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August 23, 2023 15:03
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o livro ilustrado dos maus argumentos ali almossa
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ELOGIOS A | |
O livro ilustrado dos maus argumentos | |
“Eu amei este livro. É um compêndio infalível de falhas.” — ALICE ROBERTS, Ph.D., anatomista, | |
apresentadora do programa da BBC The Incredible Human Journey | |
“Maus argumentos, ótimas ilustrações… Maravilhoso.” — CORY DOCTOROW, do BoingBoing.net | |
“O livro ilustrado dos maus argumentos deveria fazer parte do currículo escolar. O Twitter | |
seria uma rede social muito mais civilizada.” — KEVIN TANG, BuzzFeed.com | |
“Uma ótima introdução para qualquer pessoa interessada em compreender falácias lógicas… | |
Dê este livro para todas as pessoas que adoram um debate – sejam boas nisso ou não.” — | |
LAUREN DAVIS, do site ion.com | |
“Agora, mais do que nunca, você precisa deste guia.” — DAN SALOMON, da Fast Company on-line | |
“Compartilhe este livro com seus amigos. Incentive seus familiares a folheá-lo. Deixe alguns | |
exemplares em lugares públicos.” — JENNY BRISTOL, do site GeekDad.com | |
“Uma forma maravilhosa de aprender sobre as falácias lógicas que vêm destruindo nosso | |
pensamento e a construção do debate.” — RON KRETSCH, do site DangerousMinds.net | |
“Um ótimo livro que todo cientista deveria ter. Acadêmicos de todas as áreas também.” — HOPE | |
JAHREN, autora de Lab Girl | |
Título original: An illustrated book of bad arguments | |
Copyright © 2014 por Ali Almossawi | |
Copyright da tradução © 2017 por GMT Editores Ltda. | |
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro pode ser utilizada ou reproduzida sob quaisquer meios existentes sem autorização por | |
escrito dos editores. | |
tradução: Leila Couceiro | |
preparo de originais: Virginie Leite | |
revisão: Ana Grillo, Juliana Souza, Luis Américo Costa e Raphani Margiotta | |
ilustrações: Alejandro Giraldo | |
capa: Ali Almossawi | |
quarta capa: Karen Giangreco | |
adaptação de capa e diagramação: Ana Paula Daudt Brandão | |
adaptação para e-book: Marcelo Morais | |
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO | |
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ | |
A456L | |
Almossawi, Ali | |
O livro ilustrado dos maus argumentos [recurso eletrônico] / Ali Almossawi; ilustração de Alejandro Giraldo. 1. | |
ed. Rio de Janeiro: Sextante, 2017. | |
recurso digital | |
Tradução de: An illustrated book of bad arguments | |
Formato: ePub | |
Requisitos do sistema: Adobe Digital Editions | |
Modo de acesso: World Wide Web | |
ISBN: 978-85-4310-479-9 (recurso eletrônico) | |
1. Lógica simbólica e matemática. 2. Lógica. 3. Livros eletrônicos. I. Giraldo, Alejandro. II. Título. | |
CDD: 511.3 | |
16-38546 | |
CDU: 510.6 | |
Todos os direitos reservados, no Brasil, por | |
GMT Editores Ltda. | |
Rua Voluntários da Pátria, 45 – Gr. 1.404 – Botafogo | |
22270-000 – Rio de Janeiro – RJ | |
Tel.: (21) 2538-4100 – Fax: (21) 2286-9244 | |
E-mail: atendimento@sextante.com.br | |
www.sextante.com.br | |
Para Danah: tudo | |
“O primeiro princípio é não enganar a si mesmo – | |
e você é a pessoa mais fácil de ser enganada.” | |
– Richard P. Feynman | |
Para quem é este livro? | |
Este livro é dedicado aos iniciantes na área do raciocínio lógico, principalmente àqueles que – para usar | |
uma expressão de Pascal – são feitos de tal maneira que aprendem melhor por meio de imagens. | |
Selecionei os 19 erros de argumentação mais comuns e usei ilustrações claras e divertidas para explicá- | |
los, complementando com vários exemplos. Minha expectativa é que o leitor aprenda nestas páginas | |
algumas das principais armadilhas encontradas em discursos e debates, para então conseguir identificá- | |
las e evitá-las na prática. | |
Prefácio | |
A literatura sobre lógica e falácias lógicas é ampla e variada. Existem diversos livros que se propõem a | |
ensinar o leitor a utilizar as ferramentas e paradigmas que sustentam um bom raciocínio, de forma a | |
produzir debates mais construtivos. No entanto, ler sobre o que não se deve fazer também é muito útil. | |
Em seu livro Sobre a escrita, Stephen King afirma: “Aprende-se mais claramente o que não se deve fazer | |
por meio da leitura de prosa ruim.” Ele descreve essa experiência terrível como “o equivalente literário | |
da vacina contra a varíola”. Já George Pólya teria afirmado em uma conferência sobre o ensino da | |
matemática que, além de se entender bem a disciplina, é necessário saber como não entendê-la. Este livro | |
trata fundamentalmente do que não se deve fazer em uma argumentação. | |
O diferencial aqui está no uso de ilustrações bem-humoradas para descrever os erros de raciocínio que | |
assolam o debate público atual. Elas são inspiradas em parte por alegorias como as de A revolução dos | |
bichos, de George Orwell, e pelo humor nonsense presente nos textos de Lewis Carroll. Mas, ao | |
contrário do que acontece nessas obras, aqui não há uma história costurando as ilustrações; trata-se de | |
cenas distintas, conectadas somente pelo estilo e pelo tema. Cada falácia está exposta apenas em uma | |
página, o que, espero, tornará mais fácil que cada falha de argumentação seja aprendida, lembrada e | |
sirva de referência muitas vezes. | |
Muitos anos atrás, trabalhei desenvolvendo software. Era uma forma intrigante de raciocinar por meio da | |
matemática, em vez da linguagem falada. Trazia precisão no lugar da ambiguidade em potencial e rigor | |
aonde antes havia um certo improviso. | |
Nessa mesma época, li alguns livros sobre lógica, tanto modernos quanto medievais, entre eles | |
Nonsense: A Handbook of Logical Fallacies (Nonsense: Um manual sobre falácias lógicas), de Robert | |
Gula. Esse livro me fez lembrar de uma lista de normas que eu havia anotado uma década antes sobre a | |
arte de argumentar – conclusões que tirei após vários anos debatendo com estranhos na internet – | |
incluindo, por exemplo: “Tente não fazer generalizações.” Hoje sei que isso é óbvio, mas, para o jovem | |
estudante que eu era, foi uma descoberta e tanto. | |
Logo ficou evidente para mim que formalizar o raciocínio traz benefícios como clareza de pensamento | |
e expressão, aumento de objetividade e autoconfiança. A capacidade de analisar os argumentos dos | |
outros também ajuda a perceber o momento certo de se retirar de discussões infrutíferas. | |
Hoje, com as redes sociais, há cada vez maior participação no debate público sobre fatos do dia, | |
política, liberdades civis. Mas há uma notável falta de raciocínio lógico e fundamentação em boa parte | |
desse discurso. Espero contribuir de alguma forma para aprimorar essas discussões. | |
Claro que a lógica não é a única ferramenta usada em debates e é bom estar ciente das outras. A | |
retórica provavelmente é a mais importante, seguida de conceitos como o ônus da prova e a navalha de | |
Occam (princípio segundo o qual na explicação de um fenômeno devem se apresentar apenas as | |
premissas necessárias, eliminando todas as outras; também é conhecido como o princípio da | |
parcimônia). O leitor interessado pode consultar a ampla literatura existente sobre o assunto. | |
É preciso ressaltar que as regras da lógica não são leis do mundo natural, nem constituem a totalidade | |
do raciocínio humano. Como afirma o cientista cognitivo Marvin Minsky, é difícil explicar o simples | |
bom senso em termos de princípios lógicos, bem como as analogias. Ele acrescenta: “A lógica não | |
consegue explicar como pensamos, assim como a gramática não consegue explicar como falamos.” A | |
lógica não gera novas verdades, mas permite que se verifiquem a consistência e a coerência das cadeias | |
de pensamento existentes. Exatamente por isso é uma ferramenta eficaz para a análise e a comunicação de | |
ideias e argumentos. | |
Ali Almossawi, São Francisco, outubro de 2013 | |
Argumento a partir das consequências | |
O argumento a partir das consequências consiste em defender ou refutar a veracidade de uma declaração | |
apelando às consequências que ela teria se fosse verdadeira (ou falsa). Mas o fato de uma proposição | |
levar a um resultado desfavorável não significa que ela seja falsa. Da mesma forma, o simples fato de ter | |
consequências positivas não torna a afirmação automaticamente verídica. Como afirma o professor David | |
Hackett Fischer: “Não se deduz que uma qualidade ligada a um efeito seja transferível à sua causa.” | |
Se as consequências forem positivas, o argumento pode alimentar esperanças, por vezes tomando a | |
forma de pensamento positivo. Já se forem negativas, o argumento pode suscitar temores. Vamos analisar | |
a citação de Dostoievski: “Se Deus não existe, então tudo é permitido.” Deixando de lado as discussões | |
morais, o apelo às consequências sombrias de um mundo puramente materialista não prova nada sobre a | |
existência ou não de Deus. | |
É preciso perceber, porém, que tais argumentos são falaciosos somente quando usados para afirmar ou | |
negar a veracidade de uma declaração, e não quando dizem respeito a decisões ou políticas públicas | |
(Curtis). Por exemplo, um parlamentar pode logicamente se opor ao aumento de impostos por receio de | |
que haja um impacto negativo na vida de seus eleitores. | |
A falácia do argumento a partir das consequências pode ser reconhecida como uma pista falsa ou | |
manobra de distração, porque sutilmente desvia a discussão da proposição original – neste caso, em | |
direção ao resultado e não ao mérito da proposta em si. | |
Falácia do espantalho | |
A falácia do espantalho consiste em apresentar de forma caricata o argumento da outra pessoa, com o | |
objetivo de atacar essa falsa ideia em vez do argumento em si. Deturpar, citar de maneira incorreta, | |
desconstruir e simplificar demais o ponto de vista do adversário são formas de cometer essa falácia. Em | |
geral, o argumento espantalho é mais absurdo que o argumento real, facilitando o ataque. Além disso, | |
acaba levando o oponente a perder tempo defendendo-se da interpretação ridícula de seu argumento, em | |
vez de sustentar sua posição original. | |
Por exemplo, um cético em relação à teoria de Darwin poderia dizer: “Meu oponente está tentando | |
convencer você de que nós evoluímos dos macacos que se balançavam em árvores; uma afirmação | |
realmente grotesca.” Essa é uma deturpação do que a biologia evolutiva afirma de fato, que é a ideia de | |
que humanos e chimpanzés compartilharam um ancestral comum há milhões de anos. Deturpar a ideia é | |
muito mais fácil do que refutar suas evidências. | |
Apelo a uma autoridade irrelevante | |
Embasar um argumento na opinião de uma autoridade é um apelo à modéstia das pessoas, ao senso de que | |
sempre haverá outros com maior conhecimento do que nós (Engel) – o que pode até ser verdade, mas nem | |
sempre. Claro que é correto citar uma autoridade competente, como os cientistas e acadêmicos costumam | |
fazer. A grande maioria das coisas em que acreditamos, como os átomos e o sistema solar, são | |
confirmadas por autoridades confiáveis, assim como todos os fatos históricos (na acepção de C.S. | |
Lewis). Mas é muito mais provável que o argumento seja falacioso quando há um apelo à opinião de uma | |
autoridade irrelevante, que não é especializada no assunto em questão. Uma falha de argumentação nessa | |
linha é o apelo a uma autoridade vaga, em que uma ideia é atribuída a um coletivo indefinido. Por | |
exemplo: “Professores na Alemanha demonstraram que isso é verdadeiro.” | |
Um tipo comum de apelo a autoridades irrelevantes é o apelo à sabedoria antiga, onde uma ideia é | |
presumida como verdadeira somente porque foi originada num passado distante. Por exemplo: “A | |
astrologia era praticada há milênios na China, uma das civilizações tecnologicamente mais avançadas da | |
Antiguidade.” Esse tipo de apelo costuma ignorar o fato de que o conhecimento científico atual é muito | |
superior e que muitos costumes e normas podem mudar ao longo do tempo. Por exemplo: “Nós não | |
dormimos o suficiente hoje em dia. Poucos séculos atrás, as pessoas costumavam dormir nove horas por | |
noite.” Havia uma série de razões pelas quais elas dormiam mais horas no passado. O simples fato de | |
que dormiam mais não oferece evidências suficientes para sustentar o argumento de que devemos fazer o | |
mesmo hoje em dia. | |
Equívoco | |
A falácia do equívoco (também chamada de equivocação) explora a ambiguidade da linguagem, alterando | |
o sentido de uma mesma palavra durante o argumento e usando esses significados diferentes para | |
sustentar uma conclusão infundada. (Quando se emprega o mesmo sentido para uma palavra em todo o | |
argumento, ela está sendo usada de modo unívoco ou inequívoco.) Considere o seguinte argumento: | |
“Como você pode dizer que não tem fé, quando age com fé o tempo todo? Fecha negócios, confia em | |
amigos e até fica noivo?” Aqui, o significado da palavra “fé” parte da crença espiritual num criador e | |
depois muda para uma questão de confiança em outras pessoas. | |
Essa falácia é muito utilizada em discussões sobre ciência e religião, onde o termo “por que” pode ser | |
adotado em sentidos diferentes. Num contexto, é a busca de causas – motivadora da ciência – e no outro, | |
é a busca de um propósito, de um sentido maior – mais relacionada à moralidade e a questões pessoais | |
em que a ciência pode não ter respostas. Veja este exemplo: “A ciência não pode nos dizer por que as | |
coisas são como são. Por que existimos? Por que temos moral? Portanto, nós precisamos de outra fonte, | |
como a religião, para nos dizer por que as coisas acontecem.” | |
Falso dilema | |
O falso dilema é um argumento que apresenta apenas duas categorias possíveis e parte do princípio de | |
que tudo no âmbito da discussão deva pertencer somente a uma ou a outra destas possibilidades opostas.1 | |
Assim, ao rejeitar uma das opções, a pessoa não teria alternativa a não ser aceitar a outra. Por exemplo: | |
“Na guerra ao fanatismo, não há neutralidade: ou você está do nosso lado, ou está com os extremistas.” | |
Na realidade, há uma terceira opção, a de estar neutro; e uma quarta, de ser contra os dois lados; e ainda | |
uma quinta opção, de concordar com razões de ambos. | |
O livro The Strangest Man, biografia do gênio da física quântica Paul Dirac, escrito por Graham | |
Farmelo, reproduz uma divertida parábola contada pelo físico Ernest Rutherford: Um homem comprou | |
um papagaio numa loja de animais, mas depois voltou pedindo outro, porque o pássaro não falava. O | |
gerente da loja não quis fazer a troca, mas depois de várias outras visitas e reclamações do cliente, ele | |
finalmente cedeu. “Ah, é mesmo! Você queria um papagaio falante. Por favor, me perdoe. Eu lhe dei um | |
papagaio pensante.” Rutherford estava claramente aludindo à personalidade silenciosa e genial de Dirac, | |
mas é possível imaginar que alguém usaria tal linha de raciocínio para sugerir que ou alguém é silencioso | |
e pensador, ou é falante e imbecil. | |
1Esta falácia também é conhecida como terceiro excluído, pensamento preto e branco e falsa | |
dicotomia. | |
Causa questionável | |
Também conhecida como causa falsa, esta falácia define como causa de um evento, sem provas, uma | |
ocorrência anterior ou simultânea àquele evento. A correlação entre os dois eventos pode ser pura | |
coincidência ou resultado de algum outro fator. Mas sem evidências não é possível concluir que um | |
evento causou o outro. “O terremoto aconteceu porque nós desobecemos ao rei” não é um argumento | |
válido. | |
Esta falácia tem dois tipos específicos: “depois disso, logo, por causa disso” (post hoc ergo propter | |
hoc) e “com isso, logo, por causa disso” (cum hoc ergo propter hoc). No primeiro tipo, o evento anterior | |
é considerado causa do que vem depois. No cum hoc, como os eventos ocorrem ao mesmo tempo, um | |
deles é escolhido como causa do outro. Em várias disciplinas, especialmente pesquisas científicas, esse | |
erro é conhecido como confundir correlação com causalidade. | |
O comediante Stewart Lee nos dá um exemplo: “Eu não posso dizer que, como em 1976 eu fiz o | |
desenho de um robô e logo depois Guerra nas Estrelas foi lançado, então eles copiaram a ideia de mim.” | |
Li outro exemplo recentemente num fórum on-line: “Um hacker derrubou o site da companhia ferroviária, | |
daí quando fui checar o horário dos trens, foi batata, estavam todos atrasados!” O autor do post não levou | |
em consideração que trens podem se atrasar por vários motivos, portanto sem provas concretas ou | |
controle científico, a conclusão de que o hacker foi a causa dos atrasos é infundada. | |
Apelo ao medo | |
Esta falácia aposta no medo do público, criando a ameaça de um futuro assustador caso uma determinada | |
proposta seja escolhida. Em vez de oferecer provas concretas de que essa proposta levaria mesmo a tal | |
cenário sombrio, esse tipo de argumento é baseado apenas em retórica, ameaças ou mentiras descaradas. | |
Por exemplo: “Peço que todos os funcionários dessa empresa votem no meu candidato na próxima | |
eleição. Se o outro candidato ganhar, ele irá aumentar impostos e vocês irão perder seus empregos.” | |
Aqui vai um outro exemplo, do livro O processo (Kafka): “É melhor você me entregar todos os seus | |
objetos de valor antes que a polícia chegue aqui. Senão, os policiais vão colocá-los num depósito, e as | |
coisas tendem a se perder no depósito.” Embora seja quase uma ameaça, ainda que sutil, há uma tentativa | |
de argumentação. Ameaças ostensivas ou ordens que não tentem oferecer alguma evidência não | |
podem ser confundidas com esta falácia, mesmo que busquem explorar o medo de alguém (Engel). | |
Quando um apelo ao medo descreve uma série de eventos aterrorizantes que irão ocorrer como | |
resultado de uma determinada opção – sem conexões causais claras entre a proposta e essas | |
consequências –, o argumento fica próximo à falácia da bola de neve. E quando a pessoa fazendo o apelo | |
ao medo oferece apenas uma alternativa à proposta atacada, a falácia também pode ser um tipo de falso | |
dilema. | |
Generalização precipitada | |
Esta falácia é cometida quando alguém tira uma conclusão a partir de uma amostra pequena ou específica | |
demais para ser representativa. Por exemplo, perguntar a 10 pessoas na rua o que elas pensam do plano | |
do presidente para reduzir o déficit não é suficiente para medir o sentimento da nação inteira. | |
Embora convenientes, as generalizações precipitadas podem levar a resultados custosos e | |
catastróficos. Por exemplo, é possível que uma conclusão errada de engenheiros tenha levado à explosão | |
do foguete Ariane 5 durante seu primeiro voo-teste: o software de controle havia sido testado | |
satisfatoriamente com o modelo anterior, Ariane 4, mas, infelizmente, aqueles testes não cobriram todos | |
os cenários possíveis para o Ariane 5, portanto foi um erro presumir que a programação iria funcionar da | |
mesma forma no modelo novo. Essas decisões cruciais dependem da habilidade de engenheiros e | |
autoridades para argumentar e tirar conclusões, por isso é tão relevante aprender sobre este e outros | |
exemplos na nossa discussão sobre falácias lógicas. | |
Outra forma de generalização apressada está no capítulo do lago de lágrimas no livro Alice no País | |
das Maravilhas, onde Alice deduz que, como ela está boiando em água salgada, alguma estação de trem | |
– e portanto ajuda – deve estar por perto: “Alice tinha ido à praia apenas uma vez na vida. E tinha | |
chegado à conclusão de que, em qualquer lugar no litoral inglês, você encontraria cabines de banho, | |
crianças cavando a areia com uma pá, uma fileira de casas de veraneio e, atrás disso tudo, uma estação | |
de trem.” (Carroll) | |
Apelo à ignorância | |
Este tipo de argumento tenta convencer que algo é verdadeiro simplesmente porque não foi comprovado | |
como falso.2 Assim, a ausência de prova é transformada em prova por ausência. Carl Sagan nos deu este | |
exemplo: “Não há evidência definitiva de que os OVNIs não estejam visitando a Terra; portanto, os | |
OVNIs existem.” De forma semelhante, antes de se descobrir como foram construídas as pirâmides, | |
alguns concluíram que, na falta de prova em contrário, as estruturas teriam sido erguidas por um poder | |
sobrenatural. Mas o fato é que o ônus da prova é sempre da pessoa que faz a alegação. | |
O posicionamento mais lógico seria questionar o que é mais provável, baseado nas evidências a partir | |
de observações feitas ao longo do tempo. Ou seja: há probabilidade maior de que um objeto voando pelo | |
céu seja um artefato construído pelo homem, algum fenômeno natural, ou alienígenas vindo de outro | |
planeta? Como já observamos frequentemente os dois primeiros casos – e nunca discos voadores –, é | |
muito mais razoável concluir que OVNIs não sejam extraterrestres vindo do espaço sideral. | |
Uma forma específica de apelo à ignorância é o argumento da incredulidade pessoal, onde a | |
incapacidade de entender ou imaginar algo leva a pessoa a acreditar que aquilo é falso. Por exemplo: “É | |
impossível imaginar que o homem realmente pisou na Lua, portanto, isso nunca aconteceu.” Diante de | |
afirmações desse tipo, o ideal é uma resposta sarcástica, como: “É por isso que você não virou cientista | |
da NASA.” | |
2A ilustração para essa falácia foi inspirada na divertida resposta de Neil deGrasse Tyson a uma | |
pergunta sobre OVNIs durante uma palestra: bookofbadarguments.com/video/tyson | |
Nenhum escocês de verdade | |
Este argumento costuma aparecer quando alguém faz uma generalização sobre um determinado grupo e | |
depois é desafiado com evidências que o desmentem. Em vez de reavaliar sua posição ou contestar a | |
evidência, a pessoa foge do desafio redefinindo arbitrariamente o critério para se pertencer àquele | |
grupo.3 | |
Por exemplo, alguém alega que programadores são criaturas antissociais. Se outra pessoa repudiar | |
essa afirmação dizendo “mas o John é programador e extrovertido, sem dificuldade alguma de se | |
relacionar socialmente”, isso pode provocar a seguinte resposta: “Sim, mas o John não é um programador | |
de verdade.” Aqui, não está claro o que ele considera um verdadeiro programador; a categoria não é | |
precisamente definida como, por exemplo, as de pessoas de olhos azuis. A ambiguidade permite que a | |
mente teimosa redefina as coisas a seu bel prazer. | |
Essa falácia foi descrita pela primeira vez em 1975 por Antony Flew em seu livro Thinking about | |
Thinking (Pensando sobre pensar), em que ele nos dá o seguinte exemplo: Hamish está lendo o jornal e | |
se depara com uma notícia sobre um inglês que cometeu um crime hediondo, à qual reage dizendo: | |
“Nenhum escocês cometeria algo tão terrível.” No dia seguinte, ele lê outra notícia em que um escocês é | |
autor de um crime ainda pior. Em vez de mudar sua opinião sobre os escoceses, Hamish afirma: “Nenhum | |
escocês de verdade faria tal coisa” (Flew). | |
3Quando o argumentador maliciosamente redefine uma categoria, sabendo muito bem que, ao fazê-lo, | |
está deturpando-a de forma proposital, o ataque se torna também um tipo de falácia do espantalho. | |
Falácia genética | |
A falácia genética é cometida quando um argumento é desvalorizado ou defendido somente por causa de | |
suas origens. Em vez de examinar a validade da proposta, ataca-se a sua origem histórica, ou a origem da | |
pessoa que a defende. Como aponta T. Edward Damer, fica difícil avaliar o mérito do argumento quando | |
se está apegado emocionalmente às origens de uma ideia. | |
Considere o seguinte argumento: “Claro que ele apoia os sindicalistas em greve; afinal, ele nasceu na | |
mesma comunidade que eles.” Aqui, não se avalia o mérito de apoiar a greve; em vez disso, tenta-se | |
levar os outros a concluir que a opinião do oponente não teria valor somente porque ele veio da mesma | |
região que os trabalhadores parados. Veja este outro exemplo: “Estamos no século XXI, não podemos | |
continuar mantendo essas crenças da Idade do Bronze.” Por que não?, poderíamos perguntar. Devemos | |
descartar todas as ideias originadas na Idade do Bronze simplesmente porque são muito antigas? | |
Por outro lado, há quem invoque a falácia genética num sentido positivo, para defender uma opinião, | |
dizendo algo como: “As visões de Jack sobre arte não podem ser contestadas. Ele vem de uma longa | |
linhagem de artistas ilustres.” Assim como nos exemplos anteriores, também falta evidência a esse | |
argumento. | |
Culpa por associação | |
Culpar por associação é desacreditar uma ideia ao associá-la a algum indivíduo ou grupo malvisto em | |
determinados setores sociais. Por exemplo: “Meu oponente quer um sistema de saúde semelhante ao de | |
países socialistas. Claro que isso seria inaceitável.” O fato de o sistema de saúde proposto se assemelhar | |
ou não ao de países socialistas não serve como critério de qualidade do plano; trata-se de um non | |
sequitur total. Ou seja, uma inferência ou conclusão que não é consequência lógica da premissa | |
apresentada. | |
Outro argumento, repetido exaustivamente em algumas sociedades, é o seguinte: “Não podemos deixar | |
as mulheres dirigirem, porque nos países infiéis elas têm permissão para dirigir.” Essencialmente, o que | |
esses exemplos tentam argumentar, sem sucesso, é que um determinado grupo seria tão absolutamente mau | |
que compartilhar qualquer atributo com ele tornaria a pessoa um membro dessa categoria maléfica. | |
Afirmação do consequente | |
Um dos vários argumentos formais válidos é conhecido como modus ponens (modo de afirmar), que tem | |
a seguinte fórmula: Se A, então C; A, portanto, C. Explicando melhor: “A” é o antecedente para “C” | |
(consequente). Se “A” é verdadeiro, então “C” também será verdadeiro. Juntos formam duas premissas e | |
uma conclusão. A notação formal em lógica é A C, A C. Exemplo de modus ponens: | |
Premissa: Se A, então C | |
Se a água estiver fervendo ao nível do mar, então sua temperatura é de pelo menos 100 o C. | |
A água está fervendo ao nível do mar; portanto, sua temperatura é de pelo menos 100 o C. | |
Premissa: A Conclusão: C | |
O argumento acima é sólido, além de ser válido. | |
Já a falácia da afirmação do consequente subverte o formato do modus ponens, presumindo | |
erroneamente que, quando o consequente é verdadeiro, então o antecedente deve ser verdadeiro também, | |
o que muitas vezes não acontece. Ou seja, a fórmula passa a ser Se A, então C; C, portanto, A. | |
Por exemplo: “Pessoas que vão para a universidade são bem-sucedidas. John é bem-sucedido, | |
portanto, ele deve ter cursado uma faculdade.” O sucesso de John pode ter sido resultado de sua | |
educação superior, mas também poderia ser devido à sua criação ou à sua tenacidade em superar | |
circunstâncias difíceis. Como a escolaridade não é o único caminho para o sucesso, não se pode dizer | |
que uma pessoa bem-sucedida com certeza deve ter cursado uma universidade. | |
Apelo à hipocrisia | |
Também conhecida por seu nome em latim, tu quoque (você também), esta falácia ocorre quando se | |
aponta uma suposta contradição entre o argumento da pessoa e suas ações ou afirmações anteriores | |
(Engel). Portanto, ao rebater uma acusação com outra acusação, o objetivo é desviar a atenção do mérito | |
do argumento e colocá-la na pessoa que expressou aquela ideia. Essa característica torna o apelo à | |
hipocrisia um tipo de ataque ad hominem. E, claro, mesmo que haja inconsistência da pessoa, o | |
argumento dela ainda pode ser correto. | |
Num episódio do programa Have I Got News for You, da TV britânica BBC – que, de forma bem- | |
humorada, faz perguntas sobre notícias a celebridades –, um dos convidados criticou um protesto em | |
Londres contra a ganância dos empresários por conta da aparente hipocrisia dos manifestantes, usando o | |
surrado argumento de que eles não podiam ser contra o capitalismo enquanto usavam smartphones e | |
tomavam café latte. | |
Outro exemplo vem do filme Obrigado por fumar, de Jason Reitman, onde um diálogo com várias | |
falácias tu quoque é concluído da seguinte maneira por um carismático e inescrupuloso lobista da | |
indústria do fumo, Nick Taylor: “Só acho engraçado o senador de Vermont me chamar de hipócrita, | |
quando ele, num mesmo dia, deu uma coletiva de imprensa defendendo a queima de todas as plantações | |
de tabaco no país, para depois pegar um jatinho particular e ir até o festival de rock Farm Aid, onde | |
dirigiu um trator no palco e lamentou o declínio do agricultor americano.” | |
Bola de neve | |
A falácia da bola de neve tenta desacreditar uma proposta argumentando que sua aceitação levará | |
inevitavelmente a uma sequência de eventos indesejáveis.4 Embora a sequência de eventos possa até ser | |
plausível – com alguma probabilidade de que cada transição entre eles ocorra –, esse tipo de argumento | |
parte do princípio de que todas as transições são inevitáveis, mas sem oferecer qualquer prova disso. O | |
argumento da bola de neve tenta instigar medo na audiência, sendo relacionado a outras falácias que já | |
mencionamos, como o apelo ao medo, falso dilema e argumento a partir das consequências. | |
Por exemplo: “Nós não deveríamos permitir às pessoas o acesso totalmente livre à internet. Daqui a | |
pouco, elas começam a frequentar sites pornográficos, o que irá deteriorar o tecido moral da sociedade, e | |
depois nós seremos reduzidos a meros animais.” É gritante neste argumento a falta de evidências. Só | |
apresenta a conjectura infudada de que o acesso livre à internet causaria a decadência moral da | |
sociedade, a partir de pressuposições exageradas sobre o comportamento das pessoas. | |
4 A falácia da bola de neve descrita aqui é do tipo causal. | |
Apelo à popularidade | |
Também conhecido como apelo ao povo, este argumento utiliza o fato de muitas pessoas (ou até mesmo a | |
maioria delas) acreditarem em algo como se fosse prova de que a ideia é verdadeira. Esse tipo de falácia | |
muitas vezes dificultou a aceitação maior de teorias pioneiras. Por exemplo, na época de Galileu, a | |
maioria das pessoas acreditava que o Sol e os planetas orbitavam em torno da Terra, portanto o | |
astrônomo foi ridicularizado por apoiar o modelo de Copérnico, que corretamente coloca o Sol no centro | |
do nosso sistema solar. Mais recentemente, o médico Barry Marshall precisou adotar a medida extrema | |
de se inocular com bactérias H. pylori a fim de convencer a comunidade científica de que esses | |
organismos causam úlcera péptica – uma teoria que até então havia sido descartada. | |
A publicidade frequentemente tenta convencer as pessoas a usar um produto somente pelo motivo de | |
ser popular. Por exemplo: “Quem está na moda usa o gel de cabelo X. Não fique fora dessa.” Embora | |
entrar na moda seja uma oferta atraente, isso não basta para sustentar o imperativo de que alguém deva | |
comprar o produto anunciado. Políticos também adotam muito essa retórica – usando a popularidade | |
como se fosse evidência de que uma proposta é correta – a fim de impulsionar suas campanhas e | |
influenciar eleitores. | |
O argumento ad hominem (do latim “ao homem”) ataca a pessoa, em vez da opinião que ela está dando, | |
com a intenção de desviar a discussão e desacreditar a proposta desse oponente. Por exemplo: “Você não | |
é historiador; por que não se atém aos assuntos da sua área?” O fato de alguém não ser historiador não | |
tem qualquer impacto no mérito de seu argumento – a não ser em um caso em que somente historiadores | |
possam estar corretos sobre o assunto –, portanto, isso não reforça em nada a posição do atacante. | |
Esse tipo de ataque pessoal é o ad hominem ofensivo. Há um segundo tipo, o ad hominem | |
circunstancial, que ataca a pessoa por motivos cínicos, geralmente ao fazer um juízo negativo de suas | |
intenções. Por exemplo: “Você não se importa realmente em reduzir o crime na cidade. Quer apenas que | |
as pessoas votem em você.” Mas mesmo que uma pessoa se beneficie (no caso, com votos) com a | |
aceitação de seu argumento, isso não significa que a ideia seja necessariamente ruim ou incorreta. | |
Um ataque ad hominem às vezes consegue desviar o assunto ao rebaixar o debate a uma troca de | |
falácias tu quoque. Por exemplo, John diz: “Este homem está errado porque não tem integridade; | |
pergunte a ele por que foi demitido de seu último emprego”, ao que Jack retruca: “Que tal se falarmos do | |
bônus substancial que você recebeu ano passado, apesar dos cortes de metade do pessoal na sua | |
empresa?” Nesse ponto, a discussão já foi completamente desvirtuada. Dito isso, realmente existem | |
algumas situações em que é legítimo questionar a credibilidade de uma pessoa, como durante um | |
depoimento judicial. | |
Raciocínio circular | |
O raciocínio circular é um dos quatro tipos de argumentos falaciosos conhecidos como petição de | |
princípio (Damer), em que a conclusão é tomada, implícita ou explicitamente, em uma ou mais das | |
premissas. No raciocínio circular, ou a conclusão aparece de forma óbvia como premissa, ou – como é | |
mais comum – é uma repetição da premissa, mas usando palavras diferentes. Por exemplo: “Você está | |
completamente equivocado, pois o que falou não faz o menor sentido.” Nesse caso, as duas proposições | |
significam a mesma coisa, já que estar errado e não fazer sentido têm o mesmo significado nesse | |
contexto. O argumento está simplesmente afirmando que “por causa de x, portanto x”, o que não significa | |
nada. | |
O argumento circular às vezes depende de premissas não declaradas, o que pode torná-lo mais difícil | |
de detectar. Considere alguém que diz a um ateu que ele deveria acreditar em Deus porque, do contrário, | |
irá para o inferno. A premissa não declarada por trás de alguém ir para o inferno é a de que existe um | |
Deus capaz de mandá-lo para lá. Portanto, a premissa “existe um Deus que manda os descrentes para o | |
inferno” é usada para apoiar a conclusão de que “Deus existe”. É como disse o comediante Josh Thomas | |
à personagem Peg no seriado da TV australiana Please Like Me: “Você não pode ameaçar um ateu com o | |
inferno, Peg. Não faz nenhum sentido. É como um hippie ameaçando socar a sua aura.” | |
Composição e divisão | |
Uma pessoa comete a falácia da composição ao inferir que, como as partes de um todo têm um | |
determinado atributo, então o todo também deve ter aquele mesmo atributo. Mas, parafraseando Peter | |
Millican, se cada ovelha num rebanho tem uma mãe, não se deduz que o rebanho tem uma mãe. Veja outro | |
exemplo: “Cada módulo desse sistema de software foi submetido a testes de unidade e passou em todos. | |
Portanto, quando os módulos forem integrados, o sistema inteiro não irá violar qualquer das invariantes | |
verificadas pelos testes das unidades.” Na realidade, juntar as partes individuais para formar um sistema | |
introduz um outro nível de complexidade, devido à interação entre as partes, o que poderá apresentar | |
novas possibilidades de erros. | |
Na falácia da divisão, acontece o inverso. É cometida quando se infere que as partes devem ter um | |
atributo que pertence ao todo. Por exemplo: “Nosso time é imbatível. Cada um dos nossos jogadores | |
conseguirá se destacar mais que qualquer jogador do time adversário.” Embora possa ser verdade que o | |
time como um todo seja invencível, isso poderia ser resultado de como as habilidades de cada jogador | |
funcionam juntas, em equipe – portanto, não se pode usar o sucesso do time como evidência de que o | |
talento individual de cada jogador seja imbatível por si só. | |
Considerações finais | |
Há muitos anos, ouvi um professor explicar o significado de argumentos dedutivos usando uma excelente | |
metáfora, descrevendo-os como tubulações sem furos ou vazamentos, onde a verdade entra por uma | |
extremidade e continua sendo verdade ao sair pela outra. Aliás, essa imagem foi a inspiração para a capa | |
do livro. Agora que você chegou até aqui, espero que termine a leitura não só com uma noção melhor dos | |
benefícios de uma argumentação sólida para a confirmação e expansão do conhecimento, como também | |
das complexidades dos argumentos indutivos, onde as probabilidades entram em jogo. Com relação aos | |
indutivos, em particular, o pensamento crítico se revela uma ferramenta indispensável. Acima de tudo, | |
espero que você adquira uma percepção mais aguçada do perigo de argumentos frágeis e de como são | |
frequentes em nosso cotidiano. | |
Gostaria de concluir agradecendo às pessoas com quem tive o prazer de compartilhar este projeto, desde | |
seu estágio embrionário até o ponto de alçar voo. Obrigado a todos que dedicaram seu tempo para me | |
ajudar com seus comentários e críticas – o que sem dúvida aprimorou este livro: os 700 mil leitores da | |
edição on-line; os quase 4 mil leitores que apoiaram o projeto com doações ou comprando a primeira | |
edição; as livrarias que apostaram no livro, embora fosse desconhecido na época; e especialmente, os | |
voluntários que traduziram a edição on-line para suas próprias línguas. Tem sido uma jornada | |
maravilhosa, e tenho fé de que esta seja apenas uma entre muitas ainda por vir. | |
Definições | |
ARGUMENTO: Série de proposições com o intuito de persuadir por meio do raciocínio. Num | |
argumento, um subgrupo de proposições, chamadas premissas, apoia outra proposição, chamada | |
conclusão. | |
proposição: Afirmação que pode ser verdadeira ou falsa, mas não as duas coisas ao mesmo tempo. Por | |
exemplo: “Boston é a maior cidade de Massachusetts.” | |
premissa: Proposição que dá apoio à conclusão de um argumento. Pode haver uma ou mais premissas | |
para cada argumento. | |
falseabilidade: Uma proposição é falseável se puder ser refutada e desmentida por meio da observação | |
ou de um experimento. Por exemplo, a asserção “todas as folhas são verdes” pode ser facilmente refutada | |
ao se apontar para uma folha que não seja verde. Mas, quando uma teoria resiste à refutação pela | |
experiência, então pode ser considerada comprovada. Por isso, a falseabilidade é um sinal de força do | |
argumento e não de sua fraqueza. | |
FALÁCIA LÓGICA: Erro no raciocínio usado para fazer a transição de uma proposição para a outra, | |
resultando num argumento falho. Falácias lógicas violam um ou mais dos princípios que constituem um | |
bom argumento, como boa estrutura, consistência, clareza, ordem, relevância e completude. É importante | |
observar que encontrar uma falácia num argumento não equivale a provar que a conclusão é falsa – a | |
conclusão pode ser verdadeira, mas necessitar de um raciocínio melhor para embasá-la. | |
falácia formal: Erro que torna o raciocínio ilógico devido a uma falha em sua estrutura. A falácia pode | |
ser identificada apenas pela análise da forma do argumento, antes mesmo de se avaliar seu conteúdo. | |
(Por exemplo, afirmação do consequente). | |
falácia informal: Erro que torna o raciocínio ilógico devido a seu conteúdo e a seu contexto e não à sua | |
forma. Nesse caso, as premissas do argumento não oferecem evidências suficientes para sustentar a | |
conclusão apresentada. (Quase todas as falácias discutidas neste livro são informais.) | |
ARGUMENTO DEDUTIVO: Neste tipo de argumento, se as premissas são verdadeiras, então a | |
conclusão certamente também é. A conclusão decorre necessariamente das premissas, como sua | |
consequência lógica. Por exemplo: “Todos os homens são mortais. Sócrates é um homem. Portanto, | |
Sócrates é mortal.” Um argumento dedutivo tem a intenção de ser válido, mas isso nem sempre acontece. | |
válido: O argumento dedutivo é válido se a sua conclusão decorre logicamente de suas premissas. Do | |
contrário, será inválido. As descrições “válido” e “inválido” se aplicam apenas aos argumentos e não às | |
proposições. | |
sólido: Um argumento dedutivo é sólido se for válido e suas premissas forem verdadeiras. Se uma | |
dessas condições não for confirmada, o argumento não é sólido. A verdade é determinada ao | |
verificarmos que as premissas e conclusões do argumento estão de acordo com os fatos do mundo real. | |
ARGUMENTO INDUTIVO: Neste argumento, se as premissas são verdadeiras, então é provável que | |
a conclusão também seja verdadeira.5 A conclusão não é derivada das premissas por necessidade lógica, | |
mas sim por probabilidade. Por exemplo: “Toda vez que medimos a velocidade da luz no vácuo, ela é | |
3x108 m/s. Portanto, a velocidade da luz no vácuo é uma constante universal.” Argumentos indutivos | |
normalmente partem de premissas específicas para chegarem a uma conclusão geral. | |
forte: O argumento indutivo é forte quando suas premissas são verdadeiras e então é altamente provável | |
que sua conclusão também seja. Mas quando é improvável que a conclusão seja verdadeira, o argumento | |
é fraco. Como dependem de probabilidade, os argumentos indutivos não chegam obrigatoriamente a uma | |
conclusão verdadeira mesmo que as premissas sejam verdadeiras. | |
cogente: Um argumento indutivo é cogente se for forte e as premissas forem verdadeiras – ou seja, de | |
acordo com fatos verificáveis. | |
irrefutabilidade: Um argumento indutivo é irrefutável se for forte e suas premissas forem realmente | |
verdadeiras, isto é, condizentes com os fatos. Caso contrário, ele é considerado duvidoso. | |
5Na ciência, os pesquisadores geralmente procedem indutivamente dos dados para as leis e destas para | |
as teorias, por isso a indução é a base de grande parte da ciência. A indução é geralmente entendida ou | |
como o teste de uma proposição em uma amostra (porque seria impraticável testá-la de maneira ainda | |
mais extensa) ou usando apenas a razão (nos casos em que é impossível realizar testes de laboratório). | |
Bibliografia | |
Aristóteles. Tópicos: Dos argumentos sofísticos. São Paulo: Nova Cultural, 1991. Disponível em inglês | |
na página: http://classics.mit.edu/Aristotle/sophist_refut.html. | |
Avicenna. Avicenna’s Treatise on Logic. Trad. e ed. Farhang Zabeeh. Haia: Nijhoff, 1971. | |
Carroll, Lewis. Alice no País das Maravilhas. Martin Claret: São Paulo, 2014. Disponível em inglês na | |
página: www.gutenberg.org/files/11/11-h/11-h.htm. | |
Curtis, Gary N. “Fallacy Files”. Disponível na página: http://fallacyfiles.org. | |
Damer, T. Edward. Attacking Faulty Reasoning: A Practical Guide to Fallacy-FreeArguments. 6a ed. | |
Belmont, CA: Wadsworth Cengage Learning, 2009. | |
Engel, S. Morris. With Good Reason: An Introduction to Informal Fallacies. Boston: Bedford/St. | |
Martin’s, 1999. | |
Farmelo, Graham. The Strangest Man: The Hidden Life of Paul Dirac, Mystic of the Atom. Nova York: | |
Basic Books, 2011. | |
Fieser, James. Internet Encyclopedia of Philosophy. Disponível na página: www.iep.utm.edu. | |
Firestein, Stuart. Ignorance: How It Drives Science. Oxford: Oxford University Press, 2012. | |
Fischer, David Hackett. Historians’ Fallacies: Toward a Logic of Historical Thought. Nova York: | |
Harper & Row, 1970. | |
Flew, Antony. Thinking about Thinking. Glasgow: Fontana/Collins, 1975. | |
Gula, Robert J. Nonsense: A Handbook of Logical Fallacies. Mount Jackson, VA: Axios Press, 2002. | |
Hamblin, Charles. Fallacies. Londres: Methuen, 1970. | |
King, Stephen. Sobre a escrita: a arte em memórias. Rio de Janeiro: Suma de Letras, 2015. | |
Minsky, Marvin. A sociedade da mente. Rio de Janeiro: F. Alves, 1989. | |
Pólya, George. A arte de resolver problemas: um novo aspecto do método matemático. Rio de Janeiro: | |
Interciência, 1995. | |
Pritchard, Charlotte. “Does Chocolate Make You Clever?”. BBC News Magazine, 19 de novembro de | |
2012. Disponível na página: http://bbc.co.uk/news/magazine-20356613. | |
Russell, Bertrand. The Problems of Philosophy. Londres: Williams & Norgate, 1912. Disponível na | |
página: http://ditext.com/russell/russell.html. | |
Sagan, Carl. O mundo assombrado pelos demônios: a ciência vista como uma vela no escuro. São | |
Paulo: Companhia de Bolso, 2016. | |
Simanek, Donald E. “Uses and Misuses of Logic”. Disponível na página: | |
http://lhup.edu/~dsimanek/philosop/logic.htm. | |
Smith, Peter. An Introduction to Formal Logic. Cambridge: Cambridge University Press, 2003. | |
Sobre o autor e o ilustrador | |
Ali Almossawi tem mestrado em Engenharia de Sistemas pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts | |
(MIT) e mestrado em Engenharia de Software pela Universidade de Carnegie Mellon. Ele mora com a | |
mulher e a filha em São Francisco, onde trabalha como designer de visualização de dados na equipe de | |
métrica do Mozilla, e também como colaborador do Laboratório de Mídia do MIT. Antes disso, Ali | |
desenvolveu pesquisas em Harvard e no Instituto de Engenharia de Software (SEI), criando modelos para | |
prever a qualidade de códigos-fonte. Seu trabalho já foi mencionado em artigos na Scientific American, | |
Wired, The New York Times, Fast Company e outras publicações. | |
Almossawi.com | |
Alejandro Giraldo formou-se em Design Gráfico na UPB Medellín e fez mestrado em Direção de Arte | |
na ELISAVA (Escola de Design e Engenharia de Barcelona). Ele mora em Medellín, na Colômbia, onde | |
trabalha como freelancer em vários projetos. | |
AlejoGiraldo.com | |
Alegre este ursinho. | |
Visite BookofBadArguments.com | |
Sumário | |
Créditos | |
Para quem é este livro? | |
Prefácio | |
Falácias lógicas | |
Argumento a partir das consequências | |
Falácia do espantalho | |
Apelo a uma autoridade irrelevante | |
Equívoco | |
Falso dilema | |
Causa questionável | |
Apelo ao medo | |
Generalização precipitada | |
Apelo à ignorância | |
Nenhum escocês de verdade | |
Falácia genética | |
Culpa por associação | |
Afirmação do consequente | |
Apelo à hipocrisia | |
Bola de neve | |
Apelo à popularidade | |
Ad Hominem | |
Raciocínio circular | |
Composição e divisão | |
Considerações finais | |
Definições | |
Bibliografia | |
Sobre o autor e o ilustrador | |
Table of Contents | |
Créditos | |
Para quem é este livro? | |
Prefácio | |
Falácias lógicas | |
Argumento a partir das consequências | |
Falácia do espantalho | |
Apelo a uma autoridade irrelevante | |
Equívoco | |
Falso dilema | |
Causa questionável | |
Apelo ao medo | |
Generalização precipitada | |
Apelo à ignorância | |
Nenhum escocês de verdade | |
Falácia genética | |
Culpa por associação | |
Afirmação do consequente | |
Apelo à hipocrisia | |
Bola de neve | |
Apelo à popularidade | |
Ad Hominem | |
Raciocínio circular | |
Composição e divisão | |
Considerações finais | |
Definições | |
Bibliografia | |
Sobre o autor e o ilustrador |
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