não é fácil cavar tumbas muito profundas, então a maioria das carcaças dos animais são enterrados perto da superfície, espalhados pelos 7 mil cemitérios no norte da Rússia. No entanto, o maior medo é o que mais pode estar escondido sob o solo congelado. Pessoas e animais têm sido enterrados em permafrost por séculos, então é plausível dizer que outros agentes patogênicos e doenças infecciosas podem ser desencadeados se o derretimento do solo continuar. Por exemplo, cientistas descobriram fragmentos de RNA da gripe espanhola de 1918 em corpos enterrados em valas comuns na tundra do Alasca. A varíola e a peste bulbônica também podem estar enterradas na Sibéria. Em um estudo em 2011, Boris Revich e Marina Podolnaya escreveram: ""Como consequência do derretimento do permafrost, vetores de doenças infecciosas mortais dos séculos 18 e 19 podem voltar, especialmente próximo aos cemitérios onde as vítimas dessas infecções foram enterradas."" Por exemplo, na década de 1890, houve uma epidemia grande de varíola na Sibéria. Uma cidade perdeu praticamente 40% de sua população. Seus corpos foram enterrados sob o permafrost nas margens do rio Kolyma. Cerca de 120 anos depois, a enchente do rio começou a erodir as margens e o derretimento do permafrost acelerou o processo de erosão. Em um projeto que começou nos anos 1990, cientistas do Centro Estadual de Pesquisa de Virologia e Biotecnologia em Novosibirsk analisaram os restos de pessoas da Idade da Pedra que foram encontrados no sul da Sibéria, na região de Gorny Altai. Eles também testaram amostras de cadáveres de homens que haviam morrido durante epidemias virais no século 19 e foram enterrados no permafrost russo. Os pesquisadores dizem que eles encontraram corpos com feridas características das marcas deixadas pela varíola. Eles não chegaram a encontrar o vírus da varíola em si, mas detectaram fragmentos de seu DNA. Certamente não é a primeira vez que uma bactéria congelada voltou à vida. Em um estudo de 2005, cientistas da Nasa ressuscitaram com sucesso bactérias que haviam ficado ""guardadas"" em um lago congelado no Alasca por 32 mil anos. Os micróbios, chamados Carnobacterium pleistocenium, estavam congelados desde o período Pleistoceno, quando mamutes lanosos ainda vagavam pela Terra. Quando o gelo derretia, eles começavam a nadar ao redor, sem parecer afetados. Dois anos depois, cientistas conseguiram ressuscitar bactérias de 8 milhões de anos que havia ficado adormecidas no gelo, sob a superfície glacial nos vales Beacon e Mullins na Antártica. No mesmo estudo, bactérias de 100 mil anos foram ressuscitadas. No entanto, nem todas as bactérias podem voltar à vida depois de terem sido congeladas em permafrost. A bactéria do antraz consegue porque ela têm esporos, que são muito resistentes e podem sobreviver por mais de um século. Outra bactéria que pode formar esporos e, consequentemente, sobreviver no permafrost, é a do tétano e a Clostridium botulinum, responsável pelo botulismo –uma doença rara que pode causar paralisia e até mesmo se tornar fatal. Alguns fungos e vírus também podem sobreviver nesse tipo de ambiente por mais tempo. Em um estudo de 2014, uma equipe conseguiu ressuscitar dois vírus que estavam no permafrost da Sibéria por 30 mil anos. Conhecidos como Pithovirus sibericum e Mollivirus sibericum, eles são dois vírus gigantes, porque ao contrário da maioria, eles conseguem ser vistos sem microscópios. Eles foram encontrados a 30 m de profundidade na tundra costal. Uma vez ""vivos"" de novo, esses vírus se tornaram rapidamente infecciosos. Para a nossa sorte, esses vírus em particular somente infectam seres monocelulares, como amebas. No entanto, o mesmo estudo sugere que outros vírus –que podem infectar humanos– podem ser ressuscitados da mesma forma. E não é só o aquecimento global que pode derreter diretamente o permafrost para termos uma ameaça. Isso porque o gelo do Mar Ártico está derretendo, então a costa norte da Sibéria se tornou mais acessível pelo oceano. Como resultado disso, a exploração industrial, incluindo a exploração de minas por ouro e minerais, e a própria exploração de petróleo e gás natural estão se tornando agora mais lucrativas. ""Neste momento, essas regiões estão desertas e as camadas mais profundas de permafrost são deixadas em paz"", explicou Claverie. ""No entanto, essas camadas mais antigas podem ser expostas por escavações de minas ou por perfurações de petróleo. Se vírus ou bactérias ainda estiverem lá, isso poderia abrir as portas para um desastre."" Vírus gigantes podem ser os principais culpados por uma grande epidemia. ""A maioria dos vírus são rapidamente desativados fora de células hospedeiras por conta da luz, dessecação ou degradação bioquímica espontânea"", diz Claverie. ""Por exemplo: se o DNA dele sofre danos impossíveis de serem reparados, o vírus não será mais infeccioso. No entanto, entre os vírus conhecidos, o vírus gigante tende a ser mais resistente e quase impossível de quebrar."" Claverie afirma que vírus dos primeiros humanos a habitarem o Ártico podem ressurgir. Poderíamos até mesmo ver vírus de espécies humanas há muito tempo extintas, como o Neanderthal e Denisovan, que se estabeleceram na Sibéria e foram infectados com várias doenças virais. Restos do homem de Neanderthal de 30-40 mil anos atrás foram encontrados na Rússia. Populações humanas viveram ali por milhares de anos –adoeceram ali e morreram ali. ""A possibilidade de nós pegarmos um vírus de um Neanderthal há muito tempo extinto sugere que a ideia de que um vírus pode ser erradicado do planeta é errada, e nos dá um falso senso de segurança"", pontua Claverie. ""E é por isso que deveríamos manter estoques de vacina, para caso voltemos a precisar delas um dia."" Desde 2014, Claverie analisa os DNAs de camadas de permafrost, buscando características genéticas de vírus e bactérias que poderiam infectar humanos. Ele encontrou evidências de muitas bactérias que provavelmente são perigosas para humanos. As bactérias têm um DNA que codifica fatores de virulência: moléculas que produzem bactérias e vírus patogênicos, o que aumenta sua capacidade de infectar um hospedeiro. A equipe de Claverie também encontrou algumas sequências de DNA que pareciam vir de vírus, inclusive da herpes. No entanto, eles ainda não encontraram nenhum traço de varíola. Por razões óbvias, eles não tentaram reavivar nenhum dos patógenos. ALÉM DO SOLO DO ÁRTICO Os patógenos que foram isolados dos humanos por muito tempo podem voltar não apenas pelo gelo ou pelo permafrost –cientistas da Nasa descobriram em fevereiro deste ano micróbios de 10-50 mil anos atrás dentro de cristais em uma mina do México. A bactéria foi encontrada na Caverna dos Cristais, parte de uma mina em Naica, no norte do México. Lá, há vários cristais brancos do mineral selenito, que foram formados ao longo de centenas e milhares de anos. A bactéria ficou presa dentro de pequenos bolsos de fluidos dentro dos cristais, mas uma vez que eles foram removidos, ela reviveu e começou a se multiplicar. Os micróbios são geneticamente únicos e podem ser novas espécies, mas os pesquisadores ainda vão divulgar um estudo completo sobre eles. Até mesmo bactérias mais velhas foram encontradas na Caverna Lechuguilla, no Novo México, a 300 metros sob o solo. Esses micróbios não tinham visto a superfície nos últimos 4 milhões de anos. A caverna nunca vê a luz do dia, e é tão isolada que leva cerca de 10 mil anos para a água da superfície entrar na caverna. Apesar disso, a bactéria de alguma forma se tornou resistente aos 18 tipos de antibióticos, incluindo remédios considerados o ""último recurso"" para combater infecções . Em um estudo publicado em dezembro do ano passado, pesquisadores descobriram que a bactéria, conhecida como Paenibacillus sp. LC231, era resistente a 70% dos antibióticos e conseguia desativar boa parte deles. Conforme as bactérias ficaram completamente isoladas na caverna por quatro milhões de anos, elas não tiveram contato com as pessoas ou com antibióticos usados para tratar as infecções humanas. O que significa que sua resistência aos antibióticos deve ter surgido de outra forma. Os cientistas envolvidos acreditam que a bactéria, que não prejudica os seres humanos, é um dos muitos que naturalmente evoluíram e criaram a resistência aos antibióticos. Isso sugere que a resistência aos antibióticos tem existido há milhões e até bilhões de anos. Obviamente, uma resistência a antibiótico tão antiga não pode ter se desenvolvido como resultado do uso de um antibiótico. O motivo para isso é que muitos tipos de fungos, ou até de outras bactérias, produzem naturalmente antibióticos para ganhar vantagem competitiva com outros micróbios. Foi assim que Fleming descobriu a penicilina: bactérias em uma placa de Petri morreram depois de uma terem sido contaminadas com uma excreção de mofo. Em cavernas, onde há pouca comida, organismos precisam ser implacáveis para sobreviver. Bactérias como a Paenibacillus podem ter precisado desenvolver resistência a antibióticos para evitarem ser mortas por organismos rivais. Isso explicaria por que essas bactérias são resistentes apenas a antibióticos naturais, que vêm de outras bactérias ou fungos, e compõem cerca de 99,9% de todos os antibióticos que usamos. Essas bactérias nunca encontraram antibióticos criados pelo homem, então não têm resistência a eles. ""Nosso trabalho, e o trabalho de outros, sugere que a resistência a antibióticos não é um conceito novo"", disse o microbiólogo Hazel Barton, da Universidade de Akron, Ohio, que liderou o estudo. ""Nossos organismos foram isolados de espécies da superfície por 4 a 7 milhões de anos, mas a resistência que eles têm é geneticamente idêntica a de espécies encontradas na superfície. Isso significa que esses genes são pelo menos antigos, e não foram originados pelo uso humano dos antibióticos para tratamento"". Apesar de a _Paenibacillus_não infectar humanos, ela poderia, em teoria, passar sua resistência a antibióticos para outros patógenos. No entanto, por ela estar isolada abaixo de 400 metros de rocha, isso parece improvável de acontecer. No entanto, a resistência a antibióticos naturais é provavelmente tão predominante, que muitas bactérias que emergem de permafrost devem já tê-la desenvolvido. Em um estudo de 2011 os cientistas extraíram DNA de bactérias de 30.000 anos de idade encontradas em permafrost na região de Beringian entre a Rússia e o Canadá. Eles encontraram genes que codificam a resistência a antibióticos beta-lactâmicos, tetraciclina e antibióticos glicopeptídicos. QUANTO NÓS DEVERÍAMOS NOS PREOCUPAR COM ISSO? Uma questão a ser levada em consideração é que o risco dos patógenos de permafrost ainda é desconhecido, então isso não pode nos preocupar demais. Em vez disso, nós deveríamos focar em ameaças mais concretas, como o aquecimento global e as mudanças climáticas. Por exemplo, conforme a Terra vai aquecendo, os países do Norte vão se tornando mais suscetíveis a epidemias de doenças ""do Sul"", como malária, cólera, dengue, já que esses patógenos sobrevivem em temperaturas mais quentes. Mas há outra perspectiva também, que seria a de nós não ignorarmos os riscos apenas porque nós não podemos estimá-los. ""Seguindo nosso trabalho e o de outros, existe agora uma possibilidade que não é zero de micróbios patogênicos reviverem e nos infectarem"", afirmou Claverie. ""Quão provável isso é, ainda não sabemos, mas é uma possibilidade. Poderiam ser bactérias que são curáveis com antibióticos, ou bactérias resistentes, ou um vírus. Se o patógeno não ficou em contato com humanos por muito tempo, então o nosso sistema imunológico não está preparado para ele. Sendo assim, pode ser perigoso.""",ambiente
Golfinhos são fotografados em projeto que mapeou Fernando de Noronha,"Um projeto feito em parceria entre o Google e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) mapeou o arquipélago de Fernando de Noronha (PE) e o atol das Rocas (RN). O serviço estará disponível a partir dessa terça-feira (17) para os usuários do Street View –serviço do Google onde é possível visualizar ruas, avenidas, praias e monumentos. Localizada a mais de 300 km da costa (e a mais de 500 km de Recife, capital de Pernambuco, estado a que a pertence o arquipélago), Fernando de Noronha possui uma política restrita de visitação, com poucas pessoas por vez, para reduzir o impacto ambiental Luís Felipe Bortolon, biólogo de campo do projeto Tamar diz que com a iniciativa espera ""despertar um interesse não só turístico, mas ambiental de conhecer Noronha"", além de chamar atenção para as atividades do projeto, que cuida da preservação da tartaruga marinha. ""Ironicamente, porém, quem estiver em Noronha não conseguirá acessar esse tipo de imagem"", diz ele lembrando que lá a internet não atinge grande velocidade. Para mapear Fernando de Noronha e o atol das Rocas (a 267 km de Natal), a equipe do Google andou, em novembro de 2014, à pé e de buggy em trilhas, navegou pelo mar com um barco pesqueiro, e até mergulhou com câmeras para registra a paisagem embaixo d'água (veja galeria) foram 20 km percorridos em terra, e 6 km debaixo d'água. ""A gente tinha vontade de mapear Noronha há um bom tempo, mas tivemos que esperar a época certa, de melhor custo-benefício, para ter acesso à água cristalina e fugir do tempo chuvoso"", diz Tomás Nora, engenheiro do Google Street View na América Latina. A iniciativa já passou pelo Parque Nacional do Iguaçu, em Foz do Iguaçu (PR) e também pelo Parque da Tijuca, no Rio. Nora diz que há previsão do mapeamento de outros parques nacionais em um futuro próximo, todos em parceria com o ICMBio.",ambiente
Governo de Goiás trava ampliação de parque no cerrado,"O impasse entre o governo de Goiás e o Instituto Chico Mendes, ligado ao Ministério do Meio Ambiente, está ameaçando a ampliação do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, uma das grandes áreas de cerrado ainda preservadas do país. Os técnicos ambientais, respaldados por ONGs do setor e cientistas que estudam a região, propõem ampliar o parque em 158 mil hectares. Enquanto isso, o governo do Estado de Goiás, administrado pelo tucano Marconi Perillo, tem várias ressalvas ao mapa apresentado para ampliação do parque. Na prática, essa discordância no nível estadual está travando o processo, que se arrasta desde 2010. O governo de Goiás fez uma contraproposta em dezembro. Pelo mapa apresentado ao governo federal, a ampliação seria de 90 mil hectares, mas de forma descontínua. Isso, segundo a ONG WWF, inviabiliza uma proteção adequada do cerrado. Os outros 68 mil hectares que ficaram de fora da proposta goiana enviada a Brasília seriam inseridos no parque futuramente, segundo Rogério Rocha, secretário-executivo da pasta de Meio Ambiente da gestão Perillo. ""Não somos contra a proposta [de ampliação para o total de 158 mil hectares]. Porém, ao ponderar a dimensão social do desenvolvimento sustentável, que se refere ao direito de indenização pela posse da terra de 228 famílias de agricultores familiares, e não latifundiários ou especuladores, nós começamos a negociação para a ampliação em duas etapas."" Para o representante do governo estadual de Goiás, ampliar o parque agora sem a devida regularização fundiária é ""deixar as famílias que serão despejadas de seus modos de vida e de sua raiz sem o justo valor indenizatório"". De acordo com o governo federal, o governo de Goiás estaria promovendo a regularização fundiária de áreas devolutas (que seriam públicas), o que é ilegal. A administração Perillo nega que isso esteja ocorrendo. Segundo Rocha, dentro dos 68 mil hectares que seriam incorporados ao parque no futuro há muita área devoluta, sim, mas isso vai continuar dessa forma. O levantamento fundiário dessas regiões ainda está sendo terminado, diz Rocha. BIODIVERSIDADE A proposta do Instituto Chico Mendes está baseada na preservação de dezenas de espécies da fauna e da flora do cerrado que estão ameaçadas de extinção. Um dos casos é o do pato mergulhão, espécie listada como criticamente em perigo de extinção. ""A estimativa é que existam por volta de 250 indivíduos no mundo. A espécie existia no Brasil, Argentina e Paraguai mas, hoje, há registros dela apenas em território nacional"", diz Sônia Rigueira, presidente do Instituto Terra Brasilis, que luta pela preservação da ave. Segundo ela, a maior causa do sumiço dos bichos é a diminuição do seu hábitat. ""Ele precisa de água limpa. Como mergulha para apanhar sua presa, a maioria peixes, é necessário que exista o contato visual"", diz. Dentro da possível área que poderá ser englobada pelo parque nacional existem locais de beleza cênica reconhecida, o que ajudaria a fomentar ainda mais o turismo sustentável na região, uma grande vocação do lugar. Apesar de a ampliação precisar exclusivamente da assinatura do presidente Michel Temer (PMDB), o governo de Goiás tem que dar o sinal verde para que ela possa ser de fato implementada. A Folha apurou com um amigo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso que até ele resolveu pressionar o Palácio do Planalto. FHC enviou uma carta nesta semana a Temer solicitando que a assinatura do decreto de ampliação fosse feita com rapidez e relaciona a crise hídrica que afeta hoje o Distrito Federal à preservação da Chapa dos Veadeiros. Para ele, o cerrado é uma das grandes ""caixas d'água"" do Brasil. - * Governos federal e de Goiás têm propostas diferentes para ampliação do parque da Chapada dos Veadeiros JUSTIFICATIVA DO GOVERNO FEDERAL > Na área desprotegida hoje, que seria englobada pela ampliação contínua do parque, foram identificados nove tipos de ambientes (matas de galeria, mata seca, cerradão, cerrado sentido restrito, parque cerrado, vereda, campo sujo, campo limpo e campo rupestre) > Nesses ambientes vivem 17 espécies de plantas e 32 tipos de animais ameaçados de extinção, como a onça-pintada e o tamanduá-bandeira > Os ambientes que passariam a ficar mais protegidos também são de interesse turístico, uma das grandes atividades econômicas na região da Chapada hoje O QUE DIZ O GOVERNO DE GOIÁS > O mapa apresentado pelo Estado segue a lógica fundiária. Várias áreas particulares, segundo o governo, devem ser excluídas da proposta de ampliação pelo menos até que se resolva o problema das indenizações de 228 famílias que vivem ali",ambiente
"Cidades com mais mata atlântica estão no litoral norte de SP, diz estudo","Ubatuba, Ilhabela e São Sebastião, todas no litoral norte de São Paulo, são os municípios com mais mata atlântica no Estado. De acordo com o Atlas dos Municípios da Mata Atlântica, lançado nesta quarta-feira (11), as três cidades têm entre 84% e 85% de cobertura vegetal com exemplares típicos da floresta atlântica. O documento, feito pela ONG SOS Mata Atlântica em parceria com o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), mostra que, entre 2000 e 2014, os maiores desmatamentos paulistas ocorreram no sul do Estado. Eldorado (com 71% de cobertura vegetal), Barra do Turvo (53%) e Jacupiranga (46%) são as localidades que mais perderam florestas, segundo o levantamento, atualizado todos os anos. RANKING CAPITAIS Mata atlântica nas capitais - Porcentagem de vegetação natural nas capitais No ranking das capitais do país que tinham a presença da mata atlântica quando os portugueses aqui chegaram, São Paulo aparece na sexta colocação. A capital paulista tem 18% de mata atlântica em seus domínios. Mas, vários dos fragmentos que ainda param em pé estão com qualidade ruim para proteção da biodiversidade. Porto Alegre (RS) é a primeira capital da lista, com 32%. Todos os dados consideram a quantidade de hectares com cobertura vegetal em relação à área que, por lei, deveria estar preservada. Mata Atlântica",ambiente
Fenômeno El Niño de 2015 deve ser um dos mais fortes da história,"Especialistas alertam que o fenômeno climático El Niño atualmente em curso pode ser um dos mais fortes da história. Segundo climatologistas, este já é o segundo mais potente registrado para esta época do ano. Caracterizado por um aquecimento anormal das águas do oceano Pacífico na região tropical, o El Niño pode afetar o clima regional e global. Infográfico: Entenda o Fenômeno do El Niño Os principais efeitos são mudanças dos padrões de vento, com reflexos sobretudo sobre os regimes de chuva em regiões tropicais e de latitudes médias. Devido à sua provável potência, o El Niño atual foi informalmente batizado de Bruce Lee, célebre ator de filmes de artes marciais, pelo blog da Noaa (agência de atmosférica e de oceanos do governo dos EUA). Segundo a agência, as temperaturas médias da superfície do mar em uma zona chave do Pacífico equatorial ""poderiam alcançar ou superar os 2 graus Celsius acima do normal, o que só foi registrado três vezes nos últimos 65 anos"". EXTREMOS Um El Niño mais intenso significa boas notícias para algumas áreas do planeta, mas perspectivas de catástrofes climáticas para várias outras regiões. O fenômeno costuma tornar a temporada de furacões do Atlântico menos intensa. Já os ciclones registrados no Pacífico costumam ficar bem mais fortes do que o habitualmente registrado. Cinco anos atrás, no último El Niño, houve uma série de eventos extremos, com destaque para secas anormais na Austrália, Filipinas e Equador, ondas de calor no Brasil e várias inundações no México. O fenômeno tem influência direta sobre a circulação atmosférica e, no caso do Brasil, pode provocar mais chuvas no Sul e secas ainda mais extremas no Nordeste. No Sudeste, a tendência é que haja uma elevação nas temperaturas. Até agora, o El Niño mais forte já registrado ocorreu em 1997 e 1998. Mas, ao contrário do deste ano, ele começou fraco e terminou intenso.",ambiente
"Após sequência de dias com altas taxas de poluição, ar melhora na China","O céu voltou a ficar azul nesta quinta-feira (22) em Pequim, após seis dias de um episódio de poluição que afetou um terço da população chinesa e provocou um alerta vermelho nas grandes cidades do norte do país. A chegada de ventos frios permitiu dissipar a nuvem tóxica, segundo a Agência Nacional Meteorológica. Desde 16 de dezembro, a capital e outras 27 grandes cidades do norte da China estavam em ""alerta vermelho"", o que ativou medidas de emergência como o fechamento de escolas, a interrupção ou redução da produção nas fábricas, rodízio no trânsito ou a paralisação de obras. Centenas de voos foram cancelados por falta de visibilidade. O alerta vermelho foi suspenso na quarta-feira (21) à noite em Pequim. A nuvem tóxica afetou uma superfície total de 1,88 milhão de quilômetros quadrados, de acordo com a agência estatal Xinhua, o que representa mais que o triplo da superfície da França. De acordo com o Greenpeace, 460 milhões de pessoas foram afetadas. A poluição atmosférica é provocada principalmente pela combustão de carvão utilizado para a calefação ou a produção de energia elétrica, uma demanda que aumenta no inverno. De acordo com a Xinhua, o presidente Xi Jinping fez um apelo na quarta-feira pelo uso de ""energias limpas na medida do possível"" para a calefação no norte da China. Em Pequim, a mudança de caldeiras de carvão para aparelhos a gás começou em 2010.",ambiente
Nova regularização de terras na Amazônia causará perdas de R$ 19 bi,"Sancionada pelo presidente Michel Temer na semana passada, a nova regularização fundiária da Amazônia provocará uma perda de pelo menos R$ 19 bilhões de patrimônio público, segundo cálculo da ONG Imazon. A estimativa, feita pela pesquisadora Brenda Brito, compara a diferença entre o valor médio de mercado e o preço a ser cobrado pelas regras da medida provisória (MP) 759, convertida na lei 13.465. A nova legislação prevê que, para a titulação, será cobrado de 10% a 50% da Pauta de Valores de Terra Nua (não formada) do Incra, geralmente abaixo do preço de mercado. A regularização das terras amazônicas ocupadas corresponde a 25.199 imóveis rurais, em área de 6,9 milhões de hectares, o que equivale a aproximadamente cinco cidades de São Paulo. Segundo a análise, ao todo, os imóveis em questão valem cerca de R$ 21 bilhões. Com a nova lei, o governo poderia arrecadar com essas terras entre R$ 486 milhões e R$ 2,4 bilhões, respectivamente de 2% a 11% do preço de mercado das propriedades. Brito explica que a estimativa está subestimada, já que o estudo só levou em consideração imóveis cadastrados até 2004. Com a nova lei, agora poderão ser cadastradas e regularizadas áreas invadidas até 2011. A pesquisadora do Imazon afirma que regularizar as terras invadidas até 2011 incentiva a continuidade das irregularidades pela crença em novas mudanças, benéficas aos invasores, nas políticas fundiárias Alerta semelhante foi feito pelo Ministério Público Federal (MPF), que recomendou ao Incra que não sejam implementadas as determinações da MP 759 –chamada de ""MP da Grilagem"" por ambientalistas. Segundo o MPF, a aplicação dos dispositivos presentes na lei poderiam estimular, ao invés de inibir, a especulação imobiliária devido à ""concessão de terras públicas por preços muito abaixo do valor de mercado"". O MPF adverte que a MP 759 autoriza ""a apropriação privada do valiosíssimo patrimônio público"". Afirma, ainda, que a lei sancionada deveria promover justiça agrária, mas, ao contrário disso, privilegia, de forma injustificável, grileiros que se apropriaram de amplas áreas de terras públicas. ""A concessão de terras públicas por preços muito abaixo do valor de mercado desestimula as atividades produtivas e estimula, consequentemente, a ocupação de novas áreas que acarretarão maior retorno financeiro. Em termos diretos, a Medida Provisória 759 induz, quando deveria inibir, a especulação imobiliária na região amazônica"", diz o procurador Marco Antonio Delfino de Almeida, coordenador do Grupo de Trabalho Terras Públicas do MPF. Outro ponto destacado é o Acordo de Paris, compromisso internacional firmado pelo Brasil, que estaria ameaçado caso a nova lei fosse implementada, pois isso significaria aumento no desmatamento e nos conflitos agrários. ""Também importante a ameaça de rompimento de tratados internacionais firmados pelo Brasil como, especificamente, o Acordo de Paris. Nele o Brasil se compromete a adotar medidas para fortalecer o cumprimento do Código Florestal e a redução do desmatamento ilegal a zero até 2030"", afirma Delfino de Almeida. Além do recorde de manobras para barrar sua denúncia na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), na semana passada Temer enviou ao Congresso um projeto de lei (PL) que retira 349 mil hectares (27%) da Floresta Nacional do Jamanxim. A região vem sendo constantemente ameaçada de ter sua proteção reduzida, o que poderia beneficiar latinfundiários. ""FUNÇÃO SOCIAL"" Em entrevista à Folha por telefone, o superintendente da Secretaria Extraordinária de Regularização Fundiária na Amazônia Legal, José Dumont, afirmou que a prioridade da nova legislação é ""dar uma destinação à terra pública federal na Amazônia, para que ela possa cumprir a sua função social"". Ele explicou que a regularização fundiária somente é feita após consulta sobre o interesse público ou social à Funai, ao ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), ao Incra, à Secretaria de Patrimônio da União e ao Serviço Florestal Brasileiro. Sobre os preços, Dumont explicou que, até um módulo fiscal (em média, 75 hectares), a titulação não é cobrada. Para as áreas maiores cadastradas até 2008, haverá um escalonamento de 10% a 50% sobre o preço da tabela do Incra: ""Quanto maior a dimensão de um imóvel, maior será o valor."" O superintendente afirmou que o preço para áreas invadidas entre 2008 e 2011 ainda está em discussão, mas será superior ao das áreas já cadastradas. Questionado se a nova lei estimulará a grilagem de terras, Dumont afirmou: ""A gente tem trabalhado com alguns controles internos no sentido de minimizar a possibilidade de regularizar pessoas que não devem ser regularizadas.""",ambiente
"Com urbanização, bichos silvestres invadem e se adaptam às cidades","As cidades estão sendo reconhecidas pelos cientistas como verdadeiros laboratórios para estudar a evolução e uma ""nova ecologia"" de animais silvestres. O fenômeno é mundial: cada vez mais gente vive em cidades, e mais animais tomam a mesma decisão. A ONU estima que em 2015 a população mundial chegou a 7,3 bilhões, dos quais 54% vivem em centros urbanos. Essa expansão das cidades e o encolhimento dos ambientes naturais têm forçado animais selvagens e humanos a um convívio crescente. Alguns, por exemplo, estão tendo mais sucesso em áreas urbanas do que seus colegas vivendo em condições naturais. Os biólogos chamam essa adaptação de animais em ambientes criados pelo homem de sinantropia –o termo não vale para animais domésticos, como cães e gatos. Cidades proveem abrigo, comida e água fácil para os animais. Comparados com os que permaneceram de fora, os animais sinantrópicos vivem em maior densidade populacional associada à redução do território individual e têm redução do comportamento migratório, prolongamento da estação reprodutiva e aumento da longevidade. Muitos animais, especialmente os de maior porte, vivem nos subúrbios, perto do que restou das matas nativas. Mas cada vez mais são atraídos pela região central, com sua ilha de calor e maior acúmulo de restos de comida. Bichos invasores Uma estimativa do Centro de Controle de Zoonoses sugeriu que em São Paulo haveria 160 milhões desses roedores –algo como quinze ratos por pessoa. Em Nova York, são sete por habitante. Mas os animais ""invadem"" as cidades em grande parte porque seu habitat natural foi invadido pelo ser humano. Se de um lado a maior tendência de animais e humanos conviverem em ambientes urbanos permite enriquecer a fauna das cidades, isso não deve ser entendido como algo necessariamente positivo. ""Cidades podem ser um refúgio e área de conservação para algumas espécies"", diz o polonês Maciej Luniak, pesquisador especialista em sinantropia. Mas esse aumento da convivência ""não muda o fato de que uma crise ecológica global está afetando a fauna urbana"", diz Luniak. Tartarugas marinhas, ao nascerem nas praias, costumam se dirigir para o mar, mais claro que a terra em torno. Mas se há luzes de rodovias ou cidades, as tartarugas podem ir na direção errada –assim como aves noturnas migratórias, também fatalmente atraídas pela iluminação. Essa convivência pode ser perigosa também para o ser humano. É o caso dos ataques causados pelo crocodilo de água salgada (Crocodylus porosus). Os mais bem documentados ocorreram na Austrália. Desde 1971, mais de cem ataques foram obras destes crocodilos, a maior parte letal. O recorde foi em 2014, na região dos Northern Territories: quatro mortos.",ambiente
2015 bate recorde e é o ano mais quente desde 1880,"As expectativas se confirmaram e 2015 foi o ano mais quente já registrado. Antes, 2014 ocupava a liderança. Dos 16 anos mais quentes desde 1880 (quando começaram os registros), o mais antigo é 1998 –os outros 15 são do século 21. Os dados são da Noaa (agência americana responsável pelos oceanos e atmosfera) e da Nasa (agência espacial americana). Em climatologia, usa-se o termo ""anomalia"" para indicar uma mudança climática em relação ao referencial –no caso, a temperatura média global do século 20 (13,9°C). No ano passado, essa anomalia, ou seja, o aumento em relação à temperatura média global –em terra e nos oceanos– foi de 0,9°C. O aquecimento do mundo nos últimos 40 anos - Diferença de temperatura anual em relação à média do século 20, em ˚C Já em outubro, sabia-se que seria difícil alguém tirar a ""taça"" das mãos de 2015. Ao longo do ano, houve uma uma sucessão de quebra de recordes: houve o setembro mais quente, o fevereiro mais quente... E o último mês do ano foi também o mais quente de todos, desde 1880. Um dos principais responsáveis pelo novo recorde é o El Niño, fenômeno natural e cíclico decorrente de um aquecimento das águas do Pacífico e que bagunça o clima em várias partes do mundo, inclusive provocando temperaturas altíssimas. O El Niño de 2015 (que ainda não acabou) está entre os três mais fortes já registrados, junto aos de 1982 e 1997. Outro culpado, segundo os cientistas, é o aquecimento global provocado pela ação humana –por meio de desflorestamento e emissão de gases-estufa, por exemplo. Diferença em relação à média do século 20 em ºC FUTUROLOGIA A tendência natural da curva é continuar apontando para cima, e é possível que 2016 também seja um ano de recorde de temperatura, diz a climatologista da UFPR Alice Grimm. Um agravante, segundo ela, são as ilhas de calor, provocadas e intensificadas pela crescente urbanização. Para frear o aumento, seria necessário que o chamado Acordo de Paris (que busca limitar o aquecimento global ao máximo de 1,5°C em relação à era pré-industrial) funcionasse e que houvesse uma renovação das matrizes energéticas, favorecendo a eólica e a fotovoltaica (solar), diz Tercio Ambrizzi, climatologista e professor da USP. Mesmo com todo o empenho planetário em reverter o quadro, Ambrizzi não descarta novos recordes. ""Mas é certo que as ações humanas podem mitigar esse aquecimento"", afirma. Para Paulo Artaxo, professor da USP e membro do IPCC (Painel Internacional de Mudanças Climáticas da ONU), a sorte já foi lançada. ""É um processo que já está ocorrendo e se intensificando. Nas próximas décadas, vamos ter de lidar com climas quentes, precipitações intensas e estiagem prolongada, como a que afetou São Paulo nos últimos dois anos. A instabilidade climática vai continuar."" 2015 - O ano mais quente",ambiente
Regeneração em áreas abandonadas de mata atlântica anima pesquisadores,"Depois de séculos de destruição, a regeneração da mata atlântica em alguns locais do país começa a animar os pesquisadores da área. Essa visão positiva de cientistas se dá mesmo que a recomposição florestal ocorra em áreas pequenas e fora de Minas Gerais e Bahia, onde o desmatamento prevalece. De acordo com o mapeamento da rede Global Forest Watch, que enxerga áreas com boa precisão, a mata atlântica voltou a crescer em 489.816 hectares entre 2000 e 2014. Os 12% de mata que restam no Brasil cobrem 16,3 milhões de hectares. ""Estamos conseguindo reverter o processo histórico de predomínio de desmatamentos para iniciar uma era de predomínio da regeneração"", afirma Pedro Brancalion, pesquisador do Laboratório de Silvicultura Tropical da USP, em Piracicaba (SP). O próprio campus uspiano do interior paulista é um exemplo de regeneração, segundo Brancalion. ""Por meio do trabalho de alunos da graduação, a cobertura florestal do local duplicou"". Apesar de todo o desenvolvimento científico das últimas décadas, que gerou receitas de como recompor a floresta atlântica, a maior parte das áreas regeneradas surgiu pela total ausência da intervenção humana. ""A recuperação florestal tem ocorrido principalmente em áreas de menor aptidão agrícola que são abandonadas"", afirma o pesquisador. Tanto o êxodo do campo para as zonas urbanas como o abandono de cultivos em áreas muito íngremes, onde as máquinas não conseguem operar, estão abrindo espaço para a mata. Um dos problemas das áreas abandonadas pelos proprietários rurais, segundo o pesquisador Ricardo Ribeiro Rodrigues, também da USP, é que, por simples inércia, a mata volta a crescer, mas não com qualidade. ""A paisagem, muitas vezes, não permite a chegada de novas espécies porque são poucos fragmentos"", diz Rodrigues. Nestes casos, os locais precisam ser monitorados e enriquecidos com outras espécies, uma receita que muitas vezes custa caro. Há exemplos, segundo ele, a demonstrar que o caminho da regeneração passou a ser viável dos pontos de vista econômico e ecológico. Para o dono da terra, o ganho com a regeneração pode compensar o prejuízo registrado pelo abandono das áreas para agricultura. Em tempos de escassez hídrica, ter a mata atlântica ao redor dos mananciais é uma solução para evitar que falte água nas torneiras. Brancalion, aliás, tem sugestões sobre isso. Fortalecer a proteção do que sobrou é uma delas. ""Muitas de nossas reservas são abandonadas"", comenta. A segunda é a recuperação da floresta em áreas vitais tanto para o homem como para a natureza. ""O produtor precisa ser bem remunerado pela proteção florestal ou por produtos extraídos dela"", diz. Mas será que nas áreas regeneradas em que a flora voltou, a vida animal está presente com qualidade? ""Existem florestas há mais tempo regeneradas, como a da Tijuca, no Rio, onde os anfíbios vivem bem"", diz Célio Haddad, cientista da Unesp.",ambiente
Catalogar todas as espécies de árvores da Amazônia levaria 300 anos,"A Floresta Amazônica tem uma variedade tão grande espécies de árvores que catalogá-las levaria três séculos, segundo estimativas de um novo estudo. O trabalho publicado no periódico ""Scientific Reports"" fez um levantamento dos mais de 500 mil exemplares reunidos por museus nos últimos 300 anos. E mostrou que aproximadamente 12 mil espécies foram descobertas até hoje. Com base nesse número, cientistas preveem que ainda restam a serem descobertos ou descritos em detalhes cerca de 4.000 tipos raros de árvores. Só foi possível elaborar essa lista graças à digitalização dos acervos de museus ao redor do mundo. Os pesquisadores dizem que ela ajudará quem busca proteger a florestal tropical com a maior biodiversidade do mundo. ""A lista dará aos cientistas uma melhor noção do que há de fato na bacia amazônica, e isso contribuirá com os esforços de preservação"", diz um dos autores do estudo, Hans ter Steege, do Centro de Biodiversidade Naturalis, da Holanda. Dentre os países que abrigam a Floresta Amazônica, o Brasil é o país com o maior número de amostras de coletadas: 278.165. Do total de espécies identificadas, 61% foram coletadas na Amazônia brasileira. No entanto, o estudo aponta que maior parte da pesquisa realizada por cientistas, especialmente os brasileiros, sobre a flora nacional é feita em outros ecossistemas que não a Amazônia, que representa metade do país territorialmente. Das 2.875 espécies brasileiras descritas entre 1990 e 2006, somente 20% eram da Amazônia. E, enquanto 50% de novas espécies de ecossistemas não amazônicos foram descritas por cientistas brasileiros, esse índice cai para 20% entre as espécies da floresta. O estudo ainda destaca que o esforço de pesquisa brasileiro sobre flora está concentrado no Sul e no Sudeste do país. ""É nestas regiões que estão localizados 59 dos 92 herbários do país e 67% das amostras coletadas. A região amazônica tem só cinco herbários registrados e abriga 11% das coleções botânicas.""",ambiente
Novo livro traz raio-X das 30 cobras-corais do Brasil,"Vinte e três cientistas do país uniram esforços e resumiram 30 anos de pesquisa em um novo livro sobre as 30 cobras-corais brasileiras. O lançamento aconteceu nesta quinta (25), no Instituto Butantan, na zona oeste de São Paulo. A proposta do livro, organizado por Nelson Jorge da Silva, professor da PUC de Goiás, é ser um guia para acadêmicos, médicos, agentes de saúde e para curiosos que tem interesse nessas serpentes. Nas 416 páginas da obra (que custa R$ 230), os autores apresentam dados da origem e da evolução de cada espécie de cobra-coral do país, além do parentesco entre os bichos. Também, claro, são abordados os mecanismos de ação dos venenos e qual a melhor forma de socorrer quem tenha sofrido um acidente ofídico.",ambiente
Céticos do clima americanos rejeitam ser chamados de negacionistas,"As palavras são usadas como insultos. Quem rejeita as descobertas da ciência climática é tachado de ""negacionista"" ou ""desinformador"". Aqueles que aceitam essa ciência são chamados de ""alarmistas"". Recentemente, um abaixo-assinado que já recebeu 22 mil adesões nos Estados Unidos introduziu um novo argumento nesse longo debate. O documento pede à imprensa que abandone o termo mais utilizado para descrever pessoas que questionam a ciência climática, ""céticos"", e que passe a chamá-las de ""negacionistas climáticos"". Os climatologistas estão entre os maiores críticos à aplicação do termo ""cético"" às pessoas que rejeitam suas descobertas. Eles argumentam que o ceticismo é o fundamento do próprio método científico. O consenso moderno sobre os riscos das mudanças climáticas, dizem eles, baseia-se em provas acumuladas ao longo de décadas. Nas convenções dedicadas à ciência climática, os pesquisadores são praticamente unânimes em apontar os riscos associados à emissão de grandes quantidades de gases de efeito estufa na atmosfera. Esses cientistas dizem que são os verdadeiros céticos e que o consenso só foi possível após as evidências relativas aos riscos se tornarem esmagadoras. Sob esse ponto de vista, quem rejeita as provas é um falso cético e se recusa a pesar os indícios como um todo. O abaixo-assinado para que a imprensa abandone o rótulo dado aos ""céticos climáticos"" foi criado pelo físico Mark Boslough. A expressão está errada, argumentou ele, porque ""essas pessoas não adotam o método científico"". Boslough participa ativamente do grupo Comitê pela Investigação Cética, que há anos combate a pseudociência em todas as suas formas. No ano passado, ele escreveu uma carta aberta sobre a questão, e dezenas de outros cientistas rapidamente a subscreveram. A organização ativista Forecast the Facts adotou essa causa. Quando reunir 25 mil assinaturas, o grupo pretende apresentar um pedido às grandes organizações jornalísticas para que alterem a sua terminologia. Mas, se não for para chamá-los de ""céticos"", como se referir aos oponentes da ciência climática? A discussão ajuda a entender por que esse grupo critica tão vigorosamente a ciência. A oposição provém de determinada facção da direita política. Muitos desses conservadores entendem que, uma vez que as emissões são provocadas por praticamente todas as atividades econômicas da sociedade moderna, elas só poderiam ser reduzidas por uma intervenção governamental no mercado. Por isso, colocar em dúvida os fundamentos científicos é uma forma de afastar tal regulamentação. Esse movimento tem raízes ideológicas, mas grande parte da verba para a divulgação dos seus escritos provém de empresas que lucram com os combustíveis fósseis. Cientistas contrários à visão científica dominante, como Patrick Michaels, ex-pesquisador da Universidade da Virgínia contratado pelo Instituto Cato, de Washington, tendem a argumentar que o aquecimento será limitado ou ocorrerá de forma tão gradual que as pessoas conseguirão se adaptar, ou então que a tecnologia dará um jeito. Quando publicam dados e argumentos em periódicos científicos, esses cientistas ""do contra"" talvez possam ser considerados ""céticos"". E talvez não seja surpresa o fato de muitos ambientalistas terem começado a chamar esses cientistas de negacionistas. Os dissidentes se opõem a tal palavra, alegando que se trata de uma tentativa deliberada de vinculá-los à negação do Holocausto. Alguns acadêmicos negam ter essa intenção, enquanto outros começaram a usar uma palavra inglesa mais suave (""denialist"", em vez de ""denier"") para argumentar a mesma coisa sem motivar queixas por evocar o Holocausto. O negacionismo científico tem aparecido em outras polêmicas, como no apoio ao criacionismo, na ideologia antivacina e na oposição aos cultivos geneticamente modificados. Para os grupos que adotam esses pontos de vista, ""os indícios simplesmente não importam mais"", disse o sociólogo Riley Dunlap, da Universidade Estadual de Oklahoma. No entanto, Dunlap observou que, na maioria dessas questões, o que está em jogo não é o futuro do planeta.",ambiente
Al Gore investe em projetos verdes,"Al Gore quer provar um argumento sobre os telefones celulares, e para isso é muito útil o conjunto de slides que ele guarda em seu laptop. ""Quer ver?"", pergunta, enquanto vira o MacBook. ""Não leva nem duas horas, não se preocupe."" Faz muito tempo que Gore domina os gestos autodepreciativos que avisam que ele sabe o que você está pensando. E aí ele exibe os slides do mesmo jeito. Os slides são ótimos para Gore, ex-vice-presidente e quase presidente dos Estados Unidos, ativista ambiental e agora um bem-sucedido investidor em projetos ""verdes"". Sua apresentação de slides sobre a ameaça da mudança climática, apresentada no filme ""Uma Verdade Inconveniente"", ganhou um Oscar. Seus esforços de conscientização sobre o aquecimento global lhe valeram o Nobel da Paz, em conjunto com o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, da ONU. Ao longo do último ano, porém, o profeta da desgraça se tornou muito mais um profeta da possibilidade –e até, talvez, um otimista. Apesar de ainda ser alvo de escárnio da direita política, Gore tem visto aumentar o apoio aos seus pontos de vista dentro da comunidade empresarial: o investimento em fontes energéticas renováveis, como a eólica e a solar, está crescendo rapidamente, enquanto seus custos despencam. Especialistas previram em 2000 que a energia eólica chegaria a 30 gigawatts no mundo todo. Mas, em 2010, a capacidade instalada já era de 200 gigawatts, e no ano passado chegou a quase 370, ou quase 12 vezes a estimativa inicial. As previsões de 2002 indicavam que a capacidade instalada da energia solar cresceria à razão de 1 gigawatt por ano por volta de 2010. Mas o ritmo real em 2010 superou a previsão em 17 vezes e em 48 vezes no ano passado. ""Acho que a maioria das pessoas se surpreendeu, e até se chocou, com a rapidez com que o custo baixou"", diz Gore no seu escritório em Nashville. Durante uma hora e meia, ele apresenta um fluxo interminável de fatos e tendências vindos de todo o planeta. A cada minuto, em Bangladesh, duas casas ganham painéis solares. A estatal de eletricidade de Dubai aceitou uma oferta para a construção de uma usina de energia solar a um custo inferior a US$ 0,06 por quilowatt-hora. ""Uau"", diz ele, com os olhos arregalados. ""Isso deixou todo mundo alvoroçado."" Essas mudanças, diz ele, representam uma ruptura com o passado, não uma lenta evolução. Esse é o argumento dos slides em seu laptop. Em 1980, segundo um dos slides, consultores da AT & T estimaram que 900 mil celulares seriam vendidos até 2000. Na verdade, foram 109 milhões. Hoje, há cerca de 7 bilhões desses aparelhos. ""Então a questão é: por que eles estavam não apenas errados, mas muito errados?"" O mesmo ocorre agora com a energia, argumenta, pois a nova tecnologia estaria ultrapassando a velha infraestrutura. Tudo isso significa, diz Gore, que os piores efeitos da mudança climática podem ser enfraquecidos. Gore continua a espalhar a palavra. Em fevereiro, no Fórum Econômico Mundial, em Davos, ao final de uma palestra otimista sobre as alterações climáticas, ele e o cantor Pharrell Williams anunciaram um concerto Live Earth, a ser realizado em todos os sete continentes no dia 18 de junho. Ele já se reuniu com grandes organizações na Austrália, na Indonésia, no Brasil, na Índia e em outros países para apresentar versões locais do seu slide show sobre mudanças climáticas. Os participantes, por sua vez, repetem essa apresentação aos seus compatriotas, difundindo amplamente sua mensagem. Gore também ficou muito rico. Ele foi um dos criadores da empresa Generation Investment Management, que compra ações de empresas geridas segundo princípios de sustentabilidade, incluindo os efeitos climáticos que provoca. Também participa do conselho da empresa de capital de risco Kleiner Perkins Caufield & Byers, que investe fortemente em start-ups ""verdes"". O senador James Inhofe, republicano de Oklahoma, que chama a mudança climática de ""o maior boato que existe"", agora comanda a Comissão de Meio Ambiente e Obras Públicas do Senado. Ao responder a pergunta sobre o que pensa de Gore, o senador emitiu uma longa diatribe contra a ""campanha alarmista"" do ex-vice-presidente. Por intermédio de uma porta-voz, ele disse que ""a imensa riqueza de Al Gore se deve em grande parte à sua promoção descarada e incessante da pauta liberal do aquecimento global"". Em resposta, Gore diz que ""a realidade da crise climática é avassaladora, e cada vez mais gente a vê e a sente a cada dia"". Grande parte dos lucros que recebe, diz Al Gore, tem como destino sua ONG, chamada Projeto Realidade Climática. ""Nunca imaginei, quando era mais jovem, que isso se tornaria o principal foco da minha vida"", afirma ele. ""Mas, uma vez que você assume esse desafio, não pode se desfazer dele. Eu não posso. Não quero"".",ambiente
Região carvoeira enfrenta crise de identidade,"Por mais de um século, a economia e a identidade desta pequena comunidade encravada nas montanhas estiveram associadas a minas de carvão. ""Bem-vindo a Somerset, cidade carvoeira desde 1896"", diz a placa azul na entrada do povoado. Não mais. A mina Elk Creek, que domina a paisagem de Somerset, já teve cerca de 200 empregados, mas parou de funcionar depois de um desabamento e um incêndio subterrâneo em dezembro de 2012. Hoje, restam apenas nove funcionários para administrar o desmantelamento. A direção da mina já colocou seus equipamentos à venda, entregou a usina de tratamento de água aos moradores e cogita demolir um armazém de concreto que pode ser visto de toda a vila. Seria a desativação definitiva da mina. ""Todo mundo acha que a nossa comunidade vai se dobrar e cair"", disse Terry Commander, diretora do distrito hídrico local. ""Agora, precisamos aprender a ficar de pé sozinhos."" Regulamentações mais rígidas, ações judiciais por questões ambientais e uma mudança da matriz energética americana na direção do gás natural, que é mais barato e mais limpo, prejudicam várias cidades dos EUA. Com isso, aumentam os temores sobre o futuro de comunidades cuja economia depende de minas de carvão e de usinas alimentadas com esse material. Somerset, a 360 km de distância de Denver, surgiu depois que geólogos descobriram ali jazidas de carvão, no final do século 19. A comunidade serviu como base de suprimento para a ferrovia que cruza o vale. No entanto, Somerset não é um município formal e, portanto, não tem prefeito nem vereadores. Mesmo parada, a mina continua sendo o elemento definidor do vilarejo. Sua população, que chegou a quase 700 pessoas durante a Primeira Guerra Mundial, caiu para cerca de 90 pessoas, muitas delas aposentados e residentes em tempo parcial. Quem ficou se lembra de quando Somerset tinha uma loja, um bar e um restaurante e era atravessada o dia inteiro por trens e carretas transportando carvão. No entanto, o último estabelecimento comercial de Somerset já fechou. Casas são vendidas por preços a partir de US$ 31 mil. Ainda há certo orgulho local –o pequeno parque ao lado da biblioteca é carinhosamente cuidado por voluntários–, mas o mato toma conta de alguns jardins, e caminhões enferrujados se espalham pela cidade. Outra mina, a menos de dois quilômetros daqui, ainda produz carvão e emprega cerca de 360 mineiros, mas as vagas bem remuneradas encolheram nos últimos anos. Em abril, 1.506 mineiros trabalhavam em dez minas do Colorado, cerca de 540 a menos do que dois anos antes, segundo a Divisão de Aterros, Mineração e Segurança do Estado. ""A história básica do Colorado montanhoso e rural é de comunidades dependentes da mina, comunidades envelhecidas, voltadas para os recursos naturais"", disse Martin Shields, diretor do Instituto de Economia Regional da Universidade Estadual do Colorado. ""Em meio às regulamentações ambientais e ao baixo preço do gás natural, essa existência está ameaçada."" Poucas pessoas esperam que a mina Elk Creek reabra, e todos já tentam planejar a vida sem ela. Numa recente reunião, moradores falaram sobre o plano de transformar um dos edifícios da mina em quartel auxiliar dos bombeiros. Alguns anteveem novas casas onde atualmente fica a infraestrutura de mineração. Outros querem que o terreno continue sendo uma área particular, de onde seja possível observar os ursos que vagam pelas montanhas. Dois irmãos que se mudaram recentemente para a cidade tentaram sem sucesso montar um cultivo de maconha (legal no Colorado). Alguns propõem a instalação de lojas que atraiam turistas. ""Não queremos que vire uma cidade-fantasma"", disse Wanda Buskirk, casada com um funcionário de uma mina da região. ""Preferimos prosperar. Mas as duas coisas podem acontecer.""",ambiente
Temer nega que extinção de reserva afetará áreas de preservação,"O presidente Michel Temer negou, nesta quinta-feira (24), que a extinção da Renca (Reserva Nacional de Cobre e seus Associados) tenha prejudicado áreas de preservação. Em nota, o peemedebista afirmou que o fim da reserva de cobre, localizada na Amazônia, não afetará as unidades de conservação federais, onde não serão permitidas atividades de mineração. ""A Renca não é um paraíso, como querem fazer parecer, erroneamente, alguns. Hoje, infelizmente, territórios da Renca original estão submetidos à degradação provocada pelo garimpo clandestino de ouro, que, além de espoliar as riquezas nacionais, destrói a natureza e polui os cursos de água com mercúrio"", ressaltou. Segundo o presidente, empreendimentos que possam impactar áreas de conversação no Amapá e no Pará que são sujeitas a manejo terão de cumprir ""exigências federais rigorosas para licenciamento específico"". ""O compromisso do governo é com o soberano desenvolvimento sustentável da Amazônia, sempre conjugando preservação ambiental com geração de renda e emprego para as populações locais"", disse. A Renca foi criada em 1984, durante o regime militar. Dentro da reserva estão localizadas partes de três unidades de conservação de proteção integral, de quatro unidades de conservação de uso sustentável e de duas terras indígenas. A mudança de status era sinalizada desde o final de março e começo de abril pelo Ministério de Minas e Energia e faz parte do ""Programa de Revitalização da Indústria Mineral Brasileira"".",ambiente
"Para driblar Trump, Europa planeja tratar Acordo de Paris com empresas","Ao anunciar a retirada dos EUA do Acordo de Paris, o presidente americano, Donald Trump, sugeriu que o tratado climático pudesse ser renegociado incluindo propostas menos ambiciosas. A União Europeia, no entanto, recusou essa perspectiva durante a sexta-feira (2), ao insistir em que o acordo é definitivo –e que, na ausência americana, irá lidar diretamente com empresários e governadores para implementar os objetivos do texto. Um dos comentários mais contundentes do dia foi feito pelo comissário europeu para a ação climática, o espanhol Miguel Arias Cañete. ""A luta contra a mudança climática não pode depender do resultado das eleições em um país ou em outro. Quando uma nação assina um tratado internacional, precisa cumprir com suas obrigações"", afirmou Cañete. ""Tenho certeza de que o presidente Trump não leu os artigos deste acordo. Não há nada para ser renegociado."" Membros de alto escalão da burocracia europeia em Bruxelas, ouvidos pela agência de notícias Reuters, sugeriram que vão debater com as grandes empresas americanas para cumprir com as metas do Acordo de Paris. Empresas como Facebook, Apple, Ford e Microsoft criticaram a decisão de Trump, em demonstração de seu isolamento nacional e global. Governos europeus também discordaram publicamente dessa medida, entre eles o alemão e o francês. A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, disse que Trump ""não pode e não vai impedir todos aqueles entre nós que se sentem obrigados a proteger o seu planeta"". A França, por sua vez, afirmou que vai redobrar seus esforços para limitar as emissões de carbono. A declaração foi feita pelo ambientalista francês Nicolas Hulot, que assumiu em maio o Ministério do Ambiente. ""[O acordo] não está morto. Pelo contrário. A França, em vez de reduzir suas ambições, vai revisá-las para cima e incentivar diversos outros países"", disse Hulot. Paris foi, afinal, o cenário da assinatura do acordo em dezembro de 2015 por 195 partes. O presidente francês, Emmanuel Macron, já havia reagido na véspera de maneira dura ao anúncio de Trump em uma mensagem gravada em inglês, dizendo que o governo americano cometera ""um erro para os interesses de seu país, seu povo e o futuro do planeta"". ""Não cometam um erro com o clima. Não há plano B porque não há planeta B"", disse Macron, que circulou uma campanha nas redes sociais com o lema ""Make Our Planet Great Again"", ou ""torne nosso planeta grande outra vez"" –referência à campanha de Trump, ""Make America Great Again"". DECISÃO POLÍTICA Na sexta, após encontro com o chanceler brasileiro Aloysio Nunes em Washington, o secretário de Estado americano, Rex Tillerson –ex-CEO da gigante do petróleo Exxon Mobil e uma das forças que tentava evitar a saída do tratado–, disse que foi uma ""decisão política"" e que os EUA já têm ""excelentes"" números de redução de emissões. ""Não acho que vamos mudar os nossos esforços para reduzir as emissões de gases do efeito estufa no futuro."" No encontro, Nunes evitou repetir as críticas à decisão divulgadas pelo governo brasileiro na véspera. A reunião entre os dois teve como foco, segundo o ministro brasileiro, enxugar a agenda bilateral em uma lista de dez pontos que os dois lados querem ver resolvidos de forma mais rápida. ""Nós lamentamos. Nesse Acordo de Paris, a presença dos EUA é muito importante"", disse Aloysio a jornalistas depois da reunião. Na quinta, após o anúncio feito por Trump, o governo brasileiro disse ter recebido ""com profunda preocupação e decepção"" a mudança. HOJE, SÓ AMANHÃ (OU EM 2020) A intenção de Donald Trump de sair do Acordo de Paris pode se concretizar somente em 2020, já que, até lá, por força do próprio acordo, ninguém sai. O único documento necessário para a exclusão é uma carta, mas ela só pode ser enviada a partir de 4 de novembro de 2019 –três anos após a ratificação do acordo. Os EUA só poderão efetivamente sair do acordo um ano depois do pedido –ou seja, em 4 de novembro de 2020, um dia após a próxima eleição presidencial americana. A saída do acordo por decisão apenas do presidente pode acontecer por causa da maneira com que o documento do Acordo de Paris foi redigido –desenhado justamente para evitar o Senado americano. Chamar o documento de ""acordo"" e não de ""tratado"" ou de ""protocolo"", por exemplo, é um dos aspectos desse design. Outra artimanha do acordo foi a de obrigar os países a elaborar suas metas climáticas, mas não a, de fato, implementá-las. Desse modo, outro método para provocar a saída do Acordo de Paris é submeter o acordo ao escrutínio do Senado americano, que poderia decidir se o ex-presidente Barack Obama ultrapassou suas atribuições ou não ao assinar o documento. O último e mais agressivo movimento para se livrar dos compromissos climáticos, diz Márcio Astrani, coordenador de políticas públicas do Greenpeace, seria a saída da Convenção-Quadro da ONU para Mudanças Climáticas. ""Seria uma coisa extremamente radical, porque ele ficaria de fora de toda e qualquer discussão sobre o clima"". O processo levaria um ano. PESQUISAS Carlos Nobre, pesquisador da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza, diz que a saída dos EUA tem um efeito mais simbólico. ""As emissões americanas vão continuar a serem reduzidas. Não na mesma velocidade que poderiam ser. Não é uma coisa que está na mão única e exclusivamente do presidente dos EUA passando ordens executivas."" Isso porque os Estados americanos, por exemplo, podem decidir continuar na perseguição de reduzir a emissão de gases causadores do efeito-estufa. Segundo o pesquisador, deve haver nos EUA uma diminuição nos investimentos na pesquisa para baratear o custo de energias renováveis. Para Astrani, ""a decisão dele não mata o acordo e nem vai conseguir ressuscitar uma retomada do carvão ou de outros fósseis"". ""China, Japão, Europa e não vão perder essa oportunidade de assumir esse enorme vácuo que os EUA estão deixando com relação a tecnologias limpas"", diz Nobre. Não é a primeira vez que os EUA dão o cano em um acordo climático. O protocolo de Kyoto foi assinado mas não foi ratificado pelo país, o segundo maior emissor mundial de gases-estufa. - A negociação começou em 1992, com 197 partes signatárias da convenção do clima da ONU. O texto tinha princípios gerais para a luta internacional contra os impactos da mudança climática Cinco anos depois, a convenção foi regulamentada pelo Protocolo de Kyoto, que trazia objetivos impostos aos países. Os EUA nunca o ratificaram 23 anos depois, o Acordo de Paris foi aprovado na COP21 e assinado por 195 partes, obrigando pela primeira vez todos os signatários a adotar medidas de combate à mudança climática O acordo entrou em vigor quase um ano depois, após ter sido ratificado por pelo menos 55 países que representam 55% das emissões mundiais de gases-estufa –incluindo EUA e China. O Protocolo de Kyoto, levou 8 anos para ter o mesmo status Teto do aumento da temperatura média global em menos de 2°C, preferencialmente abaixo de 1,5°C Piso de US$ 100 bilhões anuais a ser transferido de países ricos aos mais pobres até 2025, para custear ações de combate à poluição A cada 5 anos, deve haver um balanço das metas nacionais Cada país deve ter sua própria meta de reduções. Elas, porém, não são obrigatórias –exigência dos EUA e de outros países Graças a uma cláusula no acordo, Trump não poderá pedir a saída do acordo à ONU até 4 de novembro de 2019. Mais um ano será necessário até que o país abandone o acordo De todo modo, ele poderá enfraquecer os objetivos de redução de emissões sem ter que abandonar o acordo de fato; sua administração já adotou medidas para desmantelar os planos ambientais de Barack Obama O compromisso dos EUA, assumido por Obama, era de reduzir de 26% a 28% as emissões até 2025",ambiente
Método transforma garrafas de plástico em combustível,"Plásticos são fundamentais no dia a dia de uma sociedade moderna. Mas na forma de embalagens, sacolas e garrafas descartáveis, o material se tornou uma das piores pragas para o ambiente Agora, um novo processo químico capaz de converter esse material em combustíveis líquidos e ceras úteis promete resolver parte do problema –infelizmente, algo ainda só capaz de uso disseminado a longo prazo. De toda forma, a técnica abre caminho para dar um melhor fim a milhões de toneladas de plástico produzidos anualmente. O artigo –liderado por Xiangqing Jia, do Instituto de Química Orgânica de Xangai, da Academia Chinesa de Ciências– que descreve a descoberta está publicado na revista científica americana ""Science Advances"". ""Poliolefinas, principalmente polietileno de alta densidade (HDPE), polietileno de baixa densidade (LDPE), polietileno linear de baixa densidade (LLDPE), e polipropileno (PP), constituem mais do que 60% do conteúdo total de plásticos de resíduos sólidos urbanos"", dizem os autores. Como é possível entender por esta citação algo exotérica, os plásticos envolvidos e o processo para degradá-los é altamente especializado, embora seja relativamente simples em termos de reações químicas. O essencial da técnica é uma reação química conhecida como ""metátese"", na qual dois reagentes geram dois produtos. A técnica de Jia e colegas foi abreviada como ""CAM"" e mistura compostos encontrados em plásticos, resultando na quebra de polietileno. Foram usados reagentes de baixo custo, como éter de petróleo, para impulsionar o processo da CAM. E o resultado demonstrou a possibilidade de conversão dos plásticos em combustíveis líquidos e ceras. E tem uma grande vantagem: a técnica dispensa altas temperaturas, cujo uso tende a criar processos de reciclagem pouco sensatos em termos de uso de energia e de custo. Processos assim foram usados recentemente para quebrar o polietileno, mas sofreram com baixa eficiência de energia e falta de controle do produto, o que geralmente resulta em rejeitas indesejados como o gás metano. ""Com alta eficiência, condições de reação suaves e controle fino de produtos de degradação, este método apresenta vantagens distintas sobre processos tradicionais"", concluem os autores.",ambiente
Deputado quer proibir Ibama de destruir bens apreendidos,"Um projeto de lei do deputado federal Nilson Leitão (PSDB-MT) quer proibir a destruição de equipamentos e veículos apreendidos durante fiscalização ambiental. Para o Ibama, a proposta beneficia o crime organizado ao anular a principal arma contra madeireiros e garimpeiros em áreas protegidas da Amazônia. Apresentada no início deste mês, a proposta modifica a Lei de Crimes Ambientais, acrescentando um prazo de 90 dias antes da destruição de bens apreendidos. Nesse período, órgãos públicos e entidades beneficentes poderão solicitar a doação desses bens. ""Queimar não vai resolver nada. Não é cocaína. É um prejuízo enorme para o país. Tem de apreender, repreender, mas não incendiar, isso é um pouco ultrapassado"", afirma Leitão, presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA). Para o diretor de Proteção Ambiental do Ibama, Luciano Evaristo, o projeto de lei dificultaria o combate ao crime ambiental nas áreas remotas da Amazônia, onde o transporte de uma retroescavadeira ou de uma balsa leva várias semanas até a cidade mais próxima. ""O custo de remoção seria de tal monta que se tornaria inviável combater o desmatamento na Amazônia"", prevê. Evaristo explica que a destruição ocorre apenas com uma pequena fração dos bens apreendidos, principalmente em áreas protegidas, onde a mera presença desses equipamentos constitui crime ambiental. Segundo o diretor de Proteção Ambiental do Ibama, até hoje o Ibama não sofreu nenhuma ação judicial por parte de donos de equipamentos destruídos. ""O projeto de lei beneficia o crime organizado, que é quem invade áreas remotas para fazer a extração ilegal"", afirma Evaristo. Para o presidente da FPA, o problema da logística é um ""argumento frágil"": ""A máquina não comete crime. Agora, o Estado brasileiro argumentar que não tem como transportar aquele equipamento é, no mínimo, irresponsável"". PASSADO Líder da bancada ruralista, Leitão se envolveu em polêmica em maio deste ano após apresentar um projeto de lei segundo o qual o trabalhador rural pode ter desconto de até 20% do salário ""pela ocupação da morada"" e de até 25% ""pelo fornecimento de alimentação sadia e farta"". A proposta foi criticada por sindicatos como um projeto análogo à escravidão. O deputado Nilson Leitão também foi o relator da CPI Funai-Incra, que pediu o indiciamento de cerca de 100 pessoas ligadas à causa indígenas, incluindo antropólogos e procuradores federais.",ambiente
Consumo mundial de carvão deve diminuir até 2021,"O consumo mundial de carvão deve registrar uma desaceleração até 2021 graças a uma maior eficácia energética, mas o combustível muito poluente continuará sendo indispensável na produção de energia elétrica da Ásia, afirma a Agência Internacional de Energia (AIE). ""Por seus efeitos sobre a qualidade do ar e as emissões de gás carbônico, o carvão foi muito criticado nos últimos anos, mas é muito cedo para afirmar que chegou o fim deste combustível"", opina Keisuke Sadamori, diretor da divisão de mercados e segurança energéticas da AIE, em um comunicado. O planeta deve consumir 5,6 bilhões de toneladas de carvão em 2021, menos que na estimativa anterior, de 5,8 bilhões de toneladas, afirma o organismo em seu relatório anual sobre o mercado de carvão. Depois de alcançar a marca de 4% ao ano entre 2000 e 2013, o crescimento da demanda mundial deve cair a uma média de 0,6% anual no período 2015-2021. E a participação do carvão na produção de energia elétrica deve cair de 41% (em 2014) a 36%. Esta tendência se deve a um crescimento econômico globalmente frágil que influencia a demanda por eletricidade, o desenvolvimento de energias renováveis e uma maior eficácia energética como parte das políticas instauradas para lutar contra o aquecimento global. A mudança já foi constatada em 2015, com um consumo de 5,4 bilhões de toneladas, uma queda de 2,7% na comparação com o ano anterior, fato inédito no século 21. O fenômeno esconde, no entanto, realidades geográficas díspares. A Ásia consome cada vez mais carvão: a participação do continente no consumo mundial passou de 46% no ano 2000 a 73% em 2015. Na Europa (de 22% a 12% do consumo mundial) e América do Norte (de 25% a 10%), o consumo é cada vez menor. Apesar do distanciamento dos investidores do carvão, este continua sendo a coluna vertebral da produção elétrica e industrial em muitos países emergentes, sobretudo no sul e sudeste da Ásia, diz a AIE.",ambiente
ONU alerta que mudanças climáticas podem causar 'tragédia humana',"O planeta deve reduzir ""de forma urgente e radical"" as emissões de gases de efeito estufa se quiser evitar uma ""tragédia humana"", alertou a ONU nesta quinta (3), às vésperas da entrada em vigor do Acordo de Paris sobre as mudanças climáticas. ""Se não começarmos a adotar medidas adicionais agora, a partir da conferência de Marrakesh, terminaremos chorando ante uma tragédia humana evitável"", diz Erik Solheim, diretor do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), que publicou um relatório anual sobre a ação climática. No novo balanço, o Pnuma destaca o aumento ininterrupto das emissões de gases. Apesar dos compromissos voluntários adotados em Paris, o mundo se dirige, de hoje a 2100, para aumentos de temperaturas entre 2,9 °C e 3,4°C em relação aos níveis pré-industriais, o que implicaria consequências devastadoras, adverte o relatório. Para limitar o aumento a 2°C, seria necessário emitir menos de 42 gigatoneladas do equivalente de CO² na atmosfera em 2030 (contra 52,7 em 2014). Se todos os países cumprirem suas promessas climáticas, entre 54 e 56 Gt seriam emitidos em 2030, ou seja, entre 12 e 14 Gt acima do desejável, segundo o Pnuma. A ONU elogia a diminuição na emissão dos gases do efeito estufa, mas diz que é cedo para saber se essa tendência vai se confirmar. Com o Acordo de Paris ""avançamos na boa direção. Mas ainda não é suficiente se queremos ter a possibilidade de evitar uma desregulação do clima"", destaca Solheim. ""O número crescente de refugiados climáticos golpeados pela fome, pobreza, doenças e conflitos nos lembrará de maneira incessante do nosso fracasso. A ciência mostrou que devemos agir muito mais rápido"", diz. O relatório convida a redobrar esforços, sem esperar até 2020, ano em que os Estados começarão a aplicar os compromissos assumidos. A comunidade internacional se comprometeu a lutar contra mudanças climáticas pelo Acordo de Paris, em 2015. A 22ª Conferência da ONU sobre o Clima –com início na segunda (7)– deve começar a determinar disposições para reforçar o pacto.",ambiente
Panda macho mais velho do mundo morre aos 31 anos,"Morreu, nesta quarta (28), na China, o panda macho mais velho do mundo. Conhecido como Pan Pan, o animal tinha 31 anos. Uma autópsia para confirmação da causa da morte está sendo realizada. ""Pan Pan tinha o equivalente a 100 anos humanos, mas, por conta de um câncer, sua saúde acabou se deteriorando nos últimos três dias"", afirmou, à agência oficial Xinhua, Tan Chengbin, cuidadora do Centro Chinês de Conservação e Pesquisa de Pandas Gigantes. O panda viveu em cativeiro boa parte de sua vida. Pan Pan sofria, desde junho deste ano, com um câncer. A velhice também acabou debilitando sua saúde. Normalmente, a expectativa de vida de pandas é de 20 anos, contudo, os criados em cativeiro costumam viver mais.",ambiente
"Europeus terão que se habituar a extremos climáticos, dizem cientistas","Pela segunda vez em menos de um mês, os bombeiros de Berlim decretaram ""estado de emergência"" no fim de semana passado. Chuvas torrenciais inundaram várias ruas da capital alemã, e em algumas delas a altura da água alcançou mais de um metro. Os bombeiros não conseguiram dar conta de todos os chamados. Segundo um jornal, foram mais de 185 operações em apenas uma hora e meia. Na região do Lago de Constança, no sul da Alemanha, as tempestades derrubaram árvores e causaram deslizamentos de terra em áreas montanhosas, o que bloqueou o trânsito de trens. Para cientistas, os alemães terão que se acostumar com esse tipo de situação. Os gases do efeito estufa não apenas levam ao derretimento de gelo nos polos e ao aumento do nível do mar, mas têm efeitos cada vez maiores também na Europa Central. ""Nós já havíamos previsto há muito tempo essas repentinas mudanças de tempo, de calor seco para chuvas torrenciais, e agora isso se torna mais claro a cada ano"", diz o pesquisador Mojib Latif, do Centro Helmholtz de Oceanografia (Geomar), em Kiel. ""Na Alemanha, a temperatura anual média subiu 1,4°C desde 1880, e é claro que isso tem consequências"", afirma. Por um lado, o aquecimento global intensifica o Anticiclone dos Açores, um grande centro de altas pressões atmosféricas localizado no Atlântico Norte. Por outro, a Europa não está imune aos efeitos das regiões de baixa pressão atmosférica, aponta Latif. ""Cada grau a mais nas temperaturas médias eleva a possível intensidade da chuva em 7%"", diz o especialista. Segundo ele, por muito tempo mediu-se apenas a quantidade de chuva ao longo de muitos dias ou semanas. Só que o problema, agora, é a grande quantidade de água em pouco tempo. ""Nesse ponto faltam dados de medição para previsões exatas."" O princípio, porém, é claro: ar mais quente pode armazenar mais água, e as pancadas de chuva ficam mais fortes. CHUVA NO CENTRO, SECA NO SUL Segundo o meteorologista Peter Hoffmann, do Instituto de Pesquisas Climáticas de Potsdam, o Ártico se aquece muito mais rápido do que outras regiões devido às mudanças climáticas. ""Isso muda a relação entre áreas de alta e baixa pressão, e também o deslocamento delas pela Europa Central"", diz Hoffmann. ""E agora temos uma área de baixa pressão sobre a Europa Central, que permanece por muitos dias e é responsável pelas chuvas fortes e repentinas."" Ele destaca ainda uma outra relação: chuvas fortes na Europa Central significam secas extremas no sul europeu. De fato, as autoridades de Roma soaram o alarme por causa da falta de água. A capital da Itália está sendo castigada por altas temperaturas e ar seco. As autoridades já pensaram até em cortar a água residencial por algumas horas depois de o Lago de Bracciano, uma das principais fontes de abastecimento de água potável, ter ficado 160 centímetros abaixo do nível normal. E, por causa da escassez, o Vaticano desligou os chafarizes da Praça de São Pedro e as fontes de água dos seus jardins. Os dois cientistas ressalvam: os habitantes da Europa Central terão que se acostumar aos extremos climáticos. ""Não é assim tão fácil reverter a situação"", diz Hoffmann. E Latif acrescenta: ""É verdade que o clima costuma ser um sistema caótico, mas teremos que nos habituar à rápida alternância entre calor extremo e fortes chuvas.""",ambiente
Fim da caça esportiva revolta aldeia na Botsuana,"Leões passaram a surgir furtivamente das matas para arrebatar bodes no meio da aldeia. Elefantes também se tornaram visitantes frequentes, devorando o feijão, o milho e as melancias cultivados pelos agricultores. Desde que Botsuana proibiu a caça esportiva, há dois anos, comunidades remotas como Sankuyo estão à mercê de um número crescente de animais selvagens. A proibição também levou a uma queda acentuada na renda, já que os aldeões usavam o dinheiro dos caçadores para construir casas e banheiros e dar pensão aos idosos. Os clamores pela proibição da caça esportiva em toda a África aumentaram desde que um leão no Zimbábue, chamado de Cecil por pesquisadores que o rastreavam, foi morto em julho por um dentista americano. Com isso, várias companhias aéreas pararam de transportar troféus de caça. No entanto, muitas comunidades rurais estão implorando pela retomada da caça. ""Antes, quando havia caça, nós queríamos proteger esses animais porque podíamos ganhar alguma coisa com eles"", disse Jimmy Baitsholedi Ntema, aldeão na faixa dos 60 anos. ""Agora não podemos mais tirar proveito deles. Os elefantes e búfalos destroem nossas plantações de dia. À noite, os leões entram em nossas aldeias."" No início de 2014, Botsuana se tornou uma das poucas nações africanas com vida selvagem abundante a dar fim à caça esportiva, em grande parte devido às iniciativas conservacionistas no sul da África. O presidente Seretse Khama Ian Khama afirmou que a caça não era mais compatível com a conservação da vida selvagem e que devia haver mais incentivos ao turismo meramente fotográfico. A decisão foi saudada por grupos de defesa dos animais no Ocidente. Botsuana, porém, é uma exceção honrosa. Autoridades e conservacionistas na maioria dos países africanos são a favor da caça esportiva, incluindo Zâmbia, que está recuando após uma breve suspensão da atividade. ""A caça existe aqui desde épocas remotas"", disse Jean Kapata, ministra do Turismo. Recentemente, Zâmbia suspendeu uma proibição decretada há dois anos à caça de leopardos, e a caça de leões deve ser retomada no próximo ano. Em 2013, o país reprimiu a caça esportiva e impôs uma proibição total à caça de grandes felinos, igualmente a fim de substituir essas práticas pelo turismo fotográfico. Isso, porém, gerou pouca renda, afirmou Kapata, ao passo que leões passaram a atacar cada vez mais os rebanhos. Durante a proibição, um membro do conselho local foi morto por um leão, comentou ela. ""Na África, um ser humano é mais importante que um animal"", declarou Kapata. ""Não sei se isso é diferente no mundo ocidental"", acrescentou, ecoando uma queixa em partes da África de que o Ocidente parece se importar mais com o bem-estar de um leão do que com os próprios africanos. O recuo de Zâmbia indica o papel central que a caça esportiva ocupa no manejo da vida selvagem no sul da África. Essa atividade de lazer ocorre principalmente em terras comunitárias cujas aldeias devem receber uma parte das taxas pagas pelos caçadores. Sankuyo, aldeia com 700 habitantes, fica no leste do delta do Okavango, no norte de Botsuana. Em 2010 ela ganhou quase US$ 600 mil pelos 120 animais –incluindo 22 elefantes, 55 impalas e nove búfalos– que ofereceu aos caçadores naquele ano, relatou Brian Child, professor-adjunto na Universidade da Flórida, que está à frente de um estudo sobre o impacto da proibição. Entre os benefícios para a comunidade, 20 lares escolhidos por sorteio ganharam banheiros externos. Piezômetros foram instalados em pátios levando água corrente para 40 famílias. Gokgathang Timex Moalosi, 55, chefe de Sankuyo, disse: ""Nós dissemos a eles que aquele leão ou elefante foi quem pagou pelos banheiros"". Segundo especialistas, quando a caça esportiva beneficia comunidades, as pessoas ficam mais motivadas a proteger a fauna. Por outro lado, na maioria dos lugares sem a caça esportiva, os animais selvagens são considerados um incômodo ou um perigo, e os moradores são mais propensos a caçá-los para se alimentar ou a matá-los para defender suas casas e plantações. Child disse que a caça esportiva não beneficiou muitas comunidades devido à má gestão e à corrupção. Porém, nos países onde a atividade funcionava bem –Botsuana (até a proibição), Namíbia e Zimbábue (até seu colapso econômico na década passada)–, as metas de gerar renda e proteger animais selvagens haviam sido alcançadas. ""Na realidade, isso trouxe uma diminuição no número de animais mortos"", disse Child. Os leões, que costumavam se banquetear com carne de elefantes deixados para trás por caçadores, estão cada vez mais entrando em aldeias à procura de animais criados para subsistência. ""Está havendo um aumento exponencial de conflitos entre animais e seres humanos"", disse Israel Khura Nato, diretor da unidade de controle do Departamento de Vida Selvagem em Botsuana. Segundo o departamento, tais conflitos em todo o país aumentaram de 4.361 em 2012 para 6.770 em 2014. Os incidentes devido à caça ilícita aumentaram de 309 em 2012 para 323 em 2014. Galeyo Kobamelo, 37, contou que desde a proibição perdeu todos os 30 bodes na propriedade de sua família para leões e hienas. Elefantes destruíram suas plantações de sorgo e milho. A família não conta mais com a carne grátis deixada pelos caçadores e sua mãe parou de receber a pensão. Moalosi, o chefe de Sankuyo, disse que espera recuperar alguns benefícios depois que sua aldeia fizer uma transição bem-sucedida para o turismo fotográfico. Na opinião de especialistas, porém, turistas contemplativos circulam mais em áreas com grande densidade de vida selvagem, como a Reserva Moremi no delta do Okavango, a oeste daqui. Raramente eles se aventuram por áreas periféricas como Sankuyo, justamente as que atraem caçadores. Em Sankuyo, William Moalosi está entre as dezenas de pessoas desempregadas devido à proibição. Ele trabalhava como rastreador e motorista e ganhava cerca de US$ 100 por mês. Aldeões identificaram Moalosi, 40, como o homem que matou uma leoa no mês passado. O animal havia invadido uma aldeia que tinha bodes. Moalosi, porém, disse que nada sabe sobre isso, o que provocou sorrisos coniventes de seus vizinhos. ""Nós vivemos com medo desde que leões e leopardos passaram a vir à nossa aldeia"", disse. ""Elefantes cruzam a aldeia para ir ao outro lado da mata. Os cães latem para eles e nós corremos para nos esconder em casa.""",ambiente
"Mar subirá até 1,3 metro neste século, diz estudo","Pesquisadores alertam que elevação do nível das águas é irreversível e poderá, no máximo, ter sua velocidade reduzida. Eles apresentam ferramentas para que regiões costeiras possam se blindar. A temperatura média do planeta aumentou 1º Celsius desde o fim do século 19, e o nível do mar subiu cerca de 20 centímetros. Se o atual ritmo de emissão de gases causadores do efeito estufa se mantiver, os oceanos se elevarão, provavelmente, entre 50 e 130 centímetros até o final do século. A previsão é de um artigo da última edição da publicação científica ""Proceedings"", da Academia Americana de Ciências. ""Com todos os gases do efeito estufa já emitidos na atmosfera, nós não podemos mais evitar a elevação dos níveis dos mares. Mas podemos limitá-la significativamente com o fim do uso de combustíveis fósseis"", diz Anders Levermann, do Instituto Potsdam para Pesquisa sobre Impacto Climático (PIK, na sigla em alemão). Segundo as projeções do pesquisador, principal autor do capítulo sobre elevação dos níveis dos mares do último estudo do IPCC, mesmo se o aquecimento global for limitado a 2º Celsius em comparação com os níveis de hoje, as águas subiriam ainda entre 20 e 60 centímetros até o fim deste século. DESAFIO DA PROTEÇÃO DA COSTA Com uma simulação de computador, os autores oferecem a políticos, cientistas e seguradoras um instrumento para a proteção das costas e a prevenção de desastres. ""Com isso, nós queremos dar aos gestores informações de background necessárias para o planejamento de adaptação. Isso é importante para a construção de diques, conceitos da área de seguros e planejamento de logo prazo para assentamentos"", afirma Levermann. Mesmo que se consiga limitar o aquecimento global a menos de dois graus e a elevação do nível do mar de 20 a 60 centímetros até o final do século, na opinião dos autores, os desafios para a proteção das costas pelo mundo são imensos. ""Mesmo um aumento reduzido dos níveis dos mares seria um grande desafio. Mas, ainda assim, é menos caro do que a adaptação a um aumento desenfreado, que inclusive seria totalmente impossível de ser feita em algumas regiões do mundo"", adverte Levermann. ""Se o mundo quiser evitar maiores perdas e danos, devemos agora mesmo seguir o caminho dado pelo acordo da Conferência do Clima de Paris."" APOIO PARA AVALIAÇÃO DE RISCO A simulação da elevação do nível do mar por computador considera a contribuição do derretimento das geleiras, a perda da massa das camadas de gelo nos polos e a expansão térmica da água do mar. ""Nossas ferramentas são projetadas de forma a combinar tanto observações do passado como também os processos físicos de diferentes elementos do sistema terrestre a longo prazo"", diz o autor principal do estudo, Matthias Mengel, do PIK. ""Acima de tudo, entretanto, nosso método de cálculo pode ser reproduzido de forma rápida e fácil, tornando possíveis muitas simulações sobre a probabilidade da elevação do nível do mar."" O software permite que os riscos sejam mais bem avaliados. ""Os gestores da situação da costa marítima precisam de uma estimativa razoável do pior cenário como também dos casos mais favoráveis possíveis para poderem avaliar chances e custos"", explica o coautor da pesquisa Ben Marzeion, da Universidade de Bremen. Na mesma edição, a ""Proceedings"" publicou outro estudo sobre a elevação do nível do mar, levando em consideração o fenômeno através dos séculos. ""No milênio passado, o nível do mar nunca aumentou tão rapidamente como no século passado"", explica o autor Stefan Rahmstorf, também do PIK. O estudo confirma suposições e sugere, segundo o climatologista, uma contundência jamais vista no fenômeno. ""Os dados reafirmam o quão raro é o aquecimento global através da emissão de gases do efeito estufa que estamos vivendo. Mostra que a elevação do nível do mar é uma das consequências mais perigosas das mudanças climáticas.""",ambiente
Cientistas tentam responder: cadê as chuvas do Cantareira?,"As tempestades que têm desabado sobre a cidade de São Paulo desde o fim de dezembro derrubaram árvores e postes, mas não serviram para abastecer as represas do Cantareira, prolongando a crise da água. Cientistas, porém, afirmam que isso é compreensível e era até esperado. O problema que leva à essa situação paradoxal passa por uma espécie de pane que acontece pelo segundo verão consecutivo no sistema que os meteorologistas chamam de ZCAS (Zona de Convergência do Atlântico Sul). Trata-se de uma banda de nuvens que se estende desde o oeste da Amazônia até Mato Grosso, Minas Gerais, São Paulo e segue até alto mar. ""O sistema, que favoreceria as chuvas na região central do Brasil como um todo, não está atuando como deveria"", diz Anna Bárbara de Melo, do CPTEC (Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos), ligado ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. Em dezembro, a ZCAS entrou em ação, mas no lugar ""errado"". ""O sistema ocorreu, só que favorecendo a região sul da Bahia e o Tocantins"", diz a pesquisadora. ""Todo o estado de Minas, em dezembro, teve menos precipitação que o normal, com exceção de algumas áreas no norte."" Segundo o climatologista Tércio Ambrizzi, da USP, o fenômeno pode estar relacionado à mudança climática. ""O fato de a atmosfera estar mais aquecida tem gerado uma variabilidade climática maior, enfatizando os eventos extremos"", diz o climatologista. ""Em 2010 e 2011, nós estávamos enfrentando as inundações e mortes ocorridas nos deslizamentos do Rio de Janeiro"", conta Ambrizzi. ""Naquele ano o Cantareira estava com mais de 100% da capacidade, vertendo água e prejudicando algumas cidades. Três anos depois, passamos para um extremo seco com chuvas abaixo da média."" CAPITAL Mas, se falta chuva na Cantareira, por que tanta água na capital? Isso se explica por um outro fenômeno, tipicamente relacionado às chuvas de verão: as ilhas de calor. Em grandes concentrações urbanas, sem vegetação, o pouco de umidade que existe sobre essas áreas tende a subir em função do calor, até atingir temperaturas mais baixas e se condensar. Isso cria nuvens com uma extensão horizontal relativamente pequena, mas uma extensão vertical grande, com bastante água. A chuva então cai numa região específica, com muita violência, explica Ambrizzi. Em geral, tais tempestades ocorrem no início da noite. Essas fortes descargas, concentradas em horários limitados, não chegaram nem a trazer um volume médio histórico de água nem mesmo para a capital. Na primeira metade de janeiro, a estação meteorológica do Mirante de Santana, na zona norte de São Paulo, registrou 71 mm de chuva acumulada, quando a média histórica era de 130 mm. No Cantareira, mais ao norte, a situação é pior, com apenas 60 mm de chuva tendo ocorrido até agora, menos da metade do que se esperava. O nível do reservatório caiu de 7,2% para 6,2%, numa época do ano em que costuma subir. Algumas das chuvas de verão estimuladas pela mancha urbana de São Paulo poderiam até ter contribuído para elevar o nível de algumas represas do sistema Cantareira, mas aí surge o terceiro problema. Segundo hidrólogos, o solo da maior parte das represas já estava tão seco, castigado pelo sol, que boa parte da água foi simplesmente absorvida pela terra, sem causar nenhuma elevação no nível dos reservatórios. Esse ""efeito esponja"", diz Ambrizzi, pode ter anulado qualquer benefício que chuvas de verão tenham trazido para as represas do Cantareira mais próximas da capital.",ambiente
"Impasse sobre reserva mineral envolve juiz, ministros, PSOL e ambientalistas","Talvez fosse difícil imaginar que o decreto de Temer que extinguiu uma área de reserva mineral na Amazônia, a Renca, acabaria envolvendo dois Ministérios, um juiz federal, o ministro do STF Gilmar Mendes, PSOL, celebridades e ambientalistas –mas todos participam da trama. ""Talvez o governo não tenha avaliado o impacto que uma decisão de liberação de uma área mineral poderia ter na sociedade"", afirmou o presidente em exercício Rodrigo Maia (DEM-RJ), enquanto Michel Temer está em Pequim, na China. Nesta quarta-feira (30), o juiz federal Rolando Spanholo, da 21ª Vara do Distrito Federal, suspendeu o decreto que extingue a Renca (Reserva Nacional do Cobre e Associados), na Amazônia. Trata-se de uma reserva mineral criada na década de 1980 para tentar preservar recursos estratégicos para o país. Na prática, porém, a reserva teria auxiliado a preservação das unidades de conservação da região, na avaliação de ambientalistas Para o magistrado, a decisão pelo fim da Renca não poderia ter sido tomada sem apreciação do Congresso, que deveria editar uma lei para alterar a área. A AGU (Advocacia-Geral da União) afirma que vai recorrer da decisão. Assim, Spanholo suspendeu eventuais atos administrativos com a finalidade de permitir a imediata exploração dos recursos minerais existentes na Renca. A decisão de do juiz foi tomada a partir de uma ação popular. Além disso, também nesta quarta, o Ministério Público Federal emitiu uma nota técnica, que conclui contra a extinção da reserva. A consequência ambiental seria grave: a área liberada para a mineração seria equivalente ao desmatamento acumulado de quatro anos em toda a Amazônia. ""Dentro da Renca temos hoje apenas 0,33% da área total desmatada, o que configura um cenário extremamente melhor do que o entorno que não possuía a mesma proteção"", diz a nota. A nota técnica afirma ainda que a área desmatada ocorre em áreas nas quais não deveria haver desmatamento, o que seria um indicador da pressão de ocupação na região. ""Se essa extensão degradada já está sendo verificada em área sob proteção, a eliminação da Renca provocará um significativo avanço na degradação como já ocorre no entorno."" O MPF cita também a nota técnica do Ministério do Meio Ambiente (MMA), emitida em junho, antes do decreto de extinção da Renca. O MMA, no documento, afirma que a ""área é composta por uma floresta densa e exuberante, cujo entorno também está bem preservado."" Ao extinguir por decreto a Renca (Reserva Nacional de Cobre e seus Associados), o presidente Michel Temer (PMDB/RJ) desconsiderou recomendação do Ministério de Meio Ambiente (MMA), que afirmava que a medida poderia provocar um aumento no desmatamento na região. Na semana passada, por nota, Temer afirmou que a ""Renca não é um paraíso, como querem fazer parecer, erroneamente, alguns. Hoje, infelizmente, territórios da Renca original estão submetidos à degradação provocada pelo garimpo clandestino de ouro, que, além de espoliar as riquezas nacionais, destrói a natureza e polui os cursos de água com mercúrio"". O MMA, contudo, diz que a ""existência de garimpeiros pequenos e locais não deve servir de argumento para justificar alterações no decreto que acarretem perdas ambientais"". Em um aparente cabo de guerra ministerial, o Ministério de Minas e Energia levou a melhor. ""A decisão pela extinção da Renca considerou parecer do Ministério de Minas e Energia, segundo o qual a medida fomentará o aproveitamento racional e sustentável, sob o controle do Estado, do potencial mineral daquela área"", afirmou em nota, nesta quarta, a assessoria da presidência. Datada de 20 de junho, mais de um mês antes do primeiro decreto de extinção, a nota técnica do MMA também alertava que a medida poderia provocar efeitos imigratórios e crescimento de ""demanda de serviços auxiliares, o que pode levar à necessidade de abertura de novas áreas, que fogem da alçada dos estudos de impacto ambiental"". Por fim, o MMA recomenda que a Renca não seja extinta, sob a ""possibilidade de abrir uma nova frente de conversão em áreas que ainda não foram alteradas de forma significativa"". O presidente em exercício, Rodrigo Maia (DEM), disse que não iria alterar as decisões de Temer. GILMAR Em outra frente de judicialização sobre a Renca, o deputado Glauber Braga (PSOL-RJ) chegou a entrar com mandado de segurança no STF (Supremo Tribunal Federal) pedindo que a corte reconhecesse a ilegalidade do decreto de Temer. O partido, assim como juiz federal Rolando Spanholo em sua liminar, alegava que a decisão não poderia ser tomada sem anuência do Congresso Nacional. O PSOL chegou a afirmar que a não suspensão imediata dos efeitos do decreto que extingue a Renca poderia ""gerar danos irreversíveis ao meio ambiente"". A relatoria caiu com o ministro Gilmar Mendes, por meio de sorteio eletrônico. O partido informou que retiraria o mandado de segurança, mas, no início da noite, o ministro já havia pedido esclarecimentos à AGU, que tem dez dias para responder. Com isso, teve início a instrução do processo. Ele já poderia negar o pedido de desistência, mas, agora, ganha a prerrogativa de julgar a ação mesmo que o PSOL retire a ação. - Nome Reserva Nacional de Cobre e seus Associados (Renca) Área 46.450 km², entre o Amapá e o Pará Ano de criação 1984 Composição Áreas de proteção integral: Estação Ecológica do Jari, Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque e Reserva Biológica de Maicuru Áreas de uso sustentável dos recursos: Reserva Extrativista Rio Cajari, Floresta Estadual do Paru, Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Rio Iratapuru e Floresta Estadual do Amapá Terras Indígenas: Rio Paru D'este e Waiãpi Objetivo Segundo o Ministério de Minas e Energia, evitar o desabastecimento de recursos minerais estratégicos para o país, como ouro, platina, cobre, ferro, manganês e níquel Riscos Pressão sobre terras indígenas e Unidades de Conservação; nova corrida pelo ouro; desmatamento e ameaça à biodiversidade Exploração Era bloqueada para investidores privados e não ocorreram parcerias com o governo devido ao alto custo operacional Novidade O decreto 9.142/2017 retira o status de reserva nacional de algumas áreas da antiga Renca; cerca de 30% do total poderá ser explorado. Mineração O setor corresponde a 4% do PIB brasileiro e a produção em 2016 foi de US$ 25 bilhões",ambiente
Tráfico de animais é o quarto negócio ilegal mais lucrativo do mundo,"Estima-se que entre 20 mil e 30 mil elefantes são abatidos por ano ilegalmente. Desde 2007, o comércio ilegal de marfim mais do que duplicou. O tráfico de vida selvagem ameaça a biodiversidade do planeta e coloca em perigo de extinção espécies como os elefantes, os rinocerontes e os tigres. O tráfico de espécies selvagens é, de acordo com a Comissão Europeia, o quarto negócio ilegal mais lucrativo do mundo, atrás apenas do tráfico de drogas, de seres humanos e do comércio de armas. Estima-se que o lucro anual da atividade gire em torno de 8 bilhões a 20 bilhões de euros. O Parlamento Europeu debate nesta quarta-feira (23) um relatório que aborda a forma como a União Europeia e os estados-membros devem intensificar os esforços para combater o tráfico de espécies selvagens. O documento foi elaborado pela eurodeputada britânica Catherine Bearder, que defende a aplicação rigorosa das regras existentes de combate ao tráfico e o reforço na cooperação entre países de origem, consumidores e de trânsito. ""As causas são, sobretudo, a procura do mercado e a falta de conhecimento do comprador. É mais fácil traficar marfim e chifre de rinoceronte do que drogas. O marfim é mais valioso do que a platina. [Os criminosos] enviam o marfim para a China e regressam da China com drogas ou armas. É por isso que é necessário que a União Europeia trabalhe em conjunto. Precisamos que a Europol (Serviço Europeu de Polícia) lide com esse tipo de crime como um crime organizado"", afirma Catherine. Nos últimos anos, o tráfico de vida selvagem alcançou níveis sem precedentes e a procura global por fauna e flora selvagens e produtos derivados não para de aumentar, segundo informações do Parlamento Europeu. Além disso, o baixo risco de detenção e as elevadas contrapartidas financeiras atraem cada vez mais os criminosos organizados, que utilizam os lucros para financiar milícias e grupos terroristas. Os produtos traficados são vendidos por meio de canais legais e os consumidores, muitas vezes, não estão conscientes de sua origem ilegal. Em fevereiro deste ano, a Comissão Europeia adotou um plano de ação para combater o tráfico de animais selvagens. A região é origem, trânsito e destino do tráfico de espécies ameaçadas de extinção e de espécimes vivos e mortos da fauna e da flora selvagens. A União Europeia destinou 700 milhões de euros para a aplicação do plano, entre 2014 a 2020. As prioridades do plano de ação são a prevenção do tráfico, a redução da oferta e da procura de produtos ilegais da fauna e da flora selvagens, a aplicação das regras vigentes e o combate à criminalidade organizada por meio da cooperação entre os serviços de polícia competentes, designadamente a Europol. Também é prioridade a cooperação entre os países de origem, de destino e de trânsito, incluindo apoio financeiro da União Europeia para proporcionar fontes de rendimento a longo prazo às comunidades rurais que vivem em zonas de extensa fauna selvagem. ESPÉCIES SELVAGENS Não são apenas os animais que sofrem com o tráfico de vida selvagem. Esse crime põe em risco também a sobrevivência de muitas espécies vegetais, como árvores de madeiras tropicais, corais e orquídeas. O tráfico ainda gera corrupção, faz vítimas humanas e priva as comunidades mais pobres de receitas que lhes são necessárias. Dados do Parlamento Europeu mostram que enquanto em 2007, na África do Sul, foram mortos ilegalmente 13 rinocerontes, em 2015 o número subiu para 1.175 animais abatidos. A maioria dos 20 mil rinocerontes ainda existentes no mundo está naquele país. Os chifres do animal são usados na medicina asiática para tratamentos diversos, inclusive de câncer. Também são usados em joalheria e decoração. Há um século, a estimativa é que a população de tigres no mundo chegava a 100 mil. Hoje, se resume a 3.500 animais. Os dentes, os ossos e a pele são utilizados na confecção de artigos de decoração, enquanto os ossos são usados pela medicina tradicional asiática. Os pangolins, que também correm risco de extinção, são os mamíferos mais traficados do mundo. Esses animais são consumidos como alimento e suas escamas são usadas para fins medicinais. Estima-se que, entre 2007 e 2013, mais de 107 mil espécimes foram confiscados como contrabando.",ambiente
"Sem limpeza da baía de Guanabara e obras, Olimpíada terá legado mirrado","Oito anos de preparativos antecederam os 17 dias de competições olímpicas no Rio de Janeiro, que acontecem entre 5 e 21 de agosto. Da lista de promessas feitas, e que ajudaram o Brasil a ganhar a candidatura em 2008, poucos projetos de impacto vão melhorar a vida na cidade. Dentre as frustrações, está o plano de despoluição da baía de Guanabara, local das disputas de vela. O documento de candidatura do Brasil assinado por João Havelange que, à época, era membro decano do COI (Comitê Olímpico Internacional), se comprometia a tratar 80% do esgoto que deságua na baía antes do início dos Jogos. Apesar da falha em cumprir a meta, para a APO (Autoridade Olímpica Brasileira) é preciso olhar os avanços. ""Houve ampliação de 10% para 50% no nível de tratamento de esgoto na área da baía"", diz Marcelo Pedroso, presidente da APO. A SEA (Secretaria de Estado do Ambiente) culpa o modelo de gestão. ""A baía possui vários gestores e nenhum planejamento em comum visando a sua recuperação e preservação"", respondeu em nota à Folha. Um novo plano de governança está sendo elaborado para que ""erros do passado não se repitam e a baía não fique mais à mercê da gestão de um período de governo"". A secretaria preferiu não falar em prazos. MAR DE SUJEIRA - Estações de saneamento na Baía de Guanabara operam abaixo da meta do governo fluminense Ainda assim, a qualidade da água durante as competições não estaria comprometida, afirma Pedroso. A solução foi criar uma galeria de cintura que ""desviou"" o esgoto despejado na área da Marina da Glória para mais longe, o emissário submarino de Ipanema. Para os 9 milhões de habitantes do entorno da baía, quase nada mudou. ""O problema da poluição da Guanabara é o esgoto da baixada fluminense. E as obras ali ficaram muito aquém do prometido"", avalia Rogério Valle, professor da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e coordenador do relatório de impactos e legados do Jogos Rio 2016. Dawid Bartelt, diretor da Fundação Heinrich Böll Brasil, que estuda os impactos de megaeventos esportivos, não vê um legado promissor: ""Com os Jogos concluídos, nenhuma grande melhoria deve acontecer nos próximos anos, até porque o estado do Rio beira a falência."" Em 20 anos de Programa de Despoluição da Baía de Guanabara foram gastos R$ 2 bilhões. Como parte da estratégia para diminuir as emissões de CO2 na área de transporte, a construção das 4 linhas de BRT (Transporte Rápido por Ônibus) ainda não está 100% concluída. ""Tudo foi feito em função do funcionamento dos Jogos, e não da população"", critica Bartelt. A entrega da linha 4 do metrô, que ligará Ipanema à Barra da Tijuca, também ficou para depois dos Jogos. Já o VLT (Veículo Leve sobre Trilho) deve entrar em operação parcial até agosto, ligando a região da rodoviária ao aeroporto Santos Dumont. Depois de calcular a emissão de carbono dos Jogos, estimada em 3,6 milhões de toneladas de CO2, o Comitê Rio 2016 criou uma ferramenta online que poderá ser usada gratuitamente em eventos futuros. ""É importante saber o tamanho da pegada de carbono dos eventos. A ferramenta fica como legado"", disse Tania Braga, gerente de sustentabilidade do Comitê. Os projetos de compensação dessas emissões são feitos em parceria com a Dow, empresa química e patrocinadora do evento. Na gestão de resíduos, catadores vão atuar junto com o Comitê. ""A ideia é incentivar as pessoas a fazer a separação correta do lixo e mostrar como isso ajuda o ambiente e o catador."" Um ano após o megaevento, um novo estudo vai analisar o legado das Olimpíadas, sob o comando de Rogério Valle. ""Será o momento de ver se os Jogos foram, de fato, uma ocasião de mudança na cidade.""",ambiente
Girafas entram para a lista dos animais que correm risco de extinção,"Caçada ou privada de seu habitat, a girafa, por muito tempo preservada, se junta à lista vermelha de espécies ameaçadas, assim como dezenas de espécies de aves que acabam de ser descobertas. Ícone da África, o maior animal terrestre perdeu 40% de sua população nos últimos trinta anos, alerta nesta quinta-feira (8) a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN). Em 2015, a sua população caiu abaixo de 100 mil (cerca de 97.500, contra 155.000 em 1985): ""estes majestosos animais estão enfrentando uma extinção silenciosa"", observa Julian Fennessy para a UICN, organização de referência responsável pelo monitoramento do estado das espécies no mundo. As girafas, até então consideradas como pouco ameaçadas, entram na lista de animais ""vulneráveis"", primeiro nível que leva ao risco de extinção. De nove subespécies presentes em 21 países, três estão bem, uma está estável, mas as outras cinco registraram um declínio acentuado de suas populações, indica o relatório divulgado no México, à margem da Conferência das Nações Unidas sobre a Biodiversidade. As causas deste desastre: a caça ilegal e a perda de habitat, ameaçado pela agricultura e mineração, bem como surtos de instabilidade civil e social, diz a UICN, que atualizou seus dados, por ocasião da conferência em Cancún, que acontece até 17 de dezembro. Segundo os cientistas, a Terra está vivendo uma nova extinção em massa, a 6ª em apenas 500 milhões de anos: hoje as espécies desaparecem numa razão de 1.000 a 10.000 vezes mais rápido que há um século ou dois. JÁ AMEAÇADOS A lista da UICN inclui até à data 85.604 espécies animais e vegetais (uma fração do total), dos quais 24.307 estão ameaçadas de extinção. Nos últimos anos, 742 espécies de aves foram identificadas (11.121 no total). Mas 11% delas já são consideradas ""em perigo"". Por exemplo, o Thryophilus sernai, uma ave da Colômbia, pode ver metade de sua população dizimada por um projeto da represa. O magnífica Cyanolanius madagascarinus de Comores tem visto seu habitat diminuir pela agricultura e plantas invasoras. Treze destas espécies ""novas"" já desapareceram, especialmente nas ilhas colonizadas por plantas invasoras. ""Infelizmente, identificar 700 espécies 'novas' não significa que as aves do mundo estão em melhor situação"", ressalta Ian Burfield, responsável por esta lista. ""Quanto mais nossos conhecimentos são aprofundados, mais as nossas preocupações são confirmadas: a agricultura insustentável, o desmatamento, espécies invasoras, comércio ilegal levam as espécies à extinção"". Assim, o papagaio jacó, muito popular por ser um dos melhores falantes, viu a sua situação se deteriorar. Pequena luz no escuro, graças aos esforços de proteção, várias espécies endêmicas em algumas ilhas, como o priolo dos Açores e a batuíra-de-santa-helena, se recuperaram em parte. Em outro ambiente, na água doce, o UICN monitora os habitantes –moluscos, caranguejos, peixes, mas também libélulas– do lago Victoria. Mas essa riqueza está ameaçada por espécies colonizadoras, como o enorme perca-do-nilo, assim como pela sedimentação e poluição da água gerada pela agricultura (pesticidas). ""Muitas espécies estão desaparecendo antes mesmo de termos tempo para descrevê-las"", lamenta o diretor da UICN, Inger Andersen: ""Esta atualização mostra que a extinção pode ser mais extensa do que imaginávamos"". ""Os Estados reunidos em Cancún devem aumentar seus esforços para proteger a biodiversidade do nosso planeta"", acrescenta, ""não apenas para a biodiversidade, mas também para os seres humanos, incluindo a segurança alimentar e o desenvolvimento durável"". O UICN também mantém uma lista de espécies silvestres de plantas, amplamente ameaçadas pela expansão agrícola. De acordo com um estudo recente publicado na revista ""Nature"", três quartos das espécies animais e vegetais ameaçadas ou quase ameaçadas são vítimas de superexploração (para o comércio, recreação, subsistência). Mais da metade têm o seu habitat natural convertido em plantações ou fazendas. Além disso, 19% dessas espécies já estão ameaçadas pelas alterações climáticas.",ambiente
Noruega é dona de mineradora denunciada por poluir rios amazônicos,"O governo da Noruega, responsável por duras críticas a políticas ambientais do Brasil na última semana, é o principal acionista da mineradora Hydro, alvo de denúncias do Ministério Público Federal (MPF) do Pará e de quase 2 mil processos judiciais por contaminação de rios e comunidades de Barcarena (PA), município localizado em uma das regiões mais poluídas da floresta amazônica. Além de enfrentar ações na Justiça, a empresa até hoje não pagou multas estipuladas pelo Ibama em R$ 17 milhões, após um transbordamento de lama tóxica em rios por uma de suas subsidiárias na região amazônica, em 2009. Segundo o Ibama, o vazamento colocou a população local em risco e gerou ""mortandade de peixes e destruição significativa da biodiversidade"". Dono de 34,3% das ações da megaprodutora mundial de alumínio, o governo da Noruega ganhou manchetes em todo o mundo na última semana, após criticar publicamente o aumento do desmatamento na Amazônia. Despertando constrangimento na primeira visita oficial do presidente Michel Temer à Noruega, o país anunciou um corte estimado em R$ 200 milhões nos recursos que repassa ao Fundo Amazônia, destinado à preservação ambiental. Mas testes realizados pelo Laboratório de Química Analítica e Ambiental da Universidade Federal do Pará (UFPA) indicaram que um em cada cinco moradores da região onde estão as empresas norueguesas está contaminado por chumbo, com uma concentração do elemento químico no corpo sete vezes maior do que a média mundial. Entre os efeitos tóxicos do chumbo no organismo estão doenças nos sistemas nervoso e respiratório, problemas no coração e efeitos ""extremamente preocupantes"" no desenvolvimento cognitivo de crianças, segundo o MPF. ""Como acionista em várias empresas, o Estado norueguês tem expectativas claras em relação à responsabilidade social corporativa das empresas, incluindo questões ambientais"", afirmou o Ministério do Comércio, Indústria e Pesca do país à reportagem. A assessoria do ministério não comentou diretamente as multas do Ibama –que alega que a empresa ""dificultou a ação do poder público"" no exercício de fiscalização de infrações ambientais na área da empresa. O governo da Noruega disse que a responsabilidade social é ""parte central do diálogo entre o ministério e a empresa"" e afirmou que foi informado, assim como os demais acionistas, das consequências do derramamento de 2009 pelos relatórios anuais da Hydro. Procurada, a empresa negou responsabilidade sobre os índices de contaminação registrados na cidade, disse que investe em soluções sustentáveis e no diálogo com comunidades e informou que o vazamento de rejeitos químicos de 2009 foi fruto de chuvas intensas. A embaixada na Noruega em Brasília não quis comentar o caso. CONTAMINAÇÃO Graças a uma rede de abastecimento de água que atende a apenas 40% da população local, os rios e poços artesianos são a principal fonte de água na região da pequena Barcarena –que viu sua população crescer em ritmo três vezes mais rápido que o do resto do país nos últimos 40 anos graças aos empregos gerados pelas mineradoras. Formado por dezenas de ilhas e igarapés que deságuam em rios como o Icaraú, Tauaporanga e Barcarena, o município experimenta crescimento desordenado desde que se tornou um importante exportador de commodities minerais (bauxita, alumínio e caulim), vegetais (soja) e animais (gado vivo). À BBC Brasil, a Hydro questionou as pesquisas utilizadas pela Procuradoria da República, afirmando que os derramamentos da subsidiária Alunorte não representam ""ameaças significativas nem para a vida humana nem aquática"". A empresa também não comentou as multas aplicadas pelo Ibama, mas disse que busca diálogo transparente com todos os envolvidos no processo da mineração, que possui rigorosos sistemas de monitoramento de água, solo e ar e que ""garantir uma conduta responsável com a sociedade é altamente importante em todas as fases das operações"". Por meio da Hydro, o governo norueguês é acionista majoritário de duas grandes mineradoras na região: Albrás, que produz alumínio a partir da alumina (óxido de alumínio), e Alunorte, que realiza o processo de obtenção da alumina a partir da bauxita –ambas compradas da Vale, que ainda é acionista minoritária. Desde o ano passado, o Ministério Público Federal exige que as duas mineradoras, ao lado de quatro outras empresas do polo industrial de Barcarena, forneçam ""em caráter emergencial"" dois litros diários de água potável por morador e ""indenizem os danos ambientais e à população afetada pela contaminação"". A procuradoria afirma que emissões destas empresas, em conjunto com as demais empresas da região, seriam responsáveis pela contaminação da área. ""O histórico de acidentes ambientais em Barcarena é impressionante, uma média de um por ano"", disse à BBC Brasil o procurador da República Bruno Valente, que assina a ação civil pública movida em 2016. ""O transbordamento de lama da bacia de rejeitos da Hydro afetou uma série de comunidades em 2009 e até hoje nunca houve uma compensação ou pagamento de multa"", afirmou. CHUVAS A Hydro se exime de qualquer responsabilidade e diz que a tragédia foi fruto de um ""período de chuvas intensas em abril de 2009"". A empresa norueguesa diz que tomou medidas de prevenção e correção após o episódio, incluindo reforços ""da capacidade do sistema de drenagem"", nas ""instalações de tratamento de água"" e nos ""planos de emergência"" em casos de acidente. Mas a coordenadora do laboratório federal que constatou índices de contaminação por chumbo em moradores da região, Simone Pereira, contesta os argumentos. ""Técnicos mostraram que a barragem já estava cheia e transbordaria de qualquer forma, não se pode atribuir a um fenômeno natural uma falha que é humana"", afirmou a coordenadora do Laboratório de Química Analítica e Ambiental da UFPA, criticando o que qualifica como omissão do governo norueguês em relação aos impactos de suas mineradoras na Amazônia. ""Se a Noruega está preocupada com o meio ambiente, não deveria só se preocupar com as árvores e o desmatamento, mas também com os rios, o solo, o ar e a população"", completou. À reportagem, a Hydro informou que ""não conhece detalhes dos resultados apresentados pelo laboratório da UFPA"" e que ''não há conexão"" entre as atividades da empresa e ""um suposto aumento nos níveis de chumbo encontrados na área"". ""HIPÓCRITA"" Para o deputado federal Arnaldo Jordy (PPS-PA), que tem forte eleitorado na região, a contaminação dos rios locais é ""toda fruto de vulnerabilidades no sistema de proteção das mineradoras"". ""A mão que afaga é a mesma que apedreja"", afirmou o deputado à BBC Brasil, citando os investimentos noruegueses contra o desmatamento. ""Me parece hipócrita. Eles fazem na Amazônia o que não fazem na Noruega, porque lá o controle é maior."" Em 2012, segundo dados oficiais da Hydro, mais de 5.300 processos judiciais ligados a crimes socioambientais tramitavam em primeira instância contra a mineradora - a maior parte fruto do transbordamento registrado em 2009, ainda sem conclusão definitiva. Após a multinacional ganhar em 3.593 casos em primeira instância e 599 em segunda instância, aproximadamente 2 mil casos ainda aguardam decisão judicial. ""As decisões do tribunal após a primeira instância se baseiam no fato de que não há provas de que os autores sofram ou tenham sofrido os supostos danos relacionados ao derramamento de água contaminada com resíduos de bauxita"", diz a Hydro. Segundo o MPF, entretanto, o episódio de 2009 pode ser considerado ""o acidente ambiental mais grave da história do Distrito Industrial de Barcarena"". Para o Comitê Nacional em Defesa dos Territórios Frente à Mineração, que reúne 110 organizações, sindicatos e movimentos sociais, o caso da Hydro é ""um alerta para a sociedade brasileira que é preciso discutir o modelo mineral brasileiro"". ""Não é possível que o presidente e o ministro de Minas e Energia saiam pelo mundo oferecendo novas minas ao capital estrangeiro, sem olhar o rastro de destruição social e ambiental que empresas norueguesas, canadenses e tantas transnacionais deixam no nosso país"", afirmou o comitê. Já a assessora política do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), Alessandra Cardoso, ressaltou que moradores desapropriados pela empresa ainda aguardam indenizações garantidas por lei. ""Algumas comunidades abriram mão de continuar em seus locais de origem porque os igarapés foram contaminados, mas as empresas não cumprem seus compromissos, enquanto fazem uma enorme propaganda de que são responsáveis e sustentáveis"", disse. Segundo o Inesc, a empresa recebeu isenções fiscais de R$ 7 bilhões do governo brasileiro.",ambiente
"Há microplásticos na água da torneira de todo o mundo, inclusive no Brasil","A água de torneira de cidades ao redor do mundo está contaminada com fibras microscópicas de plástico, de acordo com levantamento inédito da organização Orb Media no qual a Folha participou. De 159 amostras de água potável coletadas em cinco continentes 83% continham plástico. A Folha colheu dez amostras adicionais na capital paulista e as enviou para análise na Faculdade de Saúde Pública da Universidade de Minnesota (EUA), que centralizou o trabalho de laboratório da iniciativa global. Descobriu-se que 9 das 10 garrafas com 500 ml de água extraída de torneiras paulistanas continham fibras. É uma proporção semelhante à encontrada no levantamento realizado fora do Brasil. A amostra com mais fibras (5) saiu de uma torneira de cozinha na região oeste de São Paulo. Depois vêm as garrafas de água obtida em torneiras de banheiro do parque Ibirapuera (4 fibras) e do Masp (3). Os fragmentos de plástico já haviam sido encontrados em quase todos os locais pesquisados: nos oceanos, no gelo marinho, em lagos e rios remotos e na atmosfera. Mas, até agora, a água potável, não tinha sido examinada. De Nova York a Nova Déli, o plástico está jorrando das torneiras. Cientistas dizem que não sabem como essas fibras chegam até os encanamentos domésticos ou quais são os riscos reais para a saúde humana. Embora brasileiros não costumem beber água de torneira, ela é empregada aqui para cozinhar, o que levaria à ingestão das fibras. Além disso, o aquecimento pode liberar substâncias aderidas à superfície do microplástico. vídeo Os aparelhos empregados na análise por Mary Kosuth, de Minnesota, com supervisão de Sherri Ann Mason, da Universidade do Estado de Nova York em Fredonia, permitiam detectar somente partículas maiores que 100 micrômetros de comprimento (o equivalente à espessura de dois fios de cabelo). SABESP A Sabesp, empresa de saneamento que atua em São Paulo e outros 366 municípios paulistas, não faz análises para constatar a presença de microplásticos na água que trata. A companhia ressalva que segue as exigências da portaria 2.914, baixada pelo Ministério da Saúde em 2011, que não faz menção a microplásticos. No entanto, das 28 estações de tratamento de água da Sabesp na região metropolitana de São Paulo, duas estão equipadas com membranas de nanofiltração capazes de reter partículas. Uma é a do Alto da Boa Vista (sistema Guarapiranga), que abastece as regiões sul e sudoeste da capital mais Itapecerica da Serra, Embu das Artes e Embu-Guaçu. Dos 16 mil litros por segundo que processa, só 2.000 l/s passam pela membrana. A outra estação com membranas é a do sistema Rio Grande, que provê cidades como Diadema, São Bernardo do Campo e Santo André. Ali, um décimo da água –500 l/s da vazão total de 5.000 l/s– é submetido à nanofiltração. A produção total de água potável na região metropolitana é da ordem de 60.000 l/s, em média. CONTAMINANTES Especialistas suspeitam que as fibras de plástico possam transferir produtos químicos tóxicos quando consumidas por pessoas. São poucos fragmentos por litro, mas esse plástico minúsculo é levado pelos rios até o mar, onde se acumula em animais que ingerimos, como ostras. vídeo2 Segundo Felipe Gusmão, oceanógrafo da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) em Santos que não participou do levantamento Orb, materiais plásticos têm grande afinidade química com contaminantes presentes no ambiente, como pesticidas e metais pesados. Gusmão diz que o programa internacional Pellet Watch, que monitora plásticos em praias ao redor do planeta, registrou algumas das amostras mais contaminadas entre as provenientes do mar de Santos. Veja vídeo Um estudo de seu grupo na Unifesp demonstrou que os contaminantes liberados por esses fragmentos, quando recolhidos na areia de praias de Santos, são tóxicos para larvas de mexilhão. Em estudos com animais, como esse, ""ficou claro desde cedo que o plástico liberaria esses produtos químicos e que, de fato, as condições do intestino facilitariam uma liberação bem rápida"", disse Richard Thompson, pesquisador da Universidade de Plymouth, no Reino Unido que foi um dos pioneiros na pesquisa de microplásticos no oceano. As fibras se juntam a uma longa lista de poluentes que ameaçam as águas do mundo. Porém, os governos não sabem ao certo o que os microplásticos significam para o bem-estar da população. ""Isso deve servir de alerta"", diz Muhammad Yunus, Prêmio Nobel da Paz de 2006. ""Sabíamos que esse plástico voltava para nós por meio da cadeia alimentar. Agora vemos que está voltando para nós na nossa água de beber."" ""Estudos sobre microplásticos no ambiente de água doce ainda são incipientes, mas a informação disponível sugere que a poluição por eles é ampla"", alerta Gusmão, da Unifesp. TRUMP TOWER A contaminação desafia a geografia: o número de fibras encontrado em uma amostra da água de torneira do Trump Grill, na Trump Tower de Manhattan (Nova York), foi igual ao encontrado nas amostras de Beirute, no Líbano. Em Washington foram detectadas 16 fibras em garrafas de água coletada em lavatórios no Capitólio, sede do Congresso americano, e até da agência ambiental EPA. Ou seja, o triplo da pior amostra de São Paulo. A Orb também encontrou plástico em água engarrafada e em casas que usam filtros de osmose reversa (aparelhos que empregam membranas semipermeáveis para retirar partículas do líquido, bactérias inclusive). vídeo3 As agências reguladoras dos Estados Unidos também não estabeleceram normas de segurança para partículas de plástico na água potável. ""Não se pode decidir se esse é um problema real até entender como ele afeta o organismo humano"", disse Albert Appleton, ex-superintendente do departamento de água da cidade de Nova York. ""Temos dados suficientes, vindos da análise da vida selvagem e dos impactos que ele está tendo sobre os animais selvagens"", diz Sherri Ann Mason. ""Se isso está afetando [a vida selvagem], como podemos achar que não vai nos afetar de alguma forma?"" A cada ano, 270 milhões de toneladas de plástico são produzidos no mundo. Mais de 40% é usado uma vez e descartado, mas o plástico persiste no ambiente por séculos. Pesquisadores encontraram fibras de plástico em peixes do sudeste da Ásia ao leste da África e à costa da Califórnia. Os microplásticos são tão densos em algumas partes dos Grandes Lagos, na fronteira entre Estados Unidos e Canadá, quanto nos oceanos. ""Ele está em todos lugares"", diz Mason. ROUPAS Existe apenas uma fonte confirmada de poluição de fibras de plástico: as roupas de tecido sintético. Elas soltam até 700 mil fibras por lavagem. Nos EUA, estações de esgoto retiram mais da metade delas. O resto é despejado nas vias fluviais públicas –29 toneladas por dia. Outra fonte pode ser o ar. Um estudo de 2015 estimou que 3 a 9 toneladas de fibras sintéticas se depositam sobre Paris a cada ano. Isso pode explicar por que as fibras são encontradas em fontes de água remotas ao redor do mundo. Mas a Orb também encontrou fibras em amostras de águas subterrâneas. As fibras microscópicas de plástico são realmente pequenas o suficiente para contaminar poços e aquíferos? Estamos diante de um mar de incógnitas. As fibras se acumulam no intestino humano? São prejudiciais? Qual é o perigo, por exemplo, se as fibras de plástico absorverem desreguladores endócrinos, moléculas capazes de alterar o sistema hormonal, antes de chegarem à água de torneira? ""Nunca pensamos seriamente nesse risco antes"", disse Tamara Galloway, ecotoxicologista da Universidade de Exeter. As cidades estão apenas começando a atentar para a poluição por fibras de plástico. Uma diminuição da velocidade do processo de tratamento de esgoto permitiria a captura de mais fibras de plástico, disse Kartik Chandran, um engenheiro ambiental da Universidade Columbia (EUA). Isso também poderia aumentar o custo. O desafio é criar substâncias mais seguras, mas que sejam tão convenientes quanto os plásticos de hoje. As soluções iniciais incluem bioplásticos, polímeros feitos de fontes como amido de milho ou raiz de mandioca, e AirCarbon, um plástico biodegradável produzido a partir da coleta de gases de efeito estufa. Em outros lugares, empresas estão usando proteínas feitas de teia de aranha para fiar um tecido que talvez seja mais durável que os sintéticos. Enquanto isso, filtros domésticos e para máquinas de lavar roupas, específicos para microfibras, estão ganhando popularidade como forma de reduzir a poluição dos microplásticos. ""Já que o problema do plástico foi criado exclusivamente pelos seres humanos, por causa da nossa indiferença, ele pode ser resolvido pelos seres humanos, se prestarmos atenção nele"", recomenda o nobelista Yunus. ""Agora, o que precisamos é de determinação para resolver isso antes de sofrermos as consequências."" A parceria entre a Orb Media e a Folha busca analisar, mundialmente, o impacto dos microplásticos no ambiente e na saúde humana. - Quantidades enormes de plástico são ejetadas para o ar ou lançadas em rios e oceanos Menos saquinhos As sacolas duram até 500 anos no oceano; a dica é apostar nos recipentes reutilizáveis para transportar ou guardar comida Sem canudinho Estima-se que todos os dias 1 bilhão de canudinhos são descartados diariamente –e raramente é um aparato indispensável Tchau, lã sintética Centenas de fibras sintéticas são produzidas a cada lavagem. O ideal é lavá-las com menos frequência ou procurar filtros para as máquinas de lavar Escova natureba Alternativas à escova de dente de plástico –que raramente é reciclada corretamente– incluem escovas de material alternativo, como bambu ou linho Tinta na lata Látex e tinta acrílica são plástico líquido. Ao lavar pincéis, vão ralo abaixo e poluem as águas. Pode-se buscar um descarte alternativo ou tintas não plásticas Carregue a garrafa É preferível que se use garrafas de vidro ou que se reutilize uma mesma garrafa de plástico várias vezes para evitar a decomposição em microplásico Carona Ao pegar carona e utilizar transporte público -além de incentivar amigos a fazerem o mesmo-, atenua-se o impacto dos microplásticos produzidos por pneus - Dicas para evitar que os microplásticos sejam problema ainda maior Tchau, lã sintética Centenas de fibras sintéticas são produzidas a cada lavagem. O ideal é lavá-las com menos frequência ou procurar filtros para as máquinas de lavar Pó do Pneu Levado pela água para os bueiros, segue para córregos, rios e oceanos. A cada 100 km rodados, são produzidos mais de 20 gramas de pó Tintas Além de marcar o asfalto e revestir navios e paredes, tintas também se acumulam. Elas totalizam cerca de 10% do total da poluição do tipo Microplásticos secundários 7 milhões de toneladas de plástico são depositadas anualmente em rios, lagos e oceanos. As partículas até entram na cadeia alimentar Fibras sintéticas no ar Há plástico na atmosfera, provavelmente proveniente das roupas sintéticas. Em Paris, estima-se que há mais de 3 toneladas sendo ejetadas no ar a cada ano Microesferas Alguns produtos de limpeza nos EUA e no Canadá continham microplásticos, mas foram banidos. Segundo estimativas, 8 trilhões de microesferas poluíam vias fluviais americanas Colaboraram PHILLIPPE WATANABE, GABRIEL ALVES e BEATRIZ IZUMINO, de São Paulo",ambiente
Derretimento de geleira na Antártida pode elevar oceanos em até 2 metros,"A geleira Totten, que derrete rapidamente no lado leste da Antártida, poderá elevar os oceanos em até dois metros e é possível que ultrapasse, em breve, um ""ponto crítico"" sem retorno, alertaram pesquisadores nesta quarta-feira (18). Até agora, os cientistas se preocupavam, principalmente, com as plataformas de gelo da Groenlândia e do oeste da Antártida como perigosos gatilhos da elevação do nível dos oceanos. Esse novo estudo, que se segue a outro já feito pela mesma equipe, identificou uma terceira grande ameaça a centenas de milhões de pessoas que vivem em áreas costeiras ao redor do mundo. ""Eu prevejo que, antes do final do século, as grandes cidades globais do nosso planeta perto do mar terão proteção contra o mar de 2 a 3 metros de altura a seu redor"", afirmou o codiretor do Grantham Institute e do Departamento de Engenharia e Ciências da Terra na Imperial College London, Martin Siegert, autor sênior do estudo. No último ano, Siegert e seus colegas revelaram que uma parte da geleira Totten está sendo erodida pela aquecida água do mar, que chega ao local após percorrer centenas de quilômetros. Publicado na ""Nature"", esse novo estudo usou dados de satélite para mapear contornos geológicos escondidos da região. Os especialistas encontraram evidências de que a Totten também derreteu em um outro período de aquecimento global natural há alguns milhões de anos –um possível teste para o que está acontecendo hoje. ""No Plioceno, as temperaturas eram 2ºC mais altas do que são agora, e os níveis de CO2 na atmosfera eram de 400 ppm (partes por milhão)"", lembrou Siegert. Nesse período, os níveis do mar atingiram picos de mais de 20 metros de elevação, em relação aos dias atuais. ""Estamos em 400 ppm agora e, se não fizermos nada sobre a mudança climática, também vamos ter um aquecimento de mais 2ºC também"", acrescentou. ""Essas são questões que temos de resolver na nossa sociedade hoje"", declarou Siegert por telefone, insistindo em que ""elas são urgentes agora"". Infográfico: Neve na Antártida",ambiente
Mudanças climáticas podem aumentar desigualdade nos EUA,"A falta de medidas para se combater a mudança climática vai agravar as desigualdades nos Estados Unidos, especialmente no sul do país, aponta um estudo divulgado nesta quinta-feira (29) pela revista ""Science"". A redução da renda pode ser de 20% para um terço dos condados mais pobres do país no pior cenário previsto. Utilizando modelos econômicos e projeções climáticas, uma equipe de economistas e climatologistas calculou os custos e benefícios da mudança climática nas próximas décadas. Os Estados do Sul e do Meio Oeste dos EUA são os que mais têm a perder, pois suas atividades econômicas migrariam para o norte e o oeste do país, explica Solomon Hsiang, professor da Universidade de Berkeley, Califórnia, e diretor do estudo. ""Se não forem adotadas medidas para a redução dos gases do efeito estufa a região do Golfo do México se verá severamente afetada"", disse Robert Kopp, professor de geofísica na Universidade Rutgers, em Nova Jersey, e um dos autores do estudo. Segundo ele, ""a vulnerabilidade da região diante da elevação do nível do mar, agravada por furacões potencialmente mais fortes, representa um risco severo para os habitantes, assim como as ondas de calor"". Os mais beneficiados por toda esta situação seriam os condados situados próximos à fronteira canadense, o que aumentaria as desigualdades entre Norte e Sul. Segundo o mesmo estudo, para cada 0,55ºC de aumento da temperatura a economia americana perderia 0,7% de seu PIB.",ambiente
Gelo feito a partir de energia solar leva desenvolvimento a comunidade no AM,"Há dois meses, as oito famílias que vivem na Vila Nova do Amanã, pequena localidade do município de Maraã, na região do Médio Solimões, no Amazonas, passaram a ter acesso a um item básico para a maioria dos brasileiros, mas considerado um luxo no local. A comunidade ribeirinha recebeu três máquinas de gelo que funcionam com energia solar e estão produzindo 90 kg por dia. ""Essas famílias têm como principais atividades a pesca e a agricultura. As máquinas vão atender à demanda de gelo, principalmente para conservar polpa de frutas e pescado"", diz Otacílio Soares Brito, do setor de tecnologias sociais do Instituto Mamirauá, responsável pela implantação do projeto Gelo Solar na região. As fábricas de gelo são um pouco maiores que uma geladeira comum e funcionam com um painel de energia solar. Cada máquina custa cerca de R$ 25 mil e produz 30 kg de gelo diariamente. A tecnologia foi desenvolvida por pesquisadores da USP (Universidade de São Paulo) em parceria com o Instituto Mamirauá, ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. O projeto foi premiado no fim do ano passado pelo Desafio de Impacto Social da empresa Google no Brasil. O prêmio, de R$ 500 mil, foi usado para implantar três máquinas na Vila Nova do Amanã e uma na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, instalada para que o Instituto monitore na prática a eficiência do equipamento, que pode ser levado a outras comunidades. ""O planejamento é acompanhar o funcionamento dessas quatro máquinas por um período, cerca de dois anos, ao mesmo tempo em que estamos buscando recursos para instalar máquinas em outras comunidades."", afirma Brito. Ele ressalta que a tecnologia é inovadora por não precisar de baterias, que poluem o meio ambiente e têm vida útil curta. ""É a transformação de energia elétrica em gelo."" De acordo com Brito, a manutenção das máquinas é simples –uma vez por mês é preciso passar um pano para limpar os módulos e as máquinas de gelo–, e os aparelhos podem durar até 25 anos. ""A população está sendo capacitada para a gestão comunitária da tecnologia. A ideia é que a gente acompanhe e ajude a pensar a melhor forma de gestão dessa tecnologia."", acrescenta o técnico. Um dos objetivos do projeto é que as fábricas de gelo ajudem a aumentar a renda das famílias. ""Eles não vão consumir todo esse gelo, vai ter uma sobra. Estamos conversando com a comunidade para dar um destino adequado a esse gelo, enfim, encontrar uma forma estratégica para que seja uma fonte de renda"". Uma das ideias é vender o gelo extra para comunidades próximas. Brito lembra que a dificuldade para chegar à vila, que está a 100 quilômetros de Tefé e só tem acesso fluvial, faz com que as famílias não tenham essas tecnologias comuns nas grandes cidades. ""Assistem televisão esporadicamente, quando o motor de luz funciona. Mas internet, por exemplo, nem pensar."". Para o especialista, iniciativas como o Gelo Solar podem ser uma saída para a região amazônica, onde muitos ainda vivem na escuridão. ""Acredito que em curto prazo não vai chegar energia a alguns lugares da Amazônia. A saída será a instalação de sistemas isolados, tanto para iluminação quanto para gelo, bombeamento de água, etc"". Ele considera que as minitermelétricas, que vêm sendo implantadas na região há mais de meio século, não resolveram o problema. ""Não resolve o problema da escuridão, porque o motor de luz, quando funciona, quando não está pifado e tem diesel, o que é muito raro, funciona das 6h às 22h, quando é desligado. Não dá para funcionar geladeira, freezer, não dá para conservar os alimentos"", afirma.",ambiente
"Frustrantes reuniões globais de clima estão longe da vida real, diz cientista","Um relatório que será apresentado por pesquisadores da UFRJ durante a COP22 (Conferência do Clima da ONU), que começa nesta segunda-feira (7) no Marrocos, alerta prefeitos para impactos dramáticos do aquecimento em cidades brasileiras. Segundo os pesquisadores do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC), os municípios que não mudarem a forma com que lidam com água, transportes e gestão de lixo e resíduos enfrentarão problemas como desabastecimento e energia, hospitais superlotados, inundações e desmoronamentos, com impactos mais fortes nas regiões mais pobres. À BBC Brasil, a engenheira Suzana Kahn, uma das autoras do estudo, diz que nota um abismo entre as discussões globais sobre clima, feitas hoje em cerimoniosas reuniões entre diplomatas, parlamentares e chefes de Estado, e a ""vida real"" das cidades. ""Há uma frustração. É tudo muito lento e isso gera um pouco de desânimo para quem acompanha. Se cria uma expectativa de solução e não é fácil mesmo. Coisas importantes acontecem, mas elas são pouco perceptíveis de longe"", diz Kahn. Por isso, ela explica, o estudo brasileiro analisou centenas de documentos e se concentra nas cidades e responsabilidades de prefeitos para consequências já perceptíveis do aquecimento global. ""Os centros urbanos são responsáveis pelo consumo de 70% da energia disponível e por 40% das emissões de GEE"", afirma o relatório. ""As prefeituras precisam não apenas de inventários e propostas. Ainda estamos muito distantes da ação e isso tem que mudar"", completa Kahn. No Nordeste, por exemplo, a vazão menor de rios como o São Francisco e a migração acelerada para zonas urbanas contribuem para apagões que, por sua vez, trazem aumento de preços e falta d'água. No Sul e Sudeste, o aumento do calor e das chuvas provoca enchentes e epidemias, como a explosão do vírus da zika e de doenças respiratórias. ""Os poderes municipais, locais, precisam estar em sintonia com os países. Não tem sentido o Brasil traçar um plano de ação sem ter em conjunto os planos de cada município, que é onde estão as pessoas expostas aos riscos"", diz a cientista. DESAFIOS DA COP22 A última grande decisão mundial sobre clima foi tomada no ano passado, quando 195 países e a União Europeia ratificaram o Acordo de Paris, se comprometendo a manter o aumento da temperatura média do planeta ""muito abaixo de dois graus"" em relação aos níveis anteriores à industrialização. Hoje, segundo o Observatório do Clima, corremos o risco de chegar a 2030 com o aumento ""numa trajetória de 3ºC, algo incompatível com a civilização como a conhecemos"". ""Está todo mundo contente, foi ratificado o Acordo de Paris e isso eleva o ânimo da tropa"", afirma a pesquisadora da UFRJ. ""Mas pôr isso em funcionamento é outra história. A principal missão da COP22 será definir uma data-limite para que se decidam as regras de aplicação do acordo. Um dos principais desafios é a obtenção de um consenso sobre como os compromissos firmados por um país poderão ser fiscalizados pelos demais. ""Como regular, como reportar as reduções, como fazer a contabilidade financeira do fundo. Essa COP22 é a primeira a discutir essas regras. Ela não vai trazer nenhum resultado, não vai ter 'notícia' nenhuma. São movimentos incrementais, discussões sucessivas que vão construindo o processo."" Daí, diz Suzana Kahn, a importância de compartilhar responsabilidades com prefeituras, que estão na ponta deste processo. Entre as sugestões práticas para prefeitos estão mudanças urbanas que permitam a redução de viagens motorizadas e o deslocamento de mercadorias (levar empregos do centro para os bairros onde as pessoas vivem, por exemplo), incentivo ao uso de bicicleta e uso de biocombustíveis. O relatório também destaca mudanças que podem ser estimuladas dentro de casa. ""Desligar equipamentos quando não houver uso, manter fechados os ambientes com temperatura condicionada e dimensionar adequadamente velocidade de ventiladores e temperatura de condicionadores de ar; desligar aparelhos em stand-by, usar ""tomadas inteligentes"", que possuem interruptores próprios pode facilitar essa ação, substituir lâmpadas fluorescentes por LED; construir e reformar casas, considerando uma participação maior de iluminação natural"", entre outros. ""É preciso se aproximar do cidadão, da população. Quando se fala de metas, é difícil o engajamento da sociedade, até para cobrar."" CRISE A estimativa das Nações Unidas é de que 91% da população brasileira viva em regiões urbanas nos próximos três anos –no último Censo, de 2010, o índice era de 84%. O problema é que, hoje, segundo o relatório dos pesquisadores da UFRJ, mais da metade dos municípios já precisa de novas fontes de água. Enquanto isso, até 2030, segundo os pesquisadores, ""estima-se um aumento de 9% no consumo de eletricidade no setor residencial e de 19% no setor de serviços"". Os impactos das mudanças climáticas na saúde são os mais alarmantes. ""O aumento de inundações e secas causará efeito devastador sobre a saúde, especialmente nas pessoas que vivem em comunidades mais sensíveis"", diz o estudo. ""Com esse cenário, doenças como malária e dengue, mais incidentes nos países de clima tropical, são alguns dos problemas de saúde pública decorrentes do aquecimento global. As intensas ondas de calor também podem ter impacto nas doenças crônicas, como problemas cardiovasculares"", prossegue o texto. A ironia é que a crise econômica tem ajudado a desacelerar os impactos destas transformações. ""É por conta dela (da crise) que provavelmente vamos atingir nossas metas com mais facilidade. Crise reduz consumo, reduz energia... isso diminui a pressão sobre o uso dos nossos recursos naturais."" BRASIL Ao ratificar o acordo de Paris, o Brasil se compromete a cortar emissões de gases em 37% até 2025 e se propõe a aumentar a redução para 43% em 2030, tudo em comparação com níveis de 2005. O país também se comprometeu a reconstruir 12 milhões de hectares de florestas e levar o desmatamento da Amazônia Legal (como o governo denominou uma área que abriga todo o bioma Amazônia brasileiro e partes do Cerrado e do Pantanal e engloba os Estados do Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins e parte do Maranhão) a zero até 2030. Mas como investir em tudo isso em meio à maior crise financeira e política dos últimos tempos? A pesquisadora explica que a maior parte das transformações não exige investimentos gigantes, como a construção de novas usinas ou redes de metrô. ""Há uma série de lobbies no Brasil, uma forma muito tradicional de fazer política sem pensar no interesse coletivo. E sempre se olha para um horizonte de muito curto prazo. Estas são coisas que ultrapassam quatro anos de mandato"", diz. ""Se você pegar o orçamento inteiro de uma cidade, verá a quantidade de dinheiro que vai para manutenção da máquina do Estado. O Estado gasta muito e gasta mal com ele mesmo. Investir em gestão de recursos naturais e resíduos não vai impactar tanto nos recursos municipais."" ""A questão é muito mais política que financeira"", conclui.",ambiente
Pregão que terceirizaria vigilância do desmatamento é suspenso,"Foi suspenso nesta quinta (4) –mesmo dia em que seria encerrado– um edital do Ministério do Meio Ambiente (MMA) para contratação de serviços de monitoramento de desmatamento. Antes do anúncio de adiamento, a possibilidade de contratação foi alvo de críticas e motivo de abertura de investigação pelo Ministério Público Federal. O edital, no valor de R$ 78,5 milhões, publicado no último dia 20 de abril e com encerramento previsto para esta quinta, tinha como objetivo a ""contratação de serviços especializados de Suporte à Infraestrutura de Geoprocessamento e Atividades de Sensoriamento Remoto para atendimento às demandas de monitoramento ambiental e geoprocessamento"". Atualmente, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) é a instituição governamental responsável pelos dados referentes ao desmatamento na Amazônia. Uma das principais armas para controle e monitoramento do desmatamento é o Prodes (Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite), que é complementado por outros sistemas, como o Deter, também do Inpe. O MMA afirma que o objetivo do pregão é melhorar a análise de dados referentes ao desmatamento e ""aumentar a eficiência e capacidade da gestão ambiental, auxiliando a execução e avaliação das políticas públicas ambientais, com maior transparência e padronização dos procedimentos."" Segundo pesquisadores ouvidos pela Folha, o edital lançado pelo MMA provocaria uma redundância nas ações de monitoramento já realizadas pelo Inpe. ""Eu estimo que 41% do edital seria uma sobreposição"", afirma Raoni Rajão, coordenador do laboratório de gestão de serviços ambientais da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). ""Você não pode chegar e comprometer cerca de 20% do orçamento anual do MMA sem pensar para que vai servir aquilo, se é necessário mesmo."" Segundo Rajão, que lançou um abaixo-assinado contra a realização do pregão, ""falar que está faltando dado para monitoramento é uma falácia."" Gilberto Câmara, ex-diretor do Inpe e especialista em monitoramento ambiental, afirma que os dados fornecidos pelo Inpe são referência internacional e que não faz sentido questionar a qualidade deles. ""É um edital que não se sustenta tecnicamente, ele prejudica o interesse público"", diz Câmara. ""Os cientistas do Inpe se revoltaram."" Câmara afirma que toda a evolução no combate ao desmatamento foi baseada em dados fornecidos pelo Inpe, que faz há cerca de 30 anos o monitoramento. ""Por que razão agora, que o desmatamento está voltando a crescer, o MMA está desconfiando? Não estão gostando do termômetro"", diz. Os pesquisadores afirmam que, no momento, o melhor investimento possível para evolução no combate ao desmatamento seria em ação de campo, não em dados. Além da reação dos cientistas da área de monitoramento, houve ação também por parte do Ministério Público Federal. O órgão abriu um procedimento de investigação para averiguar o edital recém-suspenso. ""A tarefa de monitorar o desmatamento da Amazônia é regulamentada por decreto governamental e prevê a coordenação do Inpe, com a participação do Centro Regional da Amazônia (CRA), que tem 60 pesquisadores em atividade e sede em Belém. As informações geradas pelo Inpe são cruciais para os acordos internacionais firmados pelo Brasil para controle das emissões de carbono, por exemplo"", afirma o MPF em seu site. O Ministério do Meio Ambiente afirma ser ""falsa a informação de que o MMA teria a intenção de substituir o monitoramento do desmatamento, que vem sendo realizado com excelência técnica e científica pelo Inpe[...] "". Desmatamento zero",ambiente
Los Angeles pinta ruas de branco na tentativa de diminuir temperatura,"Uma camada de tinta branca sobre as ruas contra o aquecimento global. A tecnologia, iconoclasta na aparência, mas levada bem a sério pelos ecologistas, está sendo submetida a teste em Los Angeles. A cidade, onde as temperaturas podem ultrapassar 40°C no verão, é uma das primeiras megalópoles do mundo a testar este ""cool pavement"", ou ""pavimento fresco"". O pavimento de asfalto negro comum absorve entre 80% e 95% da luz solar, enquanto o revestimento claro a reflete, diminuindo a temperatura do solo significativamente, de acordo com os defensores da tecnologia. ""O calor aqui, sobre a superfície negra, é de 42°C, 43°C neste momento. E sobre a superfície já seca do outro lado, apesar de ter só uma camada de branco e ainda precisar de uma segunda, é de 36°C"", afirma Jeff Luzar, vice-presidente da Guardtop, a companhia que fornece o revestimento, durante uma demonstração à imprensa. ""Uma diferença de temperatura de 6°C a 7°C."" Greg Spotts, diretor-adjunto do departamento de manutenção de estradas de Los Angeles, diz que se trata da primeira cidade na Califórnia a colocar à prova este ""pavimento fresco"" sobre uma rua pública. Esta pintura havia sido utilizada anteriormente apenas em estacionamentos. ""Esperamos que outras cidades se inspirem e que os fabricantes se animem a desenvolver novos produtos"", afirma. UMA PROMESSA REAL? Agora a prefeitura deve observar as reações dos habitantes a estas incomuns ruas brancas, assim como a rapidez com que ficam sujas pela passagem dos carros e os restos de óleo e combustível. George Ban-Weiss, professor adjunto de engenharia civil e ambiental da Universidade do Sul da Califórnia, considera que o ""cool pavement"" é uma promessa real na luta contra o aquecimento global nas cidades, onde o asfalto e a concentração demográfica e veicular criam um efeito conhecido como ilha de calor. ""O pavimento que reflete o calor do sol é uma das estratégias, assim como os tetos refratários ou o plantio de árvores, que as cidades podem aplicar para reduzir as temperaturas urbanas"", disse o especialista à AFP. Alan Barreca, professor de ciências ambientais na UCLA ressalta que ""já existe uma tecnologia eficiente para nos proteger das ondas de calor, que são os sistemas de climatização"", mas ""nem todos têm os meios para contar com um em casa"", enquanto que ""todo mundo usufrui do benefício do pavimento fresco"". Além disso, ""uma menor dependência dos sistemas de climatização significa menos emissões de gases de efeito estufa"" e de consumo de energia, acrescentou. De acordo com o especialista, esta tecnologia, que custa só US$ 40 mil dólares por milha (1,6 km), tem o potencial de proteger ""muita gente por um baixo custo em áreas urbanas com alta densidade"", como Los Angeles.",ambiente
"Para ""ecomodernistas"", agricultura intensiva agride menos a natureza","O cidadão médio do Camboja consome cerca de 160 kWh de eletricidade por ano. Os bengaleses estão melhor: consomem mais ou menos 260. Os nepaleses, antes do terremoto devastador, usavam 100 kWh por ano. Na Etiópia o consumo médio é de apenas 50. A geladeira que você tem na cozinha consome entre 300 e 600 kWh por ano. Dezenas de países –entre eles Nepal, Camboja e Bangladesh– se filiaram ao novo banco chinês de investimentos infraestruturais, potencial rival do Banco Mundial. Não é difícil entender o porquê: as prioridades ambientais do Ocidente estão obstruindo o acesso desses países ao tipo de infraestrutura energética que poderia lhes garantir o conforto e a abundância desfrutados pelos ocidentais. Cerca de 95% da eletricidade usada nos EUA vem do carvão, gás, energia hidrelétrica ou nuclear, diz Todd Moss, do Centro para o Desenvolvimento Global. ""No entanto, impomos grandes restrições ao financiamento dessas quatro fontes de energia no exterior"", ele diz. A agenda ambiental ocidental solapa as metas que o Ocidente afirma alcançar, ameaçando intensificar as mudanças climáticas, em vez de retardá-las. ""Estamos falando em pragmatismo, em resultados concretos"", disse Barry Brook, professor de sustentabilidade ambiental na Universidade da Tasmânia, na Austrália. ""A maioria das sociedades não vai seguir um rumo de baixo desenvolvimento e baixo consumo de energia, independentemente de trabalhar ou não para proteger o meio ambiente."" Se bilhões de humanos pobres não tiverem uma chance de desenvolvimento genuíno, o ambiente não será salvo. E isso requer não apenas ajuda para financiar fontes energéticas de baixo carbono, mas também muita energia nova. Um grupo de estudiosos envolvidos na discussão ambiental lançou recentemente o que chamou de ""Manifesto Ecomodernista"". Os chamados ""ecomodernistas"" propõem o desenvolvimento econômico como pré-requisito para a preservação do meio ambiente. Para isso, será preciso abrir mão da meta do ""desenvolvimento sustentável"", substituindo-o por uma estratégia de utilização mais intensiva da natureza. Eles argumentam que, para mitigar as mudanças climáticas, poupar a natureza e combater a pobreza global, será preciso ""intensificar as atividades humanas –particularmente a agricultura, extração energética, reflorestamento e gestão florestal e os assentamentos–, para que utilizem menos terra e interfiram menos com o mundo natural"". Esse novo sistema favorece um conjunto de políticas muito diferentes das em voga no momento. Por exemplo, consumir hortifrútis cultivados por pequenos produtores locais pode ser ótimo para os moradores de cidades ricas do Ocidente. Mas, se isso fosse feito para alimentar 9 bilhões de habitantes, exigiria o uso de cada hectare da superfície do planeta. A agricultura de grande escala, com fertilizantes sintéticos e técnicas de produção modernas, pode alimentar mais pessoas, usando menos terra e água. Como observa o manifesto, até 75% do desflorestamento global ocorreu antes da Revolução Industrial, uma época em que a humanidade supostamente estava em harmonia com a natureza. No último meio século, a área necessária para cultivar plantações e produzir ração animal suficientes para alimentar uma pessoa diminuiu pela metade. ""Se quisermos que o mundo em desenvolvimento alcance nem que seja a metade do nosso nível de desenvolvimento, isso não será possível sem intensificar a produção"", disse David Keith, da Universidade Harvard, um dos signatários do novo manifesto. O desenvolvimento permitirá às pessoas dos países mais pobres do mundo mudar-se para as cidades e conseguir ensino e emprego melhores. A urbanização acelerará as transições demográficas, reduzindo a mortalidade infantil e permitindo que as taxas de fertilidade declinem. ""Com a compreensão e promoção desses processos emergentes, os humanos têm a oportunidade de reflorestar a Terra, ao mesmo tempo em que os países em desenvolvimento alcançam padrões de vida modernos e que a pobreza material acaba"", argumenta o manifesto. Isso exigiria muita energia. Geradores eólicos ou biocombustíveis colocariam grandes áreas da superfície do planeta a serviço da produção energética; logo, sua utilidade é limitada. Já painéis solares e usinas nucleares podem vir a produzir energia livre de carbono em escala muito grande. Enquanto isso não acontece, os países pobres vão precisar de acesso a outras formas de energia: hidroelétrica, de gás natural, talvez até mesmo do carvão. Apesar de todas as objeções de teor ambiental que podem ser feitas a esses caminhos, a alternativa parece ser indefensável: deixar que os pobres do mundo queimem esterco e madeira, promovendo a degradação ainda maior das florestas do mundo. Ou então colocar painéis solares sobre suas casas, para que possam recarregar celulares. O chamado ""desenvolvimento sustentável"" está presente desde que foi proposto pela Comissão Bruntland, da ONU, em 1987. Mesmo então, a comissão reconheceu não ter solução para o problema energético. Depois de 27 anos, o discurso mudou pouco. Hoje a Agência Internacional de Energia afirma que está ao seu alcance oferecer acesso energético moderno a todos. O que isso quer dizer? Quinhentos kWh por ano para as famílias urbanas e 250 para as famílias rurais. Talvez o bastante para fazer uma geladeira funcionar.",ambiente
Como a indústria química aderiu à luta contra a mudança do clima,"Pode parecer surpreendente que as grandes companhias químicas do planeta estejam na linha de frente do combate à mudança do clima, lutando por desordenar os setores em que elas mesmas atuam. Mas em um acordo abrangente assinado sábado (15) em Kigali, Ruanda, fabricantes de produtos químicos como a Honeywell e a Dupont estiveram entre os mais ativos proponentes da proibição de um produto químico lucrativo que há muito serve de fundação aos setores de refrigeração e ar-condicionado. O que movia essas empresas era menos o ambientalismo que a intensa competição, e a aposta em que elas seriam capazes de criar produtos alternativos menos prejudiciais ao ambiente. Ainda assim, alguns ambientalistas afirmam que a decisão de abandonar o hidrofluorocarbono, ou HFC, oferece um exemplo que outros setores poderão seguir. ""Eles aprenderam que, sem uma mudança nas regras, seus novos produtos não seriam capazes de competir"", disse David Doniger, diretor do Programa de Clima e Ar Limpo no Conselho de Defesa dos Recursos Naturais norte-americano, em Washington. ""Eles acordaram e perceberam que a ciência era verdade"". ""Nós queremos a restrição desses produtos por motivos puramente ambientais. As empresas querem que eles sejam restritos por muitas outras razões"", entre as quais o lucro, disse Doniger. ""Mas o ponto é que elas passaram a ter um interesse comum com a comunidade internacional"". A resposta do setor químico contrasta fortemente com a tergiversação e, em muitos casos, obstrução aberta de regulamentações ambientais por parte das grandes companhias petroleiras. Exxon Mobil, Chevron e outras vêm sendo criticadas há décadas por seus esforços de lobby contra regras que restringiriam a emissão de gases causadores do efeito estufa, ainda que seus pesquisadores mesmos tenham alertado sobre os riscos de uma mudança no clima. Alguns ambientalistas afirmam que as empresas químicas acabaram por influenciar demais o acordo de Kigali. Também dizem que o acordo poderia ter sido mais ambicioso em termos de cronograma e de escopo. E existem preocupações de que muitos produtores químicos nacionais de menor porte não se beneficiarão tão rápido, o que concentrará o poder do setor nas mãos das maiores companhias do planeta. Boa parte da resistência ao acordo veio da China e da Índia, que temiam que algumas de suas empresas de produtos químicos teriam de fechar as portas, ou que seus consumidores se vejam submetidos a preços mais altos. ""Ainda que tenhamos recebido o resultado positivamente e que tenha havido progresso, quem está ditando o ritmo é a indústria"", disse Paula Tejón Carbajal, estrategista mundial de negócios da organização ecológica Greenpeace, em Amsterdã. O acordo de Kigali é o mais recente capítulo no um papel ocasionalmente desastroso, em termos ecológicos, desempenhado pelo setor de ar condicionado e refrigeração. Por décadas, uma categoria de produtos químicos chamados clorfluorocarbonos (CFC) foi amplamente usada em condicionadores de ar e refrigeradores, bem como em sprays de aerossol e produtos de limpeza. Os cientistas terminaram por alertar que o CFC desgasta a camada de ozônio, que protege o planeta contra os raios solares ultravioleta. O setor químico inicialmente resistiu, apontando que as alternativas não eram viáveis economicamente. ""Eles se comportaram de modo horrível, exatamente como o setor de carvão"", disse Doniger. Mas as preocupações dos consumidores quanto ao produto levaram a uma queda de vendas, e alguns poucos países proibiram o uso do CFC. Em 1987, o Protocolo de Montreal, um acordo ambiental, foi assinado para tirar o CFC de circulação. A alternativa disponível na época, o HFC, consistia de gases causadores de efeito estufa com mil vezes a potência do dióxido de carbono, em termos de aprisionamento de calor. A preocupação quanto a essa categoria de produtos químicos levou os ambientalistas a iniciar campanhas pela proibição do HFC. Quando esse momento chegou, o setor químico correu para se antecipar a qualquer nova rodada de regulamentação. No momento em que a transição para o HFC estava sendo implementada, no começo dos anos 2000, a Honeywell e diversas outras empresas iniciaram programas de pesquisa e desenvolvimento com o objetivo de estudar alternativas com potencial muito mais baixo de promover o aquecimento global. A Europa apertou sua regulamentação em 2011, com regras mais severas cujo objetivo era eliminar o uso do HFC em sistemas de ar condicionado para veículos. As autoridades regulatórias dos Estados Unidos conferiram créditos a fabricantes de automóveis que adotassem produtos alternativos ao HFC em seus condicionadores de ar. Em 2012, a Honeywell criou uma base de produção logo ao norte de Xangai a fim de produzir uma alternativa ao HFC que causa menos danos ao meio ambiente, o HFO-1234yf. A companhia em seguida construiu uma segunda fábrica ao norte de Tóquio, e deve inaugurar sua maior base de produção, em Geismar, Louisiana, no começo do ano que vem. Ela investiu US$ 900 milhões em seu programa de gases de refrigeração alternativos. De lá para cá, a Honeywell vem expressando publicamente seu apoio a regulamentação mais severa e, em 2014, foi parte de um grupo de empresas que se alinhou ao governo Obama para trabalhar quanto a uma reforma no Protocolo de Montreal. Agora que o planeta decidiu eliminar o HFC, a empresa poderá colher os benefícios de seu investimento. Ainda que ela não forneça números separados sobre a sua divisão química, informou que suas vendas de alternativas ao HFC estão crescendo rapidamente, o que ajuda a empresa a ampliar sua receita anual com a divisão de produtos de flúor em mais de dois dígitos anualmente, ultrapassando a marca do US$ 1 bilhão em faturamento. ""Essa é uma área na qual estamos alinhados com os benefícios ambientais"", disse Kenneth Gayer, vice-presidente de produtos de flúor na Honeywell, em entrevista. ""Antecipamos a necessidades dessas regulamentações antes que as pessoas começassem a falar de aquecimento global. Agora, o mundo vai usar os produtos alternativos em larga escala"". Há outras opções disponíveis, hoje, entre as quais sistemas que usam propano ou amônia, e companhias ao longo de toda a cadeia de suprimento estão correndo para adotá-las. A Coca-Cola, por exemplo, colocou em serviço mais de 1,8 milhão de máquinas de venda automática refrigeradas e outros equipamentos que não usam HFC. Ainda assim, alguns ambientalistas acautelam quanto ao veem como influência excessiva do setor empresarial em definir o futuro percurso das tecnologias de refrigeração. A Daikin produz uma alternativa de baixo custo ao HFC chamada HFC32, que tem impacto relativamente baixo em termos de aquecimento global e é vista como útil em mercados como a Índia. A Daikin, sediada em Osaka, Japão, produz equipamentos de ar condicionado e ingredientes químicos para eles. Algumas de suas patentes foram colocadas em domínio público para encorajar indústrias de diversos países a usar seus produtos. Carbajal, da Greenpeace, vê a promoção agressiva do HFC32 como problemática. Ela diz que a indústria decide ""o que é baixo e o que é alto, e por isso estamos muito preocupados"". Carbajal disse que embora existam diversas boas alternativas ao HFC, não são elas que estão sendo adotadas em alguns países. ""O problema é que a ambição não vem sendo tão grande quanto esperávamos"", ela disse. Damian Thong, que comanda a seção de pesquisa de tecnologia asiática no banco Macquarie, disse que a Daikin havia apoiado o HFC32 em um esforço para encontrar equilíbrio entre o potencial de aquecimento global e uma maior eficiência energética. As emissões dos condicionadores de ar também envolvem a energia elétrica que eles consomem, disse Thong. ""A questão que vem sendo desconsiderada é que o foco exclusivo no aquecimento global pode ainda assim significar danos ao meio ambiente"", disse. A despeito das questões remanescentes, o acordo de Kigali serve como exemplo de uma dinâmica emergente, na qual empresas se antecipam a mudanças nas normas ambientais por meio do desenvolvimento de produtos menos prejudiciais ao meio ambiente, e pressionam por regulamentação que promova o crescimento de seu mercado, dizem especialistas em questões ambientais. ""Mais e mais empresas estão olhando cada vez mais longe para o futuro, a fim de determinar que mudanças esperar, e o que elas precisam tirar de produção em suas linhas"", disse Baskut Tuncak, advogado das Nações Unidas especialista em produtos químicos tóxicos. ""Isso mostra que a regulamentação pode estimular a inovação"", ele disse. ""Quanto mais tivermos uma abordagem mundial, melhor, até mesmo para as empresas"". Tradução de PAULO MIGLIACCI",ambiente
Caça a 'leões enlatados' gera polêmica na África do Sul; veja vídeo,"É uma prática comum na África do Sul, mas que vem gerando cada vez mais controvérsia: a caça de ""leões enlatados"". O termo é usado para se referir às fazendas onde os animais são criados para depois serem abatidos por caçadores. O negócio é uma grande fonte de recursos para a África do Sul. Recentemente, o Congresso Mundial de Conservação –que reúne representantes de governos, ativistas, cientistas e empresários– pediu que atividade seja banida. Já os defensores das reservas dizem que suas fazendas são uma alternativa à caça ilegal de animais selvagens –o que contribuiria para a conservação da espécie.",ambiente
"Código florestal não protegerá espécies da Amazônia, diz estudo","O novo código florestal pode estar falhando na proteção do ecossistema da Amazônia. Um estudo, desenvolvido a partir da parceria de 18 instituições de vários países, entre elas a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), a USP e a Imazon, mostrou que apenas preservar a mata nativa não garante a conservação da biodiversidade. A pesquisa foi publicada nesta quarta (29) na revista ""Nature"". O foco do estudo foi o Pará, onde ocorreu, entre 1988 e 2015, 34% de todo desmatamento da floresta amazônica brasileira. Das 36 regiões analisadas no estado, 31 apresentavam algum vestígio de mata nativa e cinco estavam totalmente desmatadas. Ao todo foram encontradas 1.538 espécies de plantas, 460 de pássaros e 156 de besouros. Mamíferos não foram considerados na pesquisa. Ignorar a atividade madeireira, os incêndios e a fragmentação das áreas de floresta é o erro da política ambiental brasileira, segundo os autores. As análises feitas indicam que estas interferências são tão danosas para a biodiversidade quanto o próprio desmatamento. Os resultados mostraram também que as espécies com maior risco de extinção, como pássaros endêmicos (somente encontrados em determinada região), são as mais afetadas. Mesmo propriedades com 80% da mata nativa preservada sofreram perdas relacionadas à conservação ambiental. Esse é o percentual de preservação exigido pelo código florestal nas propriedades amazônicas. Além da proteção quantitativa das florestas tropicais, o estudo sugere a preocupação com a qualidade de preservação das matas restantes. Uma ideia seria criar conexões entre áreas de preservação, utilizando fazendas ociosas como corredores para o trânsito de espécies.",ambiente
Parque Nacional de Itatiaia celebra os 80 anos com novo centro de visitantes,"Ao virar uma chave na mente depois de passar pela portaria da parte baixa do Parque Nacional de Itatiaia, entre Rio e São Paulo, o visitante começa a se surpreender com a riqueza de uma mata atlântica saudável. É difícil fazer o cérebro se desligar das formas e dos sons urbanos para acionar o modo natureza. Mas vale insistir: o exercício ajudará a reforçar a importância de uma área de 28 mil hectares intacta entre as duas maiores cidades do país. O contraste visual para quem sobe ao mirante do Último Adeus ratifica a razão de ser do Parque Nacional de Itatiaia, o primeiro do país. Em junho, a criação da área vai completar 80 anos. A agenda de comemorações prevê a inauguração de um novo centro de visitantes, com réplicas da fauna local, como os felinos, os macacos, o tamanduá e o preguiça. Lá no alto, de um lado, o rio Campo Belo, cercado de um verde exuberante. De outro, um mar de pastos e de plantações de eucaliptos. Não é preciso nem mapa para saber os limites do parque. Fora do mirante, mas dentro das trilhas bem demarcadas, como a da cachoeira Véu da Noiva, destacam-se os detalhes da floresta. Na mata atlântica e seus vários estratos de altura, a luz muda em segundos. Folhas e plantas se mexendo pode ser vento, respingo de água ou as centenas de espécies de aves que vivem em Itatiaia. O que dá ao parque o status de um ponto de interesse internacional de observação de pássaros. Por isso, o ouvido deve ser calibrado para os novos sons ambientes da mata. Mas há quem prefira borboletas. Existe um grupo que se reúne na região só para a observação desses insetos. ""A mata atlântica aqui está muito bem preservada. É grande a eficiência de unidades de conservação como esta para a preservação da flora, afirma Alexandre Salino, botânico e pesquisador da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Antes de conversar com a reportagem, ele dava uma aula sobre as pteridófitas (grupo que engloba as samambaias) para um grupo de alunos de pós-graduação. Salino sempre se surpreende com a diversidade e a exuberância de Itatiaia. ""Há espécies vegetais em alguns lugares do parque, principalmente na parte alta, registradas apenas aqui, perto do pico da Neblina e nos Andes"", afirma o pesquisador. NAS ALTURAS A chamada parte alta é o local de natureza tido por muitos como um dos mais belos do país. Se, embaixo, a floresta está a menos de 1.000 m de altura, na chamada parte alta, nos campos de altitude, tudo fica acima de 2.000 do nível do mar. Domina a paisagem, em dias claros sem nuvens ou neblina, os picos das Prateleiras e das Agulhas Negras, duas formações geológicas inesquecíveis. Há 70 milhões de anos, indicam os geólogos, houve uma explosão vulcânica na serra da Mantiqueira. O magma acabou se resfriando e endurecendo. Soma-se a isso a erosão das partes moles das rochas. Tem-se o pico das Agulhas Negras, a 2.791 metros. O vulcão, hoje morto, quando ativo deveria estar a uns 5.000 metros. ""O ponto alto do parque é o poder que tem de atrair as pessoas"", diz Gustavo Tomzhinski, chefe do parque, que é administrado pelo ICMBio. Para quem procura uma observação mais intensa da natureza, os dias de semana são os ideais. Nos últimos dois anos, mais de 250 mil pessoas visitaram o parque. Menos de 10% em dias úteis. No alto, nas trilhas suaves que levam à base do Agulhas Negras (é possível subir ao cume por meio de escaladas guiadas), novamente o modo natureza precisa estar ligado. O lugar é desconectado das dimensões humanas. SÓ 52% Bairros rurais, esqueletos de hotéis abandonados e outros prédios em funcionamento. Dezenas de casas de veraneio. Fazendas. A regularização fundiária é um dos grandes problemas que pressionam a mata atlântica do Parque Nacional de Itatiaia, no Estado do Rio. Para uma área que está prestes a completar 80 anos de idade, seria natural que todas as terras do parque estivessem em posse do poder público. Mas isso ainda está muito longe de ocorrer. Apesar de ter havido avanço nos últimos anos, hoje só 52% das áreas do parque nacional mais antigo do Brasil estão com o governo federal. ""Podemos estimar que, nos próximos dez anos, mais de 90% das terras do parque estarão com o Estado"", diz Gustavo Tomzhinski, chefe do parque mais antigo do Brasil. Segundo ele, grande parte das terras está sendo comprada com dinheiro vindo de processos de compensação ambiental. Ou seja, de pessoas físicas ou jurídicas que precisam reparar seus danos feitos ao meio ambiente. Mas haverá ainda muita negociação com quem vive dentro do parque, complementa Tomzhinski.",ambiente
Pesquisadores caçam de tudo na longínqua ilha da Trindade,"Tem gente que caça pokémon com celular. Já a pesquisadora Nathália da Luz vai ficar dois meses na distante e diminuta ilha da Trindade caçando um bicho real bem mais interessante, e também dotado de muita variabilidade de formas: os ostracodes. Os bichos são crustáceos (como os camarões e lagostas), têm no máximo poucos milímetros e possuem anatomia variável, todos vivendo em ambientes aquáticos. Estima-se que existam mais de 65 mil espécies; eles são tão versáteis que vivem até na água de bromélias. Esses ""minipokémon"" do mar são úteis vivos ou mortos. Como microfósseis, são espetaculares indicadores de períodos geológicos e para o entendimento da ecologia do passado. Conseguem ser úteis tanto a geólogos, geógrafos, biólogos ou oceanógrafos. E são úteis até para a indústria petrolífera; suas assembleias –conjuntos de espécies e outros seres vivos associados– ajudam a descobrir jazidas de petróleo. Aluna de doutorado na UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), Nathália vai fazer coletas em torno de Trindade com ajuda de um bote da Marinha. A coleta é preservada em um dos dois laboratórios da Estação Científica da ilha, e depois levada para estudo na universidade. Ela e seu orientador, João Carlos Coimbra, descobriram recentemente uma nova espécie de ostracode no arquipélago de São Pedro e São Paulo que recebeu o apropriado nome de Xestoleberis brasilinsularis. Existem várias ""brasilinsularis"" –Fernando de Noronha, Abrolhos, São Pedro e São Paulo, Trindade e Martin Vaz. Essas ilhas oceânicas têm um grande valor econômico apenas pela sua localização, pois aumentam a zona econômica exclusiva do país no mar em torno de 200 milhas delas (cerca de 370 km). Por isso tem que ser ocupadas por brasileiros. Em alguns casos, como Trindade, por guarnições da Marinha, hoje com cerca de 30 homens. BASE DISTANTE Mas, para a ciência, essas ilhas são um achado ainda maior. São raros laboratórios a céu aberto. Nathália da Luz e dois outros pesquisadores que estão hoje na ilha podem fazer suas pesquisas porque as instalações que a permitem foram criadas pelo Protrindade – Programa de Pesquisas Científicas na Ilha da Trindade. ""Havia uma grande demanda da comunidade científica para realização de pesquisas em Trindade"", diz o capitão-de-fragata Sidnei da Costa Abrantes, gerente do Protrindade. Ao mesmo tempo, havia uma ""ausência de infraestrutura"". A criação do Protrindade em 2007, e, mais ainda, a inauguração da Estação Científica na ilha em 2011, com dois laboratórios e vaga para oito pesquisadores, deslanchou um boom na pesquisa. Já foram atendidos mais de 500 pesquisadores, diz o capitão-de-fragata. Lauro J. Calliari, da FURG (Universidade Federal do Rio Grande) está interessado nas praias e nas ondas. Ali existem riscos graves, como a chamada ""onda camelo"" que chega de repente e pode arrastar vítimas insuspeitas para o mar, ou esfolá-las em rochas. A onda, que lembra a corcova do animal, causou setes mortes desde 1963. A plataforma insular estreita –dez metros de profundidade a meros 500 metros da praia traz como consequência ""a pouca dissipação da energia das ondas"", segundo Calliari. Isso significa que as praias do Príncipe e da Calheta ""apresentam um comportamento similar as praias continentais do sudeste-sul do Brasil"", já riscos permanentes existem ""nas rochas na zona de surf e face da praia, arrebentação mergulhante e aumento brusco de profundidade durante a maré alta"", afirma a equipe de Calliari. Por sua vez, Franciane Pellizzari, da Unespar (Universidade Estadual do Paraná) foi monitorar algas, tentar entender como seu tamanho e sua composição química poderiam ser capazes de revelar compostos úteis para a indústria farmacêutica, e servir de indicadores de poluição do mar por metais pesados. O jornalista viajou a convite da Marinha do Brasil, a bordo do NDCC Almirante Saboia",ambiente
Péssima qualidade da água ameaça grande barreira de corais,"A Austrália reconheceu nesta quinta-feira (20) que é necessário tomar novas medidas para proteger a grande barreira de corais da poluição, após a publicação de um relatório oficial sobre o mau estado do local, listado como patrimônio mundial da humanidade. Esse ecossistema gigante é vítima do escoamento da produção agrícola, do desenvolvimento econômico e da proliferação da estrela-do-mar ""coroa de espinhos"" (Acanthaster planci), que destrói os corais. Além disso, a grande barreira sofreu nos últimos meses o seu pior episódio de branqueamento devido ao aquecimento global. Grande parte do recife perdeu sua cor e muitos dos seus corais morreram. Camberra afirma que está fazendo mais do que nunca para proteger este local emblemático, mas o relatório anual do governo sobre a qualidade da água, da flora marinha e dos corais lhe deu uma nota ""D"", que corresponde a uma ""péssima"" qualidade, pelo quinto ano consecutivo. Os sedimentos arrastados pelas águas de 35 bacias hidrográficas que o local recebe reduzem a luminosidade, o que influencia no ecossistema de corais e o da flora marinha, afetando seu crescimento e sua capacidade de reprodução. A grande barreira, de 345.000 km², escapou por pouco de ser inscrita pela Unesco na sua lista de lugares em perigo, e Camberra está realizando um plano de proteção para os próximos 35 anos.",ambiente
Pinguelli Rosa deixa fórum do clima por discordar do afastamento de Dilma,"Secretário executivo do Fórum Brasileiro de Mudança Climática desde 2004 e um dos nomes mais importantes da militância científica pelo meio ambiente, Luiz Pinguelli Rosa já tinha uma carta de demissão pronta enquanto assistia à votação do Senado que decidiria pelo afastamento da presidente Dilma Rousseff. A carta, endereçada ao presidente interino Michel Temer, foi enviada na quinta-feira (12), como informou o jornal ""O Estado de S. Paulo"". Nela, o físico e professor emérito da Coppe (o instituto de pós-graduação e pesquisa em engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro) afirma que o afastamento da presidente foi uma ""injustiça praticada com a conivência do Supremo Tribunal Federal"" e que ele se recusaria a permanecer em um cargo que lidava diretamente com o presidente da República. O apoio de Pinguelli Rosa pode ter pego a presidente de surpresa: ambientalistas, afinal, não eram os maiores fãs de Dilma, cujo governo foi marcado por obras polêmicas como a da usina de Belo Monte e pela nomeação da senadora Kátia Abreu –apelidada de ""rainha da motosserra""–, para o Ministério da Agricultura. Em entrevista à Folha, Rosa diz que sua atitude não é em defesa de Dilma, mas da democracia, e elogia a atuação da ex-ministra Izabella Teixeira à frente do Ministério do Meio Ambiente. Ponderado, ele elogia também a escolha do novo ministro, José Sarney Filho. ""É uma pessoa que vem acompanhando a questão das mudanças climáticas há muito tempo"", diz ele. * FOLHA – O senhor criticou publicamente diversas ações do governo Dilma, opiniões pessoais da presidente sobre a questão ambiental, deu entrevista falando sobre a corrupção na Petrobras. Diante de tanta discordância, o senhor não se considera uma fonte de apoio surpreendente para a presidente? Luiz Pinguelli Rosa – Minha saída do Fórum não é um apoio pessoal, é um entendimento de que esse afastamento é um erro monumental. Não houve crime de responsabilidade, pedaladas são uma trivialidade administrativa. Eu não quero ter nada a ver com esse processo que está acontecendo no Brasil. Isso para mim é uma grande injustiça praticada com conivência do Supremo Tribunal Federal. Eu sempre critiquei abertamente a atuação do governo, mas também elogiei o que merecia. A atuação da ministra Izabella Teixeira, por exemplo, que foi inclusive aluna da Coppe, foi exemplar. Ela fez um ótimo trabalho no ministério, acabou assumindo até tarefas que eram do Itamaraty, como articular a posição brasileira na Convenção do Clima da ONU. Mas a presidente Dilma é uma pessoa honesta e afastá-la dessa maneira é uma coisa que eu não concordo. Esse cargo [de secretário executivo do Fórum de Mudança Climática] lida diretamente com o presidente da República. Eu não poderia fazer isso discordando da presença do vice naquele lugar. Mas o senhor tem alguma discordância política com o presidente interino Michel Temer? O senhor acha que a política para o meio ambiente ou para as questões climáticas serão alteradas para pior? A gente não tem como saber. Justamente porque não houve um processo eleitoral, não houve uma discussão ampla, ninguém sabe qual a proposta dele para o meio ambiente. O que sabemos até agora é uma coisa ou outra do que ele pensa para a economia. Mas para todo o resto, é difícil saber. Se há uma eleição, essas coisas são discutidas. Mesmo que depois não saia como prometido, houve um debate amplo na sociedade, o governante teve que dizer o que achava das coisas e as pessoas tiveram oportunidade de discutir. O ministro que ele anunciou, o Sarney Filho, é um bom nome, conhece o assunto, é uma pessoa que vem acompanhando a questão das mudanças climáticas há muito tempo. Mas qual o direcionamento do governo para o tema? Ninguém sabe. Durante o governo Dilma, a presidente deu pouca atenção ao Fórum, deixando essa tarefa nas mãos da ministra do Meio Ambiente. Isso não acarretou em uma perda de prestígio do Fórum? Sim, acabou acontecendo isso. A Izabella acabou ocupando o lugar que era da presidente nesse assunto específico. Na questão prática, funcionava bem, mas eu falei diversas vezes que a ausência da presidente desestimulava a equipe. Lula era muito mais atuante, costurou pessoalmente a posição do Brasil na Conferência de Copenhague, se reunia comigo e com vários ministros. Caso a presidente Dilma volte ao governo, o senhor voltaria a presidir o Fórum? Não, isso é uma etapa vencida. Eu fiz o que tinha que fazer, me orgulho especialmente de ter ajudado o Brasil em Copenhague, mas não faz parte dos meus planos futuros voltar ao cargo.",ambiente
Como a Estação Espacial Internacional ajudará a proteger as tartarugas gigantes de Galápagos,"Elas são conhecidas como tartarugas gigantes das ilhas de Galápagos, mas quando nascem medem cerca de seis centímetros. Desde o momento em que saem dos ninhos, os bebês de tartaruga enfrentam sozinhos o mundo e suas dificuldades. Quando conseguem sobreviver, podem chegar a 150 anos de idade. No entanto, para eles, hoje um dos maiores desafios é o crescente impacto da atividade humana. Há anos, uma equipe internacional de cientistas rastreia a migração de populações de tartarugas adultas. Porém, os bebês são muito pequenos para receber os atuais equipamentos de GPS. Mas agora, novos dispositivos em miniatura podem ser colocados nos recém-nascidos. Os sinais serão captados por receptores na Estação Espacial Internacional. ""Ao colocar esses transmissores em um grande número de tartarugas bebês podemos segui-las ao longo de sua vida"", explicou à BBC Mundo (o serviço em espanhol da BBC) Stephen Blake, coordenador do Programa de Ecologia do Movimento das Tartarugas Gigantes de Galápagos. ""Poderemos compreender em que medida elas conseguem sobreviver, e, se não conseguem, qual foi o problema. Entender isso é crucial para a conservação da espécie no futuro"", diz. CHIPS EM MINIATURA As tartarugas de Galápagos são apenas um exemplo das muitas espécies que serão monitoradas pela Estação Espacial graças ao projeto de Cooperação Internacional para a Pesquisa Animal desde o Espaço (Icarus, na sigla em inglês). A iniciativa, impulsionada pelo Instituto Max Planck para Ornitologia da Alemanha, espera estudar as migrações de dezena de espécies –de aves a elefantes. Em dois meses, um foguete russo deve levar a equipe e os equipamentos ao espaço. Os chips do GPS serão especialmente adaptados para as tartarugas bebês, que pesam de 60 a 70 gramas ao nascer. ""A Estação Espacial é ideal para esse projeto, porque nela podem ser colocados equipamentos de hardware muito pesados e potentes, com antenas muito sensíveis que captam sinais muito frágeis"", explica Blake, pesquisador do Instituto Max Planck e também professor da Universidade St. Louis, em Missouri (EUA). ""Por outro lado, a Estação tem uma órbita muito baixa em comparação com a maioria dos satélites e cobre praticamente toda a superfície da Terra duas vezes por dia"", diz. Os protótipos dos dispositivos para as tartarugas bebês pesam cerca de cinco gramas. O MISTÉRIO DAS MIGRAÇÕES Embora a tartaruga gigante seja um animal icônico de Galápagos, ainda há muitas questões sobre sua vida que a ciência ainda não conseguiu responder. Elas migram em busca de comida melhor seguindo as estações, de acordo com o especialista do Instituto Max Planck. Muitas ilhas de Galápagos, com vulcões ativos e inativos, elavam-se a mais de mil metros acima do nível do mar e os padrões de chuva seguem faixas de altura. ""A parte mais baixa das ilhas, a uns 150 metros, tende a receber pouca chuva e a ser mais árida. As zonas de média elevação, entre 150 e 350 metros, são semiáridas, e as mais altas, com maior cobertura de nuvens, têm mais humidade e precipitações."" Todo ano, há uma vegetação abundante nas zonas elevadas, mas na temporada chuvosa as precipitações alcançam também as áreas mais baixas, que também ficam verdes. As tartarugas migram para esses pontos mais baixos para comer plantas novas, ricas em proteína e fáceis de digerir, explica Blake. Outro fator que leva os animais a se mudar é a reprodução, já que o solo e a temperatura das zonas mais baixas são mais adequados para os ninhos. ""Um dos maiores mistérios é o que os especialistas chamam de ""migração parcial"". Não sabemos por que apenas uma porção das tartarugas se muda, pois, na maioria das espécies migratórias, toda a população vai junto, diz Blake. ""Por que algumas tartarugas não migram? Que fator determina se um animal vai ou não? É o tamanho do corpo ou a disponibilidade de comida? É a idade ou o estado físico"", questiona o pesquisador, que tem a tarefa de tentar descobrir as respostas. NÔMADES OU SEDENTÁRIAS O cientista britânico explica que existem quatro estratégias principais de migrações. Algumas tartarugas adultas são sedentárias. ""Elas se mudaram apenas por um raio de 200 metros nos oito anos em que as monitoramos"", diz Blake. Outras, que vivem em ilhas com condições mais imprevisíveis, parecem nômades. Um terceiro grupo se dispersou depois de um período para outras áreas sem nunca retornar ao local de origem. Por último, há as tartarugas que seguem um padrão sazonal e regressam para a mesma área de antes. As tartarugas que migram seguem padrões previsíveis e usam sempre as mesmas rotas. ""Ano após ano elas seguem as mesmas rotas desde as zonas mais altas até as mais baixas. Depois retornam para os mesmo lugares"", diz Blake. O que acontece quando esses caminhos ou lugares não estão disponíveis por algum problema? Na ilha de Santa Cruz, por exemplo, a maior parte das montanhas é usada para a criação de gados, explica o pesquisador. O gado pode ser compatível com as tartarugas, porque eles não competem pela mesma vegetação. ""Porém, se o pecuarista coloca uma cerca e bloqueia o caminho, as tartarugas podem ou não conseguir entrar nas zonas mais altas, ou ficam presas nelas, sem poder retornar às áreas de reprodução."" 'SÃO MUITO LONGEVAS...' ""Temos visto em várias espécies que quando as rotas migratórias são bloqueadas os resultados podem ser catastróficos"", explica Blake. O projeto de monitoramento das tartarugas gigantes, seja por GPS tradicional ou com a a ajuda Estação Especial Internacional, pode ser a chave para o futuro desses animais. ""Essa pesquisa é importante, fundamentalmente porque o habitat das tartarugas está mudando devido à crescente atividade humana"", diz o pesquisador. ""Essa atividade ameaça as rotas migratórias e as tartarugas gigantes de Galápagos."" Para Blake, ""as tartarugas são tão longevas que esses últimos problemas nas rotas só serão percebidos depois de muitos anos"". ""Só houver um grande problema com o sucesso reprodutivo das tartarugas só vamos saber depois de décadas"", disse Blake à BBC Mundo. ""Por isso é tão importante saber o que acontece com as tartarugas bebês.""",ambiente
Pesquisadores brasileiros descobrem recife de coral na foz do rio Amazonas,"Pesquisadores brasileiros descobriram um imenso sistema de recifes na faixa do Oceano Atlântico que fica em frente à foz do rio Amazonas. A descoberta é inédita e contradiz o entendimento corrente de que não seria possível haver recifes em águas tão turvas e sedimentadas. Recifes são encontrados em águas cristalinas, com muita iluminação e baixa concentração de nutrientes, como aquelas do Caribe e de Abrolhos. As águas do Amazonas são o oposto disso: escuras e ricas em matéria orgânica coletada ao longo do rio (esse é o rio mais extenso do mundo e deságua 209 mil metros cúbicos por segundo no oceano). A pesquisa, fruto de uma parceria entre cientistas de onze universidades brasileiras e uma americana, foi publicada neste mês na revista ""Science Advances"", com coordenação dos professores Carlos Rezende, da Universidade Estadual do Norte Fluminense, e Fabiano Thompson, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. ""Enquanto um recife comum é repleto de peixes e algas, o que encontramos aqui são algas calcárias, esponjas e bactérias quimiossintetizantes, que se alimentam de minerais e não fazem fotossíntese"", diz Thompson. Cientistas desconfiavam da presença de recifes na região desde 1970, mas não puderam rastrear o local, que fica a até 100 metros de profundidade. A equipe chefiada por Thompson e Rezende fez três expedições nos últimos seis anos usando uma espécie de sonar para fazer o mapeamento. Agora, pretendem estudar a composição dos organismos e descrever espécies de esponjas ainda não catalogadas. ""Precisamos avaliar as ameaças a esse ecossistema. Atualmente, temos empresas americanas e europeias explorando a área para produção de petróleo, o que é um risco enorme para os recifes e para a biodiversidade da região"", diz Thompson.",ambiente
Líder do PSDB pede a Temer para rever decreto que extingue reserva na Amazônia,"Ligado à causa ambiental, o deputado Ricardo Tripoli (SP), líder do PSDB na Câmara, encaminhou à Casa Civil da Presidência da República nesta sexta-feira (25) um ofício em que solicita a revogação do decreto em que o presidente Michel Temer extingue uma área de reserva na Amazônia para ampliar a exploração mineral. ""Iniciativas como a da extinção da Renca (Reserva Nacional de Cobre e seus Associados) demandam análises técnicas rigorosas, sucedidas de amplo debate público. Com base na própria competência legislativa atribuída ao Congresso Nacional, é essencial que tal debate se dê no âmbito do Poder Legislativo, sendo realizado pelos representantes do povo e dos estados envolvidos"", argumenta Tripoli em nota. A reserva tem 46.450 km², tamanho equivalente ao do Estado do Espírito Santo, e está localizada na divisa entre Pará e Amapá. A Renca foi criada em 1984, durante o regime militar. Dentro da reserva estão localizadas partes de três unidades de conservação (UC) de proteção integral, de quatro unidades de conservação de uso sustentável (uma delas na qual a mineração era permitida a partir de um plano de manejo) e de duas terras indígenas. ""O mais grave é que, em quase toda a extensão da Renca, existem unidades de conservação ambiental, algumas, inclusive, categorizadas como de proteção integral, nas quais são proibidas as atividades de mineração e outras"", diz trecho do ofício encaminhado por Tripoli. ""A exploração possibilitada pela extinção da Reserva Nacional de Cobre e seus Associados, nessa medida, trará como consequência –conforme indica a experiência universal–, o adensamento populacional da área, o que seguramente conduzirá a uma situação de ""fato consumado"", exigindo, num futuro próximo, a flexibilização do grau de proteção que atualmente se estabeleceu para as áreas de preservação situadas nos estados do Pará e do Amapá e para as unidades de conservação federal instituídas na área, o que destoa a mais não poder das diretrizes acima mencionadas, fixadas em nosso texto constitucional"", continua o ofício. Procurada nesta tarde, a Casa Civil não se manifestou até a publicação desta reportagem. Diante das primeiras repercussões da publicação do decreto, o Ministério do Meio Ambiente reafirmou o que diz o decreto, que as unidades de conservação da área não serão afetadas. A pasta informou ainda que qualquer empreendimento que possa impactar as unidades de conservação é passível de procedimento de licenciamento específico, o que garante a manutenção dos atributos socioambientais das áreas protegidas. No mesmo momento, o Ministério de Minas e Energia informou que o objetivo do decreto é ""atrair novos investimentos, com geração de riquezas para o país e de emprego e renda para a sociedade, pautando-se sempre nos preceitos da sustentabilidade. Acredita-se ainda que a medida poderá auxiliar no combate aos garimpos ilegais instalados na região"".",ambiente
Ursa panda gigante mais velha em cativeiro morre em Hong Kong,"A ursa panda gigante mais velha do mundo em cativeiro morreu neste sábado (15), aos 38 anos, em um parque temático de Hong Kong. Jia Jia, que teve seis crias, morreu após uma rápida piora de seu estado de saúde nas últimas duas semanas, quando já andava com dificuldade, segundo comunicado do Ocean Park Hong Kong. Nascida na natureza na província chinesa de Sichuan em 1978, Jia Jia foi levada para Hong Kong em 1999, por ocasião da devolução da cidade semiautônoma pela Grã-Bretanha dois anos antes. ""Seu estado de saúde piorou tanto que, por questões éticas e a fim de evitar seu sofrimento, veterinários do Departamento de Agricultura, Pesca e Preservação e o Ocean Park concordaram em sacrificá-la"", informou o parque. Restam menos de 2.000 pandas selvagens, segundo o WWF (World Wide Fund for Nature, Fundo Mundial para a Natureza em tradução livre), devido à destruição de seus habitats. Devido ao baixo número de nascimentos, os programas de criação em cativeiro se tornaram um fator-chave para garantir a sobrevivência destes animais.",ambiente
PF faz operação contra desmatamento e exploração ilegal de madeira no Pará,"A Polícia Federal e o Ministério Público Federal (MPF) no Pará cumprem hoje (24) 33 mandados de prisão (preventivas e temporárias) de suspeitos de participar de um esquema criminoso de desmatamento e exploração ilegal de madeira em assentamentos no oeste do estado. Entre os suspeitos estão o superintendente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) em Santarém, Luiz Bacelar Guerreiro Júnior, e o secretário municipal de Meio Ambiente de Óbidos, Vinícius Picanço Lopes. De acordo com o Ministério Público, o esquema provocou prejuízo superior a R$ 31 milhões aos cofres públicos. Segundo as investigações, iniciadas em 2014, a quadrilha coagia trabalhadores rurais a aceitar a exploração ilegal de madeira nos assentamentos no oeste do Pará, em troca da manutenção de direitos básicos, como o acesso a créditos e a programas sociais. O MPF constatou que o grupo atuava em três núcleos interligados: um intermediador e empresarial, outro operacional centralizado no Incra e um terceiro relacionado às fraudes em órgãos ambientais. ""Enquanto o primeiro núcleo concentrava os negociantes de créditos florestais fictícios –conhecidos como ""papeleiros""– e empresas que recebiam a madeira extraída ilegalmente, o segundo atuava diretamente com o desmatamento, sob a permissão de servidores do Incra. O terceiro núcleo era responsável pela mercantilização de informações privilegiadas sobre fiscalizações feitas por órgãos ambientais e pela liberação irregular de empresas com pendências nessas instituições"", explicou o MPF em nota. Ainda de acordo com o Ministério Público Federal no Pará, o grupo transformou a Superintendência do Incra em Santarém, que abrange o oeste do estado, em ""um grande balcão de negócios"", com uso da instituição para viabilizar a extração ilegal de madeira em áreas de assentados. ""Muitas vezes, a prática criminosa é feita sob submissão dos colonos à precária situação em que são colocados. Precisam barganhar direitos que lhes são devidos em troca da madeira clandestina"", diz trecho da petição do MPF à Justiça Federal, que motivou a ação. Os mandados estão sendo cumpridos nos municípios paraenses de Santarém, Óbidos, Oriximiná, Monte Alegre e Uruará, além de Belém e Ananindeua, no Amazonas, e Castanhal, no nordeste paraense. A organização criminosa, segundo o MPF/PA, era composta por servidores federais, do Incra e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), e estaduais, das secretarias de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas) e da Fazenda (Sefa) do Pará. Além dos mandados de prisão, estão sendo cumpridos 37 mandados de busca e apreensão em residências de suspeitos e nos órgãos públicos envolvidos. O MPF também pediu à Justiça que quatro servidores suspeitos de participação no esquema sejam afastados dos cargos e que os presos na operação sejam encaminhados ao Centro de Recuperação Sílvio Hall de Moura, em Santarém (PA). Os suspeitos responderão pelos crimes de associação criminosa, corrupção ativa e passiva, violação de sigilo funcional, falsidade ideológica, uso de documento falso, crimes contra a flora e crimes contra a administração ambiental.",ambiente
Deputado quer apurar como empresas souberam antes de extinção de reserva,"O deputado federal Julio Delgado (PSB-MG) começará nesta segunda-feira (28) a coletar assinaturas para a instauração de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar o fato de mineradoras canadenses terem obtido a informação da extinção de reserva amazônica cinco meses antes do anúncio oficial. A extinção da Renca (Reserva Nacional do Cobre e Associados) foi publicada no ""Diário Oficial"" nesta quarta-feira (23), sem aviso prévio. No entanto, de acordo com reportagem da BBC Brasil, empresas de mineração do Canadá teriam sido avisadas em março pelo ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho, sobre o fim da área de preservação. ""O objetivo é reverter o decreto [de extinção da reserva] ou pelo menos suspender a participação dessas empresas"", afirma Delgado. São necessárias as assinaturas de 171 deputados para a instauração de uma CPI na Câmara. Segundo a publicação, as empresas foram avisadas de que a exploração no local seria leiloada entre companhias privadas durante evento em Toronto. Ele diz estar em contato com senadores para que seja criada uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito. Neste caso, também será preciso a assinatura de 27 senadores, ou seja, um terço da Casa. O PSB também deve entrar com uma Adin (Ação Direta de Inconstitucionalidade) no Supremo Tribunal Federal contra o decreto que extingue a Renca. A reserva, na Amazônia, tem 46.450 km² –tamanho equivalente ao do Espírito Santo–, na divisa entre Pará e Amapá. A região possui reservas minerais de ouro, ferro e cobre. Ela foi criada em 1984, durante o regime militar. Dentro da reserva estão localizadas partes de três unidades de conservação (UC) de proteção integral, de quatro unidades de conservação de uso sustentável (uma delas na qual a mineração era permitida a partir de um plano de manejo) e de duas terras indígenas.",ambiente
"Região do Descobrimento é a campeã de desmatamento, mostra relatório","O ciclo de destruição da floresta atlântica, que começou em 1500 por causa dos europeus, volta a ficar ativo na Bahia, revelam dados de um mapeamento florestal da ONG SOS Mata Atlântica e do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). Devido ao desmatamento no sul do Estado, a Bahia foi a campeã nacional de desmatamento da vegetação atlântica entre 2015 e 2016, segundo o atlas do desmatamento a que a Folha teve acesso. No Estado, caíram 12.288 hectares de vegetação, um crescimento de 207% em relação à análise anterior, de 2014-2015. Três cidades do sul da Bahia –Santa Cruz de Cabrália, Belmonte e Porto Seguro– são responsáveis por metade desse total. Bioma onde vivem 72% da população brasileira, a mata atlântica se estende, no Brasil, do Rio Grande do Sul ao Piauí. Em todo o país, a derrubada aumentou 57,7% no período em comparação ao ano anterior. Houve uma redução de 29.075 hectares de floresta. O índice preocupa os especialistas da SOS Mata Atlântica. Há dez anos não havia uma derrubada do bioma nessas proporções. CABRÁLIA Curiosamente, o atual processo de redução da mata atlântica no sul da Bahia tem componentes que remetem ao ciclo histórico dos tempos coloniais. Alguns fatores geográficos e socioambientais do desmate não mudaram. A primeira missa em solo brasileiro ocorreu na região da atual Santa Cruz de Cabrália. Lá os índios viviam em meio a uma rica floresta, e o pau-brasil logo virou valiosa matéria-prima, motivando disputas pelo território. Durante dois séculos, entre 1500 e 1700, estimativas científicas indicam que mais de 460 mil árvores da espécie que dá nome ao Brasil acabaram ceifadas da exuberante floresta, hoje conhecida pelo nome de mata atlântica. O processo colonial de desmatamento, que praticamente acabou com o pau-brasil, envolveu dos donos dos negócios (os europeus que exportavam a madeira e faziam os corantes) aos índios, que faziam o escambo. Em um segundo período, também os escravos participaram. Todos, por vários tipos de pressão ou dominação, participaram do aniquilamento. A mesma Santa Cruz de Cabrália, além de Belmonte e Porto Seguro, três municípios da Costa do Descobrimento, aparecem na lista dos cinco maiores desmatadores. OS DEZ MUNICÍPIOS QUE MAIS DESMATARAM - Em hectares A partir das coordenadas registradas pelo satélite, a expedição de campo, via estradas de terra entre propriedades privadas desertas, dá formato à destruição. Após dois dias percorrendo o sul da Bahia, a diretora-executiva da SOS Mata Atlântica, Marcia Hirota, resume a situação: ""É muito triste"". Os números captados pelas análises mostram que em Cabrália houve o desmate de 3.058 hectares de mata atlântica, mais de 10% do que caiu de todo o bioma no país. Ainda não são claras as razões que levaram a esse aumento na região. Na visita recente da reportagem à região, áreas estavam sendo limpas e madeiras eram retiradas por caminhões. Nas propriedades vizinhas, fazendas de eucaliptos já engoliram a floresta nativa em anos anteriores, o que pode ter voltado a ocorrer, de acordo com os especialistas. Contudo, nem toda ação de desmatamento, vista do alto, é ilegal. O mapeamento via satélite não separa os feitos dentro da lei dos de fora. Algumas das ações de derrubada, principalmente em áreas públicas, são feitas pelos índios ou por pessoas que vivem em condição de subemprego. TURISMO O sul da Bahia, segundo Marcia Hirota, é rico em biodiversidade e tem grande potencial turístico, o que seria uma saída viável para o desenvolvimento socioambiental da região, segundo ela. ""Estamos destruindo um patrimônio importante, que poderia gerar desenvolvimento regional, trabalho e renda para a região"", afirma. A expedição também encontrou muitas áreas que foram destruídas parcialmente pelo fogo. A floresta acinzentada está morta. Os cadáveres expostos parecem em compasso de espera. Nos próximos anos, dentro do ciclo atual de desmatamento em curso no sul da Bahia, os troncos asfixiados pelo fogo poderão continuar à mostra ou darem vez ao pasto ou a alguma monocultura. Enquanto no Estado da Bahia restam 11% de mata atlântica, em todo o Brasil o índice é um pouco maior, 12%. Os jornalistas EDUARDO GERAQUE e DIEGO PADGURSCHI viajaram ao sul da Bahia a convite da ONG SOS Mata Atlântica",ambiente
"Temperatura global irá subir 2ºC até 2100, afirmam pesquisas","É improvável que o aumento de temperatura global até 2100 fique abaixo dos 2ºC, segundo pesquisas publicadas nesta segunda (31) na revista ""Nature Climate Change"". Segundo uma das pesquisas, a probabilidade é que as temperaturas subam entre 2ºC e 4,9ºC até 2100. Para chegar a essa conclusão, os cientistas usaram dados de 1960 a 2010. A chance do aumento de temperatura ser inferior a 1,5ºC é de 1%. Para fazer o cálculo, os pesquisadores utilizaram dados populacionais da ONU para 2100, produto interno bruto (PIB) per capita dos países e as emissões relacionados ao PIB. Os valores foram ainda adequadamente combinados às projeções climáticas apresentadas pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), da ONU. Segundo o estudo, seria necessária uma rápida redução das emissões para limitar o aumento da temperatura a 2ºC. A pesquisa ainda afirma que é pouco provável que seja alcançado o objetivo do Acordo de Paris de zerar as emissões na segunda metade do século. Não foram consideradas possíveis mudanças abruptas relacionadas a diminuições de preços de energias alternativas. INEVITÁVEL De acordo com o outro estudo também publicado nesta segunda-feira, na revista ""Nature Climate Change"", mesmo que as emissões de gases-estufa parassem hoje, as temperaturas no planeta aumentariam quase 1,5ºC até 2100. O estudo em questão leva em consideração emissões passadas e o aquecimento global já comprometido. As análises foram feitas com base no tempo de vida do CO2, na captura do carbono pelos oceanos e nos impactos temporários de aerossóis. Segundo as análises da pesquisa, existe a chance de, somente pelo aquecimento comprometido –ou seja, relativo a emissões que já ocorreram–, o aumento da temperatura seja 1,5ºC. ""Mesmo em um cenário irrealisticamente otimista no qual as emissões de gases-estufa fossem abruptamente interrompidas, certa quantidade de aquecimento futuro é inevitável"", afirmam os pesquisadores na pesquisa. Os pesquisadores afirmam que, logicamente, a interrupção de todas as emissões é uma ""situação altamente idealizada"", mas que isso possui um papel pedagógico. ""O aquecimento já comprometido desafia a expectativa ingênua de que o aumento de temperatura global para quando as emissões são interrompidas"", dizem os pesquisadores. PARIS O compromisso do esforço de todos os países para conter o aumento da temperatura a níveis inferiores 2ºC –preferencialmente abaixo de 1,5°C– foi o resultado do Acordo de Paris. Segundo esses estudos, porém, as ações tomadas até o momento e planejadas para o futuro próximo não serão suficientes para alcançar a meta. Recentemente, o presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou a retirada do país do acordo. Segundo especialistas, a saída dos EUA não significa o fim do Acordo de Paris –considerando que governos locais e empresas se comprometeram a manter o compromisso–, mas pode afetar investimentos em energias limpas.",ambiente
"Em 2050, trânsito melhora, só que a vida do paulistano continua seca","Gostaria que fossem verdadeiras as maquinações da ficção científica e que hoje, 35 anos à frente de vocês, fosse possível viajar no tempo e mudar a história. Faltam aí apenas seis meses para a Conferência do Clima em Paris, e daqui posso ver que ela não deu para o gasto. Até que o acordo obtido para conter os gases do efeito estufa foi razoável, para as condições políticas da época. Não teria bastado para conter o aquecimento global no limite de 2°C neste século, óbvio. Na metade dele, já estamos perto de romper essa barreira. E isso mesmo com as emissões de carbono quase zeradas. Não tanto como resultado das metas no Protocolo de São Paulo, adotado em 2020, mas da ajuda inesperada da UberTesla. Os carros elétricos autônomos lançados naquele mesmo ano pelo empresário Elon Musk, depois de comprar a Uber com os lucros das baterias domésticas Powerwall, acabaram com o trânsito, com os transportes públicos e com a poluição do ar. As indústrias fósseis -montadoras e petroleiras- foram à breca. O crash de 2029 destruiu a indústria como vocês a conhecem, mas criou uma melhor. Joseph Schumpeter teria adorado ver geradores eólicos e painéis fotovoltaicos se espalharem pelo mundo como os automóveis no século 20. A vida piorou nas megacidades, no entanto. As ondas de calor infernizam os paulistanos três ou quatro vezes por ano, com os termômetros acima dos 40°C. Duram semanas, mas nada de comparável com a tragédia de Nova Déli, hoje uma cidade-fantasma, como tantas na Índia após o colapso das monções. São Paulo, Rio e Belo Horizonte até que se adaptaram à canícula. Mesmo na periferia de classe média baixa o zunido de aparelhos de ar-condicionado é constante, e cessaram os apagões depois que o governo federal passou a subsidiar painéis de silício e baterias de lítio com o programa ProAr. O problema, mesmo, é a falta de água, especialmente em São Paulo. O sistema Cantareira nunca mais se recuperou. Há alguma esperança de que a recomposição da mata atlântica na bacia do PCJ, iniciada uma década atrás, traga algum alívio, mas só lá por 2070. Isso se a seca não se tornar permanente como o El Niño. Se vocês tivessem imaginado aonde a coisa iria parar, teriam feito mais por seus filhos e netos.",ambiente
"Após 20 anos, presença do raro gavião-real é registrada em São Paulo; ouça","A presença de um gavião-real, uma das maiores aves de rapina do mundo, foi documentada no Estado de São Paulo pela primeira vez em ao menos 20 anos. O canto da harpia –a outra denominação do pássaro–, foi registrado pelo biólogo Bruno Lima em 2012, na região do rio Preto, em Itanhaém, e depositado na semana passada na plataforma Wikiaves, fórum utilizado para divulgação prévia de resultados da área. O artigo em que é descrito o raro achado acaba de ser enviado para a revista científica ""Atualidades Ornitológicas"" e aguarda a aceitação. Mas especialistas que ouviram o áudio a pedido da Folha creem que se trata mesmo de uma harpia, animal considerado criticamente ameaçado em SP. Para Felipe Bittioli Gomes, professor da Universidade Federal do Pará, não há dúvida de que se trata do canto de um gavião-real. ""É um registro indiscutível. Dentre os vários tipos de canto do gavião-real, o mais característico é o territorial, justamente o que foi registrado."" Tânia Sanaiotti, pesquisadora do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia) e coordenadora do Projeto Harpia, é um pouco mais cautelosa. ""Ele de fato parece o canto de uma harpia, embora seja curto."" Já o biólogo Marco Antonio Granzinolli, especialista em aves de rapina, é enfático: ""É o canto de uma harpia"". Além disso, entre os 20 comentários no Wikiaves a respeito do áudio registrado por Lima, não há nenhuma contestação de sua veracidade. Embora avistamentos de harpias tenham sido reportados em São Paulo nos últimos anos, os registros documentados são raros. Os últimos são de um espécime capturado supostamente no início dos anos 1970, pertencente ao museu de zoologia da Unesp de São José do Rio Preto, e outro, realizado em 1993, no município de Cananeia, no litoral paulista. ""É um registro bastante importante"", diz Sanaiotti, ""e só reforça a urgência de proteção dessa espécie."" A especialista em ecologia de aves Martha Argel afirma que se trata de um achado relevante, já que a harpia pode ter desaparecido da maior parte de São Paulo. Argel explica ainda que, na ornitologia, registros sonoros são equivalentes aos fotográficos. ""Algumas espécies são até mais registradas pela voz do que por fotografias."" A harpia habita sobretudo a Amazônia e é considerada a ave mais poderosa do mundo devido ao seu incrível poder de tração, que lhe possibilita, por exemplo, arrancar um bicho-preguiça de uma árvore. É, ademais, aquilo que na ecologia é chamado de um predador de topo de cadeia, ou seja, tem no seu habitat a mesma importância que uma onça ou um tubarão têm em seus respectivos ecossistemas. ""A presença de uma harpia indica que o ambiente está equilibrado, pois um predador de topo só irá existir se a floresta estiver saudável e conseguir sustentar as presas. Ou seja, se contiver todos os elementos biológicos para a manutenção do ecossistema como um todo "", diz Gomes. Estima-se que um casal da espécie necessite de uma área de ao menos 100 km2 para sobreviver. TERMELÉTRICA Em outubro de 2012, Lima caminhava numa trilha na mata de Itanhaém quando ouviu uma gralha-azul cerca de 25 metros acima de sua cabeça. ""Ela fazia um chamado de alarme, como se houvesse algum predador por perto."" ""Escutei então o grito inconfundível de uma ave de rapina. Liguei o gravador e vi a cabeça da harpia em meio à folhagem de uma árvore."" Lima conta que guardou o registro por cinco anos por receio de que a divulgação pudesse ameaçar a vida da ave. ""Anteriormente, quando divulguei a existência dos papagaios-de-cara-roxa, que poucos sabiam existir naquela área, queimaram o ninho com os filhotes dentro dele. Fiquei com medo de que o mesmo pudesse acontecer à harpia."" A motivação para a publicação do registro agora é a possibilidade de um complexo termelétrico ser instalado em Peruíbe, segundo explica Lima. De acordo com o projeto –em processo de licenciamento ambiental–, torres de transmissão passarão pela região onde a harpia foi encontrada. ""Se as torres forem instaladas, há um risco enorme de que essa ave, que há décadas não víamos em SP, morra ao colidir com elas, como ocorre com os Tuiuiús no Pantanal."" Procurada, a Gastrading, empresa responsável pelo empreendimento, diz que o Estudo de Impacto Ambiental aponta o potencial impacto sobre as aves da região devido ao aumento do risco de colisão com as torres e cabos. Devido a isso, foram propostas ""medidas de controle e monitoramento, considerando a implantação de sinalizadores nos cabos da linha de transmissão, a diminuição da distância entre cabos, o que minimiza o risco de colisão, além de monitoramento de potenciais acidentes"". - HABITAT Vive em florestas de planície e altitudes de até 2.000 m acima do nível do mar DISTRIBUIÇÃO Pode ser encontrada na região amazônica e em alguns pequenos trechos da mata atlântica, especialmente no sul da Bahia e no norte do Espírito Santo TAMANHO Mede de 90 a 105 cm de comprimento e pode atingir até 2 metros de envergadura PESO Machos pesam de 4 kg a 5 kg, e fêmeas de 7,6 kg a 9 kg ALIMENTAÇÃO É constituída principalmente de mamíferos como preguiças, veados, quatis e tatus. Também captura aves como seriemas e araras. Suas garras de até 7 cm permitem ao gavião-real capturar presas com mais de 6 kg REPRODUÇÃO É monogâmico e constrói o ninho em formato de plataforma no alto de árvores STATUS DE PRESERVAÇÃO A espécie é considerada criticamente ameaçada em toda a região Sul e nos nos Estados de SP, MG, ES Fonte: Aves de Rapina Brasil Ouça o canto do gavião-real registrado pelo biólogo Bruno Lima canto do gavião-real",ambiente
Cientistas temem que Trump ignore duro relatório federal sobre clima,"A temperatura média dos Estados Unidos está crescendo rápida e dramaticamente desde 1980, e as décadas recentes foram as mais quentes dos últimos 15 séculos, de acordo com um relatório federal abrangente sobre a mudança do clima que está aguardando aprovação pelo governo Trump. O texto preliminar do relatório redigido por cientistas de 13 agências do governo federal norte-americano, que ainda não foi divulgado, conclui que os norte-americanos já estão sentindo os efeitos da mudança no clima. O texto contradiz diretamente afirmações do presidente Trump e de seu governo, no sentido de que a contribuição humana para a mudança do clima não foi comprovada e que a capacidade de previsão de seus efeitos é limitada. ""As provas de mudança no clima são abundantes, do topo da atmosfera ao piso dos oceanos"", afirma o texto preliminar do relatório, do qual o ""New York Times"" obteve uma cópia. Os autores apontam para milhares de estudos, conduzidos por dezenas de milhares de cientistas, que documentaram mudanças do clima em terra e no ar. ""Muitas cadeias de evidências demonstram que as atividades humanas, especialmente a emissão de gases causadores do efeito-estufa (de aprisionamento de calor), são primariamente responsáveis por mudanças recentes observadas no clima"", afirma o texto. O relatório foi completado este ano e é parte da seção científica especial da Avaliação Nacional do Clima, um estudo quadrienal criado por ordem do Congresso americano. A Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos aprovou o texto preliminar, e os autores estão aguardando permissão do governo Trump para divulgá-lo. Katharine Hayhoe, professora de ciência política na Universidade Tecnológica do Texas e membro do grupo de cientistas que participaram do relatório, define as conclusões do estudo como um dos ""mais abrangentes relatórios sobre o aspecto científico da mudança no clima"" já produzidos. Outro cientista envolvido no projeto, que falou ao ""New York Times"" sob a condição de que seu nome não fosse revelado, se declarou preocupado com a possibilidade de que o relatório venha a ser suprimido. A Casa Branca e a Agência de Proteção Ambiental (EPA) americana não responderam de imediato a telefonemas e e-mails solicitando comentários sobre o assunto, na noite desta segunda-feira (7). O relatório conclui que, mesmo que os seres humanos deixassem imediatamente de causar emissões de gases do efeito-estufa, a temperatura média do planeta ainda subiria em 0,3 grau neste século, ante o nível atual. A alta projetada para a temperatura média caso as emissões continuem pode ser de até dois graus. Uma pequena diferença na temperatura mundial pode causar efeito forte no clima. A diferença entre uma alta de temperatura de 1,5 grau e uma alta de dois graus, por exemplo, significaria ondas de calor mais longas, temporais mais intensos e desintegração mais rápida dos recifes de coral. Entre as constatações mais significativas do estudo está a de que é possível atribuir certos efeitos climáticos extremos à mudança do clima. O ramo científico conhecido como ""ciência da atribuição"" vem avançando rapidamente em resposta aos riscos crescentes associados à mudança no clima. A EPA é uma das 13 agências que devem aprovar o relatório até 18 de agosto. Seu administrador, Scott Pruitt, declarou não acreditar que o dióxido de carbono seja causa contributiva primária do aquecimento global. ""É uma situação complicada e perigosa"", disse Michael Oppenheimer, professor de geociência e estudos internacionais na Universidade de Princeton. Ele não participou do estudo. ""Esse é o primeiro caso em que uma análise de mudança climática de tal escopo está em debate, no governo Trump, e os cientistas estarão acompanhando com muita atenção a maneira pela qual as autoridades conduzirão o assunto."" Os cientistas dizem temer que o governo Trump altere ou suprima o relatório. Mas pessoas que contestam os dados científicos sobre a mudança do clima causada por atividade humana também estão preocupados com a possibilidade de que o texto do relatório, bem como a Avaliação Nacional do Clima, mais ampla, sejam divulgados publicamente. A Avaliação Nacional do Clima ""parece estar em piloto automático"", por falta de orientação política, disse Myron Ebel, pesquisador sênior no Competitive Enterprise Institute. O relatório afirma que avanços significativos foram realizados no estabelecimento de vínculos entre a atividade humana e eventos climáticos extremos, desde a Avaliação Nacional do Clima anterior, que foi publicada em 2014. Mas o texto aponta que incertezas importantes ainda não foram dirimidas. O texto preliminar cita a onda de calor europeia de 2003 e o calor recorde na Austrália em 2013 como episódios específicos nos quais ""indicações relativamente fortes"" apontavam para influência da atividade humana em eventos climáticos extremos. Nos Estados Unidos, apontam os autores, a onda de calor que fez o Texas ferver em 2011 representa exemplo mais complicado. Aquele ano foi o mais seco na história do Texas, e um dos estudos citados no relatório afirma que uma variação climática local e La Niña foram as causas primárias, com uma ""contribuição relativamente"" pequena do aquecimento global. Outro estudo concluiu que a mudança do clima torna eventos extremos 20 vezes mais prováveis no Texas. Com base nesses e em outros estudos conflitantes, o texto preliminar do relatório federal concluiu que existe probabilidade média de que a mudança no clima tenha influenciado a onda de calor no Texas. Mas o relatório evita avaliar as possíveis conexões entre a mudança no clima e outros eventos climáticos específicos. Em geral, o relatório afirma que é ""complicado"" estabelecer um vínculo entre a atividade humana e recentes secas nos Estados Unidos, e que, embora muitas das secas tenham sido longa e severas, elas não deixam de ter precedentes na variação hidrológica natural do planeta. Em termos mundiais, o relatório considera ""altamente provável"" que mais de metade do aumento médio da temperatura mundial de 1951 para cá esteja vinculado à atividade humana. Nos Estados Unidos, o relatório conclui com grau ""muito elevado"" de confiança que o número e a intensidade do frio das noites frias tenha declinado dos anos 60 para cá, enquanto a frequência e severidade dos dias de calor aumentou. Ondas de frio extremas se tornaram menos comuns de 1980 para cá, segundo o estudo, e ondas de calor se tornaram mais frequentes. O estudo examina todos os quadrantes dos Estados Unidos, e constata que todos eles foram afetados pela mudança do clima. A temperatura média anual dos Estados Unidos continuará a subir, os autores escrevem, e isso fará dos anos recentes de calor recorde uma ocorrência ""relativamente comum"" no futuro próximo. O estudo projeta alta de temperatura da ordem de 2,8 a 4,8 graus até o final do século, a depender do nível futuro das emissões de carbono. O texto preliminar afirma que a chuva média anual nos Estados Unidos aumentou em 4% desde o começo do século 20. Partes do oeste, sudoeste e sudeste do país estão se tornando mais secas, enquanto as planícies do sul e o meio-oeste vivem maior umidade. Os autores apontam, com grau médio de confiança, para um vínculo entre o aquecimento global causado por atividades humanas e a alta de temperatura no oeste e norte dos Estados Unidos. No sudeste, o estudo não identificou vínculo direto. Além disso, cientistas do governo escreveram que as temperaturas de superfície, do ar e da terra no Alasca e no Ártico estão subindo em ritmo alarmantemente rápido –duas vezes superior à média mundial. ""É muito provável que o ritmo acelerado de aquecimento do Ártico tenha consequências significativas para os Estados Unidos, devido à aceleração no derretimento das camadas de gelo em terra e no oceano, o que inclui alta no nível do mar que ameaça nossas comunidades costeiras"". O estudo afirma que a atividade humana é diretamente responsável por isso. O estudo não oferece recomendações de políticas públicas, mas afirma que estabilizar a alta média da temperatura mundial em dois graus centígrados –marco que os cientistas descrevem como a cerca para além da qual a mudança se torna catastrófica– requereria reduzir substancialmente o volume mundial de dióxido de carbono. Quase 200 países concordaram, nos termos do Acordo de Paris sobre o clima, em limitar ou reduzir suas emissões associadas à queima de combustíveis fósseis. Se essas promessas forem cumpridas, afirma o relatório federal americano, isso representará um passo crucial para manter o aquecimento global em limites administráveis. Trump anunciou este ano que os Estados Unidos abandonariam o Acordo de Paris, afirmando que ele prejudica o país. Tradução de PAULO MIGLIACCI",ambiente
"Espécies invasoras podem não ser tão ruins para ambiente, diz autor de livro","A própria definição é ofensiva: a espécie é invasora. Pode ser uma planta ou um animal, oriundos de uma região e que colonizam um outro ecossistema, em detrimento das espécies ditas nativas. Em benefício próprio, as invasoras causariam desequilíbrio do ecossistema, que tenderia a ficar empobrecido. Espécies podem naturalmente colonizar novas regiões, mas foi a ação humana que multiplicou os casos de invasão de novos espaços. Pois agora o jornalista britânico especializado em meio ambiente Fred Pearce inverteu os sinais. O título do seu mais recente e polêmico livro diz tudo: ""The New Wild: Why Invasive Species Will Be Nature's Salvation"" (Beacon Press, sem edição no Brasil), ou por que as espécies invasoras serão a salvação da natureza. ""É comum se dizer que as espécies invasoras são a segunda maior ameaça à natureza, após a destruição do habitat. E por um longo tempo eu aceitei essa reivindicação"", afirma Pearce. Mas quando ele começou a estudar o caso mais a fundo, descobriu que, ao contrário de outros problemas ambientais como o aquecimento global, faltavam provas sobre o lado ""demoníaco"" dos invasores. ""Eu vi pouca evidência de que havia algo intrinsecamente ruim sobre as espécies invasoras. Suas desvantagens são muitas vezes irremediavelmente obra de sensacionalismo; e seus potenciais benefícios, como o aumento da biodiversidade local, quase nunca são investigados."" Há casos claros de problemas sérios causados por espécies ""alienígenas"", notadamente no caso de ilhas, com ecossistemas originais. únicos e mais vulneráveis. A principal forma de acesso dos invasores é via marítima. Navios transportam essas espécies do lado de fora –como algas agarradas no casco– e por dentro –caso de ratos no porão. Os marinheiros também costumavam abandonar porcos e cabras em ilhas isoladas, para terem uma fonte adicional de alimento na próxima viagem. Estes animais dizimavam a flora e fauna locais; aves marinhas são particularmente vulneráveis. Uma campanha de extermínio de cabras nas ilhas Galápagos, um dos mais importantes ecossistemas do planeta e que influenciou o naturalista Charles Darwin a propor sua teoria da evolução, matou, entre 2006 e 2012, 80 mil destes animais. Mas Pearce dá bons argumentos em defesa de várias invasões. Por exemplo, a baía de San Francisco, Califórnia, costuma ser indicada como o local do planeta mais invadido por espécies alienígenas. Com a corrida do ouro na região, navios chegavam de todos os cantos. Existem ali cerca de 300 espécies invasoras, que vão desde mexilhões russos a águas-vivas do Mar Negro, ou caranguejos do Atlântico e da China. Em vez de reduzir, invasores aumentaram a biodiversidade local. É comum que ambientalistas tenham uma noção romântica de uma natureza intocada pela ação humana. Mas o mundo não é mais assim –basta ver o impacto que a invenção da agricultura e da pecuária teve nos ecossistemas e nas espécies. A mandioca originária do Brasil é plantada hoje na África, o café africano é uma riqueza importante do Brasil. ""Devemos celebrar o dinamismo e capacidade de adaptação da natureza muito mais do que fazemos"", conclui ele. AEDES NÃO TRAZ BENEFÍCIOS O problema da chegada espécies ""de fora"" de um ecossistema é que não dá para ter certeza do que vai acontecer. A espécie pode, por fatores como temperatura e falta de abrigo, simplesmente não vingar. Ou, de repente, desprovida de predadores e com excesso de alimento, adaptar-se com maestria. É o caso do Aedes aegypti, o mosquito rajado que transmite as viroses dengue, chikungunya, febre amarela e zika. De origem africana, o inseto hoje habita uma região do globo onde há mais de 2,5 bilhões de pessoas, em áreas tropicais e subtropicais. Ao chegar de navio em portos de todo o mundo, o A. aegypti não teve problemas em se adaptar aos novos ambientes. Seus ovos, por exemplo, podem esperar por meses até que sejam hidratados e se transformem em larvas –e a água pode ter baixíssima quantidade de nutrientes. O sangue, material crucial para a reprodução do insetos, sempre pôde ser obtido em abundância de veias humanas. A vantagem principal da espécie é justamente a capacidade de se adaptar ao ambiente cada vez mais urbanizado –azar dos humanos e de seus rivais, que praticamente inexistem. Outro exemplo deletério são as pererecas E. johnstonei, naturais do Caribe e trazidas ao Brasil. Elas se alojaram no bairro do Brooklin, na zona sul da cidade de São Paulo e incomodam moradores com seus agudos assobios. O mexilhão-dourado é mais um invasor que mata peixes ao ser engolido e impede que outros moluscos se alimentem. Há risco de seu rastro de destruição chegar à Amazônia. Colaborou GABRIEL ALVES",ambiente
Brasil tenta angariar prestígio para a causa dos biocombustíveis na COP22,"O Brasil lançou nesta quarta (16) uma iniciativa para mais uma vez tentar promover os biocombustíveis. O anúncio, feito na Conferência da ONU sobre o Clima (COP22), tem 20 países signatários e aconteceu depois de dois meses de consultas a nações que se interessariam em ampliar os investimentos na produção de combustível a partir da biomassa (como os cultivos de cana para a produção do etanol e soja para a de biodiesel). A solução ainda é recebida com receio por ambientalistas e por países que preferiram não aderir à plataforma, como a Alemanha. Na terça (15), Barbara Hendricks, presidente da Comissão de Meio Ambiente do parlamento alemão, se reuniu na COP22 com os ministros brasileiros Blairo Maggi (Agricultura) e Sarney Filho (Meio Ambiente) para ouvir a proposta da plataforma Biofuturo. Segundo a Folha apurou com representantes brasileiros, a conversa terminou em total desentendimento. A Alemanha –que lidera investimentos em energia solar e está desativando suas usinas de carvão– não se comprometeria com fontes energéticas que ameaçam a segurança alimentar. O debate dos biocombustíveis ficou marcado, desde 2008, pela controvérsia da competição do uso da terra com a produção de alimentos. Na época, o Brasil já era reconhecido como privilegiado por conseguir produzir biocombustível em larga escala sem prejudicar as perspectivas da produção de alimentos –graças à cana-de-açúcar, e à quantidade de terras agricultáveis. Agora, em vez de tentar colocar o Brasil na posição de fornecedor de etanol para o mundo, o país quer incentivar outros a produzir biocombustíveis, o que aumentaria investimentos e criaria um mercado no qual o Brasil largaria como líder. Para ONGs internacionais, a aposta em biocombustíveis para substituição de energias fósseis ainda é polêmica. Na semana passada, a União Europeia recebeu das ONGs na COP-22 o troféu ""Fóssil do Dia"" devido aos planos relacionados a biocombustíveis anunciados pelo bloco. Na proposta brasileira, o que permitiria a outros países produzirem energia a partir de biomassa seria o chamado biocombustível de segunda geração: uma tecnologia que permite a produção a partir dos resíduos de cultivos, aproveitando partes da produção que seriam antes descartadas. Hoje, o Brasil tem potencial de produzir anualmente 5 bilhões de litros de biocombustíveis de segunda geração (e 30 bilhões de litros ""convencionais""). Para bater a meta do Acordo de Paris, o país precisa chegar a 50 bilhões de litros, elevando a participação do etanol para 18% na composição da matriz energética. Sob o argumento de que o setor de transportes, um dos que mais emitem no mundo, precisa de soluções imediatas para a transição energética; o governo parece ignorar uma tendência já em curso : a dos carros elétricos. ''Eles já contam com uma tecnologia estabelecida e é uma questão de tempo para que o preço se torne competitivo no mercado'', avalia Tasso Azevedo, coordenador do Sistema de Estimativa de Emissões de Gases Estufa do Observatório do Clima. Segundo ele, hoje já temos 1 milhão de carros elétricos rodando pelo mundo e países planejam eletrificar toda sua frota - a Alemanha, por exemplo, quer extinguir o motor a combustão até 2040. Para Tasso, a tendência fica clara quando comparamos com a transição para o motor flex (que permite álcool e gasolina) no Brasil. ''Em uma década, a frota flex saiu do zero para representar 65% da frota circulante no país'', aponta Tasso, estimando que em 15 anos o mesmo deve acontecer com os carros elétricos. Por outro lado, um ramo dos transportes que ainda não tem solução de baixo carbono é o da aviação civil. O Ministério de Minas e Energia deve apresentar em 2017 um plano para incentivar o desenvolvimento de biodisel para aviões. O desafio ainda é o preço, até 30% mais caro que o combustível convencional. - Brasil quer ampliar uso de biocombustíveis no mundo Biofuturo > É o nome da iniciativa assinada por mais de 20 países (como China e Índia, EUA e Dinamarca) e que quer garantir incentivos à produção e uso de biocombustíveis para transportes Argumentos > Combustíveis baseados em cana-de-açúcar, emitem menos CO2 que os fósseis. Atualmente é possível aproveitar bagaço e fibras no processo. É o chamado combustível de segunda geração Críticas > A tendência mundial é apostar na energia elétrica para veículos > Na mesma área onde é plantada a cana, poderiam ser plantados alimentos Aviação > Não existe ainda uma proposta de redução de emissões causadas pela queima de querosene de aviação, responsável por 1,5% do total das emissões globais (cerca de metade de toda a produção brasileira)",ambiente
Estudo aponta falsos apelos ambientais em produtos brasileiros,"Amigo do meio ambiente, biodegradável, sustentável. Oito em cada dez produtos ""verdes"" encontrados no varejo apresentam declarações vagas, sem informações concretas sobre o benefício ambiental anunciado. É o que mostra a pesquisa Greenwashing no Brasil: Um Estudo sobre os Apelos Ambientais nos Rótulos dos Produtos, realizada pelo instituto de pesquisas Market Analysis. O ""greenwashing"", expressão que significa ""maquiagem verde"", ocorre quando o marketing exalta os atributos ambientais de um item, sem que isso ocorra de fato. A pesquisa, em sua segunda edição, analisa produtos que trazem certificações ou apelos de sustentabilidade nas embalagens e mostra que o apelo verde tem crescido no Brasil. Entre 2010 e 2014, a quantidade de produtos ""amigos do meio ambiente"" cresceu 478%, saltando de 408 mercadorias para 2.358. ""O problema é que apenas 15% dos selos estampados nos produtos possuem alguma certificação ou endosso de terceira parte confirmando benefícios ambientais. A grande maioria é autodeclaratória, criada pelas próprias empresas com objetivos de marketing"", diz Fabián Echegaray, coordenador do estudo.",ambiente
"Com altura de prédio de 6 andares, maior onda da história é registrada","A onda mais alta da história foi registrada por uma boia no Atlântico Norte. Com 19 metros de altura, ela surgiu entre a Islândia e o Reino Unido, na costa das Ilhas Hébridas Exteriores, também conhecidas como Ilhas Ocidentais, situadas no noroeste da Escócia. O fenômeno se formou depois da chegada de uma forte frente fria, com ventos de mais de 80 quilômetros por hora, no dia 4 de fevereiro de 2013. É, segundo a Organização Meteorológica Mundial (OMM), um novo recorde para uma onda oceânica. Um comitê de especialistas da OMM –que é um organismo das Nações Unidas– ratificou esse novo recorde somente agora. A marca anterior era de uma onda de 18,275 metros de altura registrada em dezembro de 2007, também no Atlântico Norte. ""É a primeira vez que se mede uma onda de 19 metros. Trata-se de um recorde notável"", disse o subsecretário-geral da OMM, Zhang Wenjian. Não seria, porém, a maior onda do mundo. Em 2002, um navio avistou uma onda de 29 metros no mesmo oceano. Mas não houve medições ratificadas pela organização. A altura de uma onda é medida da sua crista até a base da que a sucede. SISTEMA DE BOIAS A boia que fez o registro é parte da rede de Estações Meteorológicas Marinhas Automáticas, do UK Met Office –o Escritório de Meteorologia do Reino Unido. Chamada de K5, essa boia fica na costa das Hébridas Exteriores. Esse tipo de equipamento complementa as medições feitas por navios e satélites que monitoram as previsões meteorológicas em alto-mar. As ondas gigantes frequentemente ocorrem no Atlântico Norte, cujas águas se estendem da costa do Canadá ao sul da Islândia e ao oeste do Reino Unido. De acordo com a OMM, no inverno a circulação dos ventos e os sistemas de baixa pressão atmosférica causam tempestades ou ciclones extratropicais. O fenômeno contribui para o equilíbrio térmico das regiões equatoriais e das regiões polares.",ambiente
Estudo aponta morte de 35% da Grande Barreira de Corais da Austrália,"Cientistas afirmaram nesta segunda-feira (30) que ao menos 35% dos corais das zonas norte e centro da Grande Barreira de Corais da Austrália morreram ou estão morrendo em decorrência de um grave branqueamento devido às mudanças climáticas. O fato foi observado por especialistas após meses de vigilância aérea e submarina do maior recife de coral do mundo, que sofreu fortemente em março com o aquecimento da água. Formada há dezenas de milhões de anos, quando a Austrália se separou do supercontinente Gondwana e se deslocou para o norte, a Grande Barreira compreende 3.000 recifes e mais de mil ilhas, que se estendem ao longo de 2.000 quilômetros, e abriga 400 tipos de coral, 1.500 espécies de peixes e 4.000 variedades de moluscos. O professor Terry Hughes, especialista em recifes de coral da Universidade James Cook de Townsville (nordeste), no Estado australiano de Queensland, afirmou que o aquecimento global está devastando um dos lugares mais emblemáticos da Austrália. ""Descobrimos que, em média, 35% dos corais morreram ou estão morrendo em 84 recifes que estudamos nas zonas norte e centro da Grande Barreira, entre Townsville e Papua Nova Guiné"", alertou, em um comunicado, assinado por três grandes universidades. ""É a terceira vez em 18 anos que a Grande Barreira de Corais vive um episódio grave de branqueamento devido às mudanças climáticas, e o episódio atual é mais extremo que os constatados no passado"", diz a nota. É necessária ao menos uma década para que os corais se recuperem, ""mas levará muito mais tempo para recuperar os corais maiores e mais antigos que morreram"", acrescentam os cientistas. O aumento da temperatura da água provoca a expulsão das algas simbióticas que fornecem cor e alimento aos corais. Se a água esfriar, os recifes podem se recuperar, mas se o fenômeno persistir correm o risco de morrer. UNESCO A Unesco esteve prestes a incluir este local, que integra o Patrimônio da Humanidade desde 1981 e se estende sobre 345 mil quilômetros quadrados, na lista de Patrimônio em Perigo pelo impacto do desenvolvimento da zona litorânea no ecossistema, a qualidade das águas e a saúde dos corais. Um porta-voz do ministério australiano do Ambiente, Greg Hunt, havia declarado em meados de maio que o governo tentava ""mais do que nunca"" proteger este recife. Na semana passada, foi revelado que Canberra atuou para que todas as referências à Austrália, incluindo a Grande Barreira de Corais, sejam retiradas de um relatório da ONU sobre as consequências do aquecimento global em locais inscritos como Patrimônio da Humanidade. Canberra alegou que comentários negativos impactam no turismo, o que provocou a indignação de ativistas, que acusaram o governo de ""enganar os australianos no que se refere às ameaças graves para o futuro da nossa maior maravilha natural"". A Grande Barreira é ameaçada pelo aquecimento global, os dejetos agrícolas, o desenvolvimento econômico e a proliferação de acanthasters, estrelas de mar com espinhos que destroem os corais.",ambiente
COP22 pede 'compromisso político máximo' contra mudanças climáticas,"A comunidade internacional pediu nesta quinta-feira um ""compromisso político máximo"" contra o aquecimento global, em um documento divulgado na véspera do encerramento da Conferência do Clima da ONU em Marrakech (COP22), marcada pela eleição do cético das mudanças climáticas Donald Trump para a Casa Branca. ""Nós, chefes de Estado, de governo, e delegações reunidas em Marrakech [...] apelamos ao compromisso político máximo para lutar contra as mudanças climáticas, uma prioridade urgente"", declararam os 196 países presentes na reunião. O impulso contra as mudanças climáticas é ""irreversível"" após o Acordo de Paris de 2015, afirmaram os governantes e ministros que assinam o documento, intitulado ""Proclamação de Marrakech"". As mudanças climáticas, um fenômeno de consequências imprevisíveis para a natureza e os humanos, são consideradas um ""mito"" por Trump, que durante a campanha à Presidência dos Estados Unidos disse que estava disposto a retirar o país do Acordo de Paris. O Acordo entrou em vigor há pouco mais de um mês, após a ratificação dos grandes emissores de gases de efeito estufa, entre eles os dois maiores responsáveis: Estados Unidos e China. A ameaça de retirada dos Estados Unidos agitou as negociações em Marrakech. Se o país optar por abandonar o pacto histórico, este processo levaria cerca de três anos para ser concluído. Os países compareceram à cidade marroquina decididos a dar início à trabalhosa implementação do Acordo, que deve começar a ser aplicado a partir de 2020. Os governos, os cientistas e as empresas precisam de um ""manual de instruções"" do Acordo de Paris para planejar a urgente luta contra o aquecimento do planeta que, segundo os especialistas, não deve ultrapassar o limite de +2ºC, caso contrário, as consequências seriam dramáticas. ""Este ano presenciamos um impulso extraordinário contra as mudanças climáticas no mundo todo. Esse impulso é irreversível"", insistiram os negociadores. A COP22 terminará na sexta-feira, após cerca de duas semanas de negociações para começar a delinear o conteúdo da ajuda financeira e da transferência de tecnologia aos países menos desenvolvidos, do controle mútuo das emissões e das políticas ambientais. ""Pedimos uma solidariedade clara com os países mais vulneráveis ao impacto das mudanças climáticas"", acrescentaram. Os países ricos reafirmaram seu compromisso com a ajuda financeira de 100 bilhões de dólares anuais para os países pobres, em fundos públicos e privados, a partir de 2020. TERREMOTO NAS NEGOCIAÇÕES A saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris provocaria um terremoto nas já complicadas negociações sobre o clima. A comunidade internacional trabalhou durante mais de uma década para chegar ao pacto histórico. A medida não seria, porém, sem precedentes. O Protocolo de Quioto de luta contra as mudanças climáticas, que entrou em vigor em 2005, nunca foi ratificado por Washington, sob a presidência de outro republicano, George W. Bush. Os Estados Unidos tinham prometido, por outro lado, três bilhões de dólares para o Fundo Verde para ajudar projetos ambientais em países em desenvolvimento ou pobres. Até o momento, só repassou US$ 500 milhões, e uma retirada também seria um duro golpe para esses investimentos. O orçamento da própria Convenção da ONU sobre as mudanças climáticas, que organiza as conferências das partes signatárias dos tratados (COP), depende parcialmente de Washington. Trump não se expressou publicamente desde sua eleição sobre a questão climática. Meios de comunicação americanos e ativistas apontam, porém, que Trump nomeou Myron Ebell, um conhecido cético do aquecimento global, para dirigir a Agência de Proteção do Meio Ambiente (EPA). Os céticos das mudanças climáticas consideram que o aquecimento do planeta não é tão grave como apontam os cientistas, que pode se tratar de uma fase como as que o planeta já experimentou em épocas passadas, e que, de qualquer forma, os avanços tecnológicos poderão resolver o desafio. Os presentes na COP de Marrakesh consideram o impulso político imprescindível. ""Em termos da vontade de avançar dos países"", as eleições americanas ""na realidade representaram um catalizador"", avaliou o americano Alden Meyer, da União de cientistas preocupados. ""Os países, um após o outro, disseram que têm a intenção de ficar no Acordo de Paris independente do que façam os Estados Unidos"", acrescentou. Os defensores da luta contra as mudanças climáticas expressam também a esperança de que o novo governo republicano se dê conta das oportunidades de negócio do Acordo de Paris. ""Não pode haver volta atrás nos compromissos dos países desenvolvidos e não se pode tentar renegociar os termos do Acordo alcançado em Paris. Cada parte deverá assumir suas responsabilidades"", advertiram em um comunicado conjunto Brasil, China, Índia e África do Sul.",ambiente
Voltar atrás no caso da Renca não salva governo de novos desgastes,"O presidente Michel Temer preferiu revogar seu decreto que em 22 de agosto extinguiu a Renca (Reserva Nacional do Cobre e Associados) do que correr o risco de esse ato ser invalidado na marra pelo Senado. Já estava na pauta de votações da Casa um projeto do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) para sustar o ato presidencial. Na semana passada, antes de viajar para a reunião das Nações Unidas em Nova York, Temer foi avisado pelo presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), de que não seria possível protelar indefinidamente a votação da proposta de Rodrigues. A pressão também veio da Câmara dos Deputados. Três dias após o decreto de extinção da Renca, o deputado Ricardo Trípoli (SP), assinando como líder do PSDB, pediu a revogação do ato de Temer em ofício ao ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha. O deputado tucano argumentou que a revogação conduziria a uma situação de ""fato consumado"" que fragilizaria, nos 46.450 km2 da Renca entre os estados do Pará e do Amapá, a proteção estabelecida para as unidades de conservação federais e estaduais sobrepostas parcial ou integralmente à reserva mineral. Engrossada por artistas e celebridades, a pressão veio também de cientistas. No dia 4, a SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) afirmou em carta a Temer que a extinção da Renca ""não soluciona os impactos negativos da estratégia imediatista de permitir a exploração mineral na região antes protegida"". Mesmo após Temer ter evitado o confronto com o Legislativo e atenuado seu desgaste político com vários segmentos da sociedade, a revogação abrirá um enfrentamento para o governo com o setor da mineração. As pressões das empresas interessadas na exploração das jazidas da Renca e que haviam levado o Executivo a extinguir a reserva são as mesmas que induziram o ministro das Minas e Energia, Fernando Coelho Filho, a defender o polêmico decreto de agosto em um fórum de empresários em Nova York, na semana passada. Reativada agora, para contragosto das empresas mineradoras que reivindicaram sua extinção, a Renca voltará a proporcionar a proteção ambiental indireta que passou a exercer, desde a criação da reserva mineral no final do regime militar, em 1984, mesmo não sendo uma unidade de conservação. Com a reabilitação da reserva, a pesquisa para exploração mineral em sua área volta a ser monopólio da União por meio da estatal CPRM (Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais), do MME (Ministério das Minas e Energia). Como resultado dessa burocracia, dos 421 pedidos de autorização de pesquisa desde a criação da Renca, 272 foram negados e os restantes 149 tiveram homologações de desistência. A extinção da reserva mineral trouxe também desgastes entre órgãos do próprio governo, especialmente entre o MME e o MMA (Ministério do Meio Ambiente), comandado pelo ministro Sarney Filho (PV-MA). A apreensão no MMA surgiu em abril, quando o governo anunciou oficialmente sua intenção de acabar com essa reserva mineral. Por meio de portaria no ""Diário Oficial da União"", o ministro Coelho Filho determinou o indeferimento de todos os requerimentos relativos à Renca pendentes de decisão e divulgou que a proposta de decreto de extinção seria enviada ao presidente. A notícia alertou o MMA, cujos técnicos rapidamente previram que a extinção da reserva mineral seria uma espécie de ""sinal de largada"" para a demanda reprimida da exploração na região, onde há jazidas de cobre, ouro, diamante, ferro, cromo, tântalo, estanho, molibdênio, cobalto e nióbio. Em nota técnica enviada em junho para a Consultoria Jurídica do MMA, quatro dirigentes do ICMBio (Instituto Chico Mendes para a Conservação da Biodiversidade) ressaltaram a existência de 8.892 títulos minerários em junho deste ano, de acordo com dados do DNPM (Departamento Nacional da Produção Mineral), do MME. A nota foi enviada para o governo e não teve resposta. O jornalista MAURÍCIO TUFFANI é editor do site Direto da Ciência.",ambiente
"Renca foi extinta sem considerar as implicações, diz biólogo americano","Para o americano Thomas Lovejoy, renomado pesquisador da área da biodiversidade, a assinatura presidencial que extinguiu a Renca (Reserva Nacional do Cobre e Associados), localizada entre o Amapá e o Pará, ""foi um movimento feito sem a devida consideração"". A decisão do governo foi suspensa nesta quinta-feira (31) após forte pressão de ambientalistas, para quem a área ajuda a proteger espécies amazônicas. ""Quando você já tem 20% de área desmatada, qualquer desmatamento é um problema"", diz Lovejoy, que esteve pela primeira vez na Amazônia em 1965, ainda recém-formado pela Universidade Yale. Desde então, escreveu uma série de trabalhos sobre a floresta, incluindo um ensaio sobre os riscos criados pela construção da Transamazônica. Lovejoy esteve no Rio esta semana para um evento sobre infraestrutura sustentável e propôs, em entrevista à Folha, a criação de um comitê com participação do governo, do setor privado e da sociedade civil para pensar a exploração mineral em áreas sensíveis e em como mitigar seus impactos. * Como vê a abertura da Renca para a exploração mineral? O governo, na prática, tem o direito legal de abrir a área, mas o fez sem qualquer consulta. Basicamente, foi apenas uma assinatura, não houve discussão nem mesmo com o Ministério do Meio Ambiente. Então, foi um movimento feito sem a devida consideração. Eu acredito que seja necessária uma nova abordagem sobre o setor mineral como um todo, uma espécie de comitê nacional de mineração para pensar isso. Seria formado por governo, setor privado e sociedade civil, com o objetivo de pensar em como extrair minerais em áreas sensíveis do ponto de vista ambiental e social. Como isso poderia ser feito? Há um exemplo de abordagem como essa em uma mina da Alcoa, chamada Juriti, perto de Santarém, onde eles fizeram toda a restauração da floresta imediatamente depois de retirarem o veio de ouro. Deu resultados? Sim, eu estive lá e está funcionando. Não é a floresta antiga, mas é uma floresta tropical. É mais simples, em termos de biodiversidade, mas é uma floresta suficiente. Um dos problemas da mineração são as estradas e o que elas trazem –uma inesperada atividade econômica, desmatamento. Isso tem que ser gerenciado. No meu ponto de vista, uma vez que a mina seja concluída, a estrada deverá ser removida. Mas isso funciona? Há alguma experiência global? Não necessariamente com minas, mas há uma operação de gás na Amazônia peruana, Camisea, que foi desenvolvida em modelo semelhante a Urucu (campo de gás da Petrobras no AM). Logo que os poços começaram a produzir, eles foram conectados por gasodutos subterrâneos, com a floresta em cima, e há pouco impacto. Mas a mineração demanda logística de transporte. Seria possível adotar esse modelo? A mineração precisa de transporte, mas também precisamos de minas funcionando. Para fazer dar certo, eu colocaria no contrato uma obrigação de restaurar a floresta quando acabar a operação. Qual a importância da área da Renca para a biodiversidade na Amazônia? É uma região importante para a biodiversidade, sem dúvida, já que a Amazônia é diferente de uma área para a outra. E ela fica no Amapá, um Estado que se orgulha de ter 70% de área protegida. Quero dizer, é uma área especial. Do ponto de vista hidrológico, não saberia dizer o papel dela. Provavelmente não é tão importante quanto o sul do Pará. A questão é que, quando você já tem perto de 20% da área desmatada, qualquer desmatamento é um problema. O sr. espera alguma reação da comunidade internacional, como a suspensão de financiamentos, por exemplo? Sim. Já estou ouvindo muitas preocupações. Do ponto de vista interno, o risco do Brasil, a curto e médio prazo, é que haja impacto nas chuvas da região Sul. Do ponto de vista internacional, há muito dinheiro de fora para proteger a Amazônia. Você já viu o que a Noruega fez (em junho, o país cortou R$ 166,5 milhões de ajuda ao Brasil por causa do aumento do desmatamento). A Noruega não está feliz. O sr. citou o sul do Pará. Qual a sua visão sobre a situação da Floresta Nacional do Jamaxim (que correr risco de perder área após proposta do governo para licenciar uma ferrovia)? Eu faria de uma maneira diferente. Eu colocaria a ferrovia bem no meio da BR-162. É apenas uma questão de alterar o projeto. Porque a rota já está aberta? Isso. Agora, assumindo que uma rodovia seja realmente necessária, há outras maneiras de fazê-la. Poderia ser uma rodovia elevada, como a que vimos aqui hoje (refere-se a apresentação sobre a Nova Imigrantes feita no evento). Alguém já pensou em um jeito de fazer isso. O governo vem tomando medidas com pouca discussão e cedendo a pressões ruralistas. O problema com as pressões ruralistas para criar mais desmatamento na Amazônia é que isso vai impactar a agricultura no Sul do Brasil. Veja isso [mostra em seu celular uma imagem do fluxo de umidade da Amazônia para o Centro-Sul]: não é igual em todos os meses do ano, mas a importância da unidade da Amazônia para o Sul do Brasil está ficando mais forte ao longo dos anos. E agora sabemos o suficiente para dizer que o desmatamento foi uma contribuição decisiva para a seca em São Paulo. Quer dizer que a pressão ruralista na Amazônia está ajudando a matar seu próprio negócio no Centro-Sul? É isso. E, basicamente, a ambição da agricultura brasileira em se tornar responsável por 10% da oferta de alimentos do mundo depende totalmente da floresta tropical.",ambiente
Antártida ganha a maior reserva marinha do mundo,"Depois de anos de tentativas, finalmente o Mar de Ross foi oficializado como uma reserva marítima, a maior do mundo. A área, agora protegida, possui 1,55 milhão de km². Destes, 1,22 milhão são zonas de exclusão de pesca, onde a atividade não pode ser desenvolvida. A área total equivale a aproximadamente os territórios de Reino Unido, França e Alemanha. O Mar de Ross, localizado na Antártida, em uma baía no Oceano Pacífico, tem uma significativa importância. É tido como o ""último oceano"", por ser considerado o último ecossistema marinho intacto no planeta, sem contaminação, pesca em excesso ou espécies invasoras. O acordo foi firmado nesta sexta (28) pela CCRVMA (Comissão para a Conservação dos Recursos Vivos Marinhos Antárticos). O consenso unânime é necessário para qualquer decisão na comissão, composta por 25 países. A tentativa de criação da reserva começou em 2012, por iniciativa dos EUA e da Nova Zelândia. Cinco tentativas foram necessárias até o sucesso. Somente a Rússia permanecia em desacordo quanto à área protegida, por preocupação quanto aos direitos de pesca. A China só passou a apoiar o santuário em 2015. ""Pela primeira vez, os países superaram suas divergências para proteger uma grande área do oceano austral e águas internacionais"", comemorou Mike Walker, diretor da organização Antarctic Ocean Alliance. Pequenas quantidades de pesca para fins científicos serão permitidas na áreas protegidas. No oceano antártico, que representa 15% da superfície dos oceanos, há ecossistemas excepcionais, que contêm mais de 10 mil espécies únicas, muitas delas preservadas das atividades humanas, mas ameaçadas pelo desenvolvimento da pesca e da navegação. Andrea Kavanagh, diretora para a Antártida da organização The Pew Charitable Trusts, espera que esse seja o primeiro passo para a criação de uma rede de reservas marinhas no mundo. As nações já começaram a considerar propostas para transformar o Mar de Weddell e o leste da Antártida em áreas protegidas. O Mar de Ross foi batizado em homenagem ao britânico James Ross, que explorou também a região do Ártico. O acordo entra em vigor em dezembro de 2017 e será válido por 35 anos na zona de proibição de pesca. Encerrado esse período, os países membros da CCRVMA devem decidir por unanimidade a prorrogação da reserva, algo que não deverá ser fácil, tendo em vista as dificuldades observadas no passado para obter avanços nas negociações. Além do Brasil, os países que integram a convenção são Argentina, Austrália, Bélgica, Bulgária, Canadá, Chile, China, Ilhas Cook, Finlândia, França, Alemanha, Grécia, Índia, Itália, Japão, Coreia do Sul, Ilhas Maurício, Namíbia, Holanda, Nova Zelândia, Noruega, Paquistão, Panamá, Peru, Polônia, Rússia, África do Sul, Espanha, Suécia, Ucrânia, Reino Unido, Estados Unidos, Uruguai e Vanuatu.",ambiente
Agência Lupa: Trump erra ao anunciar saída do Acordo de Paris,"Checadores americanos colocaram à prova diversas frases do discurso feito pelo presidente dos EUA na quinta-feira, quando Donald Trump anunciou a saída dos EUA do Acordo de Paris, que visa limitar o aquecimento global. Veja os trechos analisados: * ""Os EUA se retiram do Acordo de Paris, mas iniciarão negociações para voltar"" FALSO - Em seu discurso, Trump fala sobre a possibilidade de renegociar a adesão americana ao Acordo de Paris em termos que sejam mais vantajosos para os cidadãos e as empresas americanas. A ONU, no entanto, não demorou para se posicionar sobre isso e dizer que não é possível fazer qualquer renegociação a partir do pedido de um único país. Além disso, em um comunicado conjunto, a chanceler alemã Angela Merkel, o presidente francês Emmanuel Macron e o primeiro ministro italiano Paolo Gentiloni seguiram a mesma linha: ""Consideramos que o momento gerado em Paris em dezembro de 2015 é irreversível e acreditamos firmemente que o acordo de Paris não pode ser renegociado, pois é um instrumento vital para nosso planeta, nossas sociedades e economias"". * ""Se o Acordo de Paris fosse implementado e todos os países cumprissem [o que está escrito], estima-se que a redução da temperatura mundial para 2100 seria de somente 0,2°C"" FALSO - O objetivo do Acordo de Paris não é reduzir a temperatura média global. É reduzir as emissões de gases de efeito estufa para que ela não aumente mais de 2°C em relação ao que se registrava na Terra na era pré-industrial. Os signatários do acordo se esforçam, no entanto, para limitar esse aumento a um máximo de 1,5°C. * ""Eu, como alguém que se preocupa profundamente com o meio ambiente, não posso, com a consciência tranquila, apoiar um projeto que castiga os Estados Unidos"" CONTRADITÓRIO - O presidente Donald Trump eliminou todas as referências ao tema aquecimento global do site da Casa Branca. Pediu que fosse reduzido em um terço o orçamento da Agência de Proteção Ambiental (EPA, em inglês). Prometeu à indústria automobilística que aliviaria as exigências ambientais impostas a seus produtos. E, logo depois de sua posse, autorizou a construção de oleodutos que tinham sido vetados por seu antecessor, Barack Obama, por riscos ambientais de contaminação de lençóis d'água e rios da região. Em seu Twitter, Trump disse que o aquecimento global ""foi criado por e para os chineses para tornar a indústria norte-americana menos competitiva"". * ""Vou trabalhar para garantir que os EUA continuem sendo o líder mundial em questões ambientais"" FALSO - Em 2016, a Universidade de Yale publicou um estudo que classifica o desempenho dos países segundo a maneira como eles protegem a saúde de seus cidadãos, seus ecossistemas e seus recursos naturais. Nele, os EUA apareceram em 26º lugar, atrás de países como a Finlândia (que ocupa a primeira posição), da Espanha (que fica em sexto), da França (10º) e Cingapura (14º). Vale ressaltar que os EUA são hoje o segundo maior emissor de gás carbônico do mundo, atrás apenas da China.",ambiente
Exploração ilegal de diamante se expande em Rondônia,"Responsável por mortes e destruição ambiental em território dos índios cinta-larga, o garimpo de diamantes ganhou uma nova frente na vizinha Terra Indígena Sete de Setembro, dos paiter-suruís. A invasão coloca em risco uma das principais referências de gestão territorial da Amazônia. Nesta quarta-feira (16), agentes do GEF (Grupo Especializado de Fiscalização) do Ibama tentaram desmontar um dos principais focos de garimpo da Sete de Setembro, situada entre os Estados de Rondônia e Mato Grosso, mas foram impedidos por paiter-suruís aliciados por garimpeiros. Imagens da operação mostram que os indígenas ameaçaram entrar em confronto com os agentes, que só conseguiram queimar uma das pelo menos cinco escavadeiras no local. A um custo de R$ 500 mil por unidade, é o equipamento mais caro do garimpo. O garimpo do diamante começou no início dos anos 2000 nas terras dos cinta-larga, onde continua até hoje, também com aliciamento de indígenas. A região é considerada uma das maiores jazidas do mundo. O auge da exploração ocorreu em 2004, quando havia cerca de 5.000 não-índios no local. Naquele ano, os cinta-larga mataram 29 deles, provocando uma interrupção temporária. Contrário à atividade, o cacique Almir Suruí diz que os primeiros diamantes foram encontrados neste ano, aumentando a invasão na 7 de Setembro –desde 2014, havia começado o garimpo ilegal de ouro dentro da terra indígena. ""Isso traz impactos ambientais e sociais e também cria uma briga interna muito grande. Explorar ilegalmente só traz prejuízo"", afirma Almir, 42, uma das lideranças indígenas mais reconhecidas no Brasil. Sob o comando de Almir, os paiter-suruís, contactados pelo branco em 1969, se tornaram o primeiro povo indígena do mundo a vender créditos de carbono, cujo dinheiro financia projetos como plantações de banana e extração do babaçu. Almir também negociou um acordo com o Google para monitorar a terra indígena por meio de georreferenciamento –ferramenta usada pelo Ibama no planejamento da operação. Para ele, a atividade ilegal dentro da terra indígena ""tira autonomia e deixa os indígenas reféns dos madeireiros e dos garimpeiros"". Na sexta-feira (18), a Polícia Federal, o Ministério Público Federal e a Funai fizeram uma reunião em Cacoal (RO) com lideranças indígenas envolvidas com garimpo para tentar convencê-las a abandonar a atividade. ""Queremos atuar de forma pacífica e coibir o garimpo ilegal sem o risco elevado de confronto dos indígenas"", disse o superintendente da PF em Rondônia, Araquém Alencar. O jornalista viajou de Ji-Paraná (RO) até as terras indígenas a convite do Ibama",ambiente
Iceberg gigante ameaça se desprender da Antártida e gera preocupação,"Um gigantesco iceberg –que seria um dos dez maiores do mundo– pode se desprender a qualquer momento da Antártida, dizem cientistas. Uma imensa rachadura na plataforma de gelo Larsen C cresceu de tal forma em dezembro que agora apenas 20 km de gelo impedem o imenso bloco de 5 mil km² (o equivalente a 500 mil campos de futebol ou à área do Distrito Federal) de se soltar. A Larsen C é a maior plataforma de gelo no norte da Antártida. As plataformas de gelo são as porções da Antártida onde a camada de gelo está sobre o oceano e não sobre a terra. Cientistas do País de Gales afirmam que o desprendimento do iceberg pode deixar toda a plataforma Larsen C vulnerável a uma ruptura futura. A plataforma tem espessura de 350 m e está localizada na ponta do oeste da Antártida, impedindo a dissipação do gelo. Os pesquisadores vêm acompanhando a rachadura na Larsen C por muitos anos. Recentemente, porém, eles passaram a observá-la mais atentamente por causa de colapsos das plataformas de gelo Larsen A, em 1995, e Larsen B, em 2002. No ano passado, cientistas britânicos afirmaram que a rachadura na Larsen C estava aumentando rapidamente. Mas, em dezembro, o ritmo avançou a patamares nunca antes vistos, avançando 18 km em duas semanas. Dessa forma, segundo os pesquisadores, o que se tornará um gigantesco iceberg está por um triz de se soltar –apenas 20 km o prendem à plataforma. ""Se o iceberg não se desprender nos próximos meses, ficarei espantado"", diz à BBC Adrian Luckman, da Universidade de Swansea, no País de Gales, responsável pela pesquisa. ""As imagens não são completamente visíveis, mas conseguimos usar um sistema para verificar a extensão do problema. O iceberg está a tal ponto de se soltar que considero que isso seja inevitável"", acrescenta ele. Luckman afirma que a área que deve se romper possui 5 mil km², o que resultaria num dos dez maiores icebergs já registrados no mundo. AQUECIMENTO GLOBAL Os cientistas dizem, no entanto, que o fenômeno é geográfico e não climático. A rachadura existe por décadas, mas cresceu durante um período específico. Eles acreditam que o aquecimento global tenha antecipado a provável ruptura do iceberg, mas não têm evidências suficientes para embasar essa teoria. No entanto, permanecem preocupados sobre o impacto do desprendimento desse iceberg do restante da plataforma de gelo, já que a ruptura da Larsen B em 2002 aconteceu de forma muito semelhante. ""Estamos convencidos, ao contrário de outros, de que o restante da plataforma de gelo ficará menos estável do que a atual"", diz Luckman. ""Esperamos que nos próximos meses e anos aconteçam novas rupturas, e talvez um eventual colapso, mas isso é uma coisa muito difícil de prever"". ""Nossos modelos indicam que a plataforma ficará menos estável, mas não que desmoronará imediatamente ou qualquer coisa do tipo"", acrescenta. Como vai flutuar no mar, o iceberg não vai aumentar o nível dos mares. Mas novas rupturas na plataforma podem acabar dando origem a geleiras que se desprenderiam em direção ao oceano. Uma vez que esse gelo não seria flutuante, o nível dos mares seria afetado. Segundo estimativas, se todo o gelo da Larsen C derreter, o nível dos mares aumentaria cerca de 10 cm. Há poucas certezas absolutas, contudo, sobre uma mudança iminente no contorno da Antártida. ""As prováveis consequências podem ser o colapso da plataforma nos próximos anos ou décadas"", prevê Luckman. ""Ainda que o impacto imediato não atinja os mares, trata-se de um grande evento geográfico que mudará a paisagem do continente gelado"", acrescenta.",ambiente
Boa parte da Grande Barreira de Corais da Austrália está morta,"A Grande Barreira de Coral australiana é há muito uma das mais deslumbrantes maravilhas naturais do planeta, enorme a ponto de ser visível do espaço, e bela a ponto de levar visitantes às lágrimas. Mas a barreira e a profusão de criaturas marinhas que vivem em suas redondezas estão em sérias dificuldades. Imensas seções da Grande Barreira de Coral, ao longo de centenas de quilômetros de sua porção norte, que ocupa águas mais cristalinas, foram recentemente classificadas como mortas, por conta de um superaquecimento da água do mar no ano passado. Seções mais meridionais, mais ou menos no meio da barreira, mal escaparam ao destino das poções setentrionais e agora estão passando por branqueamento, o que pode prenunciar novas mortes que privariam algumas das áreas mais visitadas da Grande Barreira de suas cores e formas de vida. ""Não esperávamos ver esse nível de destruição na Grande Barreira de Coral por pelo menos mais 30 anos"", disse Terry Hughes, diretor de um centro financiado pelo governo australiano para o estudo de recifes de coral, na Universidade James Cook, e autor de um estudo sobre a Grande Barreira que saiu quinta-feira como matéria de capa da revista ""Nature"". ""No norte, vi centenas de recifes - literalmente dois terços dos recifes estavam morrendo, e agora estão mortos"". Os danos à Grande Barreira de Coral, uma das maiores estruturas vivas do planeta, são parte de uma calamidade mundial que vem se desenrolando intermitentemente há quase duas décadas e parece estar se intensificando. No estudo, dezenas de cientistas descreveram o recente desastre como o terceiro episódio de branqueamento em massa de recifes de coral desde 1998, e de longe o mais extenso e mais destrutivo deles. O estado dos recifes de coral é um indicador quanto à saúde dos mares. Seus problemas e morte são ainda mais um sinal dos estragos causados pela mudança do clima. Se a maioria dos recifes de coral do planeta morrerem, algo que os cientistas temem ser cada vez mais provável, a vida mais rica e colorida do oceano pode ser perdida, em companhia das grandes somas que o turismo nas barreiras de coral gera. Em países mais pobres, há vidas em jogo. Centenas de milhões de pessoas obtêm suas proteínas principalmente de peixes que vivem nas barreiras, e a perda dessa fonte de alimento pode criar uma crise humanitária. Com o mais recente episódio de branqueamento chegando ao seu terceiro ano, os cientistas dizem não ter dúvida sobre a causa. Eles alertaram décadas atrás que os recifes de coral estariam em risco caso a sociedade humana continuasse a queimar combustíveis fósseis em ritmo descontrolado, liberando gases causadores do efeito-estufa que geram aquecimento do oceano. As emissões continuaram a crescer, e agora a temperatura básica do oceano é alta o bastante para que qualquer pico temporário represente risco crítico para os recifes. ""A mudança do clima não é uma ameaça futura"", disse o professor Hughes. ""Na Grande Barreira da Austrália, a ameaça se concretizou há 18 anos"". Os corais requerem água morna para prosperar, mas são extremamente sensíveis a calor acima do necessário. Um ou dois graus de calor excessivo podem matar as minúsculas criaturas. Do final do século 19 para cá, a temperatura do oceano subiu em pouco menos de um grau, sob uma estimativa conservadora, e nos trópicos, que abrigam muitos dos recifes de corais, a elevação foi um pouco maior. O padrão climático El Niño, que atingiu um pico em 2016 e causou alta temporária na temperatura de superfície de boa parte do planeta, também contribuiu, causando o ano mais quente no registro histórico, iniciado em 1880. Ficou evidente no ano passado que era provável que os corais de muitos recifes morressem, mas agora as avaliações científicas formais estão chegando. O estudo publicado pela ""Nature"" documenta vasto branqueamento de recifes em 2016, ao longo de uma seção de 800 quilômetros da barreira ao norte de Cairns, uma cidade na costa leste da Austrália. O branqueamento indica que os corais estão sofrendo desgaste, mas eles nem sempre morrem e água mais fria pode ajudar em sua recuperação. Pesquisas subsequentes na Grande Barreira da Austrália, realizadas no final do ano passado depois do prazo para inclusão no estudo publicado pela ""Nature"", documentaram que extensas porções dos recifes haviam de fato morrido, e que não era provável que se recuperassem em curto prazo, se é que uma recuperação será possível. O professor Hughes liderou essas pesquisas. Ele disse que seus estudantes e ele choraram quando lhes mostrou mapas sobre os danos, que ele calculou em parte sobrevoando a área a baixa altitude, em pequenos aviões e helicópteros. Os levantamentos aéreos de Hughes, combinados a mensurações subaquáticas, constataram a morte de 67% dos corais em um longo trecho ao norte de Port Douglas; em algumas áreas, a proporção de corais mortos atingiu os 83%. Por sorte, uma tempestade agitou as águas nas porções central e meridional da barreira em um momento crucial, e a mortalidade foi muito inferior nessas seções - cerca de 6% em uma área ao norte de Townsville e ainda mais baixa na porção mais meridional da barreira. Mas um estudo do governo australiano divulgado na semana passada constatou que, em termos gerais, o ano passado trouxe ""as maiores temperaturas já registradas na superfície do mar ao longo da Grande Barreira da Austrália"". De 1998 para cá, apenas 9% da barreira escaparam a branqueamento, disse o professor Hughes, e agora o trecho menos remoto e mais pesadamente visitado, que se estende de Cairns para o sul, está em perigo de novo. A temperatura da água lá continua tão alta que uma nova rodada de branqueamento está em curso, confirmou na semana passada a Great Barrier Reef Marine Park Authority, agência do governo australiano que administra a área. O professor Hughes disse que espera que os danos sejam menos sérios este ano do que no ano passado, mas que ""dois anos consecutivos de branqueamento são uma coisa inédita na Austrália"". A porção centro-sul da barreira já foi seriamente prejudicada por atividades humanas como a dragagem, e pela poluição. O governo australiano tenta combater essas ameaças locais por meio do plano Reef 2050, que restringe o desenvolvimento de portos, a dragagem e o despejo de resíduos agrícolas no mar, entre outros riscos. Mas a pesquisa do professor Hughes constatou que, dada a temperatura elevada, esses esforços nacionais de melhora da qualidade da água não são suficientes. ""Os recifes em águas lodosas foram queimados da mesma maneira que os de águas cristalinas"", disse o professor Hughes. ""Essa não é uma boa notícia, em termos dos esforços locais para prevenir branqueamento. A realidade é que não há muito que se possa fazer. É preciso enfrentar diretamente a mudança do clima"". Com a eleição de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos, um recente acordo internacional para combater o problema, o chamado Acordo de Paris, parece estar em perigo. O governo conservador australiano também continua a apoiar o desenvolvimento do combustível fóssil, o que inclui projetos como aquele que muitos cientistas e conservacionistas encaram como mais imediata ameaça à barreira de coral - uma mina de carvão, que estaria entre as maiores do mundo e seria estabelecida pelo Adani Group, um conglomerado sediado na Índia, em uma área da costa australiana adjacente à barreira. ""O fato é que a Austrália já é o maior exportador mundial de carvão, e a última coisa que deveríamos fazer, com relação ao nosso maior patrimônio nacional, é agravar as coisas"", disse Imogen Zethoven, diretora de campanhas do grupo conservacionista Australian Marine Conservation Society. A Grande Barreira da Austrália cria cerca de 70 mil empregos no país e gera bilhões de dólares anuais em receitas turísticas, e ainda não está claro como a deterioração dos recifes afetará essa atividade econômica. Mesmo em áreas seriamente danificadas, porções extensas da barreira sobreviveram, e os guias provavelmente levarão os turistas a elas, evitando as áreas mortas. A crise mundial dos recifes de coral não significa necessariamente a extinção de espécies de coral. Os corais podem se salvar, como muitas outras criaturas estão tentando fazer, se deslocando em direção aos polos à medida que a Terra esquenta, e estabelecendo novos recifes em águas mais frias. Mas as mudanças que os seres humanos causam são tão rápidas, em termos geológicos, que não fica totalmente claro se as espécies de coral serão capazes de acompanhá-las. E mesmo que os corais sobrevivam, isso não significa que recifes individuais continuarão a prosperar em sua localização atual. Os recifes de coral são sistemas sensíveis, construídos por animais incomuns. Os corais mesmos são minúsculos pólipos que agem como agricultores, capturando coloridas plantas unicelulares conhecidas como algas, que convertem luz do sol em alimento. Os pólipos de coral formam colônias e constroem um andaime de pedra calcária onde passam a viver - um recife. Mas quando a água próxima de um recife esquenta demais, as algas começam a produzir toxinas e os corais as expelem, em autodefesa, e se tornam fantasmagoricamente brancos. Se a temperatura da água cair com rapidez suficiente, os corais serão capazes de cultivar novas algas e sobreviver, mas se isso não acontecer podem sucumbir a doenças ou desnutrição. Mesmo quando os corais morrem, alguns recifes terminam por se recuperar. Se a temperatura da água se mantiver moderada, as seções danificadas da Grande Barreira da Austrália podem se ver novamente recobertas de corais dentro de 10 ou 15 anos. Mas a temperatura do oceano agora é alta a ponto de tornar mais frequentes os eventos de branqueamento em massa. Se isso se tornar rotina, muitos dos recifes de coral mais prejudicados talvez se vejam incapazes de restabelecimento. Dentro de uma década, certas formas de coral, como o coral ramificado e o coral plate, podem estar extintas, dizem os cientistas que pesquisam sobre os recifes de coral. O mesmo se aplica a uma ampla variedade de pequenos peixes que dependem dos recifes para proteção contra predadores. ""Não creio que a Grande Barreira da Austrália um dia volte a ser tão grande quanto foi no passado - pelo menos não nas próximas décadas"", disse C. Mark Eakin, especialista em recifes de coral da Administração Nacional do Oceano e Atmosfera (NOAA) norte-americana, em Silver Spring, Maryland. O Dr. Eakin é um dos autores do novo estudo e comanda um programa chamado Coral Reef Watch, que produz mapas preditivos para alertar sobre a iminência de episódios de branqueamento. Ainda que o El Niño do ano passado tenha terminado, as temperaturas da água são altas o bastante para que seus mapas mostrem água quente demais em milhões de quilômetros quadrados de oceano. Kim Cobb, cientista do clima no Instituto da Tecnologia da Geórgia, não participou do novo estudo, mas descreveu a pesquisa e suas conclusões como acuradas - e desanimadoras. Ela disse ter visto forte devastação dos corais no ano passado perto da ilha Kirimati, parte da República de Kiribati, que fica a milhares de quilômetros da Austrália. Cobb visita a ilha regularmente para suas pesquisas. Dado o risco de que o esforço internacional de combate à mudança do clima perca o ímpeto, ""as temperaturas do oceano vão continuara subir"", disse a Dra. Cobb. ""A ideia de que temos prazo de 20 ou 30 anos antes que a próxima onda de branqueamento e destruição de corais aconteça é basicamente uma fantasia"". Tradução de PAULO MIGLIACCI",ambiente
"Erramos: Em 2050, trânsito melhora, só que a vida do paulistano continua seca","Diferentemente do publicado no título da reportagem ""Em 2050, trânsito melhora, só que a vida do paulistano continua seca"", o ano a que se refere o texto é 2050, não 2035. O texto foi corrigido.",ambiente
Desmatamento leva raposas a iniciar perigoso 'namoro',"Duas espécies de raposas do Brasil, separadas há muitos milhares de anos pela mata atlântica, estão cruzando entre si e produzindo filhotes híbridos, talvez porque a derrubada da maior parte da floresta tenha eliminado a principal barreira que existia entre elas. As protagonistas desse estranho namoro são a raposinha-do-campo (Lycalopex vetulus), típica do cerrado, e o graxaim-do-campo (Lycalopex gymnocercus), natural dos pampas gaúchos. Segundo pesquisadores da PUC-RS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul), é no território do Estado de São Paulo que as duas espécies estão se misturando, e a situação inspira cuidados: dependendo de como o processo continuar, boa parte da riqueza genética original dos bichos pode acabar se perdendo. Um dos autores da pesquisa, o doutorando maranhense Fabricio Silva Garcez, conta que a primeira pista de que havia algo estranho acontecendo veio de um trabalho anterior (da mestranda Marina Favarini, na PUC-RS), no qual dois bichos que tinham sido classificados morfologicamente (ou seja, com base na aparência física) como L. vetulus acabaram apresentando material genético de L. gymnocercus. PAPAI E MAMÃE Para ser mais exato, os misteriosos animais tinham mtDNA (DNA mitocondrial) da espécie sulina. Ocorre que o mtDNA, presente apenas nas mitocôndrias, as usinas de energia das células, quase sempre é transmitido das mães para seus filhos ou filhas –em geral, nenhum animal herda o mtDNA do pai. O dado, portanto, parecia indicar que ao menos uma fêmea de graxaim havia tido filhotes com um macho de raposinha-do-campo. Durante seu mestrado, orientado por Eduardo Eizirik (da PUC-RS) e Ligia Tchaicka (da Universidade Estadual do Maranhão), Garcez analisou amostras de DNA de dezenas de indivíduos de ambas as espécies, colhidas numa área ampla, que vai do Maranhão ao Rio Grande do Sul. (As análises genéticas foram feitas a partir do sangue colhido de bichos capturados e de amostras da carcaça de raposas atropeladas Brasil afora, coisa que infelizmente é comum). Além do mtDNA, a equipe estudou ainda trechos do DNA do núcleo das células, conhecidos como microssatélites (que parecem uma ""gagueira"" de letras químicas de DNA, com pequenos trechos que se repetem várias vezes). Tais análises confirmaram a suspeita inicial: seis bichos paulistas tinham toda a pinta de ser híbridos, inclusive de segunda geração (ou seja, netos do cruzamento original entre as duas espécies). Cinco deles tinham, de novo, mtDNA de graxaim, enquanto o sexto indivíduo apresentou sinais de hibridização apenas no DNA do núcleo das células. Ou seja, por enquanto parece que o cruzamento de machos de raposinha-do-campo com fêmeas de graxaim é mesmo mais comum, embora não seja a única possibilidade. ""Isso é curioso porque, em outras zonas híbridas de canídeos [o grupo dos cães, lobos e raposas], normalmente o macho é o da espécie de maior porte, mas no nosso caso o L. gymnocercus é maior"", diz Garcez. Ainda é cedo para dizer com exatidão o que tem levado essas fêmeas a se deslocar rumo a São Paulo e por que o mesmo não estaria acontecendo com os machos da espécie sulina. Agora no doutorado, Garcez está ampliando as análises para tentar entender em detalhes o que está acontecendo no contato entre as duas espécies, as quais formam a primeira zona híbrida de canídeos confirmada na América do Sul (na América do Norte, há o exemplo muito estudado da zona híbrida entre lobos e coiotes). Os dados de DNA também podem confirmar a hipótese de que a hibridização é culpa da ação humana –se ela for um evento recente, cresce a possibilidade de um elo com a derrubada da mata atlântica. Afinal, as duas espécies são típicas de ambientes abertos, sem floresta densa. ""Quando você remove essa barreira, com o aparecimento de pastagens e plantações no lugar da mata, a tendência é que elas acabem entrando em contato"", diz Garcez. O gênero Lycalopex, ao qual ambas as raposas pertencem, diversificou-se há relativamente pouco tempo em termos evolutivos (a partir de cerca de 1 milhão de anos atrás). Mesmo assim, apesar de serem fisicamente parecidas e de conseguirem cruzar entre si, as espécies possuem hábitos consideravelmente diferentes. A raposinha-do-campo normalmente se alimenta de cupins e frutas do cerrado, enquanto o graxaim, como bom gaúcho, inclui uma proporção maior de carne em sua dieta. ""Se todos se tornarem híbridos, vai ser algo muito ruim porque, na prática, duas espécies vão acabar desaparecendo por causa da intervenção humana"", diz Garcez. - Entenda a mistura entre as duas espécies de raposas 1 - As áreas de vegetação aberta do Brasil abrigam duas espécies de raposas, a Lycalopex vetulus (raposinha- do-cerrado) e a L. gymnocercus (graxaim-do-campo). A segunda espécie costuma ser de maior porte 2 - As duas espécies originalmente estavam separadas pelas áreas de floresta fechada da mata atlântica... .... mas é possível que o desmatamento tenha permitido que os bichos, antes separados, passassem a se encontrar 3 - Pesquisadores estão achando, graças a testes de DNA, animais híbridos das duas espécies. No Estado de São Paulo, nenhum animal estudado mostrou ser ""puro"" -praticamente todos parecem ser filhos ou netos do cruzamento dos dois animais E DAÍ? Se essa tendência continuar, há o risco de que boa parte da riqueza genética dessas espécies se perca, formando-se uma única grande população híbrida amalgamada",ambiente
Kaziranga: o parque que atira em pessoas para proteger rinocerontes,"Guardas de uma área de proteção na Índia defendem a vida selvagem disparando tiros fatais contra caçadores suspeitos, o tipo de medida que enseja uma questão: teria a guerra contra a caça ilegal ido longe demais? O parque nacional de Kaziranga tem um histórico de sucesso em conservação. Há um século, o número de rinocerontes de um chifre não passava de cinco na região do Assan, no extremo leste do país. Agora existem mais de 2.400 –dois terços da população do animal no mundo inteiro. Mas a maneira como o parque protege seus animais é bastante controversa. Seus seguranças têm poderes de atirar e matar normalmente garantidos apenas a forças policiais. O resultado é a morte, em média, de duas pessoas por mês –mais de 20 por ano. Em 2015, mais suspeitos foram mortos por guardas do parque do que o total de rinocerontes abatidos por caçadores. MERCADO LUCRATIVO Um chifre de rinoceronte custa caro no Vietnam ou na China, onde são vendidos como a cura milagrosa a diversos males, do câncer à disfunção erétil. Vendedores de rua cobram o equivalente a até R$ 14 mil por 100 gramas de chifre –o que torna o produto mais caro que ouro. Os rinocerontes da Índia têm chifres menores que os africanos, mas aparentemente são vendidos como mais potentes. Eu perguntei a dois guardas de Kaziranga quais procedimentos eles devem adotar caso encontrem caçadores no parque. ""A instrução é: sempre que você vir caçadores, use suas armas para caçá-los"", explica um deles sem hesitação. ""Você atira neles?"", questionei. ""Sim, a ordem é matá-los. Sempre que forem vistos caçadores ou qualquer pessoa durante a noite, a ordem é atirar neles."" O guarda conta que atirou em pessoas duas vezes nos quatro anos em que tem essa função no parque, mas nunca matou ninguém. Mas ele sabe que, se tivesse matado, a chance de sofrer punições seria baixa. O governo deu aos guardas de Kaziranga poderes que lhes permitem proteção contra ações judiciais em caso de mortes. Críticos dizem que, com isso, os guardas estariam sendo instruídos a realizar ""execuções extrajudiciais"". Mas conseguir dados sobre o número de pessoas mortas ali é difícil. ""Nós não guardamos todos os registros"", diz um oficial sênior do Departamento de Florestas da Índia, que controla os parques nacionais. O diretor do parque de Kaziranga, Satyendra Singh, recebeu a reportagem num imponente prédio colonial onde funciona a sede do parque. Singh fala das dificuldades de controlar caçadores, explicando que as gangues de caça ilegal costumam recrutar pessoas da região para ajudá-las a entrar no parque. Os atiradores, no entanto, vêm de outros Estados do país. ""Primeiro fazemos a abordagem: 'quem são vocês'?"", diz Singh, sobre as regras de aproximação entre guardas e caçadores. ""Mas se eles decidirem disparar, nós temos que matá-los. A prioridade é tentar prendê-los, para que possamos obter informações sobre as gangues."" Ele revela que 50 caçadores foram mortos nos últimos três anos. DUAS VACAS Para Singh, o número de moradores locais recrutados pelo mercado de chifres de rinoceronte cresceu –mais de 300 locais estariam envolvidos na prática, estima. Já para os moradores, grupos tribais que vivem na floresta há séculos, o aumento da taxa de homicídios se tornou um grande problema. Eles dizem que o número de inocentes assassinados está crescendo. Em uma dessas vilas às margens do parque vive Kachu Kealing e sua esposa. O filho deles, Goanburah, foi baleado por guardas florestais em dezembro de 2013. Goanburah procurava as duas vacas da família. Seu pai acredita que elas entraram na área do parque e que seu filho –que tinha distúrbios graves de aprendizagem– também entrou para buscá-las. Esse é um erro comum, já que não há cercas demarcando o perímetro da reserva. As autoridades do parque, por sua vez, dizem que os guardas dispararam contra Goanburah porque ele não respondeu à abordagem. Kachu Kealing acha que não pode fazer nada sobre o caso, especialmente por causa da proteção que os guardas têm contra processos judiciais. ""Eu não entrei na Justiça. Sou um homem pobre, não poderia pagar por isso."" Os esforços de preservação focam em algumas espécies consideradas emblemáticas na Índia. Rinocerontes e tigres se tornaram símbolos nacionais. Além disso, Kaziranga atrai por ano mais de 170 mil visitantes que contribuem com a economia local. Em 2013, quando o número de rinocerontes mortos por caçadores mais do que dobrou, somando 27, políticos locais pediram ação. O antigo diretor do parque, MK Yadava, detalhou num relatório sua estratégia para combater a caça em Kaziranga. Ninguém sem autorização poderia entrar, disse. E qualquer um descoberto na área do parque deveria ""obedecer ou ser morto"". Ele recomendou que ""matar os indesejados"" deveria ser o princípio orientador dos guardas. Yadava ainda explicou sua crença de que crimes ambientais, incluindo a caça ilegal, são mais graves que assassinato: ""Eles corroem silenciosamente a raiz da existência de todas as civilizações da Terra"". De 2013 a 2014, o número de mortes de supostos caçadores ilegais subiu de cinco para 22. Em 2015, 23 pessoas perderam a vida, contra 17 rinocerontes no mesmo período. Em julho do ano passado, Akash Orang, de 7 anos, ia para casa pelo principal caminho de sua vila, que contorna o parque. Sua voz vacila quando se lembra do que aconteceu. ""Estava voltando das compras. Os guardas florestais estavam gritando 'Rinocerontes! Rinocerontes!'"". Ele fez uma pausa. ""De repente, eles atiraram em mim."" O tirou atingiu sua panturrilha direita. Akash ficou internado por cinco meses e foi submetido a várias cirurgias. Hoje ele mal consegue andar. Seu irmão mais velho tem que carregá-lo até a venda local. Seu pai, Dilip Orang, diz que Akash está diferente. ""Ele era alegre, mas não é mais. Ele acorda à noite com dor e chora, pedindo a atenção da mãe"". O parque admite que cometeu um erro terrível. Pagou pelas despesas médicas e deu à família cerca de 200 mil rúpias (R$ 9,2 mil) em compensação. Isso não é muito se considerada a gravidade de suas lesões, diz o pai, preocupado que seu filho não consiga ganhar a vida sozinho no futuro. O caso de Akash comoveu os moradores do vilarejo, transformando-se no estopim da grande inquietação diante do número crescente de mortes. Centenas protestaram na sede do parque. MORTES NÃO INVESTIGADAS O ativista de direitos humanos Pranab Doley, membro de uma tribo local, mostra uma sacola cheia de papel. Ele fez vários pedidos a partir da Lei de Acesso à Informação da Índia. As respostas mostram que os casos não foram acompanhados como deveriam. De nove supostos caçadores que foram mortos, seis não foram identificados. ""Não há coisas como o inquérito policial, relatórios forenses e pós-morte"", diz Doley. O parque diz que não é responsável por investigar os assassinatos e que as ações tomadas estão de acordo com a lei. Nos últimos três anos, apenas duas pessoas foram processadas por caça ilegal. O parque justifica que o número de mortes é alto porque gangues de caçadores fortemente armadas iniciam tiroteios contra os guardas. Entretanto, as estatísticas indicam que esses confrontos começam mais de um lado: nos últimos 20 anos, apenas um guarda foi morto, contra 106 pessoas mortas por eles. ""Esse tipo de impunidade é perigosa"", diz Doley. ""Está criando uma tensão entre o parque e as pessoas que vivem no seu entorno."" Uma tensão que é intensificada pelo fato de as tribos locais afirmarem que estão sendo extintas, da mesma forma que os animais que o parque tenta proteger. A causa dessas tribos foi abraçada pela organização Survival International, de Londres. Ela argumenta que os direitos das pessoas ao redor do parque estão sendo sacrificados em nome da proteção da vida selvagem. ""O parque está sendo dirigido com extrema brutalidade"", diz a diretora Sophie Grig. ""Não há júri, não há juiz, não há interrogatório. E o mais terrível é que há planos de se lançar essa política do tiro em toda a Índia."" Ela ainda afirma que ONGs como o World Wildlife Fund (WWF) fecharam os olhos para as atitudes do parque. ""O WWF se descreve como um parceiro próximo do departamento de floresta de Assam"", diz Grig. ""Eles têm disponibilizado equipamentos e recursos para o grupo. A Survival tem repetidamente pedido para que eles se pronunciem contra as execuções extrajudiciais, mas eles não fizeram nada."" OMISSÃO DE ENTIDADES? De acordo com o site da WWF India, a ONG financiou o treinamento dos guardas de Kaziranga e forneceu equipamentos, incluindo óculos de visão noturna, para reforçar o combate à caça ilegal. ""Ninguém está confortável com a morte de pessoas"", disse Dipankar Ghose, que gerencia o programa de conservação da WWF na Índia. ""O que é preciso é a proteção do solo. A caça ilegal tem que parar."" A maior parte do financiamento da WWF vem de doações individuais. Então como os doadores se sentiriam diante do envolvimento do parque em supostas mortes, mutilações e tortura? Ghose não responde diretamente à pergunta. ""Como eu disse, estamos trabalhando nesta questão. Queremos que tudo seja reduzido –não queremos que a caça ilegal aconteça, e a ideia é reduzir isso envolvendo todos os nossos parceiros. Não apenas as autoridades de Kaziranga, mas também a polícia e a comunidade local."" E há vários conservacionistas que aceitam que, em certas circunstâncias, deve haver uma resposta dura contra os caçadores. ""Nenhum parque existiria na Índia sem as operações contra a caça ilegal"", diz o naturalista e escritor Valmik Thapar. ""Alguns fazem bem o trabalho. Outros falham terrivelmente... e eles não têm nenhum tigre. Então existem algumas reservas de tigres da Índia que na verdade não têm nenhum tigre porque todos foram caçados."" ""Em alguns casos especiais, você pode usar a arma contra a arma, mas em outros lugares da Índia você precisa usar a inteligência da comunidade, porque as pessoas são os olhos e ouvidos da floresta"", completa. TORTURA Três meses depois que o menino Akash levou o tiro, moradores protestaram novamente na sede do parque, desta vez contra acusações de tortura de um morador. Mono Bora estava sentado num café na beira da estrada quando foi abordado por guardas florestais. Ele diz que levou vários socos no rosto e foi levado para a sede do parque. Uma vez dentro da unidade, o interrogatório se tornou mais violento. ""Eles me deram choques elétricos aqui nos meus joelhos, aqui nos meus cotovelos. E aqui na minha virilha também"", disse Bora, descrevendo como foi amarrado e esticado em varas de bambu. ""Eles continuaram me batendo"", disse. A experiência durou três horas até finalmente os envolvidos se convencerem de que tinham capturado o homem errado. O parque Kaziranga confirmou que Mono Bora foi interrogado, mas categoricamente nega qualquer violência contra ele, acrescentando ""nunca usar choque elétrico durante um interrogatório"". Biren Kotch, líder do vilarejo onde vive Bora, foi quem o resgatou da sede o parque. Ele não acredita em seu envolvimento com a caça ilegal. ""Como eles podem justificar a tortura?"" DESPEJO DE COMUNIDADES Mas não são apenas as ações contra a caça ilegal que ameaçam as comunidades locais. Animais selvagens, como tigres e rinocerontes, precisam de muito espaço. Para acomodá-los, a Índia está planejando a expansão dos parques nacionais, o que envolve a realocação de 900 vilarejos –mais de 200 mil pessoas terão que deixar suas casas. Kaziranga dobrará de tamanho. Recentemente, a polícia estadual despejou dois vilarejos em meio a confrontos com moradores, que atiraram pedras e atearam fogo contra ela. Duas pessoas –um pai de dois filhos e uma jovem estudante– morreram. Escavadores ajudados por elefantes, disponibilizados pelo parque, trabalharam na remoção das casas. ""Essa é a política e a filosofia deles –retirar pessoas daqui e criar uma floresta intocada"", critica o ativista Pranab Doley. Para ele, o conflito pode minar a cultura dos povos tribais e frustrar os esforços para proteger os animais. ""Sem as pessoas tomando conta da floresta, nenhum departamento florestal será capaz de proteger Kaziranga.""",ambiente
Projeto transforma cadáveres em adubo,"O corpo da mulher de 78 anos foi levado a uma colina na universidade Western Carolina ainda trajando a camisola azul do hospital. Ele foi colocado sobre uma base de aparas de madeira e coberto também por aparas. Se tudo transcorrer como esperado, o corpo será compostado. Trata-se de uma nova opção aos que são favoráveis ao sepultamento natural. Ao mesmo tempo em que mais pessoas optam por ser sepultadas apenas em mortalhas simples ou féretros biodegradáveis, continua a faltar espaço nos cemitérios urbanos. Para as pessoas de viés ambientalista, a cremação é um problema porque o processo libera gases estufa. A ambientalista Katrina Spade, 37, de Seattle, propõe uma alternativa: uma instalação para a compostagem de corpos humanos. ""Quando se fala em compostagem, as pessoas pensam em cascas de banana ou pó de café"", disse Spade. ""Mas nossos corpos possuem nutrientes. E se pudéssemos gerar vida nova depois de mortos?"" Os cientistas concordam que corpos humanos podem, sim, ser compostados. Inúmeras fazendas nos EUA já compostam carcaças de gado. Alguns departamentos de transportes compostam as carcaças de animais atropelados nas estradas. ""Tenho certeza absoluta de que pode funcionar"", disse Lynne Carpenter-Boggs, cientista do solo na universidade Washington State e membro do conselho de assessoria da ONG Urban Death Project, fundada por Spade. O processo é simples: coloca-se material rico em nitrogênio, como animais mortos, dentro de uma pilha de material rico em carbono, como aparas de madeira e serragem, acrescentando umidade ou nitrogênio adicional. A atividade microbiana fará a pilha começar a ""cozinhar"". As bactérias liberam enzimas que decompõem os tecidos em seus componentes, como aminoácidos. Com o tempo, as moléculas ricas em nitrogênio se ligam às moléculas ricas em carbono, gerando uma substância semelhante ao solo. A temperatura da pilha chega a cerca de 60°C ou frequentemente mais, e o calor mata os patógenos comuns. Não deve haver odor nenhum. Os ossos também são compostados, embora isso leve mais tempo que a compostagem dos outros tecidos. Katrina Spade, que é diplomada em arquitetura, projetou uma construção própria para a compostagem humana. Seu projeto casa a eficiência desse processo com o ritual e o simbolismo desejado pelas pessoas. Cada instalação proposta pela Urban Death terá ao seu centro um jazigo de três pisos que Spade descreve como ""o núcleo"". Os entes queridos carregarão o morto, envolto numa mortalha, por uma rampa circular até o topo. Ali, em uma cerimônia de ""deitar o morto"", as pessoas colocarão o corpo dentro do ""núcleo"", que poderá comportar possivelmente 30 corpos a cada vez. Nas semanas seguintes, cada corpo afundará no núcleo, até ser completada a primeira etapa de compostagem. Na segunda etapa, o material será examinado com quaisquer ossos ainda remanescentes, e o composto será defumado. Para James Olson, diretor funerário no Wisconsin e presidente do grupo de trabalho sobre enterros verdes da Associação Nacional de Diretores de Funerárias, os ritos fúnebres podem passar de repugnantes a normais em pouco tempo. Foi o caso da cremação, por exemplo. Ele exemplificou: ""Se eu lhe tivesse dito, 50 anos atrás, que iríamos queimar o corpo de seu ente querido, pulverizar o esqueleto numa máquina e lhe devolver os ossos pulverizados, você teria reagido com nojo"". Olson considerou o conceito de Spade ""maravilhoso"". Muitos, entretanto, acham a ideia de compostar corpos humanos repulsiva. Um crítico comentou no site da Urban Death: ""Só pode ser brincadeira. Se não for, só existe uma palavra para descrever essa atividade: DOENTIA."" Há dúvidas também em relação a como deveria ser utilizado o composto humano. Alguns patógenos, como os príons ligados à doença da vaca louca, podem sobreviver à compostagem, e animais mortos por determinadas doenças não podem ser compostados. Especialistas recomendam que o composto não seja espalhado em campos onde são cultivados frutas e verduras para consumo humano. Como acontece com a cremação, a contaminação por metais pesados pode ser uma preocupação, Pode ser necessário remover as obturações dentárias dos corpos. Spade disse que os entes queridos poderiam usar parte do composto em seus jardins ou para plantar uma árvore. Ela prevê que o resto seja encaminhado para parques vizinhos ou áreas de conservação. Ela estima que a compostagem de cada corpo humano custaria cerca de US$ 2.500, uma fração do custo de um enterro convencional. Além das vantagens para o meio ambiente, Spade acha que haverá um benefício espiritual: a vinculação da morte com o ciclo da natureza ajudará as pessoas a encarar sua própria mortalidade e levará conforto aos que perderam um ente querido.",ambiente
Professor de zoologia da USP lança livro com todos os papagaios do Brasil,"Poucos grupos de aves são tão facilmente reconhecidos por leigos quanto os papagaios. O bico curto com uma maxila que se articula ao crânio feito uma dobradiça, a cabeça grande que se encerra num pescoço miúdo, o corpo forte e atarracado, as penas em cores vivas e frequentemente misturadas. Como se não bastasse, essas aves imitam a fala humana como nenhum outro animal, uma habilidade que requer excelente memória, boa audição e uma inteligência acima da média. O Brasil é o país com a maior variedade de papagaios do mundo. São cerca de noventa espécies, muitas delas exclusivas, e várias delas observáveis até mesmo em ambientes insalubres das grandes metrópoles. Terra papagalli [terra dos papagaios] foi um dos nomes que os portugueses cogitaram para o Brasil por conta não apenas da grande quantidade de aves que observaram por aqui, mas porque ficaram impressionados com as araras-vermelhas que os índios criavam, aves robustas e chamativas que foram incluídas nos primeiros relatos sobre o país. Papagaios serviram ainda como prova material e como fonte histórica. Quando a expedição de Pedro Álvares Cabral retornou à Europa para anunciar a descoberta do Brasil, foram levadas várias provas de que o lugar realmente existia e era como os conquistadores o descreviam ao rei. Entre as provas, estavam papagaios. Já os índios tinham papagaios tão inseridos no cotidiano das aldeias que algumas tribos extintas só tiveram seus vocábulos conhecidos pelos antropólogos por conta das aves que criavam. ""Terra Papagalli"" é também o nome de um livro recém-lançado que traz um inventário de todas as noventa espécies de papagaio existentes no país, com ilustrações e informações sobre cada uma delas e um mapa com sua área de distribuição. Os desenhos foram feitos pelo artista mineiro Eduardo Parentoni Brettas, tido como o melhor pintor naturalista do país, e que costuma desenhar espécies recém-descobertas por pesquisadores locais. Já os textos de apoio são de Luís Fábio Silveira, professor da USP curador da seção de aves do Museu de Zoologia da universidade. ""As aves que aparecem no livro não são um retrato genérico de uma ave daquela espécie, mas sim um retrato fiel do exemplar que temos empalhado no museu"", conta Silveira. O Museu de Zoologia da USP tem 87 das 90 espécies de papagaio do Brasil. Somente as três espécies restante foram desenhadas a partir de fotos. Voltado tanto para ornitólogos quanto para curiosos, o livro dá ""um panorama de como está a preservação de cada espécie, sensibilizando o público a ter mais interesse em preservá-las"", afirma Silveira. TERRA PAPAGALLI Editora Marte (375 págs.) PREÇO R$ 280",ambiente
Desenhos que icebergs deixam no fundo do mar contam história do clima,"A imagem acima parece um desenho com giz de cera feito por uma criança. Mas, na verdade, trata-se de uma foto das imensas ""cicatrizes"" deixadas no leito marinho pelo movimento de um imenso bloco de gelo. Os traços registram a trajetória de um iceberg à medida que ele foi movido por ventos, correntes e marés. E essa ""arte glacial"" faz parte de uma incrível coleção de imagens que detalha como a ação do gelo moldou o fundo do mar nas regiões polares da Terra. Um atlas compilado pela Sociedade Geológica de Londres reúne o trabalho de mais de 250 cientistas de 20 países e representa a mais abrangente perspectiva do leito marinho nas altas latitudes. ""Temos um grande número de imagens de alta resolução das marcas deixadas pela ação do gelo"", diz Kelly Hogan, uma das editoras do trabalho. ""Podemos ver onde o gelo esteve e o que fez. Isso permite com que façamos comparações com o presente e nos ajuda a entender o que pode acontecer no futuro com as camadas modernas de gelo à medida que reagem às mudanças climáticas"". O atlas, que levou quatro anos para ser produzido, contém imagens criadas a partir de sonares de navios. As diferenças de cores refletem o ""eco"" dos sinais em diferentes profundidades. Uma primeira versão, lançada em 1997, tinha apenas imagens de baixa resolução. A mais atual se beneficia da evolução tecnológica, que permite o mapeamento do leito marinho com uma precisão incrivelmente maior. Além de icebergs, as marcas no fundo também registram o movimento de geleiras. ""Quando os traços de geleiras estão próximas uma das outras, são provavelmente registros de um evento anual, mas também podemos encontrar rastros formadas há milhares de anos, e que estão mais espaçadas. Podemos datar os sedimentos para ver o quão rápido o gelo recuou. Isso dá uma ideia de como podemos usar as imagens para entender o que está acontecendo"", diz Hogan. Um dos pontos mais intrigantes são as formações normalmente encontradas em solo permanentemente congelado. Um grande número delas é encontrada no fundo do Mar Laptev, no Ártico. Elas foram criadas na superfície, mas acabaram submersas durante múltiplos ciclos de aquecimento e congelamento, há pelo menos 7 mil anos. É apenas mais um exemplo de como os mares podem preservar algo que poderia ser perdido em terra, talvez coberto por vegetação, construções ou destruído por erosões.",ambiente
"A 4 meses do fim do prazo, apenas 40% da área rural está cadastrada","A quatro meses do fim do prazo para as inscrições dos produtores rurais, o Sicar (Sistema Nacional de Cadastro Ambiental Rural) só recebeu até agora o cadastramento de 40% da área útil agrícola do Brasil. O processo foi aberto em maio do ano passado, com prazo de um ano para que todos se cadastrem. As inscrições são feitas pelo endereço www.car.gov.br. Segundo balanço parcial obtido pela Folha, até agora há cerca de 130 milhões de hectares inscritos, de um universo de 329 milhões de hectares de área útil agrícola (excluindo, por exemplo, unidades de conservação). O Sicar foi instituído pelo Código Florestal, sancionado em maio de 2012, mas o sistema só foi colocado no ar dois anos depois. O objetivo da iniciativa é reunir informações detalhadas sobre todos os imóveis rurais do país, para determinar áreas desmatadas a serem recuperadas e manter um controle dessas propriedades. Os produtores rurais que não se cadastrarem devem passar a ter restrições no acesso a crédito rural. Pela legislação, a partir de 2017 eles terão formalmente essas restrições, mas a expectativa do governo é que os bancos passem a exigir o cadastro como critério já a partir deste ano. Apesar da baixa adesão até agora, Raimundo Deusdará, diretor de fomento do SFB (Serviço Florestal Brasileiro), diz que o governo federal não trabalha com a perspectiva de prorrogação do prazo. Para ele, muitos devem deixar a inscrição para a última hora. Desses 130 milhões de hectares inscritos, cerca de 60% correspondem a pequenos produtores, de até quatro módulos fiscais. Em número de imóveis rurais, são 550 mil até agora. Estimava-se que esse universo era de 5,2 milhões de imóveis rurais, mas o SFB afirma que esse número é impreciso e, para fins de balanço, optou por levar em conta o tamanho da área cadastrada. Mato Grosso é o Estado mais adiantado até agora, porque já possuía um sistema semelhante e migrou seus dados para o sistema do governo federal. Com 39 milhões de hectares cadastrados, cerca de 64% da área agricultável do Estado já está no CAR. Para disseminar o cadastro, o governo fez parcerias com órgãos públicos estaduais, sindicatos e entidades para que esses órgãos façam a inscrição dos produtores. O SFB diz que foram destinados R$ 400 milhões aos Estados para apoiar a implementação do CAR, incluindo ações como de capacitação e a implantação de unidades de apoio no interior.",ambiente
Antártida é mais vulnerável ao aquecimento do que se pensava,"A camada de gelo maciça da Antártida Oriental pode ser mais vulnerável ao aquecimento global do que se pensava, de acordo com um estudo publicado na segunda-feira (12), que mostra como os ventos fortes podem erodir as plataformas de gelo que ajudam a mantê-la no lugar. Há água congelada suficiente no continente polar para, em caso de derretimento, elevar o nível do mar em dúzias de metros e redesenhar o mapa do mundo. Mas a compreensão da dinâmica da região –que inclui a camada de gelo muito menor da Antártida Ocidental– tem se mostrado difícil. Até agora, os cientistas se concentraram na ameaça da Antártida Ocidental. Estudos recentes sugeriram que as mudanças climáticas já podem ter condenado grandes pedaços da sua camada de gelo à desintegração, seja em uma escala de tempo de séculos ou de milênios. Em contraste, o gelo que cobre a Antártida Oriental foi visto como muito mais estável, até mesmo com ganho de massa. Acreditava-se que as plataformas de gelo flutuantes que se estendem sobre a terra e o oceano, impedindo que o gelo interior escape para o mar, estavam solidamente ancoradas. Isso continua sendo em grande parte verdadeiro. Mas uma misteriosa cratera na plataforma de gelo King Baudoin, ao sul da ponta da África, levou uma equipe de pesquisadores da Holanda, Bélgica e Alemanha a questionar essa suposição. ""Nossa pesquisa mostrou que a Antártida Oriental também é vulnerável às mudanças climáticas"", disse Jan Lenaerts, principal autor do estudo e pesquisador da Universidade de Utrecht, na Holanda. Os resultados foram publicados na revista científica ""Nature Climate Change"". Alguns estudos atribuíram a cratera a um impacto de meteorito, mas quando Lenaerts e sua equipe chegaram no local, em janeiro, perceberam que a cavidade cheia de água tinha outras origens. Combinando modelos climáticos, dados de satélites e medições no local, eles concluíram que ventos fortes carregando ar quente estavam levando embora a neve refletiva, permitindo que os raios solares fossem absorvidos pelo gelo mais escuro em vez de serem devolvidos ao espaço. CALOR A principal vulnerabilidade das plataformas de gelo às mudanças climáticas continua sendo o aquecimento da água do oceano, que desgasta sua parte inferior. Normalmente, essa erosão é compensada pela acumulação de neve fresca e gelo de cima. Mas os oceanos absorveram, nas últimas décadas, grande parte do excesso de calor gerado pelo aquecimento global, que elevou as temperaturas médias globais do ar em um grau Celsius. Quando combinado com a erosão de cima, o impacto na estabilidade da camada de gelo pode ser maior do que se entendia anteriormente. ""Esses processos –anteriormente não observados na Antártida Oriental– indicam que o aquecimento adicional pode ampliar o risco de colapso da plataforma de gelo"", disse Martin Siegert, do Imperial College London, comentando o estudo. Um ensaio geral do que poderia acontecer mais amplamente aconteceu em 2002, quando a plataforma de gelo Larsen B da Antártida Ocidental sofreu uma ""rápida e catastrófica falha mecânica"", caindo no mar, ele observou. ""A Larsen B nos diz que o derretimento superficial pode ser crítico para a integridade estrutural das plataformas de gelo,"" escreveu Siegert em um comentário na ""Nature Climate Change"".",ambiente
Possível eleição de Trump põe medo em negociadores do clima,"Começa nesta segunda (7) em Marrakech, no Marrocos, a primeira Conferência da ONU sobre Clima (COP-22) a ser realizada logo após o Acordo de Paris, celebrado em 2015 mas que entrou em vigor nesta sexta (4). Como se não bastasse o desafio de sediar a ""COP da ação"", que busca implementar na prática o acordo climático, a presidência marroquina também terá que administrar o impacto das eleições nos Estados Unidos. No dia 8 que se aproxima, a decisão sobre o próximo presidente americano também deve contar ao mundo se o segundo maior emissor de carbono mundial –logo atrás da China– manterá ou não seus compromissos com a redução de emissões de carbono, responsáveis pelo aquecimento global. Negacionista do clima, Donald Trump representa o grupo mais conservador dentro do Partido Republicano. Ele tem deixado claro em sua campanha que não pretende diminuir a dependência econômica do país em relação aos combustíveis fósseis. Outra promessa é que, se eleito, ele cancelará a assinatura americana no Acordo de Paris. Essa, no entanto, não poderá ser cumprida durante um possível primeiro mandato, já que as regras do Acordo preveem um processo de pelo menos quatro anos para a saída de um país que já tenha ratificado o documento no Congresso –o caso dos Estados Unidos, Brasil e outras 92 nações até agora. A participação mínima no Acordo é de três anos após a ratificação e mais um ano após a comunicação do cancelamento. A promessa de Trump ficaria para um segundo período no poder. Mas é a chance de um primeiro mandato que assusta os negociadores do clima. Um estudo de cenário conduzido por acadêmicos e ambientalistas nos Estados Unidos e obtido com exclusividade pela reportagem da Folha mostra ""alta preocupação internacional"" quanto aos efeitos, em solo americano e nos sinais diplomáticos para discussão internacional do clima, caso Trump vença as eleições. ""Trump eleito aprofundaria um pessimismo global, que já vem sendo alimentado por um contexto de um golpe falho na Turquia, pelo Reino Unido saindo da União Europeia, e pela escalada da crise de refugiados, terrorismo e violência extrema"", afirma o relatório. Depois de ter ajudado o Acordo de Paris a prosperar quando anunciou suas metas voluntárias junto aos chineses em 2015, os Estados Unidos enviariam uma mensagem inversa com a eleição de Trump. O risco é que a possibilidade de desengajamento americano rebaixe a disposição de todos os outros países a trabalharem por metas ambiciosas para o clima. Especialista na negociação climática das COPs, a americana Liz Gallagher recomenda ""atenção minuciosa"" aos reflexos da eleição americana na escolha das ferramentas que vão tirar o Acordo de Paris do papel. Ela também alerta que uma possível vitória de Trump ""exigirá mais esforços dos outros signatários para manter o acordo de pé."" Entretanto, a eleição de Trump ainda é pouco provável e, caso não vença, todo o pessimismo que sua campanha joga sobre a negociação climática deve se voltar contra ele mesmo. As previsões para esse cenário é de que a rejeição ao Partido Republicano e aos negacionistas do clima devem aumentar em Estados que já sentem os impactos dos eventos climáticos, como Flórida, Colorado, Arizona e Virginia. E até Estados conservadores, como a Carolina do Norte, têm seus republicanos abraçando as energias limpas –e diminuindo o número de adeptos ao discurso que nega a mudança do clima. A previsão desse cenário conclui que, se Trump perder, os republicanos precisarão se refundar, em uma completa revisão da sua proposta política. Sob essa hipótese, diplomatas e cientistas esperam comemorar uma vitória definitiva sobre quem joga contra as políticas do clima.",ambiente
Empresários e ONGs lançam coalizão por clima e florestas,"Um grupo de mais de 50 empresas e entidades, da Sociedade Rural Brasileira à organização não governamental WWF, lançou nesta quarta-feira (24) a Coalizão Brasil pelo clima, pelas florestas e pela agricultura. Mais de 200 pessoas compareceram ao evento na capital de São Paulo. Eram representantes de setores como papel e celulose, cana, química, madeira e construção, entre outros. E muitas ONGs. Entre os objetivos está influenciar o compromisso que o governo brasileiro precisa apresentar até outubro para a conferência do clima em Paris (dezembro). É a chamada INDC, sigla em inglês para contribuição pretendida nacionalmente determinada. Como o desmatamento ainda é a maior fonte isolada de emissões de gases de efeito estufa no país (cerca de 35%), a maioria das 17 propostas do manifesto se relaciona com ele. Várias giram em torno da implementação do novo Código Florestal, que avança lentamente. Empresas e organizações que assinam o documento apresentaram o compromisso voluntário de eliminar o desmatamento ilegal em suas cadeias de fornecimento. Apoiam ainda o desmatamento líquido zero, conceito caro ao governo federal. Significa que sempre haverá um resíduo de derrubada de florestas e que será preciso compensá-lo com sequestro de carbono por meio de plantio, recuperação e regeneração natural das matas. Entre as recomendações para a INDC brasileira figura o compromisso de manter as emissões per capita abaixo da média global após 2020. Em 2013, segundo o Sistema de Estimativa de Emissão de Gases de Efeito Estufa, o país lançou na atmosfera o equivalente a 1,6 bilhão de toneladas de CO2, ou quase oito toneladas por pessoa. A média mundial é cerca de sete. Dado que a tendência é de aumento das emissões noutros setores, como agropecuária e energia, seria difícil concretizar aquele objetivo sem reduzir ainda mais o desmatamento, que em 2014, na Amazônia, foi de 4.848 km2. O grande desafio agora está no cerrado. Ali a devastação continua alta e, com taxas da ordem de 7 mil km2 anuais, já ultrapassou a da floresta amazônica.",ambiente
Começa no Japão a 3ª Conferência de Prevenção de Desastres da ONU,"A 3ª Conferência Mundial das Nações Unidas sobre a Redução do Risco de Desastres começou neste sábado na cidade japonesa de Sendai com a presença de líderes e ministros de mais de 150 países. Mais de cinco mil dirigentes participam do encontro, que acontece até a próxima quarta-feira, que procura estabelecer um novo plano de atuação para diminuir o impacto dos desastres naturais. Os objetivos principais são reduzir o prejuízo nas infraestruturas, aumentar o número de países com estratégias focadas em atenuar os efeitos destes fenômenos e melhorar as ajudas econômicas para os países em desenvolvimento, segundo a organização. Para que a proteção seja efetiva, devemos ""ajudar os mais pobres a terem acesso a esses meios"", disse hoje o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, durante a cerimônia de abertura, que contou com a presença do imperador Akihito e da imperatriz Michiko. A expectativa é que novo plano, cujas conclusões serão expostas dia 18, estabeleça objetivos numéricos pela primeira vez para reduzir o número de vítimas e as perdas econômicas, para que os progressos possam ser avaliados de forma mais eficaz. O Japão, país anfitrião, sofre com desastres frequentes, e por isso ""gastamos muito tempo trabalhando na prevenção de riscos"", disse o primeiro-ministro, Shinzo Abe. Durante os cinco dias da conferência, paralelamente às sessões plenárias, haverá mais de 30 sessões de trabalho, e reuniões de alto nível que cobrirão uma ampla gama de temas sobre desastres, e cerca de 350 simpósios e seminários promovidos por organizações não-governamentais. O Japão recebeu as três conferências sobre desastres realizadas pela ONU. A primeira aconteceu em Yokohama em 1994, a segunda em Kobe em 2005 e agora em Sendai, uma das cidades afetadas pelo terremoto e pelo tsunami de 2011.",ambiente
"Países devem receber para preservar suas florestas, diz diretor da ONU","Diretor do Fórum de Florestas da ONU, o brasileiro Manoel Sobral Filho defendeu, em entrevista à Folha, que a comunidade internacional pague pela preservação das florestas brasileiras, em vez de oferecer recursos pontuais para o seu desenvolvimento. ""Nós não precisamos de esmola; precisamos de pagamento pelo serviço que essas áreas fazem ao planeta"", disse. Para ele, o Brasil ""vive na berlinda"" por causa do desmatamento na Amazônia, mas é preciso ter em mente que houve um desmatamento histórico das florestas mundiais. Ele criticou a postura ""prematura"" do governo da Noruega, que retirou verbas do Fundo Amazônia por causa do aumento da derrubada da floresta no Brasil, em junho. Para ele, é preciso melhorar o sistema de financiamento, e fazer o dinheiro chegar às comunidades que estão na floresta. Sobral Filho, que trabalha há 40 anos com florestas e ambiente, esteve no Brasil para o Fórum Sustentabilidade e Governança, em Curitiba. Folha - Dá para ganhar dinheiro com madeira legal no Brasil? Manoel Sobral Filho - Produzir madeira em plantações é um negócio altamente rentável. Agora, ganhar dinheiro produzindo madeira com florestas tropicais nativas é mais difícil. Nas plantações, o rendimento chega a 60 m³ de madeira por hectare. A média brasileira está em torno de 35 m³. Na Amazônia, com manejo sustentável, o aceitável é 1 m³ por hectare. A monocultura produz muito mais madeira. Aí o pessoal fala: ""Mas na floresta amazônica a madeira é de melhor qualidade"". Mesmo assim não compensa. Soja dá mais dinheiro; gado, também. Do ponto de vista de produtos florestais, ela não é competitiva. Temos que arranjar mecanismos para remunerar o que a floresta tropical faz bem, que é conservar a biodiversidade e carbono. O que ainda falta para isso acontecer? Algo que, em inglês, chamamos de ""willingness to pay"". Vontade de pagar. Ninguém tem vontade de pagar pelo bem público. Paga-se pela prestação da casa própria, mas não por um parque. É difícil conservar porque não há mecanismos de remuneração para as áreas florestais. Falta de 'vontade de pagar' é uma questão cultural ou um gargalo do mercado brasileiro?* Eu diria que não é só o Brasil. É a população em geral; é do ser humano. Ninguém quer gastar mais. Mas quem poderia pagar por esses serviços ambientais? Quem está mais preocupado com carbono e biodiversidade? Mais ainda do que nós? A comunidade internacional. Então, eles é que deveriam pagar. Aponta-se sempre o dedo para os países tropicais. É verdade, há desmatamento. Mas não vamos esquecer do desmatamento histórico dos outros países. O nosso desmatamento só chegou mais atrasado. A comunidade internacional está disposta a pagar? Acho que precisamos aumentar mais uns 2°C na temperatura mundial. [risos] Mas está melhorando. Recentemente, nós revitalizamos o Fórum de Florestas das Nações Unidas. Nos últimos dois anos, nós formulamos e aprovamos o plano estratégico para florestas. Nesse plano, pela primeira vez, nós temos uma meta positiva. Não estamos falando só de reduzir o desmatamento. Conseguimos aprovar uma meta de 3% a mais de florestas em 2030. São 120 milhões de hectares. É uma meta factível? É audacioso, mas precisamos disso. Se falarmos em expandir a área florestal, vamos também olhar os países que quase não têm área florestal. Quatro países concentram 50% das florestas do mundo: Brasil, Canadá, Rússia e Estados Unidos. E mesmo assim nós estamos na berlinda o tempo todo. Um país riquíssimo da Europa disse: é impossível, nós não temos área. Mas a meta é global. E cada país dirá como contribuir. E eu respondi: vocês têm recursos financeiros que podem bancar aumento de florestas em outras áreas. E é para colocar dinheiro de verdade, não é essa porcariazinha de ajuda para desenvolvimento que se dá hoje. Tem que ser pagamento pelo serviço. Não é esmola. É pagamento por algo que é importante para toda a humanidade. Como o sr. avalia a decisão da Noruega em retirar apoio financeiro do Fundo Amazônia? É uma quantia relativamente pequena. Foram R$ 2,77 bilhões ao longo de quanto tempo? Dez anos? Esse dinheiro ficou parado no BNDES e só chegou a algumas algumas ONGs. Passou alguma coisa para os indígenas? Se passou, foi migalha. Por isso que o desmatamento aumenta. Eu achei prematuro retirarem essa verba [do Brasil]. Nós temos uma legislação que nenhum outro país do mundo tem, que estabelece 80% de reserva legal na Amazônia. Isso tem um custo, e é um custo muito grande. Deixa de gerar renda, desenvolvimento. Fica protegido para beneficiar o mundo com carbono e biodiversidade. E quem paga? Altruísmo, todo mundo quer. O que poderia ser feito para estimular o pagamento desses serviços? Você tem que promover. Na década de 1960, o Brasil criou o famoso Fiset [Fundo de Investimento Setorial]. Milhões de hectares de plantações de floresta no Brasil foram formados com esse fundo, que era um fundo de renúncia fiscal. Grandes bancos, montadoras, em vez de pagar imposto, recolhiam para o Fiset. Foi assim que o Brasil fez suas plantações. Por que não criaram um fundo semelhante para o manejo florestal sustentável? Tem que ter um incentivo do Estado aí. Só intervenções policiais não resolvem. Sem isso, a própria comunidade se organiza para atacar gente do Ibama. Você já viu isso. A comunidade se identifica mais com quem tem atividade ilegal do que com o Estado. Porque não há incentivo.",ambiente
Mudança climática causou extinção de réptil marinho com cara de golfinho,"Apesar de bem adaptado ao ambiente marinho e –aparentemente– bem-sucedido nos períodos Triássico e Jurássico, um réptil muito parecido com os golfinhos atuais se tornou extinto há 90 milhões de anos, quase 30 milhões de anos antes do fim dos dinossauros, no fim do período Cretáceo. A dúvida era o porquê, já que essa extinção não poderia ser ligada a um evento como um meteorito ou a erupção de um vulcão. A competição com outros répteis marinhos e a escassez de alimentos já haviam sido apontadas como possíveis causas desse sumiço precoce, mas um novo publicado na nesta segunda-feira (8) na revista científica ""Nature Communications"" conclui que a culpada foi a mudança climática. Valentin Fischer e colegas, da Universidade de Liege, na Bélgica, e da Universidade de Oxford, no Reino Unido, entre outras instituições, conseguiram estimar a diversidade dos ictiossauros ao longo do tempo e correlacionaram os resultados com dados do ambiente, como mudanças do nível do mar e o balanço químico dos oceanos. Eles então descobriram que esses bichos eram altamente diversos no início do Cretáceo –com mais espécies, formatos de corpo e nichos ecológicos. Já os últimos ictossauros tinham uma baixa taxa evolutiva –ou seja, sua velocidade de incorporação de mudanças era menor. Esses dados dão suporte para a tese de que mudanças climáticas do Cretáceo –grandes variações da temperatura e nos níveis do mar, por exemplo –foram as principais culpadas pelo desaparecimento dos animais, junto com sua evolução mais lenta –uma falha em desenvolver novas características e de adaptar-se ao novo ambiente. Ou seja, cai por terra a hipótese de que esses répteis com cara de golfinho teriam sido superados por outros répteis marinhos ou peixes. O estudo também identificou um evento há cerca de 100 milhões de anos como também um corresponsável pela redução da diversidade dos animais. Dessa forma, o processo de desaparecimento teria ocorrido em duas etapas.",ambiente
Veja os perfis de desperdiçadores de comida no Brasil e nos EUA,Pesquisa identifica perfis de desperdiçadores de comida no Brasil e nos EUA. Veja com qual você se identifica para mudar o hábito. Perfil dos desperdiçadores,ambiente
Filhote de urso polar com lata presa à boca mobiliza reserva ambiental russa,"Ambientalistas russos fizeram um alerta para os danos causados à vida selvagem pelo lixo que produzimos. O apelo ganhou força depois da divulgação das fotos de um filhote de urso polar que ficou com uma lata presa na boca. O caso ocorreu na remota ilha de Wrangel, um santuário natural no círculo Ártico, no extremo nordeste da Rússia, e que integra a lista de patrimônios mundiais da humanidade da Unesco. O responsável pela reserva, Alexander Grudzev, disse à BBC que o filhote de urso sofreu durante duas semanas com a lata –de leite condensado– na boca e ficou muito estressado, sem conseguir se alimentar. A operação de socorro mobilizou os guardas florestais da reserva, que tiveram que usar dardos tranquilizantes na mãe e no filhote de urso. SANTUÁRIO A montanhosa ilha de Wrangel tem a maior densidade populacional de ursos polares em cavernas e morsas-do-pacífico no mundo, segundo a Unesco. O filhote foi avistado no fim de setembro, no início do outono europeu, seguindo a mãe em busca de comida, de acordo com o jornal local The Siberian Times. A lata estava presa na língua do filhote e os guardas florestais tiveram que tomar cuidado ao retirá-la para não provocar um grande sangramento. ""Felizmente, tudo acabou bem e espero que isso não aconteça mais"", disse Gruzdev à BBC. ""Mas este caso mostra o perigo do lixo que o homem produz para os animais selvagens"". ""Às vezes os animais comem sacos plásticos onde havia sido guardada comida"", afirma Gruzdev. FATOS SOBRE A ILHA WRANGEL Ela tem a maior densidade populacional de ursos polares vivendo em cavernas no mundo. Acredita-se que foi um dos últimos refúgios dos mamutes, antes da sua extinção. A International Date Line (IDL) –a linha imaginária de navegação que une os Pólos Norte e Sul e marca a mudança de dia no calendário– foi deslocada para leste para evitar a ilha e a Península de Chukchi no continente russo. O ponto mais próximo do continente fica a 140 km de distância. Praticamente todo o território é uma reserva natural protegida por leis federais e administrada pelo Ministério do Meio Ambiente e Recursos Naturais da Rússia. Fica entre os mares de Chukchi e da Sibéria Oriental, tem cerca de 7.600 km² de superfície e 125 km de comprimento. OPERAÇÃO DE LIMPEZA ""Tivemos o caso de uma raposa que ficou com a cabeça presa em um contêiner onde havia garrafas para a reciclagem"", diz Gruzdev. ""Temos que estar lembrando constantemente as pessoas sobre a melhor maneira de jogar fora o seu lixo"". Gruzdev contou que, ironicamente, a lata que machucou o urso fora deixada por um grupo de trabalhadores contratado para limpar a ilha. A ilha de Wrangel tenta se livrar de toneladas de lixo - parte dele ainda dos tempos da União Soviética. ""Os trabalhadores usaram um barril como lata de lixo. Eles jogaram ali todo o lixo do acampamento deles, inclusive latas vazias"", afirma. ""O filhote de urso achou esse barril antes que fosse descartado e, infelizmente, a lata ficou presa quando ele tentou lambê-la por dentro"". O filhote escapou sem dano permanente, segundo os especialistas.",ambiente
'Jardins do diabo': a árvore amazônica que abriga um 'exército assassino',"Em meio à densidade da Floresta Amazônica existem clareiras misteriosas que contrastam com a diversidade da vegetação, pois neles só cresce praticamente uma única espécie de árvore. São os chamados ""jardins do diabo"", onde, segundo reza a lenda na região, habitariam espíritos malignos da floresta. A árvore em questão é a duroia (Duroia hirsuta), considerada a favorita dos seres sobrenaturais, de acordo com os nativos. À noite, segundo as lendas, eles limpariam as ervas daninhas do jardim e evitariam que qualquer outra planta no local cresça. Assim, ninguém se atreve a entrar nessas áreas após o pôr-do-sol. Os cientistas encontraram, no entanto, outra explicação para o fenômeno inusitado, quase tão fascinante quanto a versão dos habitantes da floresta. REALIDADE ALTERNATIVA As hastes das folhas das árvores têm inchaços por onde entram e saem pequenas formigas Myrmelachista schumanni. Essas câmaras são seu habitat, desenvolvido especialmente para elas pelas árvores. A salvo de predadores, as formigas guardam nelas seus ovos e larvas. Elas contam ainda com um armário de mantimentos: se alimentam do líquido doce de outros pequenos insetos. A oferta de hospedagem também beneficia a árvore nessa curiosa simbiose, uma vez que as formigas oferecem um serviço valioso: protegê-la de seus inimigos. VÁ COMER EM OUTRO LUGAR Os insetos se alimentam de maneira geral de folhas de plantas, se têm oportunidade... mas no caso das duroias, protegidas por um exército peculiar, eles não têm vez. Isso também vale para os insetos de grande porte –alguns chegam a ser milhares de vezes maior do que as formigas. Diante do 'invasor', esses soldados minúsculos adotam uma estratégia: identificam seu ponto fraco e atacam, até que ele se renda. Mas as formigas não se encarregam apenas de repelir animais que podem trazer danos à árvore. Talvez o mais surpreendente é que mantêm afastadas também plantas que competem com ela. GUERRA QUÍMICA Regularmente, pelotões de formigas deixam seus quartéis para patrulhar a vizinhança. Quando se deparam com um broto novo, fazem uma inspeção. Se descobrem que é da família de seu hospedeiro, deixam-no em paz. Se é um intruso, o ataque começa mordendo seus ramos. Quando chegam os reforços, centenas de pequenas garras ferem a planta constantemente, até que ela comece a murchar. Mas a mordida não é a única arma das formigas. Elas também injetam ácido fórmico nas feridas da vítima. O veneno se espalha por meio dos tecidos, acelerando a morte. COM SABOR O ácido fórmico é um herbicida orgânico que os seres humanos usam para conservar alimentos, enquanto as urtigas e formigas o utilizam como urticante. O sabor deste ácido inspirou o nome popular das aguerridas Myrmelachista schumanni: formigas-limão. Em questão de dias, com a morte dos intrusos, as formigas ampliam seu jardim. Essa técnica drástica de jardinagem traz benefícios tanto para a árvore quanto para as formigas. Ao assegurar a seu anfitrião mais espaço para expandir sem competição, as formigas garantem também mais moradias para que possam se reproduzir e aumentar seus exércitos. Para se ter uma ideia das dimensões, vale resgatar um depoimento que Megan Elizabeth Frederickson, um dos cientistas que estavam investigando o mistério dos 'jardins do diabo', deu à imprensa em 2006. ""A maior colônia no campo que eu estou estudando, que acredito datar de 807 anos atrás, tem 1.300 metros quadrados"", escreveu o especialista. ""E é formada por cerca de três milhões de formigas operárias e 15.000 rainhas"".",ambiente
Vitória de Trump provoca silêncio e receio em conferência do clima,"Pelos corredores da Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP22), declarações conciliadoras de ONGs conviveram com o absoluto silêncio da maioria negociadores a respeito do resultado das eleições que elegeram Donald Trump presidente dos EUA. Ele, que nega que mudanças climáticas estejam acontecendo, prometeu durante sua campanha cortar incentivos às energias renováveis e abandonar o acordo climático –ratificado neste ano pelos EUA e outros 102 países, incluindo o Brasil. A Folha conversou com oito representantes de delegações, entre blocos desenvolvidos e em desenvolvimento. Nenhum deles quis declarar publicamente as implicações da eleição do republicano para a negociação climática. As coletivas de imprensa agendadas para hoje foram canceladas e não houve nenhum pronunciamento público que comentasse o resultado das eleições. A exceção foi a China. O chefe da delegação, Gou Haibo, afirmou que ""a China quer fomentar a cooperação existente com todas as partes, inclusive com os EUA [...] e agirá agirá de forma positiva e vigorosa na luta contra as alterações climáticas"" A declaração alivia os anseios dos participantes na COP-22 que se perguntavam se a China, hoje o país que mais emite carbono no mundo, também pularia fora do Acordo de Paris caso os Estados Unidos o fizesse. Em 2015, China e Estados Unidos, apresentaram conjuntamente suas metas de redução de emissões. Juntos, os dois respondem por quase 40% das emissões atuais no mundo. Alguns delegados de países com propostas para a regulamentação do Acordo de Paris, que não quiseram se identificar, admitiram o receio de que um possível desengajamento dos EUA na pauta climática cause o mesmo em outros países, podendo inclusive desacelerar o debate e repetir as dificuldades do Protocolo de Kyoto. Em 2015 a colaboração americana na criação de ""metas nacionalmente determinadas"" para redução de emissões ajudou a viabilizar o Acordo de Paris, que virou lei internacional em tempo recorde –na última sexta-feira, menos de um ano depois de ter havido um consenso entre os mais de 190 países. Já o Protocolo de Kyoto, de 1997, não contou com a assinatura dos EUA –na época o maior emissor de carbono no mundo– e levou oito anos para entrar em vigor. Mas não é todo mundo que vê com pessimismo o efeito Trump no clima. Um dos observadores que acompanha a delegação europeia lembrou que a atuação americana nas COPs sempre tendeu a flexibilizar as condições e metas para a redução de emissões e que, portanto, a falta da participação americana poderia abrir espaço para compromissos mais firmes, assim como para o protagonismo de outros atores nas negociações. ENGAJAMENTO Já as declarações das organizações da sociedade civil que acompanham as negociações da COP procuraram minimizar o efeito da eleição para o acordo climático, reforçando que o contexto atual, diferente do Protocolo de Kyoto, já conta com um debate mundialmente engajado. A Uscan, rede de ONGs ambientais dos EUA, afirmou ""o Acordo de Paris é lei internacional e os Estados Unidos não podem mudar esse fato."" Seguindo a frase ""o arco da História pende para a justiça"", Mariana Panuncio, diretora da WWF para a cooperação climática internacional, parafraseou Martin Luther King ao afirmar hoje que ""o arco das mudanças climáticas pende para as soluções"". ""Trump precisa levar adiante o legado de Obama e fazer da América a superpotência de energia limpa do mundo"", diz. Hilda Heine, presidente das Ilhas Marshall, um dos países ameaçado de ser inundado pelo avanço do mar com o aquecimento acima de 1,5°C, cobrou o presidente eleito dos EUA: ""Espero que ele perceba que a mudança climática é uma ameaça para seu povo e para países inteiros que partilham mares com os EUA, incluindo o meu."" Algumas avaliações acreditam ser pouco provável a saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris, já que o processo levaria quatro anos – um mandato presidencial– para ser concluído. O que preocupa os ambientalistas é o efeito cascata que a inação dos EUA geraria em outros países que também precisam fazer grandes investimentos na transição energética –em outras palavras, o país continuaria no acordo, mas não faria a lição de casa. O Acordo de Paris prevê que os países entreguem metas mais ambiciosas de redução de emissões de carbono na COP de 2018. No mais tardar, será no meio do mandato de Trump que o mundo saberá se os EUA estarão dentro ou fora do barco da transição energética. 'NÃO PONHA UM PREÇO NISSO' No mesmo dia da eleição presidencial, o estado de Washington consultou a população sobre a criação de um imposto sobre a emissão de carbono, que cobraria uma taxa progressiva, a começar por US$ 15 por tonelada de carbono emitida a partir de julho de 2017. A maioria, mais de 1 milhão de eleitores, votou pelo ""não"" ao novo imposto. A proposta, inédita no país, vai ao encontro do discurso de Barack Obama na Conferência do Clima em Paris. Com a expressão ""ponha um preço nisso"", o presidente americano defendeu a precificação do carbono como forma de desencorajar as emissões. Apesar do expresso ""não"" ao imposto sobre o carbono, a população de Washington deu a maioria de votos para Hillary Clinton nesta terça (8).",ambiente
SOS Mata Atlântica faz 30 anos de olho nos rios e na costa brasileira,"Evitar que os rios das grandes cidades brasileiras continuem a funcionar como esgoto a céu aberto e lutar pela aprovação de uma lei que proteja os ambientes costeiros do Brasil estão entre os próximos objetivos da ONG ambientalista SOS Mata Atlântica, que está completando 30 anos de existência. ""A gente viu os prefeitos nessa última campanha prometendo construir mais postos de saúde, enquanto uma proporção enorme das doenças infecciosas do país têm a ver com qualidade da água e saneamento básico"", diz Mário César Mantovani, diretor de políticas públicas do órgão. ""Em pleno século 21, não faz o menor sentido ficar jogando esgoto em rio."" A preocupação com a disponibilidade e qualidade da água pode parecer estranha para uma ONG que leva o nome de um bioma ameaçado, mas as coisas, na verdade, estão intimamente ligadas. Mais de dois terços da população brasileira vive na mata atlântica, ou no que restou dela (calcula-se que apenas 12,5% da cobertura original do bioma ainda subsista, a maior parte desse total espalhada por milhões de fragmentos minúsculos de floresta, cada um deles com poucos hectares de extensão). Isso significa que a água consumida por toda essa gente depende, em larga medida, dos serviços de filtragem e proteção de nascentes prestados de graça pelas sobras de mata. De quebra, a maioria das projeções científicas aponta para um aumento dos eventos climáticos extremos -como secas e enchentes, por exemplo- ligados ao aquecimento global nas próximas décadas, o que torna ainda mais importante o papel da cobertura vegetal para domar as águas. Chamar a atenção para essas conexões é um dos trunfos históricos da ONG, diz Mantovani. ""A gente conseguiu trazer a questão ambiental para o cotidiano das pessoas, conseguiu mostrar que não é só coisa de quem está preocupado com bichinho e plantinha."" RENASCENÇA Já nos primeiros anos após a sua criação, a SOS Mata Atlântica também foi responsável pelo primeiro sistema de monitoração do desmatamento por satélite no Brasil, em parceria com o Inpe e com o Ibama, criando o Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica -um modelo que seria replicado com sucesso para acompanhar a devastação da Amazônia. ""Nos anos 1980, as pessoas achavam que o processo de desmatamento da mata atlântica era algo que já fazia parte da história, que tinha basicamente terminado. O atlas mostrou que esse processo ainda estava acontecendo"", afirma Márcia Hirota, diretora de gestão do conhecimento da organização. Três décadas depois, o ritmo da devastação caiu 83%, e sete Estados registraram desmatamento zero no último atlas, divulgado em 2015. Há dez anos, graças, em parte, aos esforços da ONG,
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