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@netojoaobatista
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Ensaio sobre a amnésia

Ensaio sobre a amnésia

Num determinado dia de um determinado mês, um ser malévolo de outra galáxia, utilizando-se de uma arma especial, apagou a memória de todos os indivíduos do planeta Terra. Ainda, todas as pessoas tiveram suas roupas modificadas e passaram a utilizar apenas um chinelo, uma calça e uma camisa branca. Feito isso, esse ser malévolo disse a todos:

A partir de agora, ninguém sabe quem é, o que faz, nem o que tem. Ninguém é opressor ou oprimido. Ninguém é maioria ou minoria. Durante o período de um ano, todos os indivíduos do planeta precisarão definir juntos, as regras que irão reger a sociedade. Ao final desse ano, irei reverter a amnésia coletiva e todos passarão a estar sujeitos às regras que definiram.

Lembrem-se: Vocês não sabem se fazem parte da maioria ou da minoria, se são opressores ou oprimidos, se tem muito ou se não tem nada. Ao definir as regras, tomem o cuidado de ser justos, pois a injustiça poderá recair sobre você.

Sabendo que qualquer um tem exatamente a mesma probabilidade de, ao recuperar sua memória, ser opressor ou oprimido, maioria ou minoria, como as pessoas do mundo se comportariam ao definir as novas regras da sociedade uma vez que essas regras serão efetivamente aplicadas a todos?

Sobre a distribuição das riquezas do planeta

Como as pessoas distribuiriam as riquezas do planeta, de forma que pudessem produzir e sobreviver durante esse ano de deliberação? Qual seria a forma mais justa para distribuir essas riquezas, sabendo que qualquer um pode, com exatamente a mesma probabilidade, ao recuperar sua memória, ser parte da maioria ou da minoria?

Sobre os direitos e deveres

Como as pessoas definiriam quais deveriam ser os direitos e deveres dos indivíduos? Quais seriam os direitos mais básicos que todos concordariam em ter e quais seriam as maiores obrigações que todos deveriam cumprir?

@alexandretaz
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A idéia é até legal João, mas ai que está isso não é definido em um curto período de tempo, é um acúmulo histórico

@netojoaobatista
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Author

O acúmulo histórico foi removido pelo experimento, @alexandretaz. Ninguém sabe quem é quem, nem o que tem. Todos precisam se organizar e definir as regras, que passarão a valer para todos ao final do ano.

Todos precisam ponderar suas decisões, pois as decisões recairão sobre as pessoas.

@uliporeggia
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São muitas possibilidades, mas de modo geral acredito que alguns nichos seriam manipulados pelos mais inteligentes e outros nichos seriam manipulados pelos mais fortes (força física mesmo, "na base do tapa")

@netojoaobatista
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Author

Não há nichos, @uliporeggia.

Como todos estão nas mesmas condições e sabem que ao final do ano essas regras serão aplicadas independentemente das seu status pré-amnésia, não acredito que os mais inteligentes deixarão que regras ruins ou injustas sejam criadas. Se permitirem, estarão sendo o oposto de inteligentes, pois essas regras poderão recair sobre eles mesmos.

@lpgpa
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lpgpa commented Nov 25, 2014

Sem duvida uma ideia intrigante.

@MayogaX
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MayogaX commented Nov 25, 2014

concordo com o @uliporeggia

Seria muita inocência achar que os mais inteligentes seriam justos.
Conheço muito ser com alto intelecto que usa de suas habilidades para bem próprio mesmo que faça de modo sem escrúpulos.

Como uma pessoa assim agiria? Ela saberia que com seu intelecto não devia ser de certos grupos e ia fazer isso para tentar medir as regras de acordo com sua vontade.

:(

@oliveiraev
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Bastantes variáveis não foram esclarecidas:

  • Como ficou a infraestrutura? As fábricas continuam lá esperando por pessoas que se voluntariem a trabalhar nelas?
  • Se não nos lembramos de nada nem ninguém, como ficam os incapazes (crianças, idosos e doentes)?
  • Conceitos como moral e religião foram preservados? Se eu não tenho mais moral eu não vou me preocupar em estar prejudicando minha possível esposa/mãe/filha.
  • A personalidade foi preservada? Há pessoas que só "pegam no tranco". Literalmente, só funcionam sob severa supervisão. Ao passo que há pessoas em que aflora o perfil de liderança mesmo que não desejem ou sejam introvertidas (olha eu aqui).
  • Como ficaram os dons, talentos e capacidades intelectuais? Há pessoas que jogam futebol muitíssimo bem, mas só fazem isso. Alguém sabe ser dentista? Eu uso aparelho ortodôntico e, sem manutenção, ele provavelmente traria mais malefícios do que benefícios pra minha boca.

@netojoaobatista
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@MayogaX, essa linha de raciocínio me leva a acreditar que não há nenhuma pessoa inteligente, que defenda causas sociais, ou que seja contra a opressão.

Pois se existir pessoas inteligentes no mundo que procuram o bem estar social, então a mera existência dessas pessoas derruba essa linha de argumentação.

;)

@netojoaobatista
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@oliveiraev:

Bastante variáveis não foram esclarecidas:

Como ficou a infraestrutura? As fábricas continuam lá esperando por pessoas que se voluntariem a trabalhar nelas?

Sim. Toda a infraestrutura, portos, aeroportos, veículos, fábricas, casas. Tudo continua no mesmo lugar. Só as pessoas que não estão dentro das casas e, portanto, não sabem qual casa é de quem, ou se sequer possuem uma casa. Também não estão dentro das fábricas, ou carros. Estão todos do lado de fora e, portanto, não sabem se são donos de alguma coisa.

Se não nos lembramos de nada nem ninguém, como ficam os incapazes (crianças, idosos e doentes)?

Também foram afetados pela amnésia. E ao decidir sobre o que é melhor, esses deverão ser levados em consideração.

Conceitos como moral e religião foram preservados? Se eu não tenho mais moral eu não vou me preocupar em estar prejudicando minha possível esposa/mãe/filha.

Sim, conceitos de moral e religião foram preservados. Todos sabem que isso existe, mas ninguém sabe se é praticante de alguma religião ou não. Além disso, você não sabe quem são seus pais, esposa, filhos, etc. Você não sabe sequer se é casado, se tem filhos ou pais. Você conhece o conceito, mas desconhece se possui esse tipo de relacionamento com alguém.

A personalidade foi preservada? Há pessoas que só "pegam no tranco". Literalmente, só funcionam sob severa supervisão. Ao passo que há pessoas em que aflora o perfil de liderança mesmo que não desejem ou sejam introvertidas (olha eu aqui).

Sim, a personalidade foi preservada. Você só não sabe o que fazia antes, nem como sua personalidade era utilizada.

Como ficaram os dons, talentos e capacidades intelectuais? Há pessoas que jogam futebol muitíssimo bem, mas só fazem isso.

Tudo mantido. Mas, novamente, você não sabe se era um jogador de futebol, ou se era um desenvolvedor. Você pode eventualmente redescobrir isso no decorrer de um ano, mas inicialmente você não sabe.

Alguém sabe ser dentista? Eu uso aparelho ortodôntico e, sem manutenção, ele provavelmente traria mais malefícios do que benefícios pra minha boca.

É possível que sim. É possível que alguém perceba que sabe como cuidar de aparelhos ortodônticos. Se até alguém se descobrir bom nessa área, você tiver malefícios para sua boca, bom, é uma consequência causada pelo ser malévolo que apagou a memória de todos.

@oliveiraev
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Seus dois útlimos excertos são, na verdade, um único ponto.

Líderes surgirão e insurgirão. Partindo do ponto destacado que todos sabem que existem famílias e que elas são importantes, pequenas tribos surgirão. As pessoas se agrupariam, inicialmente, pelas afinidades imediatas. Sem levar racismo em conta, algumas pessoas seriam atraídas pelas outras de mesma cor, ao passo que outras seriam atraídas pelas de cor contrastante (assumindo que você disse que a personalidade foi preservada). Pessoas mais efusivas tendem a se sentir melhor em ambientes mais espaçosos/barulhentos. Precisamos de alguém com conhecimentos em psicologia pra destacar o quanto o fator "criação" pesa nesse ponto.

A partir dos pequenos agrupamentos, todas as religiões são concordantes em um ponto: traidores existirão. E não é qualquer conjunto de leis que essa "nova sociedade" crie que os impedirá de agirem. O número de homicídios/estupros não zerou em países com pena de morte. A partir daí, o mesmo caos que vivemos hoje começará a se instaurar. Ao final de um ano, algumas pessoas agradecerão enquanto outras lamentarão muito mais pela posição que ocupavam no período de amnésia do que pelas "próprias decisões".

Já pensou se eu "arrisco a sorte" e resolvo ser um porra-loca traindo, matando, roubando e, ao final do período eu volto a ser um reles trabalhador assalariado comentando na Internet?

@alexandretaz
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Como eu disse antes a tentativa do estudo é falho, sem experiência histórica, basicamente vamos repetir até aonde chegamos, não existe fórmula mágica, todas as teorias sociais, são baseadas nas experiências das sociedades

@netojoaobatista
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Author

Bom @oliveiraev, acredito que você descreveu o renascimento das sociedades.

Acredito que a partir daí, os novos grupos iriam escolher onde iriam viver. Aí a questão passa a ser:

Por que o grupo X vai viver ali? Por que não o grupo Y?

Como podemos definir a forma mais justa para que todos possam viver com suas recém criadas sociedades?

Devemos simplesmente pegar a área total do planeta e dividir igualmente entre todas as pessoas? Isso seria uma distribuição justa?

@oliveiraev
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Esperar que, após as últimas palavras do "Ser Malévolo", as pessoas virem umas pras outras e organizem uma grande convenção na sede da ONU com plebiscitos e votações apuradas em tempo recorde é confiar demasiadamente na humanidade.

Esperar que, colocando todas as pessoas em iguais condições, as pessoas ajam de forma justa e equilibrada é ignorar o principal fator da humanidade: a individualidade.

Voltaríamos às cavernas num cenário pós moderno. As fábricas deixariam de ser fábricas e se tornariam refúgio de quem "arriscasse a sorte" como propus no último post.

A organização e distribuição ocorreria de forma orgânica. Dificilmente alguém iria se propor a mensurar e dividir igualmente a área disponível. Mesmo que isso acontecesse, alianças surgiriam para aumentar a nossa área. De igual maneira que traidores apareceriam dizendo que cuidariam de algumas crianças pra aumentar a própria área.

Inclusive, acredito eu que, o maior problema esteja exatamente na boa intenção de querer dividir de forma igualitária. Pense nos bairros afastados que as cidades constróem. Inicialmente, algumas poucas casas possuem cercas e/ou muros. Os filhos vizinhos brincam juntos, independente do quintal ser meu ou seu. Se eu possuo amizade com você, posso pedir pra usar sua garagem ou varal por um tempo devido a uma necessidade qualquer. Com o tempo, começam a subir muros, cercas, portões, assegurando o conceito de propriedade. Não há mais compartilhamento e passa a existir a violação de propriedade.

Por mais que você pretenda dividir para manter a igualdade entre as pessoas, alianças ocorrerão para o bem ou para o mal. E, como disseram, a história se repetirá.

@netojoaobatista
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O conceito de desigualdade e opressão existe nas pessoas, elas não perderam isso. O que aconteceu, @alexandretaz, é que as pessoas não sabem quem eram os oprimidos nem quem eram os opressores.

Elas estão tendo a oportunidade de resolver esses problemas sociais que elas sabem que existe. Mas por não saber quem tinha muito ou quem tinha pouco e por saber que as novas regras serão aplicadas a todos, as pessoas precisam ponderar suas ideias para que as injustiças não recaiam sobre elas mesmas.

@netojoaobatista
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Seguindo essa linha então, @oliveiraev, não há nada que se possa fazer?

É perda de tempo lutar por justiça social? Uma vez que a espécie humana não é justa, toda e qualquer tentativa é será sempre infortuita?

@oliveiraev
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S-I-M

Pense em dois filhos gêmeos de um pai muito rico que têm acesso a 50/50 da herança.

A herança é, por exemplo, uma franquia do Mc Donald's e exatamente o mesmo valor em dinheiro.

Um vende a própria metade do restaurante pro irmão, ficando um com o restaurante e outro com o dinheiro, respectivamente.

O dono do dinheiro vai viajar, conhecer Ibiza, tomar Champagne e transar com o máximo de modelos famosas que conseguir. O outro volta toda noite pra casa, de Domingo a Domingo, fedendo a gordura.

Ambos têm filhos em momentos próximos da vida. Acho que dá pra imaginar que o filho do dono do restaurante vai ter mais "oportunidades", como gostam de colocar, do que o viajante.

Nenhum dos dois filhos têm culpa das decisões dos pais. Estão em desigualdade mesmo sendo netos do mesmo avô. Qual a solução? Distribuir a riqueza novamente?

PS.: Qual seria a solução JUSTA?

@lelotnk
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lelotnk commented Nov 25, 2014

Acredito que se isso acontecesse, a longo prazo o resultado seria o mesmo. Apesar de vivermos em sociedade, somos individualistas.
Na verdade, no final de apenas um ano, acho que tudo estaria um caos.

A princípio as pessoas mais emocionais cuidariam dos incapazes.
Outros iriam querer se dar bem e viver sozinho para ter menos necessidades e alcançar melhores oportunidades.

Como milhões de pessoas da área urbana seriam alimentadas?
Conseguiríamos esperar até que fazendeiros e agricultores reaprendam produzir?
Em 1 ano conseguiríamos restaurar o governo?
E os milhões de doentes? Conseguiriam esperar para que médicos percebam que são médicos?
E esses que perceberem, se preocupariam em salvar vidas ou salvar a própria vida?
A questão do tratamento de água e esgoto, não teríamos operários para fazer que todo o sistema continue.
Acho que muitas doenças se espalhariam nos centros urbanos.

Não sabendo o que é seu, você iria "tomar" aquilo que pode não ser seu.

Acredito que os grupos se formariam para própria sobrevivencia.
O melhor grupo seria o que tiver pessoas com capacidades diferentes. Inteligente. Fortes. Belos. Retóricos. Dissimulados. Enfim.

Fora que se o pessoal de TI sumir, vixe.

Bom, como dizem: A tecnologia veio para resolver problemas que não tínhamos antes dela.

Hoje vivemos num mundo com mais necessidades que anos antes.
Ao voltar para um estágio onde não sabemos nem como tratar de necessidades básicas, tudo viraria um caos.

Bom, esses são meu 0.25 centavos de contribuição ao assunto.. rs.
Mais dúvidas do que respostas.

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